- Você me enganou, Claire. Eu te amava. Mas não a amo mais. Agora tenho um filho com a Ada e uma família. Eu segui em frente com a minha vida. Já está na hora de fazer o mesmo com a sua.

Claire não acreditava nas duras palavras de Leon. Uma lágrima escorreu por seu rosto.

O nariz do rapaz começou a sangrar. Ele passou a mão no sangue e disse:

- O que você está fazendo?

- Eu não estou fazendo nada.

- Você está espremendo meus órgãos, me matando por dentro. Pare!

- Eu não posso! Não sei controlar isso!

Agora o corpo inteiro de Leon sangrava.

- Leon, Leon!!

E assim ela acordou. Toda noite ela sonhava que matava o Leon de várias maneiras.

Em dois meses, Claire não teve notícias de seu ex-noivo. Sentia-se sozinha e com um buraco no peito, que estava sendo preenchido pela escuridão dos poderes proporcionados pelo upgrade P-Virus. Era por isso que Trent tinha que achar uma cura urgentemente.

Por falar em Trent, já estava na hora dela se arrumar, pois às 10h ela tinha que estar no laboratório dele.

Foi uma tarde exaustiva. Trent colheu seis amostras do sangue de Claire para análise, porém não obtinha sucesso na criação da cura para o upgrade P-Virus. Ele queria entender como o virus se uniu ao DNA dela e como desfazer essa união.

- Estou trabalhando arduamente nesses dois meses, mas ainda não consegui desenvolver a vacina. Creio que preciso de mais tempo.

- Sabe que eu não tenho mais tempo.

- Claire, eu já te disse muitas vezes que esse vírus é diferente dos outros. Você não vai virar zumbi e nem morrer.

- Não tenho medo de morrer. Temo matar alguém - disse ela, lembrando-se dos sonhos com Leon.

- Você não seria capaz de fazer algo assim. A não ser por sobrevivência.

Trent teve a impressão de que Claire não ouviu o que ele disse. Depois de ser infectada, o comportamento da moça de cabelos castanho-avermelhados mudou completamente. Ele sabia que isso não era efeito do vírus, devia ser outra coisa. Porém ele não ousaria perguntar. Perguntaria outra coisa, cautelosamente:

- Claire, você não quer... Tipo, jantar comigo?

Ela o olhou com dúvidas. Ele foi logo se explicando:

- Não será um encontro. Vamos falar de negócios, está bem?

- Está bem - disse ela, aliviada.

- Vá para casa que eu passarei lá às 19h.

Sendo assim, Claire foi para seu lar.

Tomou um banho quente. Queria que a tristeza que sentia descesse com a água ralo abaixo, o que não aconteceu.

Enrolou uma toalha no corpo e se olhou no espelho. Magra, com olheiras, pele pálida... Parecia um zumbi.

Então ela lembrou-se do sonho: "Eu segui em frente com a minha vida. Já está na hora de fazer o mesmo com a sua".

Ela ia seguir em frente e mostrar, não para os outros, mas para ela mesma que havia luz no fim do túnel. Além disso, não é todo dia que um homem influente e bonito faz um convite para jantar sem compromisso.

Claire colocou um belo vestido preto tomara-que-caia que ia até a altura dos joelhos, uma sandália dourada, arrumou os cabelos e caprichou na maquiagem.

Trent chegou pontualmente e ela já o esperava na portaria de seu prédio.

- Você está linda. Com todo o respeito - elogiou Trent.

- Obrigada!

Claire e Trent se respeitavam muito e naquele momento não pensavam um no outro com segundas intenções, apenas aproveitariam a companhia mutuamente.

Chegando no restaurante italiano, sentaram-se em um ponto onde tinha-se uma bela vista da cidade. Depois de jantarem e conversarem, Claire pediu licença e foi até o WC ajeitar o look.

Passando batom, Claire nem percebeu que uma mulher saiu da cabine e fez o mesmo.

- Grande encontro? - perguntou a desconhecida.

- Ah não. São só negócios.

Depois de retocar a maquiagem, a moça de cabelos escuros disse:

- Bem, no meu caso, é um grande encontro. Afinal de contas, fisgar um peixe que escapou há anos é algo quase impossível.

- Boa sorte para você.

- Obrigada! - disse a mulher oriental, saindo do banheiro.

Claire ainda ficou alguns minutos no toalete e saiu em seguida. Voltava para a mesa de Trent quando algo lhe chamou a atenção. A moça oriental de cabelos escuros estava com o...

- Leon?

Seu coração acelerou.

- Então ela é... Ada Wong.

Claire pensou que seu coração ia sair pela boca. Um garçom passava perto da mesa onde Ada e Leon se beijavam. A bandeja que o empregado segurava transformou-se numa labareda de fogo que media três metros. Assustado, o garçom jogou a bandeja em cima de uma mesa, que também pegou fogo. As chamas e a fumaça cobriam o teto. Pessoas começaram a correr e gritaram assim que o sistema anti-incêncio foi acionado. Literalmente chovia dentro do restaurante.

Enquanto todos corriam para a saída, Trent seguia pelo lado oposto. Viu Ada e Leon perto da porta principal e já entendeu o que tinha acontecido.

Claire estava perto dos banheiros, sentada com as mãos em volta do joelho e de cabeça baixa. Trent tocou delicadamente no ombro dela.

- Eu não sei o que deu em mim, eu... - Claire dizia.

- Está tudo bem. Vamos embora.

Trent e Claire foram os últimos a saírem do restaurante. Eles estavam ensopados.

A poucos metros de distância, Ada estava inconformada com o que tinha visto:

- Como você explica aquele teto encoberto de chamas estáveis?

- Não sei - respondeu Leon.

Trent pediu gentilmente ao manobrista:

- Pode trazer meu carro depressa, por favor? Ela está passando mal.

Leon pensou consigo: "E quem não está passando mal?". Virou-se e foi uma grande surpresa ver Claire e Trent juntos.

- Está com frio? - perguntou Trent.

Claire balançou a cabeça positivamente.

Trent então tirou seu sobretudo e o colocou sobre os ombros da moça.

O carro deles chegou. Trent abriu a porta, Claire entrou, e em seguida o homem assumiu o volante.

- Eu não acredito! - disse Leon, incrédulo.

- É, eu também não. Aquelas labaredas de três metros me assustaram pra caramba! - disse Ada