Disclaimer – os atores e diretores de Supernatural não me pertencem, infelizmente. Se me pertencessem eu estaria rica e aproveitando a vida ao lado de Jensen e Jared, ou melhor, aproveitando a vida "entre" Jensen e Jared se é que me entendem.

Nota: Algumas pessoas que aparecem aqui realmente existem enquanto outras são invenção da minha cabeça. A única coisa 100% verdadeira é o nome da fic A Herança dos Anjos que também foi escrita por mim...rs...

Beta: por enquanto estou sozinha nessa empreitada...

Observação: essa fic deverá ter, em algum momento, conteúdo adulto/sacana/erótico/pornográfico e com certeza slash envolvendo J2. Não gosta, não leia. Gosta? Leia e deixe uma review pra eu ficar feliz e continuar a postar!


Capítulo I - A novata


A quinta temporada de Supernatural não parecia ir tão bem como todos os membros da equipe e a direção da emissora acreditaram que iria. Os números na pesquisa de audiência caíram amargos 4 pontos e eles ainda sofriam o deboche por perderem para séries de envolvimento românticos entre médicos fúteis ou teorias da conspiração.

Eric Kripke fazia sua décima reunião com a equipe inteira, dizendo que se não arrumassem uma saída para o problema, um novo gás para os episódios, teriam que inventar uma desculpa para os fãs e entrar em hiato antes da hora.

Definitivamente, ninguém parecia feliz com aquilo. Todos amavam o serviço e ainda recebiam pagamento por episódio o que significava que se parassem de gravar, parariam de receber também.

- Eric, - começou Sera, uma das roteiristas - você sabe que se pararmos a série agora, poderemos aborrecer os fãs e depois pode ser que a direção decida cancelar de vez em lugar de retomar as filmagens.

- E você acha que eu não pensei em nada disso? Eu não durmo há exatos 12 dias, Sera. Doze estúpidos e fodidos dias pensando numa solução e não cheguei a nada melhor que isso. Então, se alguém aqui tiver uma sugestão, eu sou todo ouvidos.

Eric se jogou na cadeira, colocou os pés sobre a mesa e encarou os colegas de serviço. Ergueu uma das sobrancelhas, como querendo dizer "eu não disse", quando Misha Collins levantou o braço sem desviar os olhos de seu palmtop.

- Acho que encontrei a solução...

*****************

- Misha, você não pode estar falando sério! – muitos da equipe olhavam incrédulos para o ator, enquanto Eric balançava a cabeça.

- Eric, raciocina comigo...

- Não, raciocina você. Quem é essa Mandy Carlton? Nem roteirista ela é, nem escritora, nem nada. Como acha que essa fangirl pode mudar a nossa situação?

O olhar confiante de Collins era perturbador. Ele parecia ser o único a não se incomodar com os gritos constantes de Eric quando as coisas saíam erradas. Ele era o único a não se intimidar com o tom de voz ácido que Eric usava quando discordava das coisas, exatamente como estava falando naquela hora. E ele era o único ali capaz de fazer Eric mudar de opinião.

- Eu já lhe disse que ela não é uma fangirl qualquer, Eric. Eu só lhe disse que as fanfics dela tem mais reviews...

- Qualquer pessoa que escrever uma cena tosca em que o Dean beija o Sam de língua vai ter muitas reviews, Misha! – interrompeu Eric cada vez mais nervoso pelo ator insistir naquela idéia sem fundamento.

- Pelo que eu li, Kripke – Misha havia mudado o tom de voz e o tratamento, deixando claro que falava sério e que queria ser tratado com o mínimo de respeito – ela nunca escreveu nada desse tipo. As fanfics dela são paralelas aos episódios da temporada e eu devo admitir: algumas histórias dela são até melhores do que as que você escreve.

Um silencio perturbador tomou conta do lugar. Os outros atores baixaram os olhos e apenas Sera continuava a encarar a dupla.

- Como... como pode ter certeza disso? – perguntou um Eric menos confiante.

- Eu li as 53 histórias que ela escreveu. Assim como outras mais de 200 mil pessoas em 12 países diferentes, já que as fics foram traduzidas para espanhol e português.

Aquilo definitivamente teve o poder que Misha Collins sabia que teria: despertar a curiosidade de Eric Kripke.

- Faz assim, Eric, dá uma lida em uma fanfic dela. Um único "episódio" e depois me diz o que acha. Se eu puder sugerir, leia A Herança dos Anjos. Eu estou simplesmente foda nessa fic – ele completou com um sorriso maroto e já ia sair da sala quando Eric o chamou.

- Você tem essas fics aí no palmtop? – ele viu Misha confirmar com a cabeça – então ninguém sai daqui até eu ler essa porcaria.

Mais de meia hora havia se passado e Eric continuava com o palmtop de Misha nas mãos sem tirar os olhos da telinha por nada no mundo. Não fazia comentários, não deixava escapar uma expressão de contentamento ou de raiva por se ver lendo uma fanfic.

A equipe conversava baixo e alguns riam dos comentários de Jared que jurava que não ia gravar nenhuma cena escrita por uma fangirl se ele tivesse que ficar embaixo de Jensen, e ganhava um tapa na nuca do ator mais velho, que também ria da piada.

- Não se preocupe, Jay – cortou Karen, a mulher da maquiagem. Ela era mais velha que eles pelo menos uns 10 anos e isso fazia com que ela sempre tivesse aquele ar maternal e cuidasse deles muito além de apenas passar base, corretivo ou arrumar os cabelos. – Normalmente quem fica embaixo de Jensen, ou melhor, de Dean nas fanfics é o Castiel.

Todos ali gargalharam diante da falsa cara de indignação de Misha, mas pararam com o riso quando ouviram Eric pigarrear. Ele havia terminado a leitura e estendia o palmtop para Misha Collins, com um brilho contrariado no olhar.

************

Uma semana depois, Mandy Carlton chegou ao estúdio de gravação de Supernatural pela primeira vez. E não é exagero dizer que 90% do elenco e da produção se surpreendeu com a imagem da jovem ficwriter, agora roteirista contratada.

Eric conduziu as negociações do contrato, impôs suas clausulas e quando entrou ao lado dela naquela terça-feira não parecia mais tão contrariado.

Carlton não era uma fangirl histérica que iria ter uma síncope ao ver o sorriso de Jared ou ouvir Jensen cantando Sweet Child Of Mine no chuveiro do trailer. Ela era uma jovem de vinte e poucos anos, baixa, corpo bem feito. Tinhas cabelos castanhos presos num rabo de cavalo milimetricamente assentado e usava óculos com armação de acetato vermelho e preto, que deixavam sua expressão levemente mais dura do que era na verdade.

Chegou vestida com um jeans claro, uma blusa de malha verde musgo e um casaco bege, da mesma cor das botas se salto baixo. Carregava uma pasta de notebook e nada mais.

- Pessoal, eu quero lhes apresentar nosso novo reforço, Mandy Carlton. Ela vai nos acompanhar nas gravações desta semana para sentir o ritmo de trabalho, antes de começar realmente a escrever novos episódios.

Todos olharam para ela, esperando que ela fizesse um desses discursos chatos, de membro novo integrando a equipe, dizendo o quanto se sentia honrada com a oportunidade. Mas ela apenas acenou com a cabeça e deu um sorriso sincero e confiante para todos.

- Ponto para você, fangirl! – pensou Jensen, vendo a cena um pouco afastado, ao lado de Jared.

- O quê? – perguntou o moreno, e só então Jensen reparou que havia pensado em voz alta.

- Nada, só que ela foi esperta em não ficar falando merda no primeiro dia. Mas eu quero ver, aliás, eu sou capaz de apostar que ela vai fazer besteira logo, logo.

Jensen não estava irritado com a situação, muito menos sendo grosseiro, rude ou qualquer porcaria dessas. Mas ele não tinha uma boa experiência com fãs trabalhando junto da equipe desde que as fotos da discussão dele com Daneel, em que ele levava um tapa da ex-noiva, caíram na Internet.

O faxineiro que tirou a foto com seu celular foi dispensado, mas a sensação de invasão de privacidade que Jensen sentiu, ainda permanecia dentro dele. E Jared sabia muito bem que ele não se esforçaria para gostar da nova roteirista.

A jovem procurou um canto discreto, ajeitou por si só uma mesa e uma cadeira, ligou o notebook e ficou entretida com alguma coisa, até que algumas pessoas da produção foram se achegando e conversando com ela. Jared sorriu ao ver que ela não se deixava intimidar, conversa a altura, ria e fazia as outras pessoas rirem.

Naquela manhã, eles gravariam uma cena importante entre Castiel e Dean e logo Misha deveria estar no estúdio. Quando o ator que representava o anjo chegou, ele acabou parecendo ser a fangirl e os demais riam da cara de fascinação dele, observando a nova roteirista.

- Você é casado, Misha! – lembrou Jared, chegando por trás dele e dando um susto no ator, o que arrancou risadas de Jensen, que também havia se aproximado.

- Cala a boca, grandão. – retrucou Misha com um sorriso divertido – Não tem nada a ver. Eu só admiro o trabalho dela. Do mesmo jeito que você ficaria se encontrasse o Rick Martin.

Jensen riu da careta de Jared. Collins sempre pegava no pé de Jared por causa de um toque de celular que o moreno usava com a música La Vida Loca. Ele dizia que era para diferenciar, que sua irmã Meg amava aquela música, mas todos sabiam quem era o verdadeiro fã do cantor.

- Vai lá, Misha. – ele tentou incentivar o ator, querendo com isso mudar de assunto – Se apresenta para ela. Aposto que ela sabe que deve essa chance a você.

Misha Collins, franziu a testa numa expressão de agradável curiosidade. Realmente, se Mandy Carlton agora era roteirista de Supernatural era porque ele, Collins, tinha lido suas fics e convencido Eric a lê-las também. Com um aceno de cabeça, ele se distanciou dos colegas de cena e foi se apresentar para a roteirista.

Mandy não pareceu surpresa ao ver Misha perto. Conversou com ele com profissionalismo a princípio. Os protagonistas da série ficaram observando a distância e viram o que pareceu ser um sincero agradecimento, antes mesmo que Collins dissesse qualquer coisa sobre ter indicado as fics dela.

Alguma coisa que ele falou a fez gargalhar e eles notaram que ela também respondia a altura e fazia Misha rir, com vontade, até ter lágrimas escorrendo dos olhos.

Logo ela puxou outra cadeira, convidou Misha a sentar ao seu lado e foi mostrar algo no notebook. Misha ficou concentrado um tempo, depois esboçou um sorriso e começou a discutir idéias com a jovem, despertando a curiosidade em Jensen, que parecia não se sentir tão a vontade com a imagem da garota tão próxima ao colega.

- Vamos lá! – disse puxando Jared.

- Mas você disse que não queria...

- Esquece o que eu disse e me ajuda. – ele cortou bruscamente,

Era sempre assim. Quando Jensen se sentia inseguro com qualquer coisa, tomava uma atitude idiota e arrastava Jared com ele. Era só assim, com o amigo ao seu lado, que ele se sentia mais confortável. Ainda mais para falar com uma estranha. Mesmo que esta estranha fosse sua nova colega de trabalho.

- Do que estão rindo? – perguntou animado demais na opinião de Jared que revirou os olhos e depois sorriu para a garota.

Os protagonistas ainda não tinham se apresentado a ela e por um momento Jared pensou no quanto aquilo poderia ter parecido arrogante. A dupla, os principais, se fazendo de difícil para a nova integrante da equipe.

- Oi, eu sou o Ackles. – esticou a mão para ela com um sorriso bem artificial.

- Oi. Sou Carlton, mas você já deve saber disso. – ela respondeu sem se afetar com a proximidade dos atores.

Jensen arqueou as sobrancelhas. Ela não fez nenhum comentário do tipo "adorei sua cena tal", "você largou mesmo a Daneel?", "sou sua fã número 1". E ele quase se sentiu a vontade ao lado dela, mas nesse momento, Jared estava se apresentando e sorrindo.

Um sorriso genuíno, a vontade, daqueles que ele normalmente só destinava aos amigos mais íntimos. Ela pegou a mão de Padaleck e sorriu de volta, com mais intensidade e isso suavizou as feições endurecidas pelos óculos.

- Você tinha razão. – ela falou olhando de lado para Misha, que continuava sentado.

- Tinha razão em que? – indagou Jared, realmente curioso.

- Ele disse que é impossível não sorrir para você, quando você sorri assim. – ela falou com um tom de voz sincero, fingindo não perceber que Jensen revirava os olhos com um misto de impaciência e indignação.

- Bom, temos que ir, não é Jay? Temos uma cena para gravar... – ele ia falando, puxando o co-protagonista pelo ombro.

- Não tem, não! – interrompeu Misha, ignorando o olhar assassino que Ackles lhe dirigiu. – Jay só vai gravar após o almoço. Agora as luzes serão para nós dois, bonitão. Vamos lá! Enquanto isso, Jay pode fazer companhia à Mandy, não é?

E ele saiu, deixando o outro ator conversando com a nova roteirista e puxando Jensen pela manga da camiseta.

- Você ficou louco, Misha?

- Eu? Por quê? – falou o outro sem entender de verdade a reação de Jensen.

- Deixar o Jay lá com ela...

- Jensen, ela é só uma roteirista. Não é um dos monstros que seus personagens caçam na série e ela não vai devorar ele assim que a gente virar as costas.

- Oh, eu acho que ela adoraria fazer outras coisas além de devorar ele assim que a gente virar as costas. – ele estava zangado, e quando ficava desse jeito sua voz acabava soando extremamente cínica.

Collins gargalhou, chamando a atenção do iluminador que passava carregando alguns equipamentos e recebendo uma cotovelada de Jensen.

- Jensen Ackles, eu poderia jurar que você está com ciúmes. – ela continuava rindo e se Jensen não estivesse já maquiado, poderia perceber um leve rubor surgir em suas bochechas – Olha, não é porque a Mandy deu mais atenção ao Jay que ela não goste de você. É só que você foi meio... anh, "estrela" perto dela.

Jensen ia retrucar qualquer coisa, mas o comentário de Misha o desviou do pensamento inicial, que era dizer que ele não se incomodava com nada daquilo, só que achava estranho "seu" amigo Jay dar tanta atenção para uma novata assim.

- O que você quer dizer com "estrela"?

- Oras, você chegou com seu sorriso mais falso, esticou a mão e se apresentou usando o seu sobrenome, no maior estilo "Bond, James Bond". Como se a nova roteirista não soubesse quem você é. E desse jeito você deixou claro que o nível dela aqui era inferior ao seu e se esqueceu de que ela é a única que pode impedir essa série de cair no precipício que está bem diante dos nossos pés.

Jensen ouviu tudo com a boca levemente aberta. Ele havia sido patético. E além de patético, havia sido burro. Burro! Todo ator de seriado sabe que não deve mexer com os roteiristas, afinal, são eles que dão rumo ao seu personagem e de uma hora para outra podem empurrar seu personagem por um poço de elevador, mesmo que a série se passe na Idade Média.

Ele apertou a nuca com força e alongou o pescoço. Precisaria reverter aquela situação, mas isso teria que ficar para depois, já que Kripke já gritava nervoso para começarem a gravar a cena.

De longe, Mandy assistia tudo, comentando vez ou outra com Padaleck sobre a atuação de Jensen ou Misha. A gravação ia bem, mas num determinado momento ela empacava, sempre na mesma parte, sempre na mesma fala de Dean para Castiel.

Mandy sussurrou algo ao ouvido de Jared e ele concordou com um olhar surpreso. Ela levantou da cadeira, andou decidida até onde Kripke estava e tocou no ombro do diretor que olhou para ela como se estivesse vendo o monstro do Lago Ness diante dele.

Ela não se intimidou e falou algo para o diretor que por um instante franziu a testa e segundos depois arqueou as duas sobrancelhas e acenou levemente.

- Mudança de planos, garotos. Dean! – ele sempre chamava os atores pelos nomes dos personagens quando estava gravando – Venha até aqui e faça exatamente o que a Mandy vai lhe dizer. Castiel, você vem comigo.

Jensen crispou os lábios, respirou fundo e se aproximou da jovem. Não podia se desculpar naquela hora pela atitude estúpida e o máximo que poderia era escutar com atenção ao que ela iria dizer.

- Simples, Ackles, o problema aqui ta na posição de vocês. Se Castiel ficar mais afastado e você tiver que gritar para se fazer ouvir, a cena vai ficar mais real e você não vai ter que tocar nele. Acho que esse toque ta deixando a cena muito... muito gay.

Olhando a nova marca que Kripke dava a Castiel e relendo a cena que o assistente lhe entregava, Jensen viu que Mandy tinha razão. Ficaria mais forte, mais denso, menos gay, como ela mesma havia dito.

- Obrigado! – ele falou voltando para sua marca após devolver o roteiro nas mãos dela mesmo.

Mandy voltava para seu lugar quando sentiu uma mão em seu ombro e se virou, dando com a cara de um Jensen visivelmente encabulado.

- Pode me chamar só de Jen. – ele disse e voltou para sua marca.