Titulo: 15 dias

Autora: Kiyavi M.

Beta: Blanxe

Gênero: Universo alternativo, Yaoi, Romance, Drama e um pouco de angst. Threesome.

Casal: Wufei & Duo & ? (não conto! Surpresinha. XD)

Classificação: NC17

Disclaimer: Os personagens não são meus. Bem que eu queria ter um deles em especial amarrado no pé da minha cama. Mas não o tenho. : D

Todos eles pertencem a uma empresa que ganhou e ainda deve ganhar muito dinheiro com as suas lindas faces. : D

Os personagens principais são propriedades das empresas japonesas Soutsuu Agency e Sunrise Television. Eu não ganho nenhum dinheiro com eles.

Agradecimento:

Um agradecimento mais do que especial a 'minha' beta. Obrigado por tudo! : ) Por me agüentar, por me orientar, por me fazer enxergar determinadas situações, por esperar pacientemente pelos messes que protelei até tudo ficar ajeitadinho. XD

E principalmente agradeço pela sua ajuda e betagem em um casal em especial. (sei que Blanxe non gosta e esta sofrendo muito para simplesmente me fazer um enorme favor. Serei eternamente grata. =P)


Esta fic é dedicada além de ser um presente para a minha querida Illy-chan.


Ele acordou sobressaltado, mais uma vez. Novamente, despertava cansado e suado, com o corpo trêmulo. Seu coração batia forte e desritmado dentro de seu peito, a ponto de quase se fazer ouvir. Abriu os olhos tentando controlar o ritmo ofegante de sua respiração, o qual sentia dificuldade em encontrar um único movimento cadenciado. Buscava o ar, profusamente, na tentativa de levar oxigênio para seus pulmões. Uma tentativa praticamente falha.

Olhou ao seu redor e localizou-se. Estava em seu quarto. O ambiente encontrava-se quente e escuro; apenas alguns leves raios solares entravam pelas frestas da persiana escura, tentando levar algum brilho ao seu interior. Tentava compreender o que havia acontecido e, depois do entendimento, um quase sorriso surgiu no canto esquerdo de sua boca, quando se lembrou do sonho recém desperto. E uma inconsciente esperança, ainda adormecida, tocou em sua mente a procura de aconchego e conforto.

Rolou pela cama… Vazia. Olhou para o teto e lembranças recentes cravejavam a sua visão. Logo depois do leve riso, emitiu um rosnado de compreensão. Fitou o quarto…Vazio. A esperança desperta foi morta pelo som da lembrança e pela ausência de ambos.

Sozinho. Mais um dia que acordava sozinho. Já estava parecendo um ritual desde que eles discutiram… Desde o dia em que se separaram de alguma forma.

Eles sempre discutiam por coisas banais, seus gênios fortes eram igualmente difíceis e perfeitamente compatíveis. Mas, daquela vez, havia sido mais sério. Eles se agrediram mutuamente. Palavras machucam tanto quanto socos e chutes, e, por muito pouco, não chegaram de fato à agressão física. Trincou os dentes, forçando o maxilar. A raiva pelo motivo da discussão e o seu seguimento, ainda o afetava. E isto o fazia se sentir fraco.

Ele odiava se sentir fraco. Nunca fora fraco. Até deixar que ele entrasse em sua vida e a monopolizasse, de alguma forma. Não era para ser daquela maneira, mas não sabia onde tudo havia se transformado. Passou as mãos pelo rosto, sentindo as pequenas gotículas de suor se acumular nas mesmas. Lentamente, correu os dedos sobre o cabelo negro e o sentiu grudento pela transpiração. Seu peito ainda subia e descia, rapidamente, devido à respiração pesada e pela recente recuperação de uma grave enfermidade. Escutou um leve ruído vindo do corredor e viu a porta de seu quarto abrindo lentamente.

Sozinho? Não.

Sentiu o peso do filhote de gato pular sobre a cama - a movimentando levemente - enquanto passeava mansamente sobre ela. Virou seu rosto em direção ao pequeno e estranho animal e perguntou como havia se deixado convencer a ficar com ele no período que seu dono viajava a trabalho.

Duo sempre conseguia o que queria. Isso era um fato que fora comprovado inúmeras vezes. E, por este fato, agora se encontrava naquela situação. Mas, no meio daquele turbilhão de fúria e frustração, a lembrança do americano fez seu coração se agitar e aquecer, o lembrando que não estava sozinho. Mesmo eles não estando mais completos; não estaria sozinho nunca mais. Um riso meio encabulado surgiu em seus lábios para confirmar de seus sentimentos. Porém, mesmo tendo aquela certeza, algo o incomodava. O que eles fariam a partir daquele momento? Como iriam agir? A falta de resposta apenas o deixou mais irritadiço. Na realidade, não havia uma resposta. Afinal, quando todos se viram envolvidos, nenhum deles nunca cogitou que um dia algo parecido pudesse vir a acontecer. Que duas partes de um todo poderiam se desligar.

Os dois – o gato e ele - se encararam com a proximidade. Sentiu o hálito morno do felino próximo ao seu rosto. O animal miou baixo, olhando diretamente para seus olhos e depois mostrou seus dentes pontiagudos. Parecia que o bicho podia captar o seu estado de espírito.

– Gato idiota! – reclamou, ao vê-lo se aninhar em um de seus travesseiros, em busca de um cheiro conhecido. O perfume do dono talvez ainda estivesse presente.

Sentou-se aborrecido; mal-humorado e excitado. Como ocorria diariamente nos últimos dias. Jogou-se novamente sobre a cama, e aninhou-se timidamente sobre os lençóis. Assim como o gato, talvez ele, involuntariamente, também quisesse buscar o cheiro conhecido que sempre o acalentava.

Talvez se dormisse de novo... Talvez se pudesse voltar a sonhar... Quem sabe, quando acordasse, tudo estaria diferente. Tudo estaria como deveria ser. Ele estaria como sempre fora: calmo, sereno e controlado. E tudo voltaria a mais perfeita ordem.

O relógio tocou alto novamente. Seu som estridente, mais uma vez, soou o dizendo que já estava na hora de levantar e seguir com a sua vida adiante. Informando-o que sua vida era aquela agora.

Levantou e caminhou lentamente pelo quarto. Nos últimos dez dias, desde que se recuperara e se vira sozinho sem a presença daqueles que preenchiam o espaço presente, que sua vida se tornara uma cena de filme, em que se repetia na mesma lenta e cotidiana cena. Um DVD riscado, que nunca seguia adiante. Separou a roupa com a qual iria trabalhar, lembrou-se que teria uma reunião com sua equipe tática dos Preventers e com Lady Une - sua comandante - no início daquela manhã.

Quando ainda era um garoto e lutava por seus ideais pilotando a Nakatu, nunca pensou ou imaginou que, com seus 24 anos de idade, estaria vivo e trabalhando como um agente de campo para os Preventers.

Sorriu levemente por aquele pensamento e pela vida lhe pregar certas peças.

Não reclamava, sua vida era boa, gostava do trabalho. Era muito bem remunerado para fazê-lo da melhor forma. Ainda podia se sentir útil com ele; sua mente e seu físico eram exigidos igualmente.

Seu trabalho lhe dava todos estes benefícios, junto a um bônus. O bônus era de que podia conviver com seus amigos de guerra e ex-companheiros de infinitas batalhas. Este era um lado positivo e negativo ao mesmo tempo. O positivo era que, mesmo depois de tanto tempo de convivência, eles haviam criado um vínculo que não saberia descrevê-lo ou até mesmo nomeá-lo. Mas este os unia de uma forma intensa, leal e, até mesmo, familiar.

E o lado negativo era que, nesta convivência, ele era obrigado a vê-lo depois de todo o desentendimento e agressão. E não havia como desprezá-lo, ou cortá-lo de sua vida. Porque todos eles - os ex-pilotos - possuíam uma co-dependência emocional que apenas soldados, que vivenciaram a crueldade e a vitória de uma mesma guerra, podiam entender. E isso que evitava um afastamento real. Ele não fugia desta regra, mesmo que nunca assumisse tal fato. E, com essa convivência - com a presença do outro constantemente em sua vida - um sentimento amargo surgia em suas entranhas: Culpa.

E essa mesma culpa - até então inexistente - tentava a todo o custo lhe acusar de algo. De algo irracional, que ele jamais assumiria e que, talvez, tivesse mesmo exagerado. Porque, ainda que brigados, eles eram obrigados a conviver pacificamente. E isso o consumia. O consumia por continuar desejando algo vindo da parte do outro ou até dele mesmo. Algo que ele próprio não faria, nem expressaria.

Infelizmente, trabalhavam juntos. Viam-se, se olhavam, se falavam profissionalmente; mas, em momento alguma, palavras eram ditas por nenhum dos dois. Nem um 'oi' mais íntimo, um 'olá' mais cordial ou um pedido de desculpas.

Perdão, não pediria. Afinal, ele poderia ter exagerado, mas não havia feito nada de errado. Apenas reagiu ao que estava explícito a sua frente. Por que se humilharia assumindo um erro que não era seu? Não demonstraria a sua fraqueza e a sua necessidade interna de tê-lo novamente. E, provavelmente, o outro pensava da mesma forma, pois nada dizia e não agia ainda que fosse o culpado; o fator que desencadeara de tudo.

Eles eram miseravelmente orgulhosos.

E para piorar toda a desastrosa situação, Duo não estava presente nestes dias que se passaram, assim como não estava presente quando tudo aconteceu, para ao menos amenizar o fator reativo entre eles. Amaldiçoou pela enésima vez aquela viajem a qual o americano fora obrigado a fazer para L2, assim como aquele bendito acampamento de sobrevivência. O americano sempre fora o elo principal daquela união, provavelmente se não estivessem sozinhos, nada teria chegado ao ponto que chegou: ao da ruptura. Não bastasse o que inexplicavelmente acontecia a ele, a falta e a saudade que nutria pelo americano assolava seu peito de uma forma terrivelmente desoladora. Nunca pensou que sentiria tal sentimento de uma forma tão única, mas, ao mesmo tempo, tão distinta nos dois casos, mas que em conjunto causavam um efeito muito mais arrasador do que jamais imaginou sentir. Pela primeira vez em sua vida, sentia-se abandonado por todos, por ambos, pelo destino e até por ele mesmo. E aquela sensação o deixava ainda mais frustrado. Aquilo era tão injusto depois de tudo que teve que lutar internamente para aceitar o que estava vivendo.

Caminhou, lentamente, até o banheiro. Olhou-se no espelho e não se reconheceu. Há alguns dias que não distinguia a imagem que lhe era refletida. As olheiras ainda estavam lá, assim como a face abatida. Jogou um pouco de água fria no rosto, para que assim despertasse daquela situação. Escovou os dentes e fez a barba. Tudo de uma forma mecânica, como toda a manhã. Entrou no chuveiro e debaixo da água morna lavou seu cabelo escuro e, no meio do banho, enquanto se ensaboava, não pode mais ignorar a sua evidente excitação. Ela ainda estava lá; desde que acordara. Uma ereção dura e latente que mostrava o quando ainda sentia falta de tudo.

Quinze dias sem sexo. Quinze dias sem beijos quentes. Quinze dias sem toques ousados… Antes, sempre despertava com carícias em seu peito e em suas costas; sempre em conjunto, com exceção apenas quando um deles estava viajando. Antes, sentia mãos, braços e pernas o envolvendo, o tocando, o seduzindo, o provocando, o provando. Antes, ele tinha sexo diariamente e possuía um afeto único, diferenciado e acoplado que poucos teriam a oportunidade de conhecer em suas vidas comuns. Era quase um hábito, agora… Teria que desacostumar, de algum jeito. E compreender de uma vez, que nada mais seria como estava sendo vivido; que, a partir daquele dia, eles teriam que se acostumar novamente ao que eram anteriormente. Um sentimento verdadeiro, sincero, intenso, porém confuso, que os afastavam invés de uni-los.

Com aquela certeza do afastamento real permeando a sua mente com as imagens deles em um futuro muito mais próximo do que gostaria, levantou o rosto deixando que a água morna levasse embora o sentimento de dupla perda que o rondava. Não sabia o que realmente iria fazer ou como agir quando tudo fosse exposto a uma parte muito importante deles. Não sabia como dizer a Duo, como explicar que não conseguiu sobrepujar o seu orgulho e que tudo estava do mesmo jeito com o ex-amante desde que partira. Não conseguiu seguir os conselhos do americano. E que, pelas atitudes e ações do outro, ele também não teve como amenizar o seu amor-próprio e, provavelmente, também havia desistido do relacionamento que mantinham.

Seu peito e corpo vibraram pela memória do que viveram juntos; sensações, sentimentos, carinho, afeto, cumplicidade e paixão que apenas eles três podiam realmente responder e relatar. Mas que agora estava terminado, de alguma forma.

Ainda com a lembrança de seu último sonho - onde estavam juntos em algum lugar que seu inconsciente criou, dentro de suas memórias afetivas - ele permitiu se tocar. Com aquelas lembranças percorrendo seu corpo, o fazendo sentir certas sensações lascivas e arrepios prazerosos, masturbou-se com vigor e intensidade. Imaginou seu ex-amante ali com eles, os tocando, os instigando. Juntos, debaixo do chuveiro, com a água morna acariciando seus corpos quentes e os refrescando. Pode sentir as mãos deles percorrendo cada centímetro de sua existência física. Seus lábios sentiram o gosto da boca dele e a sua textura. A imagem da bela face do americano corada pelo prazer atingiu sua retina atiçando seu desejo de tocá-lo novamente. Lembranças vividas e ainda tão presentes, tão fortes, que sabia que demoraria muito para arrancá-las de si. Ou removê-las de sua memória. Sentiu seu corpo vibrar e tremer em reconhecimento a cada sensação, a cada pequena e ínfima recordação.

E, depois do gozo, o alívio e a raiva. Pôs sua testa contra a parede fria, debaixo da água morna, e lamentou-se internamente por ainda sentir falta de sua presença. Xingou alto, e um sonoro 'Merda' ecoou pelas paredes úmidas.

Era fraco e patético. O outro o tornara daquele jeito, o deixando completamente dependente de seus toques. Não tolerava no que havia se tornado: um escravo pedindo, implorando, mendigando por lembranças. Cavando e remoendo recordações da mais pura intimidade luxuriosa entre eles. Uma recordação dolorosa que feria todas as anteriores e que teria que abandonar, para dar espaço a novas tendo somente ele e o seu único amante como protagonista. O que, de modo algum, era ruim, pelo contrário.

Mas, o verdadeiro culpado de tudo fora ele mesmo. Havia sido ele quem aceitara o beijo roubado. Tudo poderia nem ter acontecido ou começado. Bastava ter dado um belo soco no meio daqueles olhos maliciosos, quando o atrevido avançou sobre si o encurralando. Mas ele aceitou aquele beijo roubado, espremido sobre o sofá de Duo. Aceitou e retribuiu. Sem ao menos pensar nas conseqüências futuras daquele ato ou sobre o sentimento guardado que seu amigo americano possuía pelo atrevido que o beijava ou pelo próprio sentimento antigo e secreto que nutria pelo amigo e pela nova e confusa experiência de se descobrir atraído pelo outro.

Ele não pensou, apenas agiu ao reflexo. E a conseqüência foi no mínimo inusitada e nova, pelo menos para ele, mas que resultou em ter, pela primeira vez, o que sempre desejara sentir: a textura dos lábios e o toque da pele pálida de seu amor velado. E, naquela noite, sentiu-se unir a duas pessoas tão diferentes de uma forma que nunca conseguiria explicar.

Porém, tudo depois foi tão constrangedor e surreal para seus olhos, que não teve outra reação e fugiu de tudo. Fugiu de ambos. Deixando para trás os outros dois que, para sua compreensão, na época eram mais compatíveis e poderiam a vir a ter um relacionamento real.

Como foi tolo e covarde.

Mas agora era diferente. Não iria abrir mão do que sentia ou o que possuía com Duo. O outro havia feito a sua verdadeira escolha, então, que arcasse e ficasse com ela, os deixando livres, apenas um com outro. Contudo, involuntariamente seus pensamentos o levaram novamente para aquela noite, e o arrepio da lembrança percorreu seu corpo, iniciando um novo despertar. E novamente xingou alto. Ele era tão patético por crer que ainda precisava dele. Porque tudo o que sentia era essa crença, de que precisava dos toques do outro e nada mais era relevante. Era o que queria acreditar.

Não gostava de ter que recorrer à auto-satisfação, ainda mais utilizando a imagem do outro, que ainda lhe provocava arrepios como estimulo, junto a eles. Mas um homem faz o que tem que ser feito - sua consciência lhe afirmava e reafirmava para conter a onda de desgosto que assolava a sua mente.

Vestiu-se apressadamente. Prendeu os cabelos em seu rotineiro rabo de cavalo, enquanto passava pelo corredor de seu apartamento indo à direção da cozinha. Foi fielmente seguido pelo filhote de felino, que teimava em brincar com a barra de sua calça. Pegou-o, puxando pela parte superior de seu pescoço e o olhou profundamente. O felino miou baixo novamente. O animal se parecia com seu dono. Definitivamente era irritante como Duo. E a lembrança do dia em que aquele gatinho conquistou o americano, surgiu em sua memória com o novo miado que o pequeno lhe dirigiu.

// Era uma sexta-feira. Eles tinham marcado de se encontrar para comerem algo, depois do trabalho. Todos estavam presentes, caminhando juntos pela rua. Conversando e andando tranquilamente, até um pequeno café localizado no grande parque da cidade.

Todos precisavam de um pouco de ar fresco depois de uma semana cansativa, presos dentro de salas com ar condicionado. E, principalmente, necessitavam de uma bebida gelada para refrescar aquele final de tarde. Passaram por um prédio antigo azul onde uma gata, deitada displicentemente na janela, olhava o ritmo da cidade enquanto seus filhotes também tentavam se equilibrar no pequeno espaço. Um em especial miou quando passaram perto.

Passos adiante, sentiu algo arranhar sua perna e viu o filhote caminhando atrás de si, brincando com a barra de sua calça e atrapalhando o seu andar firme. Todos riram com aquela visão. Duo o pegou e o levou de volta para sua casa e o colocou junto a sua grande e arisca mãe. Instantes depois, ele sentiu novamente sua perna sendo arranhada e, pela segunda vez, o rapaz sorridente o levou, o entregando diretamente a sua dona. Não demorou muito para sentir sua perna sendo puxada levemente e quase caiu na tentativa de não pisar no pequeno e inconveniente animal.

Daquela vez todos acharam melhor o ignorar, talvez ele assim desistisse e voltasse para casa por conta própria. Engano deles, o gato os seguiu festeiro por todo o trajeto. Sentaram nas mesas externas do pequeno bar/restaurante e o animal se alojou ao lado dele, ainda puxando sua calça.

A barra de sua calça parece ser um brinquedo extremamente interessante, Wufei. - O chinês ouviu Trowa lhe dizer, com certo divertimento na voz. O que fez seu humor ficar um pouco contrariado. Puxou sua calça, porém o pequeno felino não desistiu de seu mais novo brinquedo e foi para a outra perna. Aquele pequeno animal era atrevido e realmente havia resolvido lhe irritar. O olhou de uma forma dura, na tentativa de afugentá-lo, mas o bichinho não desistiu de sua aventura.

- Este animal se parece com Duo quando adolescente. - Ouviu Quatre falar sorrindo em sua direção. E olhares de incompreensão surgiram diante do loiro.

- Ele não desiste de querer chamar a atenção de Wufei. O obrigando a conviver com ele e com sua demonstração de amizade. O provocando e impondo a sua presença. - Explicou o jovem a todos.

- Completamente irritante. - Todos riram quando aquela observação saiu dos lábios do chinês. Uma palavra contrariada saiu de sua boca quando sentiu o pequeno animal pular em sua perna e começar a escalá-la com suas garras afiadas.

- Definitivamente se parece com Duo. - Heero comentou, debochadamente, ao ver aquela cena. Duo apenas lhe dirigiu um sorriso sugestivo.

O americano levou sua mão esquerda até a perna do chinês e pegou o gato de pêlos marrons. O levou até a direção de seus olhos e o observou calmamente, o filhote miou mal-humorado, por ter sido privado de sua mais nova diversão. O rapaz de longa trança sorriu abertamente diante da visão. Seus olhos se encontraram e todos puderam ver um brilho surgir nos olhos violetas. Ele levou sua outra mão ao animal e lhe fez um carinho perto das orelhas. O filhote fechou os olhos, os cerrando, ao receber o carinho e retribuiu com um miado mais dócil.

- Olhem para ele! Vocês têm certeza que ele se parece comigo?! Para mim ele me lembra mais outras pessoas. Ele é mal-humorado, altivo, faz o que quer; é persistente e altamente teimoso. Mas, se recebe um carinho no local certo, se derrete por completo. A pequena fera vira literalmente um gatinho manhoso. Com quem ele se parece? Quem acertar eu pago uma cerveja. - O americano falava divertido, olhando para seus amigos, enquanto segurava o gato com uma mão e o mostrava para todos. O pequeno gato era estranho com seu ar docilmente arrogante, com seus pêlos marrons e seus olhos bicolores, um era negro como o ônix e o outro azul como a safira.

- Ele é estranho. - Ouviram Heero dizer, passando sua mão sobre a mesa e o tocando levemente.

- Para mim ele é perfeito. - Duo respondeu a todos, pondo o bicho sobre o colo. O pequeno felino se aninhou rapidamente sobre suas pernas e dormiu quase que instantaneamente.

Na volta para casa, passaram pelo mesmo lugar para entregar o animal a sua dona. Duo estava decidido a comprá-lo. Ouviram a pequena e velha senhora rir alto ao ouvir a história e viram os olhos do americano cintilar ao recebê-lo de presente. A velha mulher lhe afirmara que não podia contrariar a escolha do animal. No dia seguinte, Duo os carregou a para uma enorme petshop com o animal em punho para comprar todas as necessidades de seu novo amigo.//

Foi retirado de suas lembranças, com mais um miado. Olhou para seus redondos e estranhos olhos, e lhe afagou o queixo. O gato ronronou baixinho com o carinho oferecido.

'Irritantemente adorável, assim como o dono' - Pensou e deixou que um leve sorriso escapasse de seus lábios. Colocou o pequeno bicho no chão e o pulou. Terminou a caminhada apressadamente até a cozinha, sempre com o bichano em seu encalço. O alimentou, pondo uma comida própria em forma de patê, retirada de uma lata, despejando-a no pote do animal. Aquela comida tinha um cheiro diferente dos outros dias. Olhou para a lata, antes de jogá-la fora. Naquele dia, a refeição do filhote seria a base de peixe.

O bicho miava incansavelmente andando entre suas pernas e se enroscando nelas, enquanto ele preparava a refeição. Botou água fresca no outro recipiente e colocou os dois no chão. Olhou para o relógio e constatou que estava atrasado, muito atrasado, na verdade. Cuidar do pequeno animal o havia feito se esquecer de sua reunião. Não teria tempo para uma refeição decente e tranqüila. Olhou na geladeira, pegou uma garrafinha de iogurte, uma maçã e saiu do apartamento, degustando a bebida láctea cremosa.

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A reunião havia sido proveitosa, mas um pouco metódica demais até mesmo para ele - Wufei Chang. Estava cansado e ainda teria um dia longo dentro de seu escritório. Queria mesmo estar em campo, atirando e perseguindo os remanescentes da OZ ou qualquer outro que ameaçasse a paz vigente. E não ali, sentando anotando dados e consultando planilhas de organização de grupos.

Queria um pouco de ação. Talvez se socasse alguém, seu estado de espírito melhorasse um pouco. Mas, antes que isso ocorresse, ele teria que planejar a parte burocrática e tática da possível missão. Seu parceiro estava no outro lado da sala, em sua mesa - que ficava de frente para a sua - planejando a outra parte da missão, mapeando estratégias de localizações. Diante da tela cheia de planilhas, mapas e textos de seu computador, ouviu quando seu estômago reclamou da falta de alimento. Ele não havia almoçado, não teve tempo e não sentiu fome também. Lembrou da maçã que havia guardado na gaveta e, ao abri-la, encontrou uma foto.

A foto deles juntos em uma festa em algum lugar que não se recordava. Seus olhos caíram sobre a figura inexpressiva ao lado do americano e seu humor piorou consideravelmente. Eles ainda não tinham se visto naquele dia. Na verdade, não o via há alguns dias. Estranhou por estar notando aquele fato somente naquele momento. Preocupou-se.

Ainda se preocupava com ele. Um som muito parecido com um rosnado saiu de sua garganta, e fechou a gaveta com raiva, fazendo a mesa tremer. Ele definitivamente era um ser fraco.

Em meio a sua raiva, ouviu um ruído em sua porta e a maçaneta se movendo de um lado. Por um momento, a expectativa esperançosa lhe sorriu timidamente, fazendo seus joelhos, mesmo dobrados, tremerem pela expectativa. A porta abriu e a figura que surgiu dentro da sala, sorrindo, ajudou a melhorar o seu humor, mesmo ele portando um cinismo no olhar, devido à surpresa que deveria estar estampada em sua face. Não era para ele estar ali, seu vôo apenas retornaria de L2 à noite.

Mas a surpresa não foi maior do que o sentimento que fazia seu coração bater intensamente por estar diante daquela face bonita depois de dez dias afastados. Seu ímpeto - seu desejo - era de caminhar até ele e senti-lo novamente em seus braços; mas não pode. Teve que conter-se diante da presença de seu parceiro. Uma coisa era o homem a sua frente saber sobre o seu relacionamento com o rapaz de olhos violetas que lhe sorriam instintivamente, outra era presenciar qualquer ato deste envolvimento.

Continuou sentado, apenas o observando, vendo-o sorrir com o seu jeito único, enquanto fechava a porta e encostava-se nela. Sem retirar seus ônix sobre do outro, o viu menear a cabeça em uma saudação ao seu parceiro e o mesmo, com fones no ouvido, lhe acenou rapidamente, permanecendo concentrado no telefonema que acabara de receber.

Seus olhos novamente se encontraram, depois daquele pequeno cumprimento e, no mesmo instante, conectaram-se. Através daquele ato, transmitiu tudo o que queria falar e fazer. Naquele singelo contemplar se beijaram, se abraçaram, se amaram; tudo em uma fração de segundos.

- Será que não mereço nem um: 'bem-vindo, Duo', como boas-vindas por meu regresso. Que recepção mais fria. – o americano provocou, ainda encostado sobre porta recém fechada.

- Sinto muito te decepcionar, mas no momento estou sem palavras pela surpresa. – o riso provocante irrompeu, desestabilizando seu peito. O que acabara de dizer era a verdade; as palavras que realmente queriam ser ditas estavam presas em sua garganta devido a impossibilidade de serem expressas. – Por que não me avisou que seu vôo seria antecipado? – A expressão de surpresa que ainda continuava vagando pelos seus olhos juntou-se a uma leve repreensão, pois queria, pelo menos, ter estado presente para recepcioná-lo quando deixasse o transporte espacial.

- E perder a única chance de ver Wufei Chang surpreso? Nunca. Sem falar que queria te pegar despreparado, e descobrir se estava se divertindo e matando o tempo solitário e ocioso com algum recruta gostoso. – O fitar cínico, junto aquela fala debochada, apenas fez como que o rapaz chinês o repreendesse somente com o olhar, meneando em direção ao seu parceiro a sua frente. Mas o outro rapaz parecia não ter ouvido nada mediante o seu examinar perdido dentro da tela do computador e combinado ao uso dos fones de ouvido.

- Cala a boca, Duo! E não encha a minha paciência. Mal retornou e já começa com estas piadinhas cretinas. – A voz séria, mas gentil de Wufei dizia ao outro que ele sentia tanta a sua falta quanto ele próprio.

- E isso é jeito de me receber, depois de dias sem a minha agradável presença ao seu lado? Não basta a notícia que recebi de que vocês ainda não estão se falando? Passo mais de uma semana fora e quando volto encontro tudo do mesmo jeito. Coisa feia de vocês, hein? – No momento em que Wufei iria falar algo, o seu parceiro o interrompeu dizendo que teria que ir ao andar superior em busca de uma informação com a sua superiora.

Ambos agradeceram internamente pela providencial saída do outro. Não souberam se aquele argumento era verdadeiro ou apenas um falso motivo para deixá-los a sós. O que importava era que eles estariam em privado pelo menos por alguns minutos. Duo moveu-se do local de onde estava alojado, abrindo a porta para a passagem do outro e, assim que a fechou novamente, o leve som do acionamento do trinco foi ouvido.

Eles estavam oficialmente sozinhos e não teriam nenhuma interrupção sem serem previamente avisados. Um riso travesso adornou os lábios perfeitos do americano quando se voltou para o amante.

- Não vai dizer nada a seu favor, Fei? - Com o coração batendo forte pela expectativa, observou Duo se aproximar, ficando ao seu lado e encostar-se sobre sua mesa - quase se sentando sobre a mesma - e cruzando os braços sobre o peito. O rapaz de longa trança ouviu um resmungo e viu uma expressão fechada surgir ainda mais rígida no rosto do chinês. E não pode deixar que uma leve gargalhada rompesse. – Ainda estou esperando, Fei.

- Não tenho nada para falar sobre esse assunto, quando tenho coisas mais importantes para pensar e fazer. – Respondeu no momento em que suas mãos, inesperadamente, puxaram o americano, fazendo com que este se sentasse sobre seu colo. No instante seguinte, selou com um beijo tórrido aqueles lábios que eram a sua perdição completa. E dentro daquele longo e profundo ato correspondido animadamente, cessou uma parte da enorme saudade que sentira por aquele homem.

Sentiu seu peito explodir de uma felicidade já conhecida, por tê-lo em seus braços novamente. Seu corpo vibrou assim que uma mão forte e habilidosa iniciou carícias suaves em sua nuca. A necessidade de prendê-lo ao seu corpo, para que nunca mais se afastasse, foi tão avassaladora que o agarrou pela cintura com tamanha força que fez com que Duo soltasse sobre seus lábios um gemido arrastado. Ao termino do beijo, a testa do amante encostou-se com a sua, num gesto de total entrega que somente eles dois possuíam.

Ambos, no mais absoluto silêncio, compartilharam e transmitiram suas emoções e o amor mútuo. Somente eles dois e as carícias faciais, seus perfumes e suas peles se tocando. Apenas Wufei e Duo - como seria dali em diante - pelo menos, no entendimento do chinês.

E de repente, mais uma vez, o gosto do outro penetrou em suas veias através de um novo beijo necessitado, iniciado pelo jovem de longa trança. Suas mãos percorreram suas costas sentindo o tecido grosso do uniforme o impedindo de tocar a pele pálida e quente que se encontrava por baixo. Porém, mesmo a contragosto, conteve-se e apenas tocou com seus dedos calejados, a área branca e livre que se escondia abaixo dos fios soltos da trança, bem na nuca, causando um arrepio que percorreu os dois corpos.

Separaram-se por alguns instantes, seus olhos fitaram um ao outro. Naquele momento, o sorriso que surgiu foi nos lábios finos do chinês.

- Não pense que vai me comprar com este sorriso e deixar de me responder? – o riso aberto se fechou, imediatamente, pela simples menção velada sobre o outro.

- Já te disse que não tenho nada a falar sobre este assunto. E se vai insistir, tenho muito trabalho a fazer. Vá perguntar algo para o seu namorado.

- Você não tem nada a dizer, ele também não tem. E eu fico no meio sendo ignorado. Isso não é justo comigo. – As palavras verdadeiras saíram de sua boca, involuntariamente.

E quando elas chegaram a compreensão do rapaz oriental, este não teve como reagir a elas. Wufei mal acreditava no que o namorado acabara de dizer.

- Duo, não é...

- É isto sim que está acontecendo. E já estou me cansando disso tudo. Quando ele voltar da missão, vocês vão resolver isso. E agora não é mais um pedido. – Mediante a forma como o chinês o olhou, algo lhe disse que o jovem a sua frente não sabia do que estava falando. – Ele viajou, foi para uma missão de campo.

- Não sabia. Não recebi nenhuma informação sobre alguma missão. – Mesmo ocultando e evitando demonstrar, Wufei ainda se importava.

- Missão de infiltração. Sigilo total. Mas eu acho que voltará logo. - O ar de preocupação não estava apenas em seu olhar, mas no seu corpo inteiro e o chinês pode observar que a missão era realmente ariscada.

Não pôde deixar de preocupar-se com o outro. Não que o julgasse incapaz de realizar esta ou qualquer outra missão, sendo de infiltração ou não. Ele era mais do que capaz. Mas, mesmo assim, era arriscado. E a certeza disso era o que também estava refletido no outro. Não conseguiu evitar que um silêncio desagradável surgisse entre ambos.

Viu Duo o observar com atenção e com um ar sério. O americano sempre parecia saber o que estava pensando ou como iria agir. Às vezes, era uma maldição tê-lo por perto; parecia que não podia ter privacidade nem com seus próprios pensamentos. E logo ouviu um: ' ele ficará bem, não se preocupe. ', sair de seus lábios tensos. Talvez ele mesmo estivesse precisando ouvir aquelas palavras para acreditar nelas.

- Eu não me preocupo e não me importo. Para mim é indiferente ele estando lá ou aqui. – E mais uma risada rompeu o ambiente, mas, daquela vez, era tão imensamente debochada que feria o seu brio.

- Como se eu acreditasse nisso! Nem você mesmo acredita. Pare de mentir para si mesmo, Fei, e assuma que sente falta dele. Ele sente a sua, eu sei disso. – o americano segurou o maxilar do outro com uma leve força para demonstrar a segurança de suas palavras.

Por que Duo insistia em conversar e lembrá-lo sobre aquele assunto quando ele podia simplesmente ignorar e esquecer? Ainda mais com Duo tão perto, presente em seus braços.

- Você esta errado. – O americano quase identificou um rosnado sendo cuspido.

- Estou? Não mesmo. E se você sente algo por ele, e principalmente por mim, vá falar com ele. Conversem.

- Não acho que isto vá ocorrer, Duo. – o desafio na voz era notável para quem quisesse ouvir.

- Simplesmente não me importo com o seu orgulho idiota. Se vocês pelo menos não conversarem, então realmente vai ficar difícil. Porque vocês me provaram que eu não importo e que sou como um cachorrinho que vocês podem dispor quando quiserem. – a mão calejada firmou o aperto transmitindo tudo o que queria transmitir.

- O que você esta falando é uma besteira.

- Se não é verdade, me prove. Quando ele retornar procure-o. Vá conversar com ele. Faça isso por mim, ou pelo o que vivemos ou pelo que eu acho que você sente por mim. Por mim, Fei. E por você e por ele também. – A mão firme continuava no mesmo lugar, segurando e direcionando o olhar negro para o interior dos seus.

Mediante aquele pedido, diante daquele mar violeta que o engolia, não soube o que dizer, pensar ou argumentar. Não sabia o que fazer, se o respondia ou se reportava ao seu orgulho. Quando percebeu dentro dos orbes do rapaz à frente que ele aguardava uma resposta naquele momento. Aguardava, não. Aqueles olhos, ao qual os conhecia muito bem, podiam transmitir qualquer coisa e, naquele momento, exigiam uma resposta - uma atitude sua.

E quando estava preste a falar algo, o videofone sobre sua mesa começou a sinalizar pedindo atenção. Agradeceu por aquela interrupção. Duo levantou-se de seu colo e, assim Wufei atendeu a chamada.

Sob a vigília atenta do americano, recebeu novas ordens e informações que a equipe infiltrada havia descoberto, e que seriam providenciais para a sua missão. Assim que desligou, caminhou até a porta onde o ex-piloto do Deathscythe estava próximo, a esperar. Quando este iria novamente falar, Wufei o prensou contra a superfície com o seu corpo e, em um reflexo rápido, atacou os lábios semi-abertos com uma necessidade vital de se unir ao eterno Deus da Morte. E também com o intuito claro de fazê-lo se calar diante de tudo do que já havia explanado.

Separaram-se por um único motivo: se continuassem com aquele beijo voraz e provocante, provavelmente terminariam com o restante da saudade acumulada ali mesmo, dentro da sala de trabalho do chinês. Com a respiração ainda ofegante sobre o ouvido de Duo e sentindo o perfume de seu castanho cabelo o inebriar, lembrando-se de como era essencial e imprescindível tocá-lo. Totalmente entregue e entre os braços fortes que o enlaçavam, Wufei concordou baixo com um quase inaudível "Ok!".

Aquela única e pequena palavra que custara tanto a sair de seu peito e garganta, fez o outro puxar o seu perfeito rabo de cavalo e iniciar um novo embate labial entre eles. Até que um dos dois interrompesse pela falta de ar.

Finalizaram o prazeroso beijo e o chinês mirou os olhos violetas a sua frente que quase pareciam lhe sorriam, assim como seu dono. Mais uma vez, Duo conseguira o que fora buscar. Como sempre, o americano conquistava tudo o que queria. E ele nunca conseguia dizer não a ele.

- Como está o meu filhote? – Perguntou mudando de assunto, ao tocar em sua franja no intuito de alinhá-la novamente.

- Irritante como sempre. Quando você irá buscá-lo?

- Passo no seu apartamento mais tarde, ok? Só não posso te dizer a hora certa. Talvez demore um pouco porque tenho que fazer vários relatórios detalhados sobre tudo o que ocorreu e o que descobrimos. – Duo mexeu novamente em sua franja quando sentiu o corpo do amante chinês se afastar. O observou arrumar sua roupa e caminhar em direção à mesa e encostar-se nela.

O americano desencostou da porta e, assim que o som do destranque foi ouvido, o sorriso desestabilizador surgiu entre seus lábios, apenas para provocar o outro homem. Duo deu uma piscadela, um 'te vejo mais tarde' saiu de seus lábios atrevidos, e jogando seu charme saiu. Deixando para trás um chinês inquieto, porém feliz.

Wufei se pegou sorrindo, depois que o americano saiu. Não podia negar que a sua presença, apesar de todo o embate entre eles, resultou em muitos argumentos que teria que enfrentar depois. Mas o importante era que ele estava de volta, depois de dez dias. No final, deixou uma certa leveza para que enfrentasse o resto do dia. Agradeceu, internamente, por ele ter voltado.

Logo que ouviu o seu computador lhe chamar a atenção, e desviou da linha de seu pensamento, tentando retirar o americano e todos os demais de sua mente ativa, e voltou-se apenas para o trabalho que precisava ser feito.

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Seu dia havia sido trabalhoso, mas muito proveitoso, depois da visita do namorado. Assim que abriu a porta e, sem ao menos ter retirado as chaves da mesma, foi recepcionado pelo miado do pequeno felino. Com suas mãos ocupadas, não pode abaixar-se e dar atenção ao pequeno e carente animal, como fazia todas as noites. Mas o irritante bichano, não satisfeito com a falta de atenção, voltou ao seu cantinho colorido e aconchegante de descanso e esperou pelo humano.

Wufei estava cansado, muito cansado. E não era apenas cansaço físico. Colocou seu laptop na mesa, assim como a sua pasta e mochila de trabalho. Caminhando para a cozinha, surgiu o pensamento de que, naquela noite, finalmente aquele apartamento seria preenchido novamente pela presença de Duo. E que juntos se divertiriam e anularia a ausência que sentia dele. Pousou as sacolas de compras sobre mesa e, finalmente, pôde dar atenção ao gatinho que vinha se enroscava em suas pernas.

Retirou sua jaqueta e gravata, e da porta da cozinha os jogou sobre o futon negro que preenchia o ambiente. Voltou e desfez as sacolas, lentamente, retirando com calma todo o seu conteúdo. Ajeitou as cervejas e o vinho na geladeira, assim como a bandeja de seu iogurte preferido, as garrafas de suco e o refrigerante preferido de Duo. Ao segurar algumas latas de chá de uma marca especifica, por alguns instantes, as fitou com rancor. Por que havia comprado aquilo? O hábito - sua consciência respondeu. A pessoa que gostava daquela bebida, não iria aparecer na sua casa para apreciá-la e ele não gostava do sabor daquela determinada empresa.

Por muito pouco, não jogou tudo fora, mas com a raiva em seu peito as depositou na geladeira junto as outras. Talvez o rapaz de longas tranças pudesse bebê-las, ou ate mesmo ele próprio, mesmo não querendo, em outro momento. Colocou os alimentos, que comprou para preparar o jantar, sobre a bancada da pia. E, antes de começar a aprontar a refeição, levou o outro pacote de compras pessoais para o quarto, botando-o sobre a cama. Retirou sabonetes, shampoo, creme de barbear, lâminas, desodorante, loção pós-barba, lubrificante e preservativos. Olhou para os dois últimos itens da compra e sorriu, um sorriso lúdico e melancólico, quase imperceptível. Guardou tudo em seus devidos lugares e voltou para a cozinha. Dobrou as mangas da camisa e começou a lavar os legumes.

Depois de algum tempo, tudo já estava pronto e ele foi para debaixo da água morna de seu chuveiro. Por um longo tempo, ficou parado sob jato, deixando que seu cabelo negro se molhasse por completo. Um suspiro de alívio deixou seus lábios em prazer. Como ele precisava daquilo… Precisava daquela água limpando e retirando o cansaço de sua mente e corpo, o renovando para uma nova perspectiva de vida.

Vestiu uma roupa leve: uma camisa azul de botões com as mangas dobradas, e uma calça jeans antiga e surrada. Preferiu ficar descalço, gostava de andar com os pés nus pela casa, pois lhe dava uma sensação de liberdade e harmonia com o ambiente. Seus cabelos ficaram soltos, para que secassem. Olhou para o relógio da cabeceira, 21: 45h. Duo estava atrasado, como sempre. Não. Daquela vez, avisou que poderia atrasar.

Aliás, o namorado americano não havia dito a hora que chegaria. Pensou em trabalhar um pouco em seu laptop, assim poderia aproveitar e administrar melhor o seu tempo ocioso. Caminhou até a sala, para pegá-lo, e assim que deixou o pequeno corredor, encontrou uma pessoa que não deveria estar ali.

Olhou, incredulamente, para o rapaz deitado confortavelmente sobre seu futon negro e, com o seu pequeno hóspede deitado sobre seu abdômen ronronando, enquanto era acarinhado. A lata do chá gelado estava aberta sobre o chão, ao alcance de suas mãos fortes. Wufei olhou para o pequeno animal e cerrou os olhos, aquele ser era um pequeno traidor disfarçado de gato amigável e leal.

Não conseguia se mover normalmente. A raiva contida pela ousadia do outro ter invadido o seu apartamento, o impedia de andar e falar qualquer coisa.

- Você ainda vai me ignorar, Chang? – O convidado surpresa não se moveu sobre o móvel, enquanto se dirigia ao estático chinês, que permanecia na entrada do recinto.

A voz ouvida era séria, mas continha um ar de contentamento por, enfim, estar de volta, mesmo não sendo convidado, para aquele apartamento. Os dias em que passou longe do namorado, não foram agradáveis; não mais do que ele havia pensado que seria. Ou até mesmo que Wufei pensou que seria. Ele havia observado o comportamento arredio do outro e viu que ele era miseravelmente idêntico ao seu próprio estado psíquico.

A falta do convívio com o amante, havia o abalado e o transtornado de uma forma que nunca pensou que sentiria pelo chinês. Mas sentiu. Sentiu a falta de tudo: do cheiro dele, do gosto, das reclamações, dos treinos diários, do corpo forte. Sentia falta do amigo, do parceiro, do amante e do homem que, há pouco mais de alguns meses, transformou a sua vida, trazendo consigo vida, justiça, alegria e paixão.

Assim como Duo também trouxera. Os dois juntos modificaram completamente a sua rotina levando e implantando luz onde antes havia apenas uma escura sombra pelo fim de seu último relacionamento. Uma paixão diferente de tudo o que já havia sentido em sua jovem, mas dura existência. Mas o que sentia naquele momento, na presença dele, era quase indescritível.

E, ao mover-se e encontrar seus olhos ônix, insultados por sua presença, confirmou que metade de sua existência pertencia a ele, tamanha a força dos sentimentos que batiam e vibravam em seu peito.

- O que você esta fazendo aqui? – E ao ouvir aquela frase forte, mas receosa pelos próprios atos, observou, intimamente, que nunca mais permitiria que ele se fosse, novamente.

E, ainda preso por aqueles olhos - unidos por aquele olhar - ele apenas sorriu minimamente, dando a sua resposta:

- Precisamos conversar.

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Continua...


Nota:

Minha querida e fofética amiga Illy,

Esta fic seria um presente de aniversario, mas não deu para que ela ficasse pronta a tempo. : (

Então a tornei em um presente de 'desaniversario'. Viva! : D

Espero que você tenha gostado da surpresa e que tenha se divertido.

Beijinhos para ti, e para as outras leitoras que virem a ler o 'meu bebê'.

Nos encontraremos no próximo capítulo. ; D

Nota 2:

O gatinho de Duo ainda não possui nome, tadinho. : (

A fofa da Keiko Maxwell, me inspirou a promover uma espécie de 'concurso'; do tipo batize o pobre gatinho irritante e adorável de Duo Maxwell. XD

Quem se interessar; basta enviar a sua sugestão de nome.

Estarei ansiosa para recebe-los. E assim que o nome for escolhido ele sera nomeado em um dos futuros capítulos.

Beijinhos a todos, e até. ;D