Título: Do As Infinity

Autora: Mila B.

Capa: Vide profile.

Sinopse: Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la. (C. Drummond de Andrade). Veela!fic Vampire!fic.

Gênero: Romance/Comfort/Hurt/Drama.

Classificação: Slash/Nc-17.

Casal: Harry Potter e Draco Malfoy.

Trila Sonora: Set Fire to the Rain, Adele.

AVISO: Essa fanfic contém SLASH, relação homem x homem! Acha ruim, horrível, feio, nojento? NÃO LEIA. E alguém notou a ordem dos nomes no casal? Pois é, Draco UKE! Prefere ele seme? Acha um absurdo ele por baixo? Então é só clicar no X simpático no canto direito superior da página e ser feliz. :)


PRÓLOGO

Roma, 31 de maio de 2005

Ainda não anoitecera completamente. Sabia que não era o mais indicado sair às ruas quando ainda existiam vislumbres do sol de inverno que se punha, tingindo o céu de um azul escuro. Os raios, mesmo que fracos, ardiam sua pele. Mas não se importava. Estava acostumado com a dor. Ela também poderia ter seus benefícios. Resistir deixava-o mais forte, e dava-lhe um objetivo. Mesmo que ínfimo. Passou pelo Monumento a Vittorio Emanuele II a passos fluidos, desviando-se com facilidade do fluxo de pessoas que ou subiam, ou desciam a escada que levava à Praça do Capitólio.

Gostava daquele horário. Talvez porque ainda houvesse luz suficiente para ver o brilho no rosto das pessoas – os turistas com rostos corados, pelo frio ou pela excitação, carregando câmeras, sorrindo para qualquer estranho na rua e conversando animadamente apesar do cansaço. Afinal, eles já deveriam estar caminhando desde as primeiras horas da manhã. Havia muito em Roma para se ver. Suspeitava já há algum tempo que fora justamente o ar antigo e belo da cidade que o atraíra até ela. Uma pena que não pudesse vê-la com toda sua majestade, reluzindo sob um forte sol de verão. Ver a água das inúmeras fontes espalhadas pelas ruas tremeluzir e ofuscar os olhos enquanto refletiam a luz do dia.

Começou a subir as escadas quase sem tocar nos degraus. Não se importava se alguém reparasse. No máximo olhariam, abismados, mas logo se lembrariam de que precisavam voltar para a casa, cuidar do filho, fazer o jantar; ou para o hotel, arrumar as malas para a viagem de volta. Poucos têm tempo de refletir sobre o que vêem, poucos têm tempo para se preocupar com o que não lhes parece real, correto e comum. Não era à toa que os bruxos sumiam pela parede de uma estação movimentada de Londres e ninguém nunca os via. É mais fácil ignorar e seguir tranquilamente com a própria vida.

Harry Potter não os culpava. Tudo que ele mais queria era ter seguido tranquilamente com sua vida. Imaginava que depois de matar Voldemort, poderia esquecer tudo, casar-se e ter vários filhos. No mínimo três. Mas como era inocente naquela época; época da qual estava separado por apenas sete anos. Agora era um homem de vinte e quatro anos – vinte e quatro? Homem? –, que deixara para trás todas as suas ilusões infantis. Riu-se com amargura, mas preferiu, por hora, ignorar tais pensamentos. Tinha sua cota de arrependimentos, e quando não conseguia deixá-los de lado, era como sufocar e morrer lentamente, mesmo que jamais fosse morrer dessa forma. A velhice não o alcançaria. E isso o condenara ao ostracismo social. Ou será que ele mesmo se condenara?

Poderia o mundo bruxo aceitar que seu herói não era perfeito? Que agora precisava, em uma analogia maldosa, matar para sobreviver, assim como o bruxo de quem salvara a todos? Nunca fora perfeito, mas quem se importava em ver por trás das aparências e dos atos bravios? E por que eles, que nunca lhe haviam dado uma escolha antes de arrancá-lo daquele armário embaixo das escadas e escolherem seu destino – um destino de guerra e morte e dor –, se importariam? Aqueles, que diziam que o amavam, poderiam aceitá-lo? Eles não amavam o novo Harry Potter, eles não o conheciam.

Harry deixou escapar um leve sorriso. Ele precisou aprender pelo jeito difícil, é verdade, já que a vida é uma professora implacável, mas não deixou de aprender. Não, Harry Potter não era mais um menino fraco que sentia medo do primo, ou o adolescente impulsivo que corria em direção do perigo para salvar o padrinho. A guerra o transformara. Sem utopias, sem sonhos e sem esperanças, esse era o legado que ela lhe deixara. Uma casca vazia e dentes afiados demais.

Quando alcançou a Praça do Capitólio, afastando o passado, pois sabia que era improdutivo remoer o que nunca iria mudar – ainda mais quando tinha a eternidade pela frente –, sentiu um cheiro diferente, quase nauseante. Terrivelmente doce, errado e inebriante. Levou a mão à garganta, apertando-a com força ao senti-la arder como o inferno. Estavam-no queimando por dentro a partir da traquéia, era a única explicação. Ofegou, curvando-se, enquanto algumas lágrimas viscosas de sangue escorriam por seu rosto pálido. Aspirou novamente, olhando em volta, para os três palácios que circundavam a praça, até que uma brisa suave trouxesse aquele aroma doentio de algum lugar perto da estátua de Marco Aurélio, no meio do Capitólio.

Buscando toda sua força de vontade, endireitou o corpo, limpando as lágrimas com a manga do sobretudo preto. Estivera sentindo-se cansado da própria vida. Estagnado enquanto todo resto do mundo, até mesmo a lua que não demoraria a aparecer fulgurante no céu, estava em constante movimento. Ele sabia que não conseguiria viver desse jeito por muito tempo, que precisava encontrar algo pelo que viver. E agora esse aroma, diferente de tudo que já experimentara... Era como sentir o néctar do mais doce paraíso escorrendo pelas pupilas de sua boca, antes de chegar ao êxtase com o simples pensamento de como seria o gosto do sangue dono dessa fragrância.

Ignorando qualquer bom-senso, correu em velocidade sobre-humana até a estátua, contornado-a e deparando-se com a fonte do aroma. Suas narinas arderam ainda mais e o veneno da morte escorreu pelos dentes afiados. A fera encontrara sua presa. Era um homem. Era mais baixo e de aparência delicada. A pele era muito pálida, mas bela, macia; ao ver a textura tenra, sentiu os dedos formigarem por tocá-la. Os cabelos eram loiros, muito compridos, e estavam trançados desde o topo da cabeça em uma trança firme que alcançava a cintura magra do rapaz. Os lábios finos e rosados combinavam com o nariz aristocrático e com o ar impassível que ele mantinha no rosto enquanto observava, com melancólica indiferença, a lua que surgia lá no alto. Ele era magnífico; belo de uma maneira sobrenatural e assustadora. Harry sentiu vontade de tomá-lo, tocá-lo e subjugá-lo de todas as formas possíveis antes de arrancar a vida daquele corpo sedutor, até que o último e derradeiro suspiro fosse levado junto com sua alma.

Num movimento rápido demais para que o outro sequer percebesse o que acabara de acontecer, prensou-o contra a estátua, segurando-o pelos ombros e olhando para o fundo das orbes do jovem. Eram cinzentas, peroladas, com infinitos, ainda que minúsculos pontos azuis tempestade espalhando-se pelas íris geladas. Harry arregalou os olhos, esquecendo-se por um momento do aroma arrebatador e da beleza estonteante do rapaz. Conhecia aqueles olhos.

"Malfoy...?" Perguntou, num tom tão baixo e incrédulo, que jurou que o som se perdera antes mesmo de deixar seus lábios. Mas o homem também arregalou levemente os olhos, os lábios se abrindo de maneira lenta e quase imperceptível para olhos humanos.

"Potter..." Ele murmurou, assombrado.


Nota da autora: A ideia de se passar em Roma veio de uma outra fanfic que eu li, de outro ship, chamada "Amor da Vida Nossa", e ela me ajudou a me ambientar na cidade, porque eu nunca fui para lá, hehe. Ah, e muito do que for dito aqui sobre vampiros eu me inspirei nas obras da Anne Rice - quem leu os livros dela talvez perceba, pois gosto muito da visão sobre vampiros que ela tem. Claro, alguns detalhes eu tirei da minha cabeça, até para adaptar com o universo da JK. Também, minha visão sobre veelas talvez seja bem diferente do que a maioria está acostumada a encontrar em fics HD, pois não curto muito aquela coisa de "parceiro obrigatório" e não sou adepta de mpreg. Bem, enfim, vou adorar receber comentários; sintam-se à vontade para exporem opiniões, sugestões, críticas construtivas, etc.

Ps.: Essa história foi escrita como presente de aniversário para a Carol1408, que anda sumida, mas que espero que goste e aprove quando a puder ler.

Beijos, amores! :*