A Missão de Draco
Esta fiction contém material de natureza "yaoi", gênero romance/drama. Harry Potter e todos os personagens citados são de autoria de JK Rowling e blábláblá. A história se passa em meio ao 6° livro, Half Blood Prince, após Draco Malfoy ter sido atingido pelo Sectumsempra de Harry Potter e ter sido mandado para a enfermaria. Os nomes não traduzidos são escolha minha, que tenho lá minhas discordâncias com a tradutora pro português ("James" virar "Tiago" é f... e outras barbaridades aí...). Pra quem não está habituado aos nomes originais, no fim desta fic há uma legenda. Criado em Agosto de 2005...
Capítulo 1 - A missão de Draco
Harry ainda se encontrava sem ação no banheiro masculino, após o Professor Snape partir, deixando-o com detenções durantes todos os sábados restantes do termo, o que significaria perder o último jogo da temporada contra Ravenclaw, no dia seguinte. De frente para o espelho quebrado, viu o reflexo de seu rosto, mais desapontado do que jamais se recordara. Não pôde deixar de notar que havia também um pouco de sangue espalhado pela parede e pelo espelho. Pensou então no que acabara de presenciar.
Primeiro, no trem, Harry podia se lembrar claramente de Draco Malfoy contando aos seus companheiros Slytherins sobre uma misteriosa missão da qual fora incumbido. Depois, na sala vazia com o Professor Snape, algo sobre sua missão não ter obtido sucesso na primeira tentativa e uma misteriosa Promessa Inquebrável feita por Severus. Agora, naquele banheiro abandonado com água e sangue espalhados pelo chão e pelas paredes, quase ainda podia sentir o desespero que vira em Malfoy. Ele estava chorando. Ele! Chorando! Teve então certeza de que se tratava de algo muito maior do que a capacidade do jovem Draco Malfoy. A verdade é que apesar de tudo por que passava, perder o jogo final da temporada de Quidditch, a caça aos Horcruxes do Lorde das Trevas, seu pensamento era apenas em Draco Malfoy e sua missão.
Não pôde deixar de notar como Malfoy estava definhando, cada vez mais pálido, mais magro, não perdia mais seu tempo incomodando outros alunos e freqüentemente era visto em detenções por não fazer as lições. Certamente ele estava aprontando algo, algo grandioso e, se os temores de Harry se confirmassem, ele poderia ter se tornado mais um Death Eater cumprindo uma missão a seu mestre. Uma grandiosa missão em Hogwarts. Qual seria? Harry podia imaginar muitas missões, uma mais improvável que outra, mas se lembrava que o Professor Snape o estava ajudando. Ajudando em quê? Seria possível que o Lorde das Trevas não houvesse ainda completado os sete Horcruxes e quisesse recuperar a espada de Godric Gryffindor? Seria alguma tentativa de matar a ele, Harry Potter? Por que, então, Voldemort passaria tal fardo a Malfoy, um bruxo de apenas dezesseis anos, quando nem ele mesmo havia conseguido fazer tal?
Harry sabia o risco que estaria correndo, mas teve uma idéia e correu para a Torre Gryffindor, para pegar a Capa da Invisibilidade. No caminho encontrou Ron e Hermione e parecia que Moaning Myrtle já havia contado para toda Hogwarts o que acontecera no banheiro do sétimo andar, posto que os olhares assustados e pessoas apontando para Harry na Sala Comunal haviam se tornado mais intensos do que o normal. Não podia perder tempo com seus amigos agora, passou correndo para seu malão e colocou logo a Capa, desaparecendo assim dos olhares inquisitivos que lhe eram lançados. Abriu o Marauder's Map, sob as palavras mágicas e procurou pela enfermaria.
No caminho desviou de Mrs. Norris por uma passagem que levava direto do sétimo andar para o corredor da enfermaria e teve de esperar durante o que pareceu uma eternidade enquanto Peeves, o poltergeist, jogava frascos na parede e ria escandalosamente com os estilhaços. De acordo com o mapa, Professor Snape estava já em seu escritório e Madam Pomfrey também não se encontrava na enfermaria. Aproximando-se da porta, Harry murmurou "Alohomora" e a porta se abriu. Lá, na última cama, próximo a janela, se encontrava Malfoy, solitário enfermo na imensidão de Hogwarts. Harry guardou sua capa e com o toque da varinha no mapa, disse as palavras mágicas, guardando-o em seguida. Andou nas pontas dos pés, silenciosamente até o fim do corredor, acabando por ficar ao lado do leito de Draco. Não parecia estar dormindo, era como se estivesse apenas de olhos fechados profundamente absorto em seus pensamentos, mas havia tensão em seu rosto como se o menor ruído fosse desperta-lo imediatamente.
Harry então parou por um segundo e o observou em silêncio. Em sua mente, milhares de dúvidas e perguntas fervilhavam ansiando serem respondidas. Havia algo de novo em relação a Malfoy que Harry decidiu associar à uma certa ternura e mesmo pena, por sua própria culpa. Provavelmente Hermione lhe diria que avisou sobre o misterioso livro do Half-Blood Prince, que o "Sectumsempra" era a prova de que aquele livro era repleto de Dark Arts, o que ele certamente discordava. Ainda assim, jamais teria usado o "Sectumsempra" em Malfoy se soubesse seu efeito, mesmo que a conseqüência fosse sofrer a Maldição Imperdoável Cruciatus.
Harry deu a volta na cama ao lado esquerdo de Malfoy e decidiu arriscar-se a responder uma de suas dúvidas. Cautelosamente aproximou suas mãos do braço esquerdo dele, que se encontrava junto ao corpo. Segurou seu braço e esperou um momento. Aparentemente Malfoy continuava distante demais para percebe-lo ali. Harry, então, começou a lentamente puxar para cima a manga de sua veste, esperando a qualquer momento, em algum centímetro daquele braço pálido encontrar um horrendo crânio escuro com uma cobra deixando-lhe a boca, a Marca Negra com a qual o Lorde das Trevas marcava seus servos, os Death Eaters.
Nessa hora, entretanto, o transe de Malfoy pareceu bruscamente interrompido e ele abriu os olhos. Harry pareceu assustar-se com o abrupto despertar de Malfoy e largou seu braço. Malfoy logo notou Harry e apontou sua varinha para ele. Como habitualmente, Harry foi mais rápido e, desviando do jinx de Malfoy, atingiu-o com o "Impedimenta", sem pronunciá-lo em voz alta, temeroso por ser encontrado ali naquelas condições que já não lhe eram em nada favoráveis.
Ao efeito do feitiço, Malfoy imediatamente parou de se mover e voltou a tombar em seu leito, desesperado para conseguir se movimentar, sua expressão indicava tal angústia, mas foi a vez de Harry falar.
- Quieto, Malfoy, ou terei de calar você com outro feitiço! – Harry apontava a varinha direto no rosto de Malfoy, que parecia relutante em desistir, ofegando pelo cansaço, mas parecia rendido ante a ameaça que representava aquela varinha ante a ele. Por menos que gostasse da idéia, estava fresco em sua memória o efeito que Potter era capaz de lhe causar com aquilo. Parou e olhou firmemente para Harry, que lentamente abaixou sua varinha e continuou a falar, com voz próxima a um murmúrio – Ótimo. Primeiro eu queria dizer... – Harry hesitou por um momento, aquilo soava estranho demais – ... dizer que eu sinto muito... sinto muito pelo que aconteceu no banheiro. – havia conseguido, embora algo em si dissesse que ele não se arrependia verdadeiramente, frente à ameaça que Malfoy podia representar. Superando os sentimentos de incerteza, Harry decidiu continuar – Nunca mais irei atingi-lo novamente com aquele feitiço, eu só queria... só queria conversar com você.
Malfoy pareceu considerar por um instante enquanto Harry falava, analisando a situação. Parecia claro que Potter não queria feri-lo, ao menos não enquanto não soubesse a verdade sobre sua missão. Mas ele não podia revelar sua missão, não a Potter, quem talvez fosse a pior ameaça a seus planos. Decidiu ouvir o que Potter tinha a dizer, com certa relutância e um certo desprezo em seu tom de voz.
- Muito bem, Potter, sobre o que "O Escolhido", "O garoto que sobreviveu" quer conversar comigo? Duvido muito que um amigo e mesmo filho de Mudbloods tenha algo que me interesse para contar...
À menção daquela palavra e a forma desdenhosa e arrastada como Malfoy insistia em ter, mesmo naquela situação parecia ativar em Harry um ódio especial, um ódio irracional e instintivo, e sua vontade era largar a varinha e atingir o rosto de Malfoy com um golpe, bem como o próprio Malfoy fizera antes no Expresso Hogwarts. Por alguma razão essa lembrança voltou à Harry naquele momento e ele chegou a fechar a mão em punho, mas ante à expressão que se desenvolveu no rosto de Malfoy, mista entre surpresa e mesmo medo, ele se lembrou do real motivo pelo qual estava ali e se controlou, ignorando a vontade em sua alma de afundar o rosto pálido de Draco naquele leito.
- Eu também duvido muito que tenhamos algo em comum, Malfoy e nada me agradaria mais do que ver você se unir ao seu pai em Azkaban, cercados de Dementors pelo resto de suas malditas vidas como "Sangues Puros"... mas... – Harry se conteve o máximo que pôde para parar de dizer todas as verdades que pensava e decidiu continuar com seu plano. – Acho que estamos quites, não é mesmo? Acho que você gostou do que fez comigo no Expresso Hogwarts... e tenho certeza de que em nenhum momento se arrependeu... mas eu me arrependi pelo que fiz hoje no banheiro... e queria apenas que você me contasse o que você tem feito... – Harry tomou fôlego, encarou Malfoy nos olhos e sem titubear, falou – Eu quero que você me diga qual é a missão que Ele te passou.
Malfoy se surpreendeu muito com a pergunta direta e a determinação que viu naquele par de olhos verdes obscurecidos pela bruxuleante iluminação da enfermaria à noite. Acabou deixando escapar um pouco de sua surpresa em sua expressão, mas logo desviou o olhar de Harry por um momento, olhando sem se fixar em ponto algum no que pareceu ser o teto da enfermaria. Harry ponderou por um momento se teria sido certo ir assim direto ao ponto e imaginou que havia estragado tudo e que Malfoy iria ralhar com ele, iria simplesmente se fazer de sonso ou iria rir e zombar de sua petulância. Ao invés disso, para surpresa de Harry e talvez mesmo para a surpresa do próprio Malfoy, ele cerrou longamente seus olhos azuis acinzentados e quando os abriu novamente, encarou novamente Harry, com uma expressão mista de angústia e talvez raiva e decepção, enquanto um par de lágrimas deixava seus olhos.
Capturado pelo olhar de Draco, Harry não pôde deixar de conter uma súbita expressão de surpresa e logo um fortíssimo sentimento de culpa se apossou dele, apenas menor do que um estranho afeto que começara a sentir por Draco desde que o vira chorando no banheiro do sétimo andar. Mesmo alguém como ele era capaz de chorar, era a prova indubitável de que ele era, de fato, ainda humano. Durante todo o tempo Harry pareceu culpar Draco por tudo e imaginar que ele era o vilão da história, mas agora Harry passava a imaginar que ele era apenas mais uma vítima das circunstâncias. Ou ao menos ele quis acreditar nisso, por que em um instante seu forte rancor e ódio por Malfoy, se converteu em algo confuso o deixando incerto sobre como prosseguir e uma lembrança lhe veio à cabeça, como que numa brutal revelação da verdade. Se lembrou do fim de uma reunião do DA, uma específica, aonde ficou à sós com ela, que chorava copiosamente por tristes lembranças impingidas pelo Lorde das Trevas. Cho...
Abatido por alguns momentos por seus pensamentos, Harry não pôde deixar de encarar os olhos expressivos de Malfoy enquanto sua própria boca jazia entreaberta, o queixo caído, como se estivesse olhando para algo assustador e ao mesmo tempo fascinante. Sem que mais palavras fossem ditas, um novo par de lágrimas desceu pelo mesmo caminho das anteriores no rosto de Malfoy, uma delas indo entrar-lhe pelo canto da boca, que estava levemente aberta, os dentes cerrados como que por nervoso, involuntariamente. Ainda trêmulo pelo que presenciava e pelo que sentia, Harry ergueu mais uma vez sua varinha e sem pronunciar, usou o "Finite", liberando Malfoy. Fechou a boca entreaberta, piscou os olhos como que aceitando relutantemente uma verdade imutável e guardou a varinha.
Por um instante, Harry pensou que Malfoy iria subitamente se recuperar do fingimento e iria atingir Harry com um golpe de sua varinha, antes que Harry pudesse fazer qualquer coisa. Tal reação não parecia a Harry tão preocupante, ante ao que ele acabara de perceber sobre si mesmo. De fato, Malfoy imediatamente levantou suas costas de seu leito e sacou a varinha, encostando-a incomodamente no pescoço de Harry, sua expressão indubitavelmente era ódio, com os dentes cerrados, a testa franzida, os olhos apertados fixados nos de Harry. Mas foi só o que ele fez. Talvez por reconsiderar a hipótese, talvez por falta de coragem, após alguns momentos que pareceram a ambos a eternidade, Malfoy recolheu lentamente sua varinha e afrouxou o ódio em seu rosto, depois voltou de uma vez ao seu leito, parecendo exausto e derrotado. Em um tom de voz completamente diferente do que Harry estava acostumado a ouvir Malfoy dizer, ele apenas ouviu:
- Ele vai me matar, Harry...
