Ele encontrara diversas nações, mas nenhuma parecia corresponder seus incomuns olhos dourados. As glaciais íris azuis de Alemanha o assustavam. Ainda no mesmo tom e, no entanto, exprimindo muito mais calor, encontrava-se França e as propostas que faziam o italiano estremecer. Os violetas de Áustria pareciam refletir somente reprovação diante de tudo o que ele fazia. O tom carmim de Prússia não parecia acolhedor e o olhar escuro, sempre coberto de Turquia era tão assustador que Romano não tinha a mínima intenção de explorar aquela cor.
E, depois de tantos séculos juntos, agora ele prestava atenção no acolhedor olhar esmeralda.
Sempre notava as cores das íris alheias, buscando o reconhecimento. Um luzir que denunciasse que ele era aceito. Só que somente os olhos verdes conseguiram dizer o que ele procurava. Ainda que sua cor fosse evidente, parecia uma miríade de cores para o mais novo.

Eram de um verde animado, que invocava vastos campos banhados por uma sonolenta manhã ensolarada. Ao mesmo tempo, podiam escurecer, confundindo-se com o tom das tormentas quando algo o exasperava. Era uma mudança brusca, só que nem por isso perdia sua beleza.
Romano nunca admitia, mas ficava feliz por ser um dos únicos que conseguia entender as mudanças de humor de Espanha. Conseguia ver até os sentimentos mais sutis refletirem-se naquele olhar sincero.

- O que está fazendo, Romano?
A pergunta interrompeu seus devaneios. Constrangido e com as faces a queimar, murmurou, contrafeito:
- Meus olhos... Não sei porquê tenho essa cor...
Ao ouvir a queixa, o espanhol sentou-se ao seu lado, bagunçando os cabelos castanhos de sua colônia.
- Como assim?
- Meu irmão idiota tem olhos mais expressivos que os meus. Tsc. – Virou o rosto, escondendo-o entre as palmas das mãos. Falara demais. Queria que Espanha fosse embora e que esquecesse aquela vergonhosa declaração.
- É como o trigo.
- ...O quê?
Uma mão carinhosa passou pela face ruborizada, enquanto a voz tranquila de Espanha continuava:
- Seus olhos são da cor do trigo maduro, Romano. São como o nascer do sol, como ouro e imprimindo a ideia de riqueza.
As comparações deixaram o menor tão surpreso que não soube o que responder. Seu coração batia depressa, seu peito se comprimia, em um doce mesclar de surpresa, descrença e afeto.
- ...Idiota! Você não fica com vergonha de dizer isso?
Apesar da resposta irritada, o espanhol sorriu. Ele sabia que Romano não estava realmente zangado. Ele só usava essas frases para disfarçar que estava constrangido.
Passou a acariciar os cabelos castanhos, perguntando em seguida:
- O que você acha dos meus olhos, Romano?
- Q-Que pergunta é essa, caspita? – O italiano se revoltou, mas completou em tom mais baixo: - Pare de me tocar, maledetto!
Só que Espanha não tomou conhecimento da reclamação e continuou a acariciar os sedosos fios castanhos. Aquela era a última tarde que passariam juntos.

Seu superior havia ordenado a imediata viagem para as linhas de frente em outra guerra.
Espanha sempre saia antes, porque não gostava de ver os olhos dourados reprovadores em cada despedida. Nunca sabia quando poderia voltar.

- Speranza...
A palavra viera sem qualquer aviso. Espanha só teve tempo de encarar, surpreso, o garoto em seus braços, até que Lovino completou:
- Por isso, volte logo, Espanha! Você me deve isso, bastardo!
Em resposta, Espanha o segurou e beijou aqueles lábios que nunca deixavam de criticá-lo. Naquele pequeno gesto, eles selavam a promessa de que se veriam novamente.
Porque os olhos verdes sempre refletiriam a esperança do reencontro.