Abro os olhos preguiçosamente enquanto o despertador toca, indicando um novo dia. Aquele era um especialmente diferente, eu iria começar numa nova série, dessa vez como protagonista, algo meio diferente de tudo que eu havia feito até então. Me estico para desligar o insistente despertador e olho para o lado, vendo o corpo semi-nu de meu namorado, Amaury Nolasco, estrela da série Prision Break.

Me levanto com toda a disposição matinal possível, visto uma calça de moletom, uma blusa regata, cubro os braços com um casaco e saio para correr pelas ruas de Vancouver, coisa que já tinha se tornado comum e característica para mmim.

Não era completamente desconhecida, mas também não era muito famosa, o que me permitia correr sem a preocupação de ter milhares de pessoas atrás de mim, invadindo o meu momento pessoal. Se havia algo que eu prezava, era a minha privacidade. Mesmo sendo uma atriz, mesmo sendo uma pessoa pública, eu ainda era um ser humano, eu ainda queria ter meus momentos de pessoa normal.

Depois de correr por uns três quarteirões, decido que é hora de parar, então volto para o meu apartamento para me arrumar e partir para o novo trabalho. Chego em casa e, assim que abro a porta, posso ver meu namorado cozinhando algo para nós. Aquilo já havia virado rotina, eu saía para correr e, quando voltava, me deparava com ele cozinhando.

- Bom dia, linda. – diz ao perceber a minha presença. – como foi a corrida hoje?

- Como sempre . – Sorrio – Estou aproveitando meus últimos dias como total desconhecida.

- Ué, doutora Cameron... – Deixa os ovos que estava fritando na frigideira e vem ao meu encontro, beija meus lábios rapidamente e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Você não é uma total desconhecida, Jen. – Sorri, mais uma vez, e volta para terminar o nosso alimento.

- Eu gosto de agir como se fosse uma total desconhecida. – Brinco. – Vou tomar um banho, me espere para comer.

Levanto do banquinho alto em que estava sentada e me dirijo ao banheiro, pronta para tomar um banho. Lavo os cabelos, como não havia nada no contrato sobre a forma como ele deveria estar, mantive os fios castanhos. Provavelmente eles mudariam tudo lá pelo estúdio mesmo.

Me visto mais formalmente dessa vez, porém não perco o meu estilo, que se baseava no conforto em primeiro lugar. Opto por calças jeans e uma blusa social branca, meus cabelos ficam soltos, não me importo que eles sequem ao vento. Nós pés coloco sapatilhas pretas, simpnles porém completamente confortável.

Volto para a sala e a mesa já está posta, eu tinha o melhor namorado do mundo. Ele havia cozinhado ovos, feito café e algumas panquecas doces também. Encho uma caneca com café, preencho com leite e bebo de uma vez, tudo isso sob o olhar atento de Amaury.

- O que foi? – Sorrio, mostrando minhas covinhas.

– Você é linda, sabia? – pergunta e se estica para alisar minhas bochechas. – Eu te amo, Jen. – Ele diz aquelas palavras e eu tenho que me conter para não engasgar com a comida. – Eu te amo, muito, muito, muito. – Não sei o que responder, como reagir a aquela declaração, então faço o que qualquer pessoa normal faria e fujo.

-Estou atrasada, amor. – Me levanto rapidamente, beijo seus lábios sem pudor, pego minha bolsa, as chaves e corro para fora de meu apartamento, deixando para trás um moreno completamente aturdido.

Entro no carro e dirijo pelas ruas da cidade na qual eu iria morar pelos próximos oito meses. Com certa dificuldade, pois era nova no local, consigo chegar aos estúdios da ABC. Como disse anteriormente, era o meu primeiro dia, eu não conhecia mais ninguém do cast, sabia apenas que eu interpretaria Emma Swan, a filha abandonada da Branca de Neve. Logo na entrada, me identifico ao porteiro, que me deixa entrar, dando a orientação de onde eu deveria estacionar meu carro e comunicando que eu deveria me encontrar com os criadores da série, Adam Horowitz e Edward Kitsis.

Certo, eles não eram conhecidos como Shonda Rhimes e Ryan Murphy, mas também não eram os piores. A ideia deles para o show era, na verdade, incrível. Os contos de fadas numa terra sem magia, numa terra completamente diferente da qual eles estavam acostumados a viver. Perguntando às pessoas enquanto eu andava, consigo, depois de algum tempo, chegar à sala dos dois.

Bato na porta e ouço um "pode entrar" lá de dentro. Entro na sala e os vejo sentados por detrás de uma mesa quadrada. À sua frente havia duas cadeiras, uma para mim e a outra presumi que fosse para a minha co-estrela.

- Adam, Edward. – Os cumprimento com um aperto de mão. Adam faz sinal para que eu me sente e Edward começa a falar.

- Jen, você está linda. – Sorrio com o elogio. – Porém teremos que mudar um pouco a sua aparência.

- Tudo pela arte! – Dig vez deles dois sorrirem. Havia, de fato, algo no meu contrato que me obrigava a deixar o cabelo da forma que fosse melhor para a série.

- Nós iremos deixá-la loira, e vamos cachear o cabelo também. – Okay, nunca me imaginei loira, mas continuei ouvindo. – Além disso, você malha?

- Malhar, malhar não... – Respondo. – Mas faço atividades fisicas.

- Gostaríamos que você deixasse os músculos dos braços proeminentes. – Adam e Edward trocam um olhar cumplice e Adam continua falando. – Quanto ao físico é apenas isso, mas não é esse o assunto que queremos discutir com vocês.

-Vocês?

- Isso, você e sua co-estrela. – Responde Eddy. – Ela já deve estar chegando. – Mal termina de dizer isso e a mulher mais bonita que eu já vi entra na sala. Seus cabelos eram curtos, não passavam dos ombros, e eram bem escuros. Seus olhos eram de um castanho intenso, forte. Sua pele não era branca como a minha, tinha um leve tom bronzeado, latino. – Ah, aí está ela.

Então a morena abre um sorriso. Meu Deus, aquele foi o sorriso mais lindo que eu já tinha visto na minha vida todinha.

- Lana! – Sorri Adam, rapidamente ela dá beijinhos nas bochechas dos dois e se senta ao meu lado. – Lana, Jennifer, se conheçam. – Ela me abraça de forma animada e eu fico meio sem reação. – Vocês vão conviver juntas por muito tempo.

- Bem, sem mais delongas... – Interrompe Eddy. – Vocês já sabem a história das personagens de vocês, mas não sabem como essas histórias vão se cruzar. – Eu presumi que ela fosse interpretar a Branca de Neve, tendo em vista que a Branca de Neve deveria ser a mulher mais bonita do Reino. – A filha da Branca de Neve, Emma Swan. – Aponta para mim. – E a Rainha Má. – Aponta para ela.

- Eu vou infernizar sua vida. – Brinca Lana, olhando para mim.

- É nesse espírito mesmo, Lana. – Diz Adam. – Porém, esse ódio todo que uma vai sentir pela outra vai evoluir para algo a mais.

- Como assim? – Me inclino para a frente, curiosa.

- Ah, vocês sabem que é um conto de fadas moderno, não sabem? – Fazemos que sim com a cabeça. – Então, vocês vão dividir um filho. – Henry. Me lembro disso no roteiro. – E vão passar por muitas coisas juntas.

- Entre o amor e ódio existe uma linha muito tênue. – continua Edward. – Vocês vão cruzar essa linha e se tornar um casal. – Termina, com um sorriso no rosto.

- Nós vamos ser um casal? – Pergunta a outra mulher, completamente animada com a ideia. – Vocês são geniais, a Rainha Má e a filha da Branca de Neve.

- Isso não seria incesto? – Pergunto meio receosa.

- Claro que não, Jen. – Responde Adam. – A Regina não é avó de verdade da Emma.

- E quando isso tudo vai acontecer? – Lana parecia uma criança, de tão animada que estava com a ideia.

- Nós não sabemos, e queremos que vocês duas guardem o maior segredo sobre isso, pode ser?

- Com certeza. – Respondemos em uníssono.

- Chamamos vocês aqui para pedir que vocês coloquem nas entrelinhas, já que queremos fazer desse casal um trunfo para o show. – Explicam. – E queremos o máximo de segredo, pois vai ser uma surpresa e tanta para todos.

- Uau. – Digo.

- Pois bem, já falamos o necessário. Agora vamos conhecer o resto do elenco, já que vocês ainda não se conhecem.

Eles levantam e nós duas levantamos também. Percebo que Lana já conhece os dois de outros trabalhos, e eles demonstram certa intimidade ao conversar. Adam e Edward nos avisam que vão precisar passar em outro lugar e nós indicam a sala em que faremos as fotos para a temporada.

Olho para a Lana e ela me olha de volta.

- Não tivemos como nos apresentar direito. – Sorri de forma amável. – Lana, Lana Parrilla.

- Jennifer Morrison. – Retribuo o sorriso.

- Dra. Cameron. – Fala enquanto andamos. – Eu gosto de House.

- Eu também gostava. – Digo e memórias não muito legais invadem minha cabeça. Ela parece não perceber e se mantém animada falando.

- Eu já interpretei uma médica também. – Olho para ela e lembro. Claro! Miami Medical.

- Dra. Emily Zambrano.

- Eva. – Me corrige.

- Isso. Eva. – Me sinto envergonhada por ter errado o nome, mas ela parece não se abalar.

Continuamos andando até a sala de Chroma Key, a famosa tela verde. Alguns acessores nos recepcionam, dizendo que vão nos transformar em Emma Swan e Regina Mills, respectivamente.

Somos arrastadas para cantos diferentes e ela sorri para mim, murmurando um "tchau", aceno em resposta e me deixo levar para o salão montado especialmente para mim.

- Emma Swan. – Diz a cabeleireira.- Vamos ficar loira? – Pergunta, creio que na tentativa de me animar.

- E tem saída? – brinco.

- Não. – me responde. Nós duas damos risadas e ela começa a trabalhar em meu cabelo. Peço para que cubram o espelho, assim terei a surpresa de me ver loira.

Algumas horas, muita tinta e diversos produtos depois, estou pronta.

- Hora de se ver como Emma Swan, Jen. –diz Paige, a cabeleireira. Naquele tempo em que passamos ali, acabamos por nos tornar amigas. – Vou descobrir o espelho e você se olha, certo?

Faço que sim com a cabeça e ela puxa o pano que cobria. Levanto o rosto e me encaro. Eu estava completamente diferente, porém gosto do resultado.

Meus cabelos castanhos não eram mais castanhos, e sim loiros. Os fios que antes chegavam na cintura, agora morriam no meio das costas, alguns centímetros abaixo dos ombros. E não eram mais retos, havia ondas neles. Cachos.

- Meu Deus, Paige. – digo, boquiaberta com o resultado. – Eu amei!

- Ótimo, Jen. – Interrompe a acessora responsável por mim. – Agora vamos ao figurino.

Sou tirada da cadeira e me despeço de Paige com um abraço, prometendo que eu voltaria até ela. Sigo a acessora, que acabo descobrindo que o nome é Spencer, e vamos até a sala de figurinos.

A figurinista verifica as minhas medidas e me aparece com regatas de variadas cores, calças jeans e jaquetas. Fico animada com aquelas roupas e gosto de todas elas, especialmente de uma jaqueta vermelha.

- Que bom que gostou, essa jaqueta vai te acompanhar a série toda. – Explica a figurinista, Hanna. – Ela vai ser a peça fundamental do vestuário de Emma.

Quando estou devidamente vestida e arrumada, Spencer me arrasta para o estúdio de fotos. Chegando lá me deparo com Lana, que eu já conhecia, e mais 4 pessoas, três adultos e uma criança.

- Oi, Jen! – Diz uma morena de cabelos estilo Joãozinho e eu logo a reconheço como Ginnifer, que já tinha atuado comigo em um filme. – Quanto tempo! Seu cabelo está lindo.

- Ginny. – A abraço com força. – Meu Deus, você vai ser a Branca?

- Sim, e você vai ser minha filha. – Sorri. – Venha conhecer seu "pai". – Faz aspas com as mãos ao dizer a última palavra. Me puxa pela mão e logo estou entrosada com todos os presentes, menos com a criança, a quem supus ser Henry.

Lana percebeu que ele estava envergonhado de estar ali e se abaixou para falar com ele. Observo de longe a interação dos dois e acho fofo a forma como ela se abaixa para ficar de seu tamanho e olhar em seus olhos.

- Combinado? – ouço ela perguntando.

- Combinado, tia. – o garoto responde.

- Só não me chama de tia, me chama de Lana. – ela sorri. – Eu tenho idade para ser sua amiga.

- Amigos, então. – diz o garorinho, que logo a abraça pelo pescoço. Lana se levanta e dá a mão a ele, trazendo-o para perto da gente.

- Jen, Ginny, Josh, Rob. – Fala ela. –Conheçam Jared, nosso mascote. – brinca e o garoto sorri.

Ficamos tentando não deixar o garoto envergonhado, e conversamos bastante. Depois de certo tempo, aparece o fotógrafo, nos indicando que era a hora de começarmos a sessão de fotos. Entre risos e piadas, conseguimos passar um bom dia.

Volto para casa com o pensamento de que seria bom trabalhar com aquelas pessoas.