Mid Night's Lady

By Dama 9

Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, apenas Ariel e Emmus são criações únicas e exclusivas minhas para essa saga.

Boa Leitura!

n/a: Fic betada pela Margarida.

Capitulo 1: Dou-lhe uma, Dou-lhe duas…

.I.

Suspirou pesadamente, enquanto terminava de fazer o nó da gravata. Fitou-se mais uma vez no espelho, observando atentamente a imagem ali refletida, normalmente não usaria algo tão formal quanto aquilo, aliás, normalmente não caia nas armadilhas de uma pequena adolescente; ele pensou.

Lançou um olhar de soslaio para o criado-mudo ao lado da cama, seu relógio já indicava que eram quase seis e meia, embora tivesse alguns poucos minutos ainda, antes de sair, preferia chegar um pouco antes.

Fechou os últimos botões do paletó preto, ajustando-os sobre os ombros largos. Os longos cabelos negros caiam até o meio das costas, lisos e brilhantes, a gravata prateada estava passada e alinhada, formando um perfeito contraste com a camisa branca.

Um novo suspiro saiu de seus lábios. Jamais confie novamente em um adolescente; ele repetiu a si durante todo o trajeto percorrido até a associação de moradores do vilarejo próximo ao santuário.

Todos que viviam ali, na maioria eram idosos, mas a nova geração andava tendo algumas idéias um tanto quanto condenáveis. Mesmo que não tivesse argumentos para contrariar o pedido tão inusitado de sua jovem amiguinha.

Entrou no grande galpão preparado para o evento de ultima hora. Todo ano, em datas aleatórias, a comunidade se reunia para fazer alguns eventos de arrecadação de fundos para o hospital local.

Há um tempo atrás, participara da doação de sangue e outro evento de arrecadação e já ouvira falar também, que Saori ajudava a fila com o que fosse necessário para organizar tudo. Entretanto, esse ano ela não estava em Atenas, aliás, depois que ela fora para o Japão e Aioros logo em seguida, ninguém tivera muitas noticias sobre o casal. Apenas que estavam bem em algum lugar muito longe da Grécia.

Ouvira uma das senhoras da associação falar que o vice-presidente da Fundação Graad já havia dado uma farta contribuição, mas como infelizmente a distribuição de renda ainda não era das melhores, eles precisavam de mais, para conseguirem prestar suporte a todos que necessitavam.

-Aldebaran; uma voz familiar lhe chamou.

Virou-se, vendo a jovem de melenas castanhas vir correndo em sua direção. É, não acredite em adolescentes; ele repetiu novamente, alias fora justamente por causa daquela garotinha, não mais tão pequenininha, como havia a conhecido, que estava ali agora.

-Saphie, como vai? –ele indagou cordialmente.

-Bem, muito bem; a jovem falou agitada. –Estou ansiosa por essa noite, Dona Eustasia disse que o evento vai ser um sucesso; ela falou batendo palmas.

-É melhor que compense o mico; ele resmungou, olhando para os lados.

Algumas pessoas já haviam chegado e estavam ocupando as cadeiras marcas, mas a maioria ali eram mulheres; ele concluiu vendo alguns olhares bastante curiosos em sua direção.

-Disse alguma coisa? –Saphie indagou.

-Não, nada não; ele adiantou-se.

Respirou fundo, enquanto distraidamente mexia nas abotoaduras douradas, na manga do paletó. Estava quase na hora, dar meia volta e ir embora não era uma opção, por mais tentadora que fosse; ele concluiu.

Enfim, tudo por uma boa causa; ele tentou se consolar.

-Mas venha, o pessoal está se reunindo lá atrás; Saphie falou indicando um palco que fora armado na outra extremidade do salão. –Conseguimos mais três pessoas, mas ainda é muito bom contar com a sua ajuda; ela comentou, enquanto eles caminhavam até o local indicado.

-Eu disse que iria ajudar, não? –o cavaleiro falou com um sorriso gentil. Embora uma fina gotinha de suor tenha escorrido por sua testa. Muitos olhares voltaram-se em sua direção, entretanto o que eles expressavam não serviu para lhe acalmar, pelo contrario.

Passaram pelo meio de uma cortina e logo encontraram os demais participantes do show de horrores lhes esperando; ele pensou, vendo outros três rapazes, dos quais um deles era Sebastian, dono da loja de animais e Alexei, dono da loja de chocolates. Ironicamente todos solteiros. Porque será não? –ele pensou irônico, cumprimentando-os apenas com um menear de cabeça.

-Boa noite, Aldebaran! –Dona Eustasia falou sorrindo.

Ela era uma senhora que já contava com muitos fios grisalhos e delicadas rugas da idéia e de muitos sorrisos.

-Boa noite; ele respondeu calmamente.

-Bem pessoal, vamos nos organizar que o show vai começar; a senhora falou batendo palmas, animada.

-Nos vemos depois; Saphie falou, sorrindo de maneira encorajadora antes de se despedir.

Sentou-se em uma cadeira, esperando sua vez de passar novamente por aquelas cortinas. Cruzou uma das pernas, elegantemente sobre a outra, após abrir um dos botões do paletó, para ficar mais confortável.

Balançou a cabeça levemente para os lados. Caira na conversa de Saphie sobre a 'boa intenção' e lá estava ele, pronto para cair dentro da toca do lobo, ainda sorrindo, o que era o pior de tudo; ele concluiu.

Suspirou pesadamente, enquanto acompanhava os passos pequenos da adolescente a sua frente, pelo vilarejo. Ainda se perguntava se aquela era a melhor forma de ajudar, mas os argumentos de Saphie eram irrefutáveis e nem mesmo ele, acostumado há anos a fugir das armações de um Escorpião nada normal, não conseguira fugir daquela, mesmo que todos os seus sentidos gritassem que alguma coisa não estava certa ali.

-Aldebaran, obrigada por nos ajudar; a garota de melenas castanhas falou com um largo sorriso.

Assentiu, com um sorriso sem graça. Se ela soubesse que não era nada fácil para ele estar ali, não iria estar tão contente; ele pensou.

Sempre se dera muito bem com todos do vilarejo, desde crianças a adultos, quando conhecera Saphie a mesma era só uma garotinha saltitante e cheia de vida. Mas os anos haviam se passado e ainda lembrava-se do pânico da pequena quando a guerra estourara na Grécia e a ameaça de Hades caira sobre a terra.

Como diria seu bom amigo ariano, a motivação faz o homem. E fora aquela última visita ao vilarejo, onde encontrara Saphie e mais algumas garotas que compreendera realmente sua missão.

Proteger as pessoas inocentes que habitavam essa terra, nem que tivesse de dar sua vida por isso.

Agora os tempos eram de paz, por isso não conseguiu recusar o pedido da garota, mas voltando a estaca zero, seus sentidos podiam ser irritantes quando queriam; ele concluiu, entrando em um galpão que funcionava um tipo de "sociedade de amigos de bairro", como diriam em seu país.

Algumas pessoas já estavam reunidas ali, conversando sobre algo aparentemente trivial, pois calaram-se quando se aproximaram e viraram com olhares curiosos em sua direção.

-Pessoal, o Aldebaran disse que irá ajudar; Saphie falou sorrindo, enquanto agarrava-se ao braço do taurino, que sorriu envergonhado diante do olhar nada inocente que algumas pessoas lhes lançavam.

-Ahn! Embora Saphie não tenha dito exatamente como eu posso ajudar, podem contar comigo; ele acrescentou, tentando quebrar aquele clima estranho.

-Que bom; uma das senhoras que estavam presentes falou levantando-se.

Aproximou-se do cavaleiro, fitando-o dos pés a cabeça, fazendo-o instintivamente prender a respiração, esperando pelo momento que alguma coisa infame seria dita, mas nem mesmo agüentar os infernos astrais de Shaka de Virgem haviam lhe preparado para aquilo.

-Acho que um terno preto vai ficar bom, eu tenho o número dele; ela completou, colocando a mão no queixo, fitando-o compenetrada.

-Dona Acácia é costureira; Saphie falou voltando-se para ele. –A confecção dela revende para as melhores lojas da cidade;

-Entendo; ele murmurou, embora não conseguisse compreender o que aquela senhora tinha a ver com toda a história.

-De quanto será o lance inicial? –um senhor indagou, enquanto rabiscava algumas coisas rapidamente em uma prancheta em seus braços.

-Como? –Aldebaran perguntou voltando-se imediatamente para a adolescente, que tinha a face escarlate.

-Ahn! Acho que esqueci de te contar; Saphie começou, juntando a ponta dos dedinhos, umas nas outras, evidentemente constrangida.

-O que exatamente? –o taurino perguntou, pausadamente.

-Você sabe que todo ano fazemos algumas campanhas para arrecadar fundos para as instituições de caridade de Atenas, o hospital e o orfanato, mas nos últimos anos muito poucos contribuíram e esse ano decidimos que seria melhor adotar o método americano de se arrecadar fundos; ela explicou.

-Método americano? –ele indagou, arqueando a sobrancelha. Definitivamente, não iria gostar do que ela ia falar.

-Leilão; Saphie falou. –Bem, não exatamente... Tipo, pense como se fossem obras de arte sendo leiloadas, só que no caso das obras são pessoas e é por uma boa causa; ela falou apressadamente.

-Saphie; Aldebaran falou serio. –Eu disse que ajudaria, mas um leilão? Onde já sei viu, leiloar pessoas; ele exasperou indignado.

-Não exatamente meu jovem; Dona Eustasia o cortou. –Como acompanhante, você leva também um jantar na Toca do Baco; ela explicou como se aquele fosse a grande revelação do bilhete premiado.

-Uhn? –ele indagou confuso.

-O que ela quer dizer é que, quem te arrematar, você leva pra jantar na Toca do Baco; o senhor esclareceu, enquanto fazia mais alguns rabiscos na prancheta.

-Saphie; Aldebaran falou voltando-se para a jovem, que pareceu tremer.

-Por favor, é por uma boa causa; ela pediu com os olhinhos brilhando.

-Não concordo com esse tipo de método, Saphie; ele continuou.

-Eu sei, mas você é o único que pode nos ajudar; a jovem explicou.

-Existem outros cavaleiros; ele ressaltou.

-Kamus, Aiolia e Saga estão comprometidos. Shaka e Kanon estão viajando, Máscara da Morte, todos tem medo dele. Afrodite... Esse é melhor nem comentar o que as pessoas realmente pensam. Dohko de Libra esta muito longe, mestre Shion tá casado; ela falou enumerando cada cavaleiro.

-Ainda existem Shura, Milo e Mú; Aldebaran a lembrou.

-Shura já nos ajudou se comprometendo a fazer alguns pratos típicos do país dele para vendermos na feira de alimentação, senhor Milo e o cavaleiro de Áries já fizeram uma farta contribuição, não poderíamos pedir que eles sacrificassem seu tempo também. Seria muito abuso; Dona Acácia completou com ar sério.

-Contribuição? –Aldebaran indagou, incrédulo. Aqueles dois, porque será que tinha a leve impressão de que aquele ariano armara para cima de si; ele pensou, calculando as possibilidades.

-Alem do mais, mestre Mú disse que você estaria livre no final de semana e talvez não se importasse de nos ajudar; Saphie falou inocentemente. –Mas se você não puder Alde, eu vou entender; ela completou fazendo beicinho.

Ariano safado... Como ele pode? –Aldebaran pensou serrando os punhos nervosamente. Era melhor tomar cuidado com aquele cavaleiro. Mú poderia se mostrar muito ardiloso quando queria, principalmente se fosse irritado, como fora o caso há algumas semanas trás quando literalmente invadira seu templo com os demais para uma seção de filmes e interrompera os affairs dele com Mia pelo menos três vezes... Só naquela noite.

Mas pensara que ele havia esquecido, ou simplesmente deixado passar! Ledo engano. Agora não tinha outra alternativa se não continuar com aquilo e ajudar Saphie e todos os desafortunados de Atenas; ele concluiu assentindo inconscientemente.

-Tudo bem;

-Obrigada; Saphie falou animada, atirando-se em seu pescoço e dando-lhe um beijo estalado na bochecha, que o deixou escarlate. –Agora vamos começar a arrumar as coisas, amanhã à noite tudo tem que ser perfeito; ela completou referindo-se ao pequeno 'leilão de caridade' estilo americano, onde algumas pessoas usavam de sua influência para serem arrematados, por um valor "x" e ajudar algumas instituições com o capital adquirido.

Nunca imaginou que fosse estar no meio de algo assim, muito menos de maneira tão direta, mas aquele ariano ainda iria lhe pagar por essa. Ah! Ele iria; Aldebaran pensou.

Terminou de arrumar as coisas e juntou-se a Dona Acácia, próxima a fileira principal. Tudo estava conforme haviam planejado.

Um sorriso travesso formou-se em seus lábios, finalmente aqueles filmes americanos que tanto assistira serviram para alguma coisa. Aquela idéia foi simplesmente genial; Saphie pensou, contando todas as possibilidades daquela noite.

Como havia calculado, todos os lances deveriam terminar as oito e meia, assim, aqueles que sairiam para jantar teriam tempo suficiente de se organizar. Mas o que mais lhe preocupava até agora era Aldebaran.

Tinha a leve impressão de que ele não gostara muito dessa história, mesmo que houvesse acabado topando no final.

Suspirou cansada, enquanto passava a mão pela testa, afastando alguns fios castanhos da frente dos olhos, tudo estava perfeito agora e se os deuses quisessem, até o final da noite iriam continuar assim.

.II.

A limusine atravessava a cidade com agilidade, olhou no relógio sobre o console notando que já eram sete e meia, o evento beneficente daquela noite que iria comparecer, provavelmente iria terminar as dez, mas pelo que se assessor havia lhe dito, deveria estar lá antes das oito.

Recostou-se melhor no banco, arrumando a saia de pregas sobre o colo. O belo Versasse, caia impecavelmente liso sobre seu corpo, destacando as curvas sinuosas e delgadas.

Desde que assumira a presidência da empresa novamente, depois de vários anos afastada, procurara se interar sobre tudo que acontecia lá dentro, inclusive os eventos que antes seu assessor comparecia em seu lugar, levando as somas que seriam doadas.

Mas nesta noite resolvera ir sozinha, Emmus tinha um compromisso inadiável e também, depois dos problemas que ele vinha enfrentando na Titãs CO, não quis aborrecê-lo com isso.

Instintivamente sua mão pousou sobre a delicada perola negra que pendia de seu pescoço na correntinha prateada. Normalmente seu sexto sentido não lhe deixava tão agitada, mas por algum motivo que infelizmente ainda não sabia qual era, mas ele fazia isso agora.

-Senhora, estamos chegando; o chofer avisou, quando o carro tomou uma rua de terra.

-Tudo bem; Ariel respondeu, colocando sobre o colo a bolsa que trazia consigo o cheque da doação feita pela De Siren e pela Titãs.

Mais alguns segundos e viu-se em frente a um grande galpão, todo iluminado, do outro lado uma feirinha de alimentação parecia bastante animada, com musicas típicas sendo tocadas e as mais saborosas iguarias sendo vendidas.

Suspirou, sentia tanta falta da Grécia, mas infelizmente por enquanto não podia voltar a terra natal definitivamente. Quem sabe quando todos os problemas fossem resolvidos; ela pensou, vendo o chofer abrir a porta e estender-lhe a mão cordialmente.

Enquanto isso, tinha de se contentar com aqueles pequenos eventos...

.III.

Entrou no salão ouvindo suspiros e sussurros, tentou ignorar enquanto tomava o assento antes ocupado por Alexei e Sebastian, mas que agora seria ocupado por si e em breve pelo ultimo pobre coitado que estava atrás das cortinas, esperando sua vez.

Todos provavelmente haviam caído naquela armadilha de boa causa. Aliás, eles também deviam ter um amigo ariano que armara aquela pequena vingança particular, tão perfeitamente enredada, digna de fazer inveja a Al Patino em Advogado do Diabo, que lhe impedia de recuar e nem ao menos ter para onde correr.

Sentou-se na cadeira, enquanto dona Eustasia, que agora comandava o leilão, começou a apresentação.

Dizer que se sentia um pedaço de carne no meio de um monte de chacais era o mínimo se comparado ao que estava sentido diante de tantos olhares femininos sobre si.

Raios! Era para ser o Escorpião ali, não ele. Mesmo porque não levava o menor jeito com flertes dissimulados, ou já estivera em situação semelhante aquela antes. Será que deveria ser assim naqueles chamados "clube de mulheres". Engoliu em seco, preferindo ignorar esses pensamentos, a situação em si já não contribuía para seu humor e não queria piorá-lo.

Ouviu a primeira martelada e Dona Eustasia começou.

-Quem da o primeiro lance?

-Cem dracmas; uma das inúmeras 'primeira-dama' de Atenas falou, erguendo a mão.

Primeiras-damas, isso com certeza era patético. Elas não passavam de um bando de mulheres que achavam que o dinheiro era capaz de comprar as almas das pessoas. E Saphie fora bastante infeliz na escolha do 'método de arrecadação'.

Aquilo era pura política, nenhuma daquelas mulheres ali prenderia a atenção de alguém por muito tempo. Fúteis e desinteressantes. Aquilo era mais do que patético, nem mesmo Milo iria agüentar algo do gênero; ele concluiu, tendo isso como prova irrefutável dos motivos que fizeram o Escorpião se adiantar nas doações e evitar o 'show'.

-Duzentas; outra falou.

Duzentas dracmas... Como eram deprimentes; Aldebaran pensou aborrecido, arrumando nervosamente a gravata no pescoço. O terno preto e bem alinhado de dona Acácia caira como uma luva em si, mesmo que preferisse roupas mais folgadas e menos formais. Não via a hora de acabar logo com aquilo.

-Trezentas;

-Quatr-...;

-Quinhentas;

Ergueu os olhos para as espectadoras ao ouvir uma voz ser cortada abruptamente pela primeira-dama ateniense.

Franziu o cenho ao buscar em meio aos burburinhos a jovem que fora interrompida.

-Escuse, mas eu não terminei meu lance; a voz era suave, porém dotada de uma força intensa, que lhe fez estremecer mesmo a distancia.

-Você deu o lance de quatrocentos; Julieta falou levantando-se em meio à multidão de mulheres e voltando-se para a jovem, como se para intimidá-la.

Cabelos negros e orbes violeta. Aonde já os vira antes? –o cavaleiro se indagou esperando pelo que viria a acontecer daquele entrave.

-Mesmo assim, isso não lhe dá o direito de me interromper; a jovem continuou.

Mãos delicadas e dedos finos pousados com suavidade sobre o colo, enquanto o vestido negro caia pouco abaixo dos joelhos. Uma fina corrente prateada envolvia o colo alvo e um sutil rubor tingia-lhe a face, como se denotasse toda a irritação que sentia, porém que saia contida em suas palavras.

-Quem você pensa que é? –a primeira-dama rebateu, sem um pingo de educação.

-Senhoras; Dona Acácia falou, chamando-lhes a atenção.

-Espero que não aja nenhum problema quanto ao meu lance; Julieta falou em tom de provocação.

-Senhora, a jovem está certa... Ela não havia terminado o lance; Dona Eustasia falou tentando manter a calma, diante de situação tão complicada.

Observou ambas as mulheres. Estava intrigado, enquanto a primeira-dama parecia prestes a fazer um escândalo, a outra mantinha-se tranqüila. Alias, possuía uma tranqüilidade de fazer inveja a Shaka de Virgem; ele pensou abismado.

-Oras;

-Se não se incomodar, gostaria de terminar o meu lance; a jovem falou com a voz melodiosa chegando a seus ouvidos de maneira atordoante. Céus, aquilo tinha de acabar; o taurino pensou em pânico. –Se a senhora pretender cobri-lo, não farei objeções, mas quero terminar; ela completou num tom serio e lançando um olhar de aviso, fez a mulher sentar-se novamente.

Elegância, classe e refinamento. Nunca vira alguém assim. Aquela misteriosa dama de negro era intrigante; ele pensou.

Não parecia ser grega, se não, já a teria visto em algum outro evento. Ela parecia ser inglesa, mas o que um britânico estaria fazendo ali? –o cavaleiro se perguntou, entretanto a verdade é que não conseguia fazer a mínima idéia de onde ela vinha.

Existiam tantos trejeitos diferentes nela que era impossível saber. Começando pelo 'Escuse' carregado de sotaque italiano, impecável como o de um perfeito siciliano, mas os olhos intensos de cílios longos e negros pareciam orientais, já a postura sem dúvidas era inglesa. Entretanto, existia uma amabilidade transmitida em seu olhar, semelhante ao calor latino. Quem era ela afinal?

-Que seja; a primeira dama resmungou.

-Meu lance é de quatrocentos...; a jovem falou alto e antes que a primeira dama se manifestasse ela completou. –Mil euros;

Uma serie de 'Ohsssssssssssss' irrompeu no salão e até mesmo o cavaleiro manteve-se chocado com o lance.

-Não pode; Julieta exasperou levantando-se com ar indignado.

-Esse é o momento que a senhora pode cobrir meu lance; a jovem falou calmamente.

-Isso é um absurdo, ninguém vale tudo isso; ela exasperou.

Indignado, pensou em levantar-se e dizer umas poucas e boas para a mulher, mas o que aconteceu a seguir foi para deixar-lhe ainda mais em estado de choque.

-Não, não mesmo...; a pequena dama respondeu sem perder a compostura. –Vale muito mais, aliás, montante algum no mundo seria capaz de somar o valor de uma vida. Entretanto, não espero que alguém tão patética e insossa como à senhora compreenda uma lógica tão pura e simples; ela completou levantando-se.

-Garota atrevida;

-Chega; Dona Acácia falou chamando-lhes a atenção. –Se nenhuma das outras senhoras iria dar outro lance, damos por encerrado o leilão; ela completou.

-Não; muitas murmuraram, dando-se por vencidas.

-Dou-lhe uma... Dou-lhe duas... Dou-lhe três; a senhora falou batendo o martelo. –O jantar na Toca do Baco com o cavaleiro, vai para a senhorita Ariel Considine; Eustasia completou vendo a primeira-dama empalidecer ao olhar para a jovem.

O som do martelo ecoou por toda a parte, aos poucos o salão foi esvaziando. Seus olhos buscaram pelo mar tempestuoso refletido nas íris violeta, mas não a encontrou, levantou-se disposto a procurá-la por todos os lados se fosse preciso, mas estancou ao vê-la junto de Dona Acácia e Saphie.

-"Ariel Considine, interessante"; ele pensou.

Continua...