Vamos lá: eu não deveria estar começando MAIS UM projeto e tenho plena consciência disso. O problema é que se eu não usar todo esse turbilhão de criatividade que está saindo até pelos meus sonhos, eu não tenho a mínima ideia de quando eu vou voltar a ser tão produtiva. Então, sim, estou começando mais uma fic e a postarei na medida em que escrever poque tenho dessas manias de enrolar uma corda no próprio pescoço.
Mas não é qualquer fic. Como eu disse, as ideias estão transbordando para os meus sonhos. Tenho tido TANTOS sonhos complexos, lindos, histórias incrííííveis, que está difícil não desenvolver todos eles. Alguns ficam por dias na minha cabeça e já estou sentindo outros indo embora e eu PRECISO escrever. E essa fic aqui veio em um sonho, com todo um background de sentimentos fortíssimos, e já em formato de fanfic, ou seja, eu sonhei com a própria Tomoyo e o próprio Eriol - adultos e maravilhosos.
Não fosse esse sonho, eu NUNQUINHA faria uma fic EriolxTomoyo. Não gosto do shipp - sinto muito. Há um consenso de que os dois são um casal, mas a verdade é que esse casal nunca existiu e é uma desculpinha para um fandom de predominância heterosexual para não deixarem a Tomoyo sozinha por ela amar a Sakura - salvo raras fics de Touya e Yukito, porque simplesmente não dá pra negar os dois, ou aquelas que permitem que a Tomoyo tenha uma chance com a Sakura, como as do Braunjakga. Entretanto, depois de tanto ler fics de Sakura e Syaoran com Tomoyo e Erol em segundo plano, a parada acabou ficando no meu subconsciente e eu acabei tendo em sonho uma cena desse shipp.
Mas, não é qualquer cena. Pois é, amiguinhos. Quando a gente cresce, a indicação de faixa etária dos nossos sonhos também muda. Por sorte, o nosso fandom aqui hoje em dia tem mais adulto do que criança, tendo em vista que quem é pouco mais novo que eu já não pegou a época em que Sakura passava na TV e tal. Porque a cena com a qual eu sonhei era, inevitavelmente, hentai. Para mim soou um pouco doentio quando eu parei pra pensar que sonhei com uma cena hentai com personagens do meu anime de infância. MAS NÃO É MINHA CULPA porque 1. eu leio fics em que, em geral, esses personagens já cresceram; 2. o mundo está erotizado e isso não é minha culpa também; 3. A Tomoyo se parece com uma pesonagem de Pangya (Arin) que todos os jogadores gostam de vestir de maid; 4. Uma personagem de Two Broke Girls me lembra a Tomoyo mesmo que eu nem assista a série.
Então, fica o aviso de que vai ser bem inapropriada pra menores, essa fic. Mas ela não é só sobre pegação não, longe disso (apesar de começar já nessa parte). Ela é mais sobre desejo e magia - sim, magia. É pra ser longa e vai ser diferente das outras que eu escrevo (as de Sakura e de Ranma) porque eu quero fazer capítulos grandes. Ou seja, vai demorar, vai ser longo, vai ser ELABORADO. E eu não pretendo desistir dela porque, apesar de eu estar criando mil coisas ao mesmo tempo, cada fic surge de um desejo que eu tenho quanto a essas histórias. E escrevê-las me sacia. Eu preciso chegar até o final com elas para esgotá-las: por isso ando escrevendo em fandoms mais escassos e sobre personagens, muitas vezes, secundários. Então, por mais que demore, eu vou terminar essa fic - principalmente se ela for lida e comentada.
Mas no final das contas nem sei porque to me justificando toda. A internet tá aí pra isso e eu sou malvada mesmo, ferre-se. IASHUDIUASHDIUHAUSHD
Bem, terminados os avisos e anúncios, só me resta dizer que CCS não me pertence, aleluia. (: Boa leitura e toma essa bala por ter lido uma nota tão gigante!
Eu queria ter estudado psicologia ou medicina psiquiátrica para entender o que acontece nas mentes dos jovens. Sério. Em particular por conta da leve tendência que eles tem para fazer besteira. Pelos céus! Como eles conseguem fazer besteira mesmo quando não são o tipo de pessoa que faz besteiras? Você sabe que tem toda a vida pela frente, que muito depende daqueles singelos 10 anos entre seus 15 e seus 25 e ainda assim a potência em tudo ir muito mal é tão grande! Mesmo quando nós moramos em um país onde a palavra maior é disciplina - mesmo quando eu fui criada rica e inteligente. Ainda assim, porque é claro que isso é sobre mim, porque: eu - fiz - merda.
Mas a questão é que no começo sempre parece ser uma boa ideia. Vai na fé, vai dar certo. Esse mito da invencibilidade jovial é tão cruel, tão absurdo que eis me aqui, no topo do mundo, olhando para todos esses pontinhos brilhantes que são as janelas enfileiradas nos prédios enfileirados nas quadras enfileiradas nessa rigidez sobre tudo humana - e falha - que nós japoneses adoramos, querendo muito algo que os memes me ensinaram: estar morta. Porque a juventude não é imortal, nem invencível, nem forte. Isso eu sou, mas um rostinho bonito e energia para festar até as duas da manhã não dão isso para ninguém. E eu ter dito isso foi um tanto quanto hipócrita da minha parte, já que, em um breve resumo, foi fazendo essas coisas que eu me tornei tudo isso que sou hoje. Mas não foi um salto curto, meu amor, que permitiu que eu fosse efetivamente, imortal, invencível e forte. Foi, na verdade, um salto beeem alto.
Eu vou, de-mo-ra-da-men-te, clarear a mente do leitor. Algumas coisas precisam ser feitas apropriadamente, longamente, prazerosamente, e essa narrativa é uma delas. Eu não contaria de qualquer jeito como cheguei aqui em cima. Seria um pecado. Ah, pecado sim. Precisamos aproveitar esse momento deliciosamente:
Quando estava lá naqueles estranhos anos de juventude, eu decidi que não queria mais viver da fortuna da minha mãe, nem de um passado que eu comecei a detestar. Foi uma decisão bem burra, bem repentina e bem divertida também. Eu já estava na faculdade, eu gostava do curso mas não gostava da vida que levava lá. Escrever artigos, ensaios, assistir toda aquela luta de egos dentro da universidade estava me deixando para baixo. Até então eu nunca tinha me divertido na vida, eu acho. Eu vivia uma vida de criança - e já tinha 21 - e boa parte do que a infância representava para mim tinha desaparecido do mundo. A grande casa de Tomoeda virou um condomínio de luxo, todos os meus amigos debandaram cada um para o seu lado, a minha melhor amiga, por quem eu fui terrivelmente apaixonada por anos a fio, sem nenhum resultado positivo a meu favor, estava correndo atrás de homem lá na China (sério), e minha mãe estava ficando doente, muito doente. E a doença e fragilidade dela estavam me levando à loucura. Eu não queria ver e nem lidar com ela - era muito doloroso. Eu era jovem, fraca, machucada e covarde demais para acordar e encontrar minha mãe morta na cama.
Então eu larguei tudo. Larguei mesmo - assim, de um dia pro outro. Era a manhã do dia 28 de outubro e eu, Tomoyo Daidouji, estava nas ruas do Japão, procurando algo melhor pra fazer com o tempo que me foi dado pelos céus. Com o que eu tinha na bolsa eu consegui me virar de alguma maneira por algum tempo, até que encontrei um emprego e lugar fixo, e me estabeleci na vida adulta exatamente da maneira que minha mãe nunca quis que eu fizesse - sem nenhuma honra e toda o remorso que eu poderia aguentar sem voltar correndo para casa.
Mas eu não estou aqui pra chorar as pitangas da minha fuga - estou aqui para falar dos resultados. Foi triste, sim, foi difícil também. Mas foi escolha minha e eu enfrentei até que bem as consequências. Eu tentava deixar as fragilidades da antiga Tomoyo para trás porque, com o tempo, a gente cria aquela couraça de tanto apanhar, e eu me acostumei com aquelas perguntas tipo "se eu tivesse ficado na casa da minha mãe as coisas seriam mais fáceis e eu não precisaria estar fazendo isso". Bullshit. A vida segue, com ou sem erros. Só siga, queridinho. Só siga.
Eu já estava estabelecida há algum tempo na capital, em um pequeno mas confortável apertamento, quando um amigo meu fez uma oferta que eu pensei muito antes de aceitar. Eu tentei muito, tentei de verdade, sair o máximo possível da Tomoyo garotinha, quieta, inteligente, recatada - não era mais vantajoso, por assim dizer. Só que as coisas nunca são assim tão simples. A educação que você recebeu em casa não some assim da sua cabeça como se fosse nada. Foi um grande esforço e com muito tempo de treinamento eu consegui me vestir menos como a garotinha e mais como a mulher prática e linda que eu deveria ser para conseguir emprego em lojas e recepções - onde só a aparência importa. O resultado foi tão bom que eu recebi essa proposta. Para trabalhar em um bar.
Mas não era qualquer bar.
E é mais ou menos nesse ponto onde o leitor mais novo precisa reservar essa história para ler daqui uns anos, porque eu poderia dizer que é um bar de strip, ou qualquer coisa assim, mas a verdade é que aquele estabelecimento mal era um bar. Nessa altura eu não quero mais usar eufemismos, então eu posso dizer que era para trabalhar em um bodel, um puteiro - mas como era um lugar caro, bonito, elitizado, chamávamos de bar. Meu amigo era filho do dono, e seu pai já estava - como a minha mãe - nas últimas. Ele estava cuidando, praticamente refazendo, o negócio e queria gente de confiança para trabalhar com ele. Precisava de algumas garotas bonitas para a reabertura, e me ofereceu uma vaga para garçonete.
E então você se pergunta: o que uma garota como a Tomoyo está fazendo em um puteiro, aqui nessa história? Não é como se eu nunca tivesse me perguntado como meu amigo olhou para mim e chegou à conclusão de que eu daria uma boa garçonete de bordel - mas acho que isso não cabe a mim responder. O fato é, que até então, eu raras vezes havia precisado, em tempos de extrema dificuldade e, para usar um termo brasileiro divertido, pindaíba, forçar o meu feminismo pra dentro do decote que precisei vestir e conseguir pegar um emprego num escritório (onde fiquei pouco tempo, amém). Eu, mesmo naqueles tempos, não gostava de fazer parte desse tipo de jogo.
Mas eu já contei como o meu apartamento era pequeno? Ele era, sim, confortável. Mas ele era miúdo até para os padrões japoneses de compactamento de pessoas. Eu andava sonhando em comprar uma cama de novo, já que meu futon estava passando da hora de ser trocado. O salário era só um pouco melhor do que eu já ganhava na época, mas o que me deixou tentada foi a possibilidade de ganhar gorjetas gordas. Bem, não é um pecado querer ganhar dinheiro, então com as devidas garantias de liberdade e segurança - porque minha função era servir bebidas e estar bonita - acabei aceitando, depois de pensar muuuito.
No começo foi bem estranho para mim. Eu não tinha nem metade da liberdade mental que eu tenho hoje para me sentir confortável naquele tipo de ambiente. Com o tempo a gente se acostuma a tudo na vida, até a ouvir propostas para programa em todos os dias de trabalho. Yamazaki sempre tentava me promover, por assim dizer, pois os clientes iam falar com ele também. Mas eu não estava minimamente interessada. Homens não causavam em mim metade do encanto que eu causava neles. Sei que pareço arrogante e metida, mas a verdade precisa ser dita, e a elegância e sofisticação na qual fui criada nunca se perdeu por completo. Além disso, se tem algo que eu tenho de nascença é beleza, por mais fútil que soe dizer isso, é a verdade.
Agora, o que há nesse bar de tão importante que mereça o título do capítulo e quatro parágrafos exclusivos, sendo que antes eu estava correndo desenfreadamente para chegar nesse ponto da história? A resposta é: ele foi o cenário do primeiro acontecimento mais bizarro da minha vida.
Em um dia normal de trabalho eu recebia propostas e muitas delas eram feitas por homens mimados, ricos de nascença como eu, mas muito mais mal acostumados com um não ou com pedir por favor. Algumas dessas propostas se pareciam com ordens, ordens indecentes, mas que nunca tiveram nenhum tipo de efeito em mim (talvez repugnância, no começo). O fato é que minha negativa nunca teve muitos efeitos negativos, salvo um barraco ou outro, porque uma das exigências que fiz a Yamazaki foi ter alguma segurança de que nada aconteceria comigo - e por vezes eu até dormia lá no bar para deixar algum esquentadinho ir embora de vez, em vez de me esperar na saída. Isso era algo permitido também a todas as outras funcionárias.
Em um dia normal, eu seguiria entregando as bebidas e incentivando os clientes a beber mais e mais para negociar aumentos com o chefe e ganhar mais gorjetas - obrigada, cultura do álcool. Em um dia normal eu não olharia duas vezes para cada rosto e ficaria atrás da menina nova que ficava no caixa, que era linda e loira, lembrava Sakura. Eu tinha desenvolvido por ela rapidamente algo que os jovens chamam hoje de crush. Em um dia normal eu caminharia da maneira mais segura que conseguia entre as mesas, sorrindo e as vezes dançando porque eu precisava mobiliar meu apartamento novo.
Mas aquele dia não foi normal - do contrário, não perderia meu tempo narrando ele. Eu, linda, jovem, viva, elegante, alta, mortal, fraca, estava levando a bandeja até o balcão, devidamente uniformizada com meu avental e o salto alto implementado pela gestão Yamazaki do negócio, cantando baixinho a música que tocava - observando minha colega nova pelo canto do olho e fazendo vários relatórios mentais sobre ela. A bandeja voou uns metros para frente, caindo no chão e fazendo barulho. Como?
Eu acredito, particularmente, que naquele momento o mundo começou a girar ao contrário, como naqueles discos que dizem invocar o capeta. Meu pulso estava sendo segurado firmemente, meu corpo parou abruptamente quando meu braço ficou para trás, o que me fez soltar a bandeja que voou e meu ombro direito estralar. Algumas pessoas olharam, mas ninguém deu muita atenção a isso, naquela altura da noite. Eu me virei lentamente para olhar (e talvez encarar feio) o dono do braço que me segurava, ainda, de maneira tão rude. Eu estava decidindo se faria algum drama ou só ouviria o que ele tinha a dizer, o evitando depois o resto da noite. Infelizmente, não fiz nenhum dos dois.
Era um homem alto, tão jovem quanto eu. Estava afastado de todos, sentado de maneira displicente. Sua camisa estava desabotoada até a metade, o que me deu arrepios porque é algo que eu detesto ver em homens bêbados. Mas apesar de todo o desalinhamento dele, a maneira detestável com que se portava, ele me paralisou - fisicamente, mentalmente - e eu fiquei plantada e boquiaberta porque de alguma maneira, estranha e peculiar, eu o via de duas maneiras diferentes, ao mesmo tempo. Exteriormente, uma figura mal cuidada e boemia, com um sorriso cheio de falsas gentilezas. Interiormente, por trás dos olhos de um azul profundo como o deep ocean, existia um poder exuberante e particularmente tentador - ele revelava uma criatura em tudo superior ao homem que segurava meu pulso. Algo naquele poder me fez tremer, porque nunca fui sensitiva como a minha amiga Sakura, eu não sentia presenças, eu nunca havia vivido nada daquela forma.
O que mais me assustava era o inegável fato de que aquele poder, aquele homem, queria me consumir - de alguma maneira.
