Fabuloso Ser



Como se sentir sozinho no meio de tanta vida?
Não sei...
Mas é assim que eu me sinto...
Só.
No meio de tantas pessoas,
Em meio a tantos sentimentos,
Vazio.

E justo eu que tudo posso sentir,
que tudo posso saber.

A única coisa que me preenche são
as pequenas coisas da vida,
as forças, maravilhosas, da natureza.

Com isso eu me sinto completo.

Meu ser...
Não pode ser preenchido por futilidades
Ele já está integrado
...ao macro, ao micro, ao meio...
ao... simplesmente Cosmo.

Ser...
- um dia Serei!

...
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
...

Sinto o sol, sinto a lua
Tão perto e tão distantes...
eu os queria aqui...
Ou, lá estar...

Mas...
Nem fui, nem vieram.
E eu continuei só,
com meu ainda ínfimo poder.
Nem além, nem aquém.

Então eu a criei.
Quem?
A asa.
A ave... Alada

...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
...

Então já não sabia se ia ou se ficava.

Dia e noite,
Noite e dia.
Luz e Trevas.
E estas me confundiam,
ora o claro, ora o escuro...

Aí também as criei.
Belas, altas, alvas,
duais... e complementares.

Ainda assim,
a solidão permanecia
Silenciosa e amenizada,
Mas ainda aqui.

Mais uma vez eu criei...
Silêncio.
Meu eterno companheiro.
Triste?
Não! Acalentador... esperançoso.

Então lembrei...
Se há silêncio,
também hão de haver sons!
Criação!
Voz e Canção.
Infelizmente para estas,
restou o destino de imitar.

...
Num grande mar enganador de espuma;
...

Oceanos, mar, rios e lagos.
Ora calmaria, ora rebentação.
Vai e vêm... borbulha... espuma
Ondas e Bolhas.
Criei de novo!
Feliz, feliz...

Já não tão sozinho...
O poder cada vez mais me atraía.
Agora a brincadeira me divertia.
Como parar?
Não sei
e agora nem quero pensar...

Cada coisa, cada detalhe,
Me chamava e me repelia.
As coisas da mãe da vida,
Para mim as queria.

...
E o grande sonho despertado em bruma,
...

Era o que eu achava...

Meu grande sonho despertando:
Alegria.
Vida.
Finalmente eu as tinha.
E as queria cada vez mais.
Como viciado sem noção alguma.
Perdendo até mesmo a consciência
de mim, em mim mesmo.

Então... adivinhem?
Tornei a criar.
E o que mais poderia ser?

Sonho
Meu sonho, seus sonhos, sonhos de todos.
Mas mais que divagações da mente,
as mensagens do inconsciente.
Névoa
Sim, aquela que envolve nosso corpo de torpor;
Que envolve coisas que não queremos ver.
A graça destruidora e tranqüila.

...
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
...

Pensei ter alcançado.
Pensei em parar,
Descansar.

Percebi que não.
Tudo mentira.
Queria mais,
Precisava demais.

Companheiras da vida e da eternidade.
Quis continuar
e continuei... Lutando.

Idéia. Sim! Isso mesmo!
Luta
Firme e poderosa.
Concentrada sem ser tediosa.
Nossa vida, nossa luta.
Vencendo todos os oponentes,
Desafiando tudo à frente...

...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
...

Pensava... que estava quase lá.
Faltava pouco para o triunfo.
Em meu sono, só prazeres.
Pois sim...
Sono
Etérea ninfa de Morpheu,
de braços abertos a nos embalar.
Com teu pó brilhante e cristalino,
põe-nos todos a relaxar.

Faltava algo...
Calor?
Fogo
Posso sentí-lo.
Ele não existe por si só...
precisa de algo para queimar
transformando em pó.

Então mais uma criação.
Perigosa e devastadora.
Mas... Vida necessária à Vida.

...
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
...

Flutuando no mundo
Achando-me realizado,
e o melhor, Acompanhado!

E porquê não?
Flutuação

E muito, e muito mais
em minha soberba
meti-me a criar
sem pensar.

...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
...

Minha alma depende,
das emoções de gente
não quis sentir-me privado do dom de criar
mais e mais queria o usar

As idéias se esvaíam da mente
Como água corrente.

Água
Vida mais que primeva
e esquecida.
Como pude Eu também
Dela quase me esquecer

Mas não! Aqui está.
Ao lado do fogo eterno do saber
A água magnânima do sentir.

Quem sente é a alma
Quem sabe é o espírito

Ambos devem ser lavados
Renovados
Com o que? Água da vida.
Qualquer água? Não! Água pura...

Chuva
Alegre e perspicaz
Ora fina, ora grossa.
Ora lembra, ora despreza
Os desejos de nosso espírito
Demais ou de menos enchendo
Mas sempre lava e renova aquilo que é necessário
Mesmo que não saibamos.

Mas eis que algo falta nessa linha.
Água que faz chuva e chuva que faz água
e não é do nada que a segunda vêm.

Nuvem
Recôndita e Formosa
Formosa de formas mesmo.
E estas em tudo satisfazem
os desejos da mente.

Montando quadros belos de cores e formas
em contraste com a moldura maravilhosa do céu
Contando apenas com a ajuda
de um amigo
pintor ou escultor?
Que importa?
Importa que faz!

Vento
Suave e sereno
Leve e ameno
Vem conosco conversar
Amigo fiel e sempre presente.
Nada a ele impede
Entra onde quer,
Fala o que quer
Queiramos ou não escutar.

Ora briga, ora incentiva
Sempre na medida ideal
Embora, por vezes, não reconheçamos.

...
Entanto nada foi só ilusão!
...

Criei, criei e criei
Nada.

Tudo já existia, apenas dei forma
dei vida,
dei um pensar...
Um existir mais notável

Ainda sou criatura,
Não criador!

Nem isso me desperta
continuo a 'criar'
e quem melhor que aquela que nos mente?

Ilusão
Mente?
Só se for a pedido da nossa mente.
Afinal quem pode melhor nos enganar
senão nós mesmos?

Sem cor nem forma.
Apenas sente, e pergunta:
- O que queres ver?
Podes não ouvir, mas responderá
então ela te mostrará.

...
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
...

Início, meio e fim
Tudo tem que, por algum lugar, começar.

E onde o planeta Terra começou?
Que pergunta!

Terra
Firme e Segura?
Nem sempre... nem em todo momento.
Pode tremer, pode quebrar, pode explodir
Nada vai adiantar. Nada vai detectar.
Podemos apenas
nos conformar e rezar.

Que seus cristais, minerais
e tudo mais,
estejam a nosso favor,
até quando Ela quiser.

E se Ela quiser
Seu movimento nos dissipará.

Isso!
Movimento
Afinal tudo o têm.
Até o silencio, até o parado,
pequeno, pequeno, mas movimento!

E se fiz o Pequeno,
O Grande devo também fazer.
Tudo a seu equilíbrio.
Tudo em seu relativo.

...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
...

Dor, dor, dor, dor...
Eu grito!

Alguém me escuta?
Elas todas sim.

Mas entendem? Ainda não.
Nem eu entendo.
Sei que devo parar.
Mas eu posso? Eu consigo? Agora?

Mais nada sei...
Sei que falhei.
Perdi-me em meio a tantas coisas
Já no inicio falhei em mim.
Perdi meus objetivos no começo
E agora estou no fim.

Mas não posso desistir.
Não posso abandoná-las
Não posso deixá-las

Não posso fugir...
Há uma coisa...
Responsabilidade.

Eu as fiz,
Eu as transformei,
E agora elas estão aqui
Dependentes de mim!

Serei forte e resistirei
Mas apenas por elas.

Força
Ha, ha, ha... Inocente como uma criança
Pura e brincalhona como só ela;
quer sempre se mostrar
sim, mas para brincar.

Orgulhosa como ela só;
Perder jamais!

...
Asa que se enlaçou mas não voou...
...

E minha Alada?
Aqui. Pássaro belo e gigante
Ele voa, e adora voar.
Voar, voar, voar, voar...
Comigo e com elas, sempre a planar;

Pena que não voe
até onde eu queria chegar

o Sol, a Lua

Minhas ânsias originais
Esquecidas.

...
Momentos de alma que, desbaratei...
...

Só então percebi,
que de pouco em pouco
Cresci.

E em algum lugar no fundo de mim
ainda estava vazio.

...
Templos aonde nunca pus um altar...
...

Parei; Meditei.
Reservado e abundante,
Como a areia que cobre o mundo
Cobri-me eu mesmo.

Areia
Templo árido de sabedoria

Fina ou grossa, sejas como fores
Tu estás presente em todos os lugares,
lhe queiram ou não.
Antiga, antiga... mas sempre jovem.

Vivendo sob os pés,
conheces por demais a vida
justamente,
por conheceres os segredos do mundo
humildemente.

...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
...

Quase pude acordar de minha loucura.

Era criatura!
Mas não percebia.

Em alguns momentos...
Voltava a buscar-me, verdadeiro
Frente à um espelho.

Espelho
Criação primorosa.
Pensas que apenas mostra-lhe o real?
Engana-te tolo!

A imagem tem vida,
Tem consciência
Se prestares atenção perceberás!
Mas cuidado,
podes ver o indesejado.

Isso foi o que eu vi.

As minhas ânsias não fixadas.
Porque o que eu queria,
ainda não tinha.

Lua e Sol, Sol e Lua

Astros diferentes.
De todas as formas possíveis... Diferentes
Mas de algum jeito se faziam Semelhantes

Um enfeitando o dia, outro enfeitando a noite

Um: morto, calado, alvo, pálido, silencioso.
Só em si!
Reflexivo

Outro: vivo, falante, explosivo, colorido, barulhento.
Cheio de si!
Impulsivo

Mas porque me amargurar com isso?
Eu crio, não crio?
Pois então, criá-los-ei

Mas não como os outros,
Eles são meus desejos, anseios mais profundos
Então em formas mais reais os farei
e ainda seres fantásticos serão.

Um anjo, alvo e sereno, calado e melancólico
Amigo fiel, amante dedicado
de longos cabelos prata e pose sempre ereta
Cristais místicos mortais - para proteger seus queridos,
Arco e flecha de Ártemis lhe darei
como símbolo de sua inspiradora
Lua.

Um tigre, alado e vigoroso, sorridente e sempre brincalhão
Amigo carinhoso, companheiro valente
Pelagem dourada, armadura resistente. Olhos do coração.
Fogo lançado em chamas das ventas,
os dons de Apolo lhe concederei
como presentes de seu inspirador
Sol.

Com eles me empolgo de volta à vida
(Insana)
e a natureza quero continuar a recriar.

Árvore
Sábia como a mãe natureza,
Sem ter consciência de si
Faz e alimenta o mundo.

Flores
Felicidade da vida,
Com a canção dos pássaros e o calor do sol,
À todos e para tudo espalha sua vida e sua cor.
Floresce com a vida, alegre.

Neve
Fria como tu, só tu mesmo
Bela e admirável, também só tu
Em meio à uniformidade branca e serena que tudo cobre
o Tudo de possibilidades em desenhos cristalinos se aflora
Mas se a ti irritam,
a tudo traga em segundos sem tempo nem de sonhar

Finalmente...
Tempo
Oh tempo,
que tudo corróe, que tudo consome
De ti nada pode escapar nem fugir,
Nem eu...

Só agora me dou conta do quanto o ignorei
e agora me dou conta de que tudo que eu fiz... em vão
Será?
Sim... Talvez,

O tempo, em breve, me consumirá
E eu nada poderei fazer para detê-lo

Os que criei ficarão.
Precisarei preparar as coisas para que não sofram
E eu sofrerei - meu desgosto
Agora percebi, tenho tudo que pensei querer
E ainda estou só.

Há mais uma coisa
Retorno

O tempo é imutável, invencível
Mas posso voltar e ver... Lembrar...

Lembranças felizes de momentos maravilhosos
Criaturas, literalmente, fantásticas...

...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
...

Agora que percebo mais nítida
minha retirada deste mundo,
vejo que tudo que criei,
nada têm valor.

Para mim?
Para mim sim!

Mas não para o mundo
Maldito!

Perdido em suas preocupações,
Trabalhos, transtornos, correria
E para onde foi a vida?
Perdida.

Perdida, perdida
E pelo medo - soterrada...
Pelo egoísmo - ignorada...

Quero de volta a vida...
A minha e a do mundo.
Mas elas estão Perdidas.

...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
...

Agora enquanto tudo preparo
Percebo,
Que de verdade,
Nenhum poder existiu, nem existirá.

Como posso culpar o mundo cometendo eu o mesmo erro?

Aí está... Não posso
Eles se iludem, eu me iludo.

Mas agora chega disso,
Agora preciso encontrar uma pessoa certa.

E,
Apesar de tudo...
Não sei se posso dizer que não valeu a pena.

Acho que agora sei o que quero
Não o que quero ter
Mas o que quero Ser

Pena que - logo agora - meu tempo se finda...

...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
...

Agora que entendi-me
Desiludo-me

Não vivi,
ou vivi demais?

Nada sei,
ou será que sei demais?

Que importa.
A verdade é que não me sinto bem.

E quem se sente?
Ninguém pode bem sentir-se,
neste mundo de loucos e insanos,
todos fingem para todos e para tudo
o tempo inteiro...

Eu fingi para mim.
E em meu próprio fingimento, cri.

Felizmente acordei.

Tudo o que é bom se perde...
rápido... rápido demais...

É uma pena - agora se acaba -,
Mesmo que eu volte
Não serei eu.
Porém de alguma forma estarei aqui.

Então me decido,
não quero mais o Saber.
não quero mais o Sentir.
da próxima vez quero apenas Viver!

Então prepararei tudo,
Logo e de uma vez.

...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
...

No fim, durante a vida,
nem fui e nem fiquei
apenas tentei... perdido...

agora...
Além!
depois
Aquém!



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Diana C. Figueiredo
(Diana Lua)

Poema em negrito: Quase de Mário de Sá Carneiro.

(Vomitado em 28/08/2003 ás 14:22 da tarde. Revisado 23/01/2004)