Lil's Beach pertence parcialmente a Sara Orwig! Quanto aos personagens, uns pertencem a Sara Orwig e outros a J.K. Rowling.


Lil's Beach

NOTÍCIAS EXCLUSIVAS DE SOUTH BEACH!

Nossos repórteres souberam, por meio de fontes seguras, que o contador que prestava serviços há anos para um dos mais famosos pontos de encontro de celebridades de Miami, o Lil's Beach, desapareceu da cidade. Ninguém sabe ao certo quanto dinheiro de Lily Evans ele levou consigo nessas, certamente, longas férias. Um espião infiltrado num restaurante próximo relatou-nos que a caçula dos Evans está à procura de ajuda financeira para solucionar este verdadeiro desastre, mas não quer, sob hipótese alguma, recorrer aos seus abastados irmãos.

Parece que a bruxa anda mesmo solta na casa dos Evans! Eles ainda estão se recuperando da descoberta da existência de uma sexta filha do velho Evans, fruto de um romance proibido. Um confidente muito próximo à família nos informou que a irmã recém-descoberta é proprietária de parte da Rede Evans de Hotéis e não parece nem um pouco disposta a negociar o seu quinhão com o ex-playboy, Nicholas Evans, atualmente à frente das empresas da família.

Segundo outros informantes ainda, os irmãos Potter estariam querendo expandir os seus negócios. Parece que a butique recentemente aberta no Hotel Vitoria não foi competição suficiente para o já não mais tão popular Evans Grand. Ainda não se sabe em que é que os charmosíssimos solteiros estão de olho dessa vez.


A vida de Lily Evans havia se transformado num verdadeiro desastre. Ela suava frio ao avaliar os livros-caixa espalhados à sua frente.

— Agora eu sei por que o meu contador desapareceu — sussurrou ela.

Se ela pelo menos tivesse tomado conhecimento do desfalque de dois milhões de dólares feito por Mundungo Fletcher antes de seu misterioso desaparecimento, talvez tivesse uma chance de pegá-lo, mas agora...

— Não há muito que fazer — disse Edward Finnigan. — A quantia pode ter sido depositada numa conta nas Bahamas, ou mesmo na Suíça. Seu antigo contador já deve ter levado o seu dinheiro para bem longe daqui.

Lily mal ouviu o que o novo contador lhe disse. Não conseguia parar de pensar na sua família. Já no mês passado, ela havia flagrado o seu irmão mais velho declarando que pretendia tomar o restaurante de suas mãos, caso não rendesse lucros consideráveis. O comentário de Matt, seu outro irmão, de que ela não tinha competência para os negócios ainda ecoava em seus ouvidos. O Lil's Beach estava indo de vento em popa e os números mostravam isso claramente!

— Mundungo devia estar me roubando desde o início — disse ela, sem se dar conta de que estava falando em voz alta. — Eu confiava nele. Suas referências eram ótimas.

— Talvez essa tenha sido a primeira vez — especulou Edward. — Ele pode ter se apertado e decidido pegar algum dinheiro emprestado para repor em seguida, mas

depois que fez a primeira vez... — Edward deu de ombros. — Acho que você não vai conseguir encontrá-lo.

— Como foi que ele fez isso? — perguntou, estarrecida por ter sido traída por alguém em quem confiava. — Os livros-caixa parecem em ordem.

— Seu contador maquiou os livros. Meu palpite é de que ele tinha dois livros-caixa diferentes. Um para você e outro só dele, particular.

Lily passou os dedos pela covinha em seu queixo, a marca registrada dos Evans.

— Eu quero pensar bem no que vou fazer antes de deixar que a notícia se espalhe — disse Lily. Não era bem a publicidade que ela temia, mas, sim, a humilhação que seus irmãos a fariam passar. — Nós vamos notificar as autoridades, é claro.

— Está bem, mas você tem pouco tempo para encontrar uma solução para dar conta da folha de pagamento, comprar mantimentos e arcar com as intermináveis despesas do restaurante.

Lily massageou as têmporas, tentando aliviar a sua enxaqueca. Sabia que deveria estar mais preocupada com a sua dívida, mas só conseguia pensar na reação de sua família. Para eles, ela era a eterna menininha que não tinha competência para administrar os negócios da família. Até mesmo Tess, sua irmã gêmea, compartilhava dessa idéia. Se não conseguisse pensar rapidamente em alguma solução, Lily acabaria provando que eles tinham razão.

— Não quero que ninguém mais fique sabendo do que aconteceu.

Edward assentiu, com um meneio de cabeça.

— Eu sempre respeito o sigilo das pessoas a quem presto meus serviços, mas você me disse que algumas pessoas de sua equipe já haviam comentado sobre o desaparecimento do contador. Em breve, começarão os boatos.

Ela respirou fundo.

—As notícias correm muito rápido no nosso ramo. Tem que haver alguma coisa que eu possa fazer! — disse ela, tentando encontrar um jeito de obter o capital necessário para não afundar de vez.

— Seus irmãos certamente poderiam ajudá-la. Eles estão muito bem financeiramente.

— Isso é o que mais em preocupa — admitiu ela, mordendo o lábio. — Eu quero resolver isso sozinha.

— Essa é uma atitude muito nobre da sua parte, mas, no momento, precisa ser prática. Recorrer a eles vai sair bem mais barato do que qualquer outro empréstimo que venha a solicitar.

— Não — disse ela enfaticamente, balançando a cabeça.

Se Nicholas tomasse conhecimento do desfalque arrancaria o Lil's Beach de suas mãos num piscar de olhos. O Lil's Beach, numa das últimas áreas livres de South Beach de frente para o mar, era propriedade dos Evans, e ele tinha a intenção de construir mais hotéis na região.


Uma semana já havia se passado desde a descoberta do desfalque. Lily estava no salão de jantar principal do restaurante, conversando com Remus Lupin, seu gerente, mas esforçava-se para se concentrar. Perdida em seus próprios pensamentos, ela se pôs a olhar ao redor. Ninguém diria que ela estava passando por um momento tão difícil. O teto cor de cobalto contrastava com as paredes de um tom rosa escuro. A luz de velas reluzia por todo o recinto adornado de buquês de flores. Os clientes podiam se reclinar confortavelmente durante a refeição sobre enormes almofadas forradas de algodão haitiano. Belas garçonetes circulavam de sarongue. Havia ainda uma varanda parcialmente coberta e um pouco mais além, já na praia, várias tendas brancas espalhadas, cada uma delas com pequenos sofás onde se podia relaxar e comer. Como é que um lugar tão convidativo poderia ter se transformado numa catástrofe? Lily não conseguia parar de tentar encontrar um meio de salvar a si e ao seu restaurante.

Foi quando ela notou um homem alto, de cabelos escuros, de pé, no lobby. Era James Potter, proprietário do El Diablo, um pequeno restaurante cubano muito famoso no SoBe. Ela já havia visto o nome e a foto de seu concorrente nos jornais e revistas, e cruzado com ele em alguns eventos sociais. Frank Longbottom, o maitre do Lil's Beach foi até ele e o conduziu a uma mesa.

James tinha a graça de uma pantera, pensou Lily, acompanhando as passadas de suas longas pernas e seu ritmo ágil. Ele estava vestindo um terno azul-marinho e uma camisa branca, e se destacava no meio da multidão. Segundo o que lera nos jornais, James tinha 33 anos e era um solteiro convicto.

— O que é que ele está fazendo aqui? — perguntou Lily a Remus, que se virou para seguir o seu olhar.

— Acho que ele está curioso. Já esteve aqui antes. Deve estar com medo da concorrência.

Ela tentou sorrir, mas achou a tarefa impossível. Esfregou as mãos, nervosa, mas não conseguiu tirar os olhos dele. Mal notou quando Remus pediu licença para tratar de outro assunto. James era ainda mais bonito pessoalmente do que nas fotografias.

Sentado numa mesa que proporcionava uma vista privilegiada da praia, James começou a apreciar o lugar até seus olhos encontrarem os de Lily.

Ela quase perdeu o fôlego, mas sorriu para ele, com um meneio de cabeça. O olhar daquele homem era magnetizante. Ela teve mesmo que se esforçar para desviar os olhos dele e caminhar até a mesa de outros clientes para conversar um pouco. Sentindo suas costas formigarem, ela ficou se perguntando se James a estava seguindo com o olhar.

Poucos depois, Lily deixou o salão e voltou ao seu escritório. Sentou-se à sua mesa, releu diversas vezes a lista de possibilidades que havia elaborado para levantar fundos, sabendo que não havia nada de promissor nela.

Sem conseguir chegar a nenhuma conclusão, ela foi até o seu banheiro privativo e se olhou no espelho de corpo inteiro. O brilho de sua saia e blusa de seda vermelhas, cor de fogo, contrastava com o frio que ela sentia por dentro. Seus longos cabelos ruivos estavam presos no alto de sua cabeça, com alguns cachos soltos que lhe emolduravam a face. A imagem refletida no espelho não se parecia em nada com a de alguém que estava enfrentando uma tormenta. Ela sorriu para si mesma, apesar da tristeza que sentia.

Lily então levantou os ombros e voltou para o salão principal. Seus olhos voltaram-se imediatamente para James, que ainda estava jantando sozinho. Ela, porém, achou melhor cumprimentar os outros clientes antes de se dirigir diretamente à mesa dele, conforme desejava fazer.

Passados 15 minutos, Lily foi até James. Ele se levantou para cumprimentá-la e o contato próximo com aqueles olhos castanho esverdeados mostrou-se muito mais intenso e fulminante que o anterior. Ela não resistiu e o olhou de cima a baixo, conscientizando-se de sua altura. Sua pele morena contrastando com a cor clara da camisa e de seus olhos o tornavam ainda mais atraente, mas Lily sabia muito bem que a aura de sensualidade em torno daquele homem se devia a bem mais do que seu atributos físicos.

— Sente-se, por favor — disse ela.

— Se você me acompanhar — respondeu ele num tom de voz grave e baixo que só fez aumentar ainda mais o seu poder de sedução. — Eu já terminei a refeição. Por que não toma um drinque comigo?

— Obrigada — respondeu Lily.

Ele deu a volta na mesa e puxou uma cadeira para ela. Os dois ficaram frente a frente.

— Bem-vindo ao Lil's Beach. Veio checar a concorrência?

— Certamente, mas também desfrutei de um delicioso jantar.

— Um dos meus pratos prediletos — disse ela, olhando para a mesa.

— Eu também gostei muito, mas a minha noite está ficando ainda melhor agora.

Lily sorriu.

— Tenho certeza que você flerta com a mesma facilidade com que respira — retrucou ela, sentindo a tensão crescer entre eles. Era fácil compreender por que tantas mulheres caíam a seus pés.

— Como é que eu poderia resistir? — disse ele, num tom ainda mais grave.

— Você já esteve aqui antes.

— Sim, e a comida é sempre excelente. Meus cumprimentos ao chef — disse James sorrindo para ela com seus dentes alvos.

— Muito obrigada. Você sempre se intera do andamento da concorrência desse jeito?

— Claro, e tenho certeza de que você também faz isso. Aposto que já esteve no El Diablo.

— É verdade. A comida também estava excelente.

— Obrigado. Você tem razão quanto a sermos concorrentes, mas eu não posso deixar de lhe dizer que você é a minha concorrente mais bonita.

O coração de Lily bateu mais forte. Sorriu para ele, embora suspeitasse que ele poderia aniquilar o Lil's Beach sem o menor escrúpulo.

— Há lugar suficiente no SoBe para nós dois — respondeu ela, usando todo o seu tato.

— Pelo menos até você roubar a minha clientela — respondeu ele, sorrindo.

Ela teve que rir.

— Nossos restaurantes são suficientemente diferentes para impedir que isso aconteça. O seu tem uma ambientação muito mais sensual que o nosso.

Ele olhou em volta e deu de ombros.

— Pois acho que tudo aqui é muito sensual. O ambiente, a boa comida, os atendentes atraentes, a música, além da possibilidade de se recostar e relaxar enquanto se come. Seu restaurante não deixa nada a desejar ao meu em termos de sensualidade, Lily.

Ele pronunciou o seu nome com uma voz tão rouca que fez o corpo de Lily latejar. Ela estava gostando daquele embate. As faíscas em torno deles eram quase visíveis, mas ela sabia que sua reação a ele não devia ser muito diferente da de outras mulheres que cruzavam seu caminho. Ele exalava sensualidade por todos os poros. Lily estava intrigada. Será que havia alguma razão secreta para ele ter ido ao seu restaurante?

— Eu devia contratá-lo para fazer a nossa publicidade — disse ela, tentando descobrir o que ele realmente tinha em mente.

— Eu o faria de bom grado — disse James, lançando-lhe mais um daqueles sorrisos encantadores.

— "Lil's Beach, onde o prazer de uma boa refeição se transforma numa experiência altamente sensual."

Ela sorriu, esquecendo, por um instante, todas as suas preocupações.

— Você está exagerando, mas eu, com certeza, terei muito prazer em tê-lo como meu freguês.

— Você poderia me acompanhar no jantar da próxima vez.

— Quando quiser — respondeu ela. — A menos que haja uma crise na cozinha ou alguma razão para eu estar em outro lugar. Você gostaria de dar uma volta para conhecer melhor as dependências, ou já viu tudo o que havia para ver?

— Nem de longe — respondeu ele com uma piscadela. — Eu suspeito que há muito mais para descobrir por aqui. — Seu tom sugeria algo bem mais pessoal do que os assuntos ligados ao restaurante.

— Vamos lá — disse ele. — Eu já estou fascinado. Mal posso esperar para ver o que mais você tem para me mostrar.

Lily não pôde deixar de se sentir lisonjeada, ainda que estivesse certa de que ele dirigia os mesmos elogios e gracejos a todas as mulheres que conhecia. James certamente tinha vindo para dar uma olhada no movimento, flertar um pouco mais e depois ir embora. Ela nunca mais o veria de novo, a não ser nos eventos relacionados a trabalho.

— Nós estamos no salão principal — disse ela, dando início à excursão. — Daqui podemos ver as tendas que ficam para além da varanda. Fora do salão, nesta direção, ficam os recintos privativos. Há apenas um vago esta noite. — Atravessou então uma porta e se dirigiu a uma pequena área de jantar com quatro mesas longas. — Nós podemos rearranjá-las para acomodar muitas ou poucas pessoas. Por aqui — disse ela saindo e desligado a luz atrás de si — fica o lounge. Muita luz estreboscópicas, hip hop e corpos suados.

A música alta os impediu de continuar conversando. Lily tocou o braço dele de leve, aumentando o tom de voz para se fazer ouvir. James virou a cabeça na sua direção e a seguiu a caminho do corredor.

— Agora você já conhece tudo. Quer voltar para a sua mesa ou prefere ficar aqui do lado de fora? É um pouco frio a esta hora da noite.

— Só se você me acompanhar — respondeu ele. Ela balançou a cabeça relutantemente. Estava gostando da sua companhia, mas tinha que voltar ao trabalho.

— Eu estou muito ocupada agora. Posso me juntar a você mais tarde, mas no momento, preciso checar como estão as coisas. As quintas-feiras são muito agitadas por aqui.

— Neste caso, darei a noite por encerrada. Eu gostaria de conversar com você em particular. O que acha de marcarmos algo para amanhã?

Surpresa, ela ficou se perguntando o que ele queria lhe dizer ou perguntar.

— Claro — disse ela. — Se preferir, eu posso esperar um pouco mais e falar com você agora, em meu escritório — respondeu ela curiosa.

— Seria ótimo.

— Fica lá nos fundos — disse ela, apontando para o corredor e se impressionando mais uma vez com a altura dele.

Lily abriu a porta e acendeu a luz. James foi até o centro da sala, abriu o paletó e pousou as mãos sobre os quadris estreitos, dando uma olhada ao redor.

— Belo escritório.

— Sente-se, por favor. Bebe alguma coisa?

— Não, obrigado.

Lily sabia que a imagem daquele homem em seu escritório ficaria gravada na sua mente.

— Parece que nós temos as mesmas preferências em termos de arte — ele observou, apontando para um Mondrian.

— É verdade. Eu já o vi em algumas galerias. Tire o seu paletó — disse ela.

Ele olhou para ela e se desvencilhou do paletó, pousando-o sobre uma cadeira.

Lily se sentou numa das cadeiras de frente para a janela que dava para as luzes da varanda. As palmeiras se agitavam suavemente lá fora ao sabor da brisa. Hibiscos vermelhos e amarelos circundavam cada uma das árvores complementando a decoração.

— Isso aqui é mesmo muito atraente — disse James com uma voz grave e aveludada, sentando-se em frente a ela, parecendo relaxado.

A curiosidade de Lily crescia cada vez mais. Lily cruzou as pernas morenas e bem torneadas. James baixou o olhar por um instante e então voltou a olhá-la nos olhos.

— Quer dizer então que você tinha uma razão para vir aqui esta noite, além de saborear um bom jantar — disse ela.

— Não. Eu achei que já estaria de volta ao El Diablo há algum tempo, mas mudei meu plano original de vir aqui amanhã para marcar um horário para falar com você. Eu não esperava encontrá-la aqui esta noite.

— Bem, você não precisa mais esperar até amanhã. De que se trata?

James a encarou em silêncio, instigando-a ainda mais. Qualquer que fosse o assunto, deveria ser coisa séria.

— Você sabe como as notícias voam no nosso meio — começou ele.

Lily ficou arrepiada. Torceu para ter conseguido manter uma expressão inalterada e olhou firme para ele, mas sabia que ele só podia estar falando do desfalque. Um calor sufocante se apoderou dela. Será que sua família também já estava a par de tudo?

— Prossiga — disse ela firmemente, desejando ter parecido um pouco mais relaxada. Ela estava grata por eles estarem na penumbra.

— Seu contador desapareceu.

— É verdade. E como sabe disso, deve saber também do resto da história, mas você certamente não veio aqui para confirmar aquilo que poderia ter descoberto de outro modo.

— Não. Você se importaria de me responder se os seus irmãos já sabem do que aconteceu?

— Não sabem, e para falar a verdade, estou muito decepcionada de saber o quanto já se tornou público.

— Bem, parece que não foi só o seu contador que desapareceu.

— Infelizmente você está certo. Ele levou também o meu dinheiro, mas isso não tem nada a ver com o El Diablo, não é? O que é que você tem em mente?

— Eu tenho uma proposta a lhe fazer — respondeu ele com sua voz profunda.

Atordoada, ela mais uma vez esperou não ter expressado claramente a sua surpresa.

— Eu não estou disposta a vender o Lil's Beach.

— Não foi por isso que vim aqui. Você tem feito um belo trabalho.

— Então o que é? — perguntou ela surpresa. — Se espera que eu tome o seu dinheiro emprestado, saiba que isto está fora de cogitação. Posso recorrer a minha família para isso.

— Não creio que esteja interessada nisso, caso contrário, já teria feito. Eu tenho de admitir que estou surpreso com o fato de seus irmãos ainda não saberem de nada.

— Eles estão muito ocupados com o inventário do meu pai — respondeu ela, lembrando-se da leitura do testamento no mês anterior. Ela não tinha nenhuma intenção de contar a James sobre o choque que havia sido descobrir que o seu pai tinha um romance secreto com outra mulher que havia gerado uma filha, Charlotte Evans, antiga gerente e atual proprietária do Evans Grand Bahamas.

— Se você não está interessado em comprar o restaurante nem em me propor um empréstimo, qual é a sua proposta?

— Uma troca. Eu pago a sua dívida e seus irmãos não assumem o comando do restaurante.

Surpresa, Lily o olhou nos olhos. Pagar a sua dívida. Aquelas palavras a incomodaram. Ela sabia que não tinha muita escolha, mas sua primeira reação foi de recusa. Ela não queria um estranho metido em seus negócios.

— Muito obrigada, mas não creio que isso seja possível — respondeu Lily educadamente, sentindo-se muito exposta.

— Não se apresse tanto em me dar uma resposta — disse ele. — Vamos conversar mais sobre isso.

Ela balançou a cabeça, mas ele se debruçou e segurou a mão dela, fazendo seu coração acelerar novamente. A palma dele era quente e macia. Ela se desvencilhou dele e pousou as mãos entrelaçadas sobre o colo para não se trair.

— Eu compreendo muito bem a sua relutância em pedir ajuda à sua família — disse James.

— Muito bem, eles não estão entre as minhas prioridades no momento — disse ela, tremendo só de pensar em ir até o escritório de Nicholas e anunciar que o seu contador havia lhe roubado dois milhões de dólares. — Eu pretendo resolver isso sozinha.

— Ah! — disse James satisfeito.

Lily estava num dilema terrível. Tudo dentro dela lhe dizia para não aceitar a oferta de James e mandá-lo embora, mas o desespero a manteve em silêncio. Não conseguindo mais resistir, ela perguntou:

— O que é que você ia querer em troca?

— Uma parte do Lil's Beach.

A primeira coisa que lhe veio à mente foi: "Nunca!".

— Eu não posso fazer isso!

— Pense no assunto — disse ele. — Você sanaria as suas dívidas.

A proposta era tentadora. Uma voz lá dentro lhe dizia para aceitar a oferta. Aquele era o milagre pelo qual ela havia esperado, então por que hesitar?

— Uma parte... De que tamanho? — perguntou Lily, mordendo o lábio, enquanto sua mente corria desvairada. Se ela não conseguisse pagar tudo em uma semana, acabaria tendo que recorrer a Nicholas.

— Isso vai depender do tamanho do meu investimento — retrucou James, sentando-se novamente na cadeira e olhando para ela. Ele parecia relaxado como se estivesse decidindo pelo cardápio do café-da-manhã. Seus olhos castanho esverdedos, porém, estavam bastante alertas, lembrando-a novamente de uma pantera, só que dessa vez pronta para saltar sobre a sua presa.

Ela odiou ser obrigada a pronunciar a quantia em voz alta. James esperou pacientemente pela resposta. Ela ergueu o queixo, pensando em quantas vezes aquele valor lhe havia passado pela cabeça e a mantido acordada nas últimas noites.

— Pouco mais de dois milhões de dólares. — Ele apertou os lábios e se manteve em silêncio como se estivesse pensando no assunto.

Embora tivesse ficado surpresa com a ausência de reação da parte dele, Lily pensou em seus irmãos. Eles certamente teriam enlouquecido e começado a crivá-la de perguntas para saber como ela tinha deixado uma coisa dessas acontecer.

— Dois milhões é uma quantia bastante considerável. Alguma esperança de pegar o contador?

— Ninguém sabe para onde ele foi — disse ela secamente, para então cair no silêncio novamente.

— Dois milhões — repetiu ele, encarando-a. — Você é a proprietária do imóvel e do terreno?

— Só do imóvel. O terreno é propriedade da Rede Evans de Hotéis.

Ele fez um meneio de cabeça. O silêncio se tornou opressivo. Os nervos de Lily estavam tensionados ao limite. Ela não suportaria que ele lhe negasse a salvação com que acenara para ela.

— Está bem, eu cubro as suas dívidas — declarou ele.

Ela soltou a respiração. Não sabia ainda se ia aceitar a proposta, mas era um alívio saber que tinha uma opção.

— E você tem idéia do quanto vai querer do Lil's Beach por isso? — perguntou ela, suspendendo novamente a respiração à espera de uma resposta.