Sumário: Viu sua espuma escapar por anos, mas somente depois dos vinte teve coragem de costurá-lo.

Shaman King não me pertence.

Essa fanfic não foi betada, então perdoe os erros e a confusão do texto.

Para a Anne, claro.



My little Tiger, my only friend

Arrastou-o pelo castelo tantas vezes que não foi uma surpresa vê-lo descosturado, aberto e exposto para o mundo. Na verdade, preferia assim, pois, de alguma forma, eles agora eram iguais. Ren era muito jovem para entender seus próprios pensamentos, mas era triste o suficiente para tê-los, então preferiu guardá-los apenas para si. Disse a si mesmo que estava velho demais para confessá-los para um brinquedo, sem perceber que não tinha nem dez anos.

A pergunta da irmã delimitou seu destino, que seria igual ao de seu pai. "Quer que eu conserte, Ren?" recebeu como resposta "Por que não guarda suas agulhas e linha para os mortos?" e doeu mais nele do que em Jun, como era de se esperar. Um sorriso triste lhe foi entregue e nada foi como antes.

(no mesmo dia, seu pai lhe disse que Ren seria grande, porque seria igual a ele. O menino preferiu não jantar, porque sabia que vomitaria – e um Tao deve ser forte e não pode vomitar, nem que a comida estivesse envenenada. Não havia honra dentre os fracos e tolos.

no mesmo dia, caiu em sua cama, sentindo a tatuagem queimar em suas costas como se fosse nova, e colocar em seus ombros um peso grande demais para suportar. O tigre de pelúcia lhe encarou com olhos carinhosos e por um momento Ren cogitou em ir até lá e abraçá-lo. Mas isso seria estúpido, porque aquela coisa surrada e semi-esquecida não lhe traria conforto nenhum, certo?

nunca descobriu a resposta).

A espuma que escapava marcava sua sentença como Tao. E era um relógio péssimo, sempre atrasado e parando a qualquer instante, mesmo com as janelas sempre abertas para agilizar o processo. Um dia pegou-se dizendo a si mesmo que o tigre fazia isso simplesmente porque não queria morrer; não queria desintegrar por outros. Mas era apenas um tigre idiota, como poderia lutar contra algo que poderia nunca ocorrer?

Riu de si. Por que ainda considerava o tigre como uma coisa viva e que pensava e respirava? Ele era tão vivo quanto Ren era livre.

Foi seu último pensamento antes de embarcar para o Japão e ter sua vida mudada. Uma pena que não percebeu que as janelas abertas traziam novos ventos àquela casa de mortos.

(viu sua espuma escapar por anos, mas somente depois dos vinte teve coragem de costurá-lo. Pediu à Jeannie uma agulha e linha e ela perguntou se ele não queria que ela o fizesse. Deu-lhe uma resposta malcriada, que machucou mais ela do que ele, e nesse ponto, percebeu que seu pai estava certo. Era exatamente como ele.

Trancou-se em seu velho quarto e passou a costurar a coisa velha. O tecido estava danificado pelo tempo e pelos ventos que vinham das janelas sempre abertas, mas não desintegraram com o toque frio da agulha. Foi mais difícil que pensou e demorou mais tempo que imaginara, mas, quando enfim cortou a linha e observou seu trabalho, sentiu-se inesperadamente orgulhoso.

Agora ele estava inteiro. Um pouco surrado, um pouco cansado, um pouco mal-costurado e parecendo que não ia durar muito, mas estava inteiro, finalmente.

Quando desceu as escadas e encontrou sua família esperando-o para jantar, sorriu e perguntou ao filho se ele queria um presente. Obviamente, ele não recusou.

E quando deu seu melhor amigo ao seu herdeiro e o viu abraçá-lo forte – exatamente como deveria ter feito quando era menor –, soube que não era nada parecido com o seu pai. Pela primeira vez, sentiu-se como ele mesmo e todo o peso que havia em suas costas desapareceu por completo.

E por mais que parecesse loucura, jurou a si mesmo que pôde ouvir o tigre ronronar, em felicidade).


N/A.: Nem sei o que falar dessa fanfic, só que eu precisava escrever algo além de Harry Potter. Obviamente, é para a Anne.