*Obs: O texto que você irá ler logo abaixo é totalmente fictício, embora a tribo Indígena Cherokee realmente exista. Eu tentei procurar na internet uma lenda "real", que realmente faça parte da cultura deles, mas não consegui encontrar nenhuma que se encaixasse na minha Fic. Então tomei a liberdade de inventar uma. Esperam que desfrutem da minha nova estória! Um abraço à todos!
"Há muito tempo atrás, havia uma grande e próspera aldeia onde todas as pessoas viviam em perfeita harmonia com a natureza e os animais. O rei da aldeia, Gawonii, era um ancião muito sábio e generoso, que não media esforços para ajudar e proteger seu povo. Só que o que ele não sabia, era que seu irmão, Oukonunaka, era muito invejoso e ambicioso. Oukonunaka deixou a maldade consumir seu coração, e um dia ele decidiu se vingar do seu irmão e de toda a aldeia. Ele fez um pacto de sangue com um maligno demônio, que em troca lhe prometeu espalhar morte e destruição por toda a aldeia. No dia seguinte, as pessoas começaram a ficar doentes, os animais começaram a morrer, e as plantas secarem. Gawonii também ficou muito doente, mas com o pouco de energia que lhe restava, o ancião caminhou com muita dificuldade até o interior de uma grande caverna. No centro da caverna, Gawonii desenhou um circulo xamanico no chão e invocou a Deusa Immookalee. A deusa apareceu em forma de luz, e perguntou o que ele desejava. O ancião respondeu que queria somente que todos da sua aldeia se curassem. Então Immookalee lhe disse que tudo no mundo, e na natureza, requer uma troca equivalente. As pessoas matam os animais para consumir sua carne, mas algum dia, sua carne também será consumida por outros animais, é o ciclo da vida, a Deusa explicou. E para salvar o seu povo, Gawonii tinha que fazer um sacrifício, seu próprio sacrifício. O ancião, bravamente, aceitou o acordo. De repente, toda a caverna começou a tremer, e uma parte do teto desabou. A deusa Immookalee transformou Gawonii numa linda cachoeira, que descia pelo grande buraco no teto da caverna. As poucos, as pessoas que sobreviveram a praga do demônio nunca mais ouviram falar do paradeiro do seu ancião Gawonii, mas logo descobriram o esconderijo daquela linda cachoeira. Algumas pessoas levaram um pouco daquela água para seu vilarejo, e compartilharam com o resto do seu povo. Todos as pessoas que estavam muito doentes e beberam a água, milagrosamente ficaram curados! Mal eles sabiam que o que eles realmente estavam bebendo não era só água, mas sim o espirito do seu líder, Gawonii, que havia feito um grande sacrifício em nome do seu povo."
Essa lenda, lhe fez lembrar que todos nós, as vezes, precisamos fazer sacrifícios...
Com uma mão em baixo do seu queixo, e com os dois pés apoiados acima do porta-luvas do carro, Jane Foster cantarolava "Any man of mine" de Shania Twain. Seu pai, Eric Selvig, odiava quando sua filha colocava os dois pés em cima do porta-luvas. Primeiro, porque achava uma tremenda falta de educação, e segundo, Eric não gostava muito quando ela usava shorts curtos e suas pernas ficavam expostas. Embora Jane já tivesse 18 anos, Eric tinha que admitir que era um pai coruja de carteirinha. Aos seus olhos ela sempre seria sua menininha, não importava quantos anos ela tivesse. E ciumento como era, agora ele teria que ficar de olhos bem abertos! pois ouvira dizer que a maioria dos rapazes daquele lugar não prestavam.
-Por favor, filha! Abaixe essas pernas!
-Desculpe, pai... Jane cruzou os braços e bocejou. -Falta quanto tempo ainda?
-Só mais alguns quilômetros.
Jane arqueou uma de suas sobrancelhas: -"Alguns quilômetros?"
Jane, aparentemente parecia estar bem. Mas Eric estava preocupado com ela. A viagem era longa, muito longa, e ele sabia o quanto viagens longas eram cansativas, principalmente quando você está indo de carro. Ele havia perdido as contas de quantas vezes havia parado ao longo do caminho por conta das tonturas e náuseas dela, mas tudo isso foi idéia dela. Jane decidiu que depois que se formasse no colegial, queria passar algum tempo na fazenda do seu tio, no Arkansas. Queria respirar ar puro, comer a comida caseira da sua querida tia May, se deslumbrar com os lindos Canyons e cachoeiras daquele paraíso. Eric sabia o quanto aquele lugar lhe fazia bem, e o quanto era especial para ela.
Não importava quantas vezes ela olhasse para aquela paisagem, Jane nunca se cansava daquele lugar. A fazenda dos tios dela, era rodeada de uma majestosa cadeia de montanhas. As montanhas eram levemente cobertas por vegetação rasteira, que sendo vista de longe, lhe dava um toque gracioso e leve. Embora tivesse nascida na agitada e badalada Califórnia, as vezes Jane gostava de curtir o sossego do interior. A casa dos seus tios estava quase a mesma coisa desde a última vez que ela visitou, há cerca de três anos atrás. Alguns reparos foram feitos, mas a rustica casa de madeira ainda permanecia convidativa e aconchegante como sempre. A generosidade e receptividade da tia May e do Tio John também ajudavam qualquer um se sentir a vontade.
-Querida, como você cresceu! A tia May disse quando abraçou calorosamente sua sobrinha. Embora amasse sua tia, foi obrigada a rolar os olhos com aquele comentário. Era tão tipico...
-É, mas acho que dessa altura eu não passo mais.
Tio John, simpático como sempre, também veio para abraçar sua sobrinha. -Jane, que saudades!
-Também senti sua falta, Tio.
Erik também abraçou sua irmã calorosamente, e depois perguntou todo sorridente: -E onde está o "meu" sobrinho?
O pai de Jane sempre falava com muito orgulho do seu único sobrinho. Erik só tinha May como irmã, e ela sofreu por vários anos com problemas de fertilidade. Mas May sempre teve muita fé, e depois de tanto tempo de batalha, aos 37 anos ela conseguiu engravidar pela primeira vez. Ela deu a luz à um menino, e lhe deu o nome em homenagem ao seu pai falecido, William, mas todos chamavam ele por seu apelido, Will. A última vez que Jane viu Will ele tinha apenas 6 anos e ela 15. Talvez por os dois serem filhos únicos, eles criaram um laço de amizade muito forte. Apesar de ser adolescente na época, Jane adorava brincar com Will como se ele fosse seu irmãozinho. Will correu do seu quarto, ao vê-lo, Erik sorriu e abriu seus braços, mas a primeira pessoa que ele abraçou foi Jane. Ela ficou surpresa em ver como ele havia crescido! O garoto já estava quase passando da sua altura, que já não era grande coisa...
-Jane! Will disse entrelaçando seus braços ao redor da cintura dela.
-Will! Que saudades!
-Ei, garoto! Você não vai cumprimentar seu tio? John disse rindo. Erik abraçou seu sobrinho calorosamente, e tentou levantá-lo alguns centímetros do chão, como fazia quando ele era pequeno. Mas agora Will havia crescido, e Erik já estava velho demais para levantar peso. Will segurou o braço de Jane e disse alegremente enquanto a puxava para frente.
-Você precisa ver os novos jogos que eu comprei! São manerissimos!
Todos riram com o entusiasmo de Will por ter reencontrado sua parceira, acharam graça porque sabiam que não era muito comum uma garota da idade de Jane ficar brincando por ai com um menino da idade de Will. Mas ela não ligava nem um pouco. Jane era uma garota que tinha um lado meia molequinha. Ela não era do tipo que ficava se preocupando com maquiagens e sapatos. Jane gostava de vestir aquilo que lhe fazia se sentir confortável, e não estava nem ai para revistas de moda. Então Will e Jane passaram horas jogando video-game no sofá da sala, enquanto seus tios preparavam um delicioso banquete de boas-vindas.
-Jane, Will! O jantar já está pronto! Tia May gritou da cozinha, enquanto colocava o ensopado de carne na mesa, e logo atrás dela, John trazia a tigela de purê de batata. Os dois correram e se sentaram à mesa.
-Uhmmm... Que delicia, tia! Jane falou após ter degustado um pedaço de carne ensopada com purê e ervilhas, o prato preferido dela.
-E depois tem sorvete para sobremesa! Tio John disse sorrindo.
-É sério, vocês são demais! Jane disse após dar mais uma garfada no seu purê. Erik nunca esteve tão feliz por ver sua filha com tanto apetite. Ela estava comendo pra valer, dando uma garfada atrás da outra sem parar. Jane olhou para seu pai e sorriu enquanto mastigava, Erik também sorriu e sentiu vontade de chorar de alegria, por ela estar tão bem e aparentemente saudável. De repente seus pensamentos são colocados de lado quando um desconhecido aparece do nada no meio do jantar:
-Com licença, Dona May... Sr. John... Acabei de dar banho nos cavalos.
John se levantou e colocou uma mão sobre o ombro do rapaz. -Ah! Acho que vocês ainda não conhecem Thor. Thor trabalha e mora conosco aqui na fazenda há três anos. Thor, esse é o irmão de May e nossa sobrinha Jane.
Thor cumprimentou Erik e Jane com um aperto de mão. Mas quando cumprimentou Jane, Thor deu um sorrisinho travesso e a olhou de cima em baixo por alguns segundos. Logo de cara, Jane não se simpatizou com ele. -Homens... ela disse para si mesma, com repugnância.
-Sente-se Thor! Sente-se! Disse John gesticulando com a mão. Havia dois lugares disponíveis, Jane estava torcendo para ele se sentar na ponta, mas Thor sentou-se à frente dela. Parecia até que ele havia percebido a antipatia de Jane, e resolveu se sentar naquele lugar só para lhe provocar.
-Obrigado, Dona. Eu tô morrendo de fome! Respondeu enquanto pegava quase tudo que estava em sua volta.
Enquanto todos riam e contavam novidades do dia-a-dia alegremente, Jane começou a se sentir incomodada com a presença daquele rapaz na mesa. Embora a maior parte do tempo ela tentasse evitar contato visual com ele, ora ou outra Jane o pegava olhando para ela. E numa dessas trocas de olhares, a brunette o encarou por alguns segundos seriamente, como se estivesse falando através do olhar: "Para de olhar pra mim, seu idiota." E para a surpresa dela, o loiro olhou pra ela e sorriu com o canto dos lábios, como se estivesse lendo seus pensamentos.
Jane limpou sua boca num guardanapo e disse enquanto se levantava: -Com licença, preciso ir ao toilete...
Ela foi até o toilete e não voltou mais. Pois sabia que aquele rapaz estaria lá. A brunette resolveu arrumar o resto das suas coisas no quarto onde ia ficar até ele ir embora. Para sua sorte, havia uma Televisão com TV a cabo no quarto, era uma distração a mais para passar o seu tempo. Minutos depois do jantar ter terminado, preocupado com o seu sumiço, Eric foi atrás dela saber se ela estava bem.
Eric abriu a porta cautelosamente e disse: -Jane, posso entrar?
-Não, não pode. Jane rolou seus olhos e riu. -Claro que pode, pai... Eric também riu. Uma das coisas que ele mais gostava em sua filha era seu bom humor. Ela sempre fazia piada de tudo, até nas horas mais dificieis. Ele caminhou com as duas mãos no bolso, e pigarreou quando se sentou na beirada da cama. Jane sabia o que estava por vir, era uma daquelas conversas entre "pai e filha".
-Porque você não voltou para terminar o jantar Jane? Fiquei preocupado com você! Achei que você estava... Eric suspirou forte e terminou: -Você sabe...
Jane fechou os olhos e também suspirou: -Não, pai... não se preocupe. Estou bem... É que eu só estou um pouco cansada da viagem, é isso.
Eric sabia que era mentira. Mas deixou pra lá. As vezes achava que era desnecessário importuná-la com coisas pequenas, ainda mais sob aquele momento delicado que sua filha estava passando. Ele assentiu com a cabeça, e antes de ir embora lhe deu um beijo na testa.
-Tudo bem então. Boa noite, querida.
-Boa noite, pai.
A brunette tinha o costume de dormir como uma pedra. Mas sempre no meio da noite, ela acordava com muita sede. E se ela não bebesse alguma coisa, ela ficava irritada e não conseguia dormir direito denovo. Então ela se levantou, colocou suas pantufas e foi até a cozinha pegar algo pra beber. Ao passar pelo corredor, viu a porta do quarto de Will aberta. O garoto estava dormindo de bruços e sua coberta estava jogada no chão. Jane entrou no quarto devagarinho para não acordá-lo, e o cobriu. Todos tinham costume de dormir com as luzes apagadas, mas algumas janelas não tinham cortinas, então a claridade da rua entrava pelos vidros, clareando o interior da casa. Jane abriu a geladeira e pegou uma caixa de leite. A brunette tinha um hábito secreto: Gostava de beber leite direto da caixinha. Toda vez que ela fazia isso, ouvia a voz do seu pai no seu subconsciente: -Use o copo, Jane!
Ela fechou os olhos e virou a caixa pela goela abaixo como se aquele liquido fosse o néctar dos deuses. Limpou sua boca com as costas da mão e pôs a caixa devolta no seu devido lugar, como se nada tivesse acontecido. Então de repente, ouviu alguém sussurrar atrás das suas costas:
-O leite está muito gelado?
Jane levou um baita susto e quase deu um grito, mas levou uma mão na boca rapidamente. E quando ela viu quem fez seu coração quase sair pela boca lhe surpreendeu mais ainda. Thor estava na frente dela, sem camisa e usando uma calça de algodão cinza escuro.
-V-Você? Jane disse incrédula. -O que você está fazendo aqui? Ela sussurrou.
-O que você está fazendo aqui? Thor disse sorrindo maliciosamente, em tom de deboche. Jane suspirou forte, e respondeu com rispidez:
-Eu só vim beber alguma coisa, mas já estou de saída. A brunette se esquivou dele a passos largos. Então parou de repente, quando ele respondeu:
-Esqueci de responder sua pergunta: Eu moro aqui.
De costas para ele, Jane abriu e fechou a boca. -Mora aqui?! Disse para si mesma. Jane não se virou para lhe responder, deu de ombros e foi direto para sua cama. Ao colocar sua cabeça no travesseiro, logo pensou:
-Caipira babaca...
