Relicário

Uma fanfic de Harry Potter
Conteúdo Slash
Seveus Snape/ Regulus A. Black
Spoiler: Harry Potter e as Relíquias da Morte
Música tema: Relicário (Nando Reis)

"O que está acontecendo?

O mundo está ao contrário e ninguém reparou..."

Lento e silencioso, assim ele podia ser definido. Tinha uma feição suave de garoto bem cuidado que era, os olhos acinzentados mostravam um olhar de desafio, desafio um tanto quanto infantil. Seus cabelos negros caíam sobre os olhos, e quanto mais ele afastava, mais pareciam querer cair. Fios de cabelo tão rebeldes quanto ele jamais fora, mas isso deixarei para depois. Ele possuía a inegável imponência de um Black, e tinha muito orgulho disso.
Eu não notei sua presença na hora da seleção para as casas. Estava cursando o meu terceiro ano, e já tinha demasiado rancor de alguns grifinórios, portanto, na hora da seleção, eu permaneci longe do Salão Principal, se não me engano, no banheiro. Voltaria apenas ao final do banquete, como fazia em todos os anos.
Fui notá-lo no terceiro dia de aula de meu terceiro ano e seu primeiro. Eu estava atrasado para o café da manhã, e o Salão Principal já estava quase vazio, ele era o único na mesa da Sonserina. Quando o vi, provavelmente franzi o cenho, pois ele era quase idêntico a um dos meus maiores inimigos, Sirius Black, mas era menor, mais franzino e tinha uma expressão mais inocente. Me sentei à mesa. Olhando mais de perto, percebi que ele era ligeiramente diferente do irmão, mas isso não diminuía a minha antipatia. Era um Black.
— Pode me passar a manteiga? — ouvi sua voz infantil dizer, retirando-me de meus pensamentos.
Eu lhe dei a manteiga sem dizer uma só palavra, sem sequer olhar para seu rosto. Mas ele insistiu.
— Pode me passar o suco de abóbora?
— Por que não senta mais perto do que quer comer? — eu disse rispidamente.
O garoto corou. Uma expressão entre medo e timidez ficou evidente em seu rosto, e as bochechas ficaram um pouco mais rosadas que o de costume.
— Desculpa. — balbuciou.
Antes eu tivesse dado a ele o suco de abóbora e pronto, pelo menos naquela manhã eu teria paz. Ele se levantou e foi até muito próximo de mim, colocou a mão direita sobre a alça da jarra, mas não a levantou, como se estivesse pesado, mas esse definitivamente não era o motivo pelo qual ele tinha parado. Black fitava o meu rosto, estudava o meu perfil com o cenho franzido.
— Pois não? — eu disse com rudeza.
— Nada. — ele respondeu sem graça, finalmente levantando a jarra e indo sentar-se no mesmo lugar de antes.
Eu me senti realmente incomodado depois de ter sido observado por aquele garoto que até então, eu julgava insolente. Levantei-me e fui apressado para uma aula de Herbologia.
E aquelas foram as primeiras e únicas palavras que troquei com o garoto Black, que até então não sabia o nome e nem me interessara por pesquisar, durante dois anos. E foi em um momento crucial que nos falamos pela segunda vez.
Eu era um garoto estudioso, sempre o fora, e na época das N.O.M's não seria diferente, muito pelo contrário, eu estava ainda mais empenhado. Fazia um dia que eu havia sido humilhado por James Potter e sua corja, mas eu era teimoso e sentara à sombra da mesma árvore que no dia anterior. O que me incomodava, não era a humilhação em si, mas ela, Lily Evans, e o fato de como ela parecia ligeiramente mais ligada ao Potter depois que eu a chamei de sangue-ruim, no dia anterior. Eu fiz aquilo inconscientemente, mas como convencê-la disso? Eu amava Lily, ou ao menos achava que amava.
— E lá está ele — ouvi dizer aquela voz arrogante que eu tanto odiava — mais uma vez concentrado nos seus deveres, o pobre Ranhoso.
Cerrei os olhos e o punho, não queria duelar, ou mesmo discutir.
— Vamos ver a cor das suas cuecas hoje, Ranhoso?
Minha respiração ficou incontrolavelmente ofegante, eu não suportaria que James Potter me humilhasse novamente com Levicorpus, um feitiço que eu havia inventado. Lancei um olhar de esguelha para Lily, e um sorrisinho cínico brincava no seu belo rosto. O desespero tomou conta de mim, mas tudo o que fiz foi voltar os olhos para meu livro de História da Magia.
— Que foi, Ranhoso? — disse a outra voz, mais detestável ainda, que eu pude reconhecer como a voz de Sirius Black — O gato comeu sua língua?
E quando eu vi, as palavras já escapavam de meus lábios.
— Traidor do próprio sangue.
Estupefaça!
Protego!
Rapidamente me virei para ver quem, com o feitiço escudo, havia estuporado Sirius Black, e me surpreendi ao deparar-me com o garoto de cabelos rebeldes e bochechas rosadas que havia me inspirado tanta antipatia.
— Você me paga, moleque! — exclamou Sirius se levantando rápido demais para quem acabara de ser estuporado — Expelliarmus! Estupefaça! Levicorpus!
O que posso dizer é que a combinação de todos aqueles feitiços deixou o garoto realmente mal. Preso no ar pelo tornozelo, ele não conseguia sequer de mexer, os olhos viravam nas órbitas.
Liberacorpus. — disse Sirius, e deixou o irmão caído ao chão, ainda mais machucado pela queda, e assim se retirou com Potter, Evans, Pettgrew e Lupin no seu encalço. O único que olhou para trás foi Lupin, mas mesmo assim Black segurou-o pelo braço e guiou-o para junto deles.
De bruços, o garoto apenas respirava ofegante, e pelos seus soluços, eu pude perceber que ele estava chorando.
— Você está bem? — eu perguntei me aproximando dele, contra a minha vontade.
— Vou ficar. — disse ele sentando-se com alguma dificuldade.
Seu rosto estava machucado, e um filete de sangue escorria pela boca, foi quando percebi que um dente havia se partido.
— Eu concerto isso — eu disse apontando a varinha, murmurando alguns encantamentos e finalmente arrumando o dente do garoto.
Com outros encantamentos, limpei o sangue de sua face, fechei os arranhões proporcionados pela queda e o grande corte em seu supercílio. E não ficaram cicatrizes.
— Quebrou alguma coisa? — perguntei, me divertindo com a expressão surpresa e encantada no rosto do garoto.
— Acho que não. — ele respondeu desconcertado.
Nos encaramos por alguns segundos. Ele estudava meu rosto como há dois anos atrás, eu, porém, procurava mais algum corte para curar. Ao menos era essa a desculpa que eu usava para poder contemplar seus orbes cinzentos.
— O seu nome é?
— Severus Snape. — respondi prontamente.
— Regulus Acthurus Black. — ele disse antes que eu perguntasse.
— Hum...
Regulus se levantou, limpou a grama da capa e me deu as costas, mancando.
— Regulus — chamei, e ele prontamente se voltou, como se apenas estivesse esperando que eu o chamasse — obrigado.
— Não tem de que.
Naquele momento, seu meio sorriso mostrou que o meu "obrigado" compensou por todo o sofrimento que ele passara nas mãos do irmão naquele momento, ao menos era isso que eu achava, do fundo da minha presunção. Mas eu não queria pensar nisso, não era sensato.
Com o passar dos dias, os meus sentimentos por Lily pareceram modificar-se para o seu oposto. O fato de ela sempre estar com Potter, dos comentários sobre os dois, do sorriso cínico em seus lábios sempre que passava por mim, aquilo tudo me irritava, e eu estava cansado, cansado e confuso. Mas o que estaria acontecendo? Eu estaria começando a odiar a pessoa que mais amava e a sentir simpatia por quem, a princípio, me pareceu um moleque insolente, apenas um Black mimado? O mundo estava ao contrário. Ao menos para mim.