Me Da Uma Carona? pertence parcialmente a Barbara McCauley! Quanto aos personagens, uns pertencem a Barbara McCauley e outros a J.K. Rowling.
Me Da Uma Carona?
— Lily, pelo amor de Deus! Como Evelyn terminará isso se você não pára? — Lisa Dupre-Evans olhou para o Rolex de ouro no pulso magro e depois, com impaciência, para a filha. — Agora estique-se, querida, e erga o queixo. Faltam apenas três dias para o casamento e isso tem que estar perfeito.
Esbelta e estonteante, a própria Lisa era o retrato da perfeição. Diziam que a filha era muito parecida com ela, embora Lily fosse uns oito centímetros mais alta e seus olhos fossem verdes em vez de castanhos, como os de Lisa.
— Herança de sua bisavó — Lisa costumava dizer, quando comentavam sobre a cor dos olhos da filha.
Enquanto Lisa a circulava, Lily encolheu a barriga, trincou os dentes por causa dos alfinetes no vestido, jogou os ombros para trás e ergueu o queixo.
Ela não conseguia respirar, nem se mexer, e uma coceira persistente se instalou no meio das suas costas.
Três dias.
Como se Lily precisasse ser lembrada de que faltavam apenas três dias para seu próprio casamento.
Precisamente: setenta e oito horas, quarenta e dois minutos e — ela olhou para o relógio na parede do provador da chique loja de noivas — trinta e sete segundos.
Lily engoliu em seco. Pôde ver três jovens idênticas usando cetim branco e rendas italianas encarando-a dos espelhos triplos. Era estranho, pensou Lily, que as imagens refletidas não se parecessem com ela.
Não sentia como se fosse ela.
— Ela emagreceu — afirmou Evelyn Goodmyer, a costureira mais requisitada em toda a Carolina do Sul, ajustando a costura debaixo do braço de Lily. — Era um manequim trinta e oito perfeito antes. Como posso...
— Meu Deus, Lisa! — Victoria Hollingsworth irrompeu no provador, com um jornal na mão. — Você precisa ver isso!
— Vickie — disse Lisa impaciente. Victoria abriu o jornal e o mostrou a Lisa.
— O Charlston Times de hoje. A coluna social, na página central.
Victoria fora companheira de Lisa na Universidade de Vassar, também era madrinha de Lily. E — Lily ressentiu-se ao olhar para o relógio novamente — em setenta e oito horas, trinta e nove minutos e vinte e seis segundos, Victoria também seria sua sogra. Victoria rapidamente começou a ler:
— Oliver Hollingsworth e sua noiva, Lily Evans, em um evento de caridade pela nova ala infantil do Hospital Memorial de St. Evastine, semana passada, vão se casar, neste sábado, na Catedral Chilton.
— Só isso?
— Claro que não, tolinha. —Victoria pigarreou. — Srta. Evans, 24, filha do armador John Evans III e de Lisa Dupre-Evans, tradicionais moradores de Rolling Estates em Hillgrove, é formada summa cum laude pela Universidade de Radcliffe. Oliver, 26, filho de Nevin e Victoria Hollingsworth, também residentes de Rolling Estates, recentemente recebeu seu MBA de Harvard, depois de se formar como Phi Beta Kappa em Princeton. Atualmente, é gerente na firma de contabilidade Hollingsworth e Associados, em Blossomville.
Os olhos de Victoria se encheram de lágrimas e a voz oscilou.
— Meu menininho cresceu, Lisa. E Lily, nossa linda e preciosa Lily... — Victoria e Lisa olharam para Lily e suspiraram.
"Parem!" Ela queria gritar. "Parem, parem, parem!" Entre a mãe e a avó, nas últimas semanas, Lily já vira lágrimas femininas demais.
Quando Evelyn colocou outro alfinete no corpete, acertou-a na pele. Lily sentiu os próprios olhos lacrimejarem.
— Ah, Vickie, você a fez chorar também. — Fungando, Lisa guardou o jornal. — Você pode ler isto mais tarde, Lily. Temos de nos apressar, se quisermos manter nossa reserva às onze e meia no Season's.
— Não consigo acabar tão rápido — interrompeu a costureira. — Ela ainda precisa experimentar os sapatos. Ela irá quando acabarmos aqui.
— Acho que não tem problema. — Lisa beijou a filha. — Mandarei Thomas apanhá-la, querida. Avise quando estiver pronta.
Evelyn acompanhou Lisa e Victoria até a porta. Lily olhou para os espelhos.
Desta vez, suas lágrimas nada tinham a ver com alfinetes. Olhou para o relógio mais uma vez.
Setenta e oito horas, vinte e nove minutos e doze segundos.
James Potter estava de muito mau humor, devido ao calor e à umidade dentro do seu carro, ou a doze horas de direção direto de Nova Jersey na noite passada, já há vinte e quatro horas sem dormir. Talvez seu humor estivesse relacionado ao fato de estar há duas horas esperando em frente a esta loja, suando feito um porco, sem sequer um vestígio da mulher.
"O que diabos ela fazia lá dentro há duas horas?"
Não estava interessado em saber, James pegou outra garrafa de água do isopor. Havia coisas que ele preferia não saber; casamentos e compras femininas encabeçavam a lista. "Quanto menos souber sobre isso, melhor."
Bebeu metade da garrafa. Por sorte a mãe saíra há meia hora com outra mulher. Ele recebera instruções específicas de Remus Lupin para só abordar Lily Evans quando estivesse sozinha. James viu sua oportunidade. Considerando o controle dos Evans, James achou que talvez não tivesse outra chance.
Se mamãe e papai Evans vissem o detetive particular com cabelo bagunçado com a sua menininha preciosa, provavelmente mandariam a polícia trancafiá-lo num piscar de olhos. O fato de ele não infringir qualquer lei era irrelevante. Os ricos tinham suas próprias regras, suas próprias leis.
E ele as dele.
Não pretendia ir para a cadeia, por ninguém, nem por qualquer dinheiro. Faria seu trabalho, e se mandaria dali. Era especializado nos mais difíceis, e delicados, casos de pessoas desaparecidas, seu trabalho o levava a atravessar todo o país. Passava mais tempo viajando que em seu apartamento em Nova Jersey, mas isso não o incomodava. James gostava de estar sempre em movimento, e rápido.
E possuía o carro certo: um Charger 426, modelo 1968. Artesanal e meticulosamente restaurado, seu bebê era pura força e velocidade. Na estrada podia fazer um quilômetro em 26,5 segundos.
Depois de completar este serviço talvez fosse para Miami por algumas semanas, tentaria quebrar seu recorde e dividiria uma jarra de marguerita com... "Qual era mesmo o nome da garçonete que conhecera ano passado quando perseguira aquele vigarista no hotel? Sandy. Loura, resolvida e divorciada." Ele sorriu com a lembrança, percebeu que há muito tempo já vinha trabalhando demais. Só trabalho e nenhuma diversão não era bom para James.
Tudo isso estava prestes a mudar.
James viu a mulher saindo da loja de noivas, trazia suas sacolas. Ele a viu colocar os óculos escuros e parar na frente da loja, olhando na direção dos carros.
"Puxa, ela é linda." Era alta para uma mulher, provavelmente um metro e setenta, esbelta, pernas compridas e de estrutura delicada. O rosto tinha o formato de coração.
"E a boca, meu Deus." Grande, suculenta e carnuda.
Ele suspirou desapontado. Ela era trabalho e não lazer.
"Mas olhar não faz mal, faz?", pensou ao tirar as chaves da ignição.
Saiu do carro, evitando contato visual. Ela parecia esperar uma carona, e ele teria de agir rápido para não perdê-la. Já estava na metade da rua, quando ela repentinamente virou-se, caminhou na direção oposta e desapareceu na esquina.
"Diabos!"
Será que ela o viu? Improvável. Mesmo que o tivesse visto, não tinha como saber que estava ali por causa dela. Correu até a esquina e examinou a rua. Viu pessoas caminhando, homens e mulheres de negócios indo almoçar, clientes entrando e saindo de lojas, mas nem sinal de Lily Evans.
"O que diabos...? Será que ela entrou em outra loja?" Estava prestes a entrar na Joalheria de Maiman quando avistou o caminho de tijolos conduzindo a um pátio central. Hambúrgueres e pizza recém-saídos do forno perfumavam o corredor.
Instintivamente, James seguiu o caminho até um pátio interno, ao ar livre, repleto de samambaias e chafarizes. Havia pessoas almoçando nas mesas e cadeiras de ferro no centro do pátio onde vendedores serviam todo tipo de sanduíches.
"Achei."
Ela estava de pé na frente de um carrinho; um jovem sardento distraído demais com a bela cliente, sonhador, ruborizou e entregou-lhe um farto cachorro-quente. James escondeu-se detrás de uma samambaia quando ela olhou em sua direção. O detetive a viu afastar-se alguns metros e ficar de costas para ele.
— Está na hora do show — James sussurrou.
Aproximou-se dela por detrás, e parou a um metro de distância para lhe conceder algum espaço.
— Lily Evans?
Ela se sobressaltou e, sem se virar, jogou o cachorro-quente no lixo. Confuso, James a viu endireitar-se e se virar.
— Sim?
Droga. Ela podia ser apenas trabalho, mas mesmo assim sua pulsação disparou quando ela o encarou. Parecia linda do outro lado da rua, mas de perto ela era um estouro.
— Srta. Evans, eu... — Ele parou, olhou para a lata de lixo e franziu a testa. — Por que você fez isso?
— Fiz o quê?
Aborrecido, ele gesticulou na direção da lata de lixo.
— Desperdiçar um cachorro-quente.
— Não sei do que você está falando. Eu o conheço?
"Ela era boa", pensou James. Desdém e impaciência suficientes para colocá-lo no devido lugar sem ser rude. Que diabos. E por que ele deveria se importar?
— Meu nome é James Potter — disse, mostrando-lhe o distintivo de detetive particular. — Fui contratado por uma firma de advogados em Wolf River, Texas, para encontrá-la.
Ela examinou o distintivo com os óculos na ponta do nariz.
— Para quê?
— Podemos nos sentar? — James sugeriu, indicando uma mesa vazia.
— Receio que não, Sr. Potter, estou atrasada para um compromisso. — Ela abriu a bolsa, retirou de dentro um cartão e o entregou ao detetive.
— Se ligar para este telefone, a secretária de minha mãe marcará uma hora. Agora se me der licença...
Ele bloqueou-lhe a passagem e notou seus lábios apertados em sinal de irritação.
— Srta. Evans. Quem me contratou insiste que eu fale apenas com você.
— E eu insisto que me deixe passar.
— Eu só quero cinco minutos. Não precisa ter medo. Não estou aqui para machucá-la.
— Não estou com medo — disse friamente. — Estou com pressa. — Na verdade ela estava com medo. Embora estivesse acostumada a abordagens, geralmente com um pedido de doação para caridade, não era todo dia que um homem a surpreendia e a encurralava.
"Este não é um homem qualquer", pensou, segurando a bolsa de encontro ao peito. Devia ser o homem mais rústico que já vira. A camiseta azul-marinho delineava o tórax musculoso, enquanto um jeans desbotado cobria as pernas longas. O cabelo escuro estava todo bagunçado e o rosto — um rosto que lhe tirara o fôlego quando ela se virará pela primeira vez —já não via uma navalha há alguns dias. Os olhos eram castanho esverdeados, o nariz reto e a boca — seu olhar se focalizou nela —, a boca tinha uma arrogância displicente que lhe deixou a garganta seca.
Ajeitando os ombros, ela tentou forçar a passagem.
— Me desculpe, mas eu realmente não posso... — Mais uma vez ele se pôs no seu caminho.
— Você já ouviu falar em Damon e Nora Chesterton?
— Não. E eu apreciaria...
— E quanto a Rand e Seth Chesterton?
Ela hesitou, tentando dissipar a súbita dor por trás dos olhos. Nunca escutara nenhum destes nomes, tinha certeza disso. No entanto... Rand e Seth...
— E por que eu deveria?
— Porque — James inclinou-se, aproximando seu rosto do dela. — Damon e Nora Chesterton são seus pais verdadeiros, e Rand e Seth são seus irmãos.
Ela olhou demoradamente para ele, e depois começou a rir.
— Isso é a coisa mais ridícula que já ouvi.
Mas ele não sorriu, apenas continuou olhando para ela.
— Damon e Nora morreram num acidente de carro em Wolf River há vinte e três anos. Seus três filhos sobreviveram ao acidente e foram separados. Rand, de nove anos, foi adotado por Edward e Mary Biddell, de San Antônio. Seth, de sete, foi adotado por Ben e Susan Garrison, do Novo México. Anne, de dois anos, foi adotada por John e Lisa Evans, da Carolina do Sul, mas moradores da Inglaterra na época. Você e Anne, Srta. Evans, são a mesma pessoa.
O sorriso morreu nos seus lábios, e a dor por trás dos olhos se intensificou.
— Ou isso é uma piada de mau gosto, Sr. Potter, ou o senhor é um péssimo detetive que cometeu um terrível engano.
— Isto não é uma piada. E não cometo enganos. Você é Anne Chesterton, ilegalmente adotada pelos Evans enquanto moravam na Inglaterra. Quando John e Lisa voltaram aos Estados Unidos, um ano depois, com um bebê de três anos de idade, e disseram que ela era sua filha, ninguém duvidou.
— Não... Não acredito em você.
— Venha se sentar. — A voz dele era gentil. — Só por um instante. — Tonta, ela se deixou conduzir até uma mesa onde ele lhe ofereceu uma cadeira. Ela começou a se sentar, e depois sacudiu a cabeça.
— Não, isto é ridículo — disse afastando o braço da mão dele. — Eu não acredito em você!
James tirou alguns papéis do bolso de trás e os entregou a ela.
— Sei que precisará pensar nisso tudo, Srta. Evans. Estes documentos explicarão o que aconteceu. Leia-os, pergunte aos seus pais sobre a verdade. Quando estiver pronta, me ligue.
Ela não podia tocar nos papéis na mão dele. Não tocaria neles. Com um suspiro, ele os colocou na sacola de compras dela. O coração da moça batia forte e a dor por trás dos olhos estava insuportável. Tinha de sair dali. Agora. Ela se virou e correu... sem olhar para trás.
— Lily, querida, por favor, abra a porta. Por favor, querida.
Lily estava trancada em seu quarto, ignorava as persistentes batidas da mãe na porta. Ela estava há quinze minutos de pé no corredor, suplicando, ameaçando, e até chorando, mas Lily se recusava a responder.
— Sei que você está aí, querida. Fale comigo. Me diga o que está errado. Papai e eu consertaremos tudo.
Segurando os papéis que James Potter lhe deixara, Lily olhava fixamente para o teto. Os documentos eram de um advogado chamado Alvo Dumblendore: uma cópia da certidão de nascimento, um artigo de jornal descrevendo o acidente de carro, uma fotografia — ampliada e digitalizada — de Nora Chesterton num leito de hospital segurando uma recém-nascida, cercada da família sorridente: um marido charmoso e dois menininhos.
Lily passara a última hora olhando para a fotografia. Nora Chesterton se parecia muito com ela. O mesmo cabelo, o mesmo rosto, os mesmos olhos verdes.
E a prova contundente, a cópia de um contrato entre um advogado chamado Leon Waters, em Granite Springs, e John e Lisa Evans, um acordo vago para a transferência de uma quantia inespecífica caso aprovassem um certo "pacote".
Lily foi para casa depois do encontro com James. Não acreditava no que o homem lhe dissera. Ainda não acreditava.
Como era possível? Como é que tudo isso poderia ter acontecido? E por que seus pais teriam feito algo assim?
— Oh, John, graças a Deus você chegou — escutou a mãe dizer do outro lado da porta. — Ela almoçaria comigo e com Victoria, mas não apareceu, liguei para casa e Tiffany me disse que ela chegou há cerca de uma hora, e que parecia transtornada. Não quis falar com Tiffany nem com Richard, apenas veio direto para o quarto e, agora, não quer abrir a porta.
— Lily, aqui é o seu pai. Abra a porta imediatamente! Não tenho tempo para bobagens.
Com um suspiro, Lily sentou-se. Já que teria de encarar os pais, por que não agora?
Sentiu um nó no estômago ao olhar para os papéis.
Damon e Nora Chesterton são os seus pais verdadeiros... mortos num acidente de carro... Rand e Seth...
Rand e Seth. Estes nomes significavam algo para ela. Algo importante.
Engoliu em seco. Qualquer que fosse a verdade, o que quer que tivesse acontecido vinte e três anos atrás, ela precisava saber.
— Lily Evans! Abra imediatamen...
A mão do pai estava erguida, pronta para bater de novo na porta, quando Lily a abriu. A mãe correu para ela, abraçando-a.
— Lily, querida!
— O que aconteceu? — quis saber o pai. Com o corpo rígido, Lily afastou-se da mãe.
— Mãe, Pai. Entrem e sentem-se, por favor.
A calma na voz de Lily a espantou. A própria calma a espantou.
— O que houve? Sua mãe me tirou de uma reunião insistindo que você estava doente. Exijo saber o que está acontecendo.
— Pare de gritar com ela, John. Será que não percebe que ela já está aflita?
— Mãe...
— Lily, meu amor. Todas as noivas ficam nervosas antes do casamento. Isso é perfeitamente normal. John, traga meus sedativos do armário de re...
— Não!
John e Lisa ficaram chocados. Lily nunca falara com os pais naquele tom de voz. Ela não se lembrava de já ter-lhes dito não.
— Lily você está me assustando — disse a mãe. — O que foi? O que...
— Wolf River.
— Wolf River? — sussurrou Lisa, olhando para o marido. Naquele instante, Lily soube da verdade.
"Meu Deus."
Os olhos castanhos de Lisa transbordavam medo. Ela tentou se aproximar da filha, mas Lily a afastou.
— É verdade. Eu sou adotada.
— Onde você escutou tal coisa? — perguntou John, sério.
Na última hora rezara para que alguém estivesse brincando, ou que o detetive particular tivesse cometido um engano. "Não cometo enganos", ele lhe dissera. Pela expressão dos seus pais, ele parecia ter razão. Com a garganta seca, disse num sussurro:
— Um homem chamado James Potter, um detetive particular contratado por um advogado de Wolf River, me abordou quando saía da costureira. Ele me entregou um artigo de jornal sobre um acidente de carro e uma fotografia dos meus pais biológicos e dos meus dois irmãos. Ele também me deu uma cópia de um documento, um acordo entre vocês e um homem chamado Leon Waters.
Lisa apoiou-se no braço do marido.
— Lily...
— Ele me disse que o meu nome, meu nome de verdade, é Anne Chesterton. — Lily caminhou até a janela e viu o gramado da propriedade onde crescera. Era verde e suntuoso. A mansão era a maior na vizinhança abastada. — Os nomes dos meus... pais eram Damon e Nora Chesterton.
— Por favor, venha se sentar — pediu John. — Precisamos conversar sobre isso.
— Vocês me compraram. Como um dos seus barcos, ou casas, ou carros — disse Lily virando-se de frente para os pais.
— Pelo amor de Deus, Lily! — exclamou John. — Você está exagerando. Não foi nada disso.
— Então, me contem como foi — retrucou a moça, protegendo-se com os papéis como um escudo.
— John, por favor, deixe comigo — insistiu Lisa, olhando para o marido e apertando-lhe o braço. — Pouco depois de nos casarmos, o sócio do seu pai em Londres ofereceu sua parte na empresa. Embora isso significasse nos mudarmos para a Inglaterra por alguns anos, sabíamos ser uma oportunidade única. Foi uma época tumultuada para o seu pai, e eu fiquei sozinha a maior parte do tempo. Dois anos mais tarde, quando descobrimos que eu estava grávida, ficamos radiantes. — Lisa sentou-se na beirada da cama de Lily. — Eu abortei o bebê com cinco meses de gravidez. Houve algumas complicações. Eu... Eu precisei de uma histerectomia aos vinte oito anos de idade. — Lisa fechou os olhos. — Pensei que minha vida tivesse acabado.
Apesar da própria confusão e raiva, Lily sentiu pela perda da mãe. Caminhou até a cama e sentou-se ao seu lado. Havia lágrimas nos olhos de Lisa quando ela os abriu novamente.
— Quando seu pai a trouxe para mim, não perguntei como ele a havia encontrado. Não me importava. Você era a criança mais linda que eu já vira, a menininha mais perfeita de todo o mundo, e era minha. Você tinha três anos quando voltamos aos Estados Unidos, e, já que passamos três anos fora, nunca nos perguntaram nada.
— O Sr. Potter disse que a adoção foi ilegal. Que um advogado chamado Leon Waters me vendeu para vocês.
— Aquele homem desprezível — disse Lisa. — Nunca descobriríamos o seu nome se ele não tivesse nos ligado seis meses depois que você veio morar conosco. Ele ameaçou tirá-la de nós se não lhe déssemos mais dinheiro. Nós pagamos, e eu soube de toda a história. Sobre Wolf River, e sobre como a sua família morrera.
— O Sr. Potter disse que meus irmãos não morreram. — Lily entregou a fotografia da família para a mãe. — Eles moram no Texas e querem me conhecer.
Lisa negou.
— Não é verdade. Havia atestados de óbito dos seus irmãos. Seu pai me disse tê-los visto.
— Mas de acordo com o jornal, toda a família Chesterton morrera.
— O advogado garantiu ser um erro de reportagem — afirmou John. — Waters sabia que eu queria adotar sem passar por meses, se não anos, de burocracia, e quando você apareceu, não se deu ao trabalho de corrigir o jornal. Ele me ligou, eu vim e levei você de volta para a Inglaterra comigo.
— Lily — disse Lisa, segurando as mãos da filha. — Esse homem, esse James Potter, está mentindo sobre os seus irmãos. Ele deve ter descoberto o que aconteceu e quer dinheiro. É a única explicação.
— Ele não me pediu dinheiro.
—Ainda não, mas pedirá — afirmou a mãe, com a voz trêmula. — Um escândalo como este, três dias antes do seu casamento? Ele sabe que faríamos de tudo para abafar isso. Prometa-me que não voltará a falar com ele.
— Eu, eu não sei. Não estou...
— Querida. Mesmo sem tê-la gerado, você é minha garotinha e eu a amo muito. Por favor, Lily. Perdoe-nos por esconder a verdade, e, por favor, não volte a falar com esse homem horrível.
"Talvez ela tenha razão", pensou Lily. Analisando as descobertas, provavelmente James Potter mentisse e procurasse algum dinheiro fácil. Embora não parecesse um chantagista, não poderia confiar só de olhar para ele.
Lily abraçou Lisa. Esta era a única mãe que conhecera, que brincara com ela quando criança, que cuidara dela quando ficara doente. A mãe que chorou na sua formatura e que ficava preocupada quando ela chegava tarde em casa.
Inevitavelmente teria de enfrentar a realidade da adoção e do segredo. Isto era grande demais para ser ignorado.
Assim como, em setenta e seis horas, trinta e três minutos e vinte e um segundos, Lily Evans estaria casada.
De braços cruzados, James se apoiou na coluna de mármore da catedral centenária. A igreja estava repleta de rosas, duzentas pessoas sorridentes murmuravam ao observar a dama de honra loura descendo a nave.
James imaginou o que diriam aquelas duzentas pessoas se tivessem visto a lourinha e Oliver saindo do motel Wanderlust, à uma da manhã, nas duas últimas noites.
Por coincidência James descobriu a pequena indiscrição do futuro marido de Lily. Não conseguira chegar perto da mansão de Lily, e decidiu seguir o noivo na esperança de que ele o levasse até a moça.
Não foi Lily que Oliver encontrou no motel nos arredores da cidade. E sim a lourinha. Por força do hábito, James tirou algumas fotos, mas seriam úteis. Não estava lá para flagrar noivos ou maridos infiéis, e sim para convencer Lily a falar com os irmãos.
Estava tão certo de que ela o procuraria. Embora tivesse acabado de conhecê-la, e mal tivessem conversado, havia algo em Lily diferente dos ricaços com quem sua família convivia.
Obviamente, havia se enganado.
Ao ouvir a marcha nupcial, James se endireitou. Duzentas cabeças se voltaram na direção da porta por onde a noiva entraria na catedral.
"Droga." Era impossível falar cinco segundos com a noiva agora, depois ele não conseguiria se aproximar dela por vários dias, talvez semanas.
"Droga, Droga."
Viu surgir, como uma nuvem, branca, Lily Evans deslizando na sua direção, com o rosto coberto pelo véu.
Oliver Hollingsworth podia ser um safado, pensou James, mas era um safado de sorte.
Lily conseguiria caminhar com altivez, poderia até ter mantido os ombros para trás e o queixo erguido, talvez até se lembrasse de respirar — se não tivesse visto James Potter.
Ele estava de camiseta, jeans e botas pretos, e Lily pensou que ele parecia o próprio diabo. Quando sorriu para ela e encostou dois dedos na têmpora, Lily hesitou e apertou com as mãos geladas o buquê de rosas brancas.
"Que ousadia a dele de vir aqui!" No casamento dela, com duzentos convidados presentes. E como ousava fitá-la com tamanha acusação e reprovação no olhar.
E daí que ela não lhe ligara? Por que deveria? Qual era a diferença, depois de vinte e três anos, em descobrir que tinha sido adotada? Seus pais a amavam. Oliver a amava. Eles teriam uma vida maravilhosa diante deles.
Alguns metros à frente, o pai lhe estendeu a mão. Lily olhou para ele, e depois para Oliver, em pé no altar, olhando para ela, sorrindo calmamente, aguardando.
"Oh, Deus."
Com o coração acelerado, Lily encarou o pai.
— Pai, eu... eu sinto muito.
Com um suspiro, John resignou-se.
— Está tudo bem, querida. — Ele inclinou-se e deu-lhe um beijo na testa. — Faça o que tiver que fazer.
— Obrigada — ela sussurrou. Depois entregou o buquê ao pai e o abraçou. — Diga para mamãe que eu a amo.
Ela escutou o murmurinho vindo dos assentos atrás dela, quando se virou e caminhou até James. Erguendo o queixo, ela enfrentou o seu olhar.
— Sr. Potter, será que pode me dar uma carona?
