Eu estava viajando de carro e assistindo à gag reel no meu celular quando me deparei com a cena de Sam e Dean vestidos de padres. Minha mente começou a viajar e eu lembrei de um amigo que foi pra uma casa de irmãos Maristas e teve de ficar uma semana em silêncio, e de como ele tinha se sentido sozinho. Como minha mente relaciona tudo com J2, eu comecei a imaginar como seria se Jared e Jensen passassem por uma experiência parecida e, bem, minha mente viajou tanto e me fez sorrir tantas vezes, que eu acabei decidindo escrever essa fic. Ela recebeu bons feedbacks no Nyah e então eu resolvi postar aqui também. Espero que gostem :D

Voto de Silêncio

Capítulo 1

Jared entrou no quarto. Dez camas vazias. Ele trancou os dentes, um desespero queria sair, mas ele não ia deixar. Ouviu os passos de padre Jeffrey atrás dele.

-Então sou só eu? – Jared perguntou.

-É, pelo visto não são todos os jovens da sua idade que querem se tornar padres. – O padre sorriu, parando no centro do quarto e dando uma olhada nas camas, provavelmente se perguntando qual Jared escolheria. – Mas tem mais um jovem chegando amanhã. Ele deveria estar chegando hoje também, não sei o que aconteceu.

Jared suspirou, seria bom ter uma companhia enquanto ainda era permitido falar. Ele andou até uma das camas perto da janela grande do quarto e jogou sua mala lá em cima. Quando se virou para olhar pra padre Jeffrey novamente, esse estava em pé diante da grande janela, com as mãos pra trás, olhando a vastidão de colinas que se estendiam e pareciam fazer limite com o céu. Jared seguiu os olhos do mais velho, observando as árvores se tornarem cada vez menores à medida em que a colina se encontrava com o céu, mas ainda assim eram árvores enormes.

- Você deve evitar sair do mosteiro, ao menos por enquanto. Por hoje você pode conhecer o lugar, visitar o pátio. Mas evite falar com as pessoas, a maioria delas ainda está em seu voto de silêncio.

Jared fez um sinal afirmativo com a cabeça. Jeffrey lhe lançou um sorriso sereno e saiu do quarto, deixando Jared sozinho com seus pensamentos e mais nove camas vazias. Ele levou um tempo arrumando suas coisas dentro de um espaço reservado pra ele no guarda-roupa e organizando mais algumas coisas em sua mesa de cabeceira. Então ele finalmente sentou na cama que escolhera, perto da janela, e observou o lugar. O quarto era grande, dez camas, uma mesa de cabeceira entre cada duas camas. Em uma das paredes, havia um grande guarda-roupa embutido, sendo que uma das portas dava para um banheiro. Do outro lado, havia uma janela que ocupava quase todo o centro da parede, em forma de um meio círculo, havia um grande vidro transparente no centro da janela, também em forma de meio círculo, rodeado por um mosaico de vários vidros de cores diferentes.

Jared levantou da cama e andou até a janela, sentando no batente da mesma. Ficou observando as colinas, as árvores, alguns pássaros que voavam e alguns monges que provavelmente meditavam lá fora. Apesar de terem lhe tirado o celular e o Ipod, o lugar não era tão ruim assim. Só teria que passar um tempo só com ele mesmo e com os próprios pensamentos, não deveria ser tão ruim, não num lugar como aquele. E ainda tinha o garoto que dividiria o quarto com ele. Eles não iam poder se falar, mas ao menos Jared ia ter uma companhia. Alguém pra quem olhar, alguém pra observar, alguma prova de que ele não estava sozinho naquilo.

-J2-

O sol estava se pondo e uma luz alaranjada adentrava o quarto por meio da grande janela, apesar de alguns reflexos serem de cores bem exóticas por conta dos vidros coloridos, fazendo um belo mosaico de cores no chão do quarto. Jared ficou observando isso antes de se levantar da cama e, enquanto andava em direção à porta, ficou observando as luzes coloridas refletirem na sua pele. Ele fez uma nota mental de que essa seria uma lembrança nostálgica quando ele fosse embora daquele lugar, o que ainda levaria um ano pra acontecer.

Quando ele abriu a porta do quarto, a primeira coisa com a qual se deparou foi um corredor vazio à sua frente e outro à sua esquerda. As paredes eram escuras, a construção era antiga, porém forte. O mosteiro era enorme quando visto de fora e um completo labirinto por dentro. Jared olhou pra esquerda, tentando enxergar o fim do corredor, mas o breu tomava conta a partir de um certo ponto e ele não podia identificar se ali era o fim do corredor ou apenas a escuridão escondendo o resto do caminho. E de repente ele não se lembrava do caminho que tinha feito pra ir do andar de baixo até o quarto, no terceiro andar. Sempre teve um péssimo senso de direção porque se distraía e nunca prestava atenção por onde estava andando. Se perdia até na sua escola, e por isso sempre chegava atrasado nas aulas. Mas não era algo que ele pudesse evitar. Mesmo as pessoas que conviviam com Jared não cobravam que ele se lembrasse das coisas, ser distraído era o "jeito Jared de ser".

Ele olhou pra frente novamente, as luzes acesas no corredor o permitiam enxergar uma escada a alguns bons metros de distância, no fim do corredor. Jared levou um tempo andando até ela e então desceu, a escada fazia um círculo e logo ele parou no segundo andar, que era exatamente igual ao terceiro. As mesmas paredes, os mesmos corredores, as mesmas lâmpadas e as mesmas janelas. A única diferença é que as janelas desse andar estavam abertas. Ao menos metade delas. Jared ficou parado na escada, se perguntando se deveria continuar descendo ou explorar o segundo andar, mas o pensamento não durou dois segundos e eles já estava seguindo corredor do segundo andar e indo até uma das janelas abertas, abandonando as escadas. Ele esgueirou o rosto timidamente pela janela aberta, tentando enxergar o chão lá fora e então ele pôde ver o pátio iluminado pela pouca luz do sol poente. Ele não tinha visto o pátio porque entrara pela porta lateral do mosteiro e, como padre Jeffrey tomara toda a sua atenção enquanto lhe falava sobre seus afazeres, Jared nem olhou para os lados, pelas janelas grandes, pra observar o pátio ao lado deles. Então Jared aproveitou pra dar uma boa olhada. Ele apoiou os braços no batente da janela, tentando esticar seu corpo pra ter a maior visão possível. O lugar era uma espécie de praça, um quadrado rodeado pelo mosteiro, com uma grande porta em um dos lados – o que Jared presumiu ser a frente do lugar. Havia um jardim enfeitando o local estrategicamente e alguns bancos de concreto espalhados, além de uma fonte bem no centro do pátio, em forma de círculo. A água caía calmamente pelo jarro que um anjo segurava com serenidade e fazia curvas ao passar pelo pilar de concreto, terminando a se juntar ao resto da água que já caíra, fazendo um som tão suave que Jared só pôde ouvir ao perceber a fonte ali no meio, se dando conta de que havia ouvido o som da água caindo o tempo todo enquanto andava por ali.

Seus pensamentos foram interrompidos por passos próximos a ele. Jared se virou bruscamente em um susto como se tivesse sido pego cometendo um pecado. Ele quase soltou um palavrão ao ver padre Jeffrey ali ao seu lado, mas se calou ao lembrar que falar palavrões era, de fato, considerado um pecado. Ao invés disso, apenas fechou os olhos por um momento, como se estivesse se recuperando do susto, e então sorriu pra padre Jeffrey, que riu discretamente divertido com o susto do jovem.

- Desculpe ter te assustado. – Padre Jeffrey se afastou um pouco até a janela ao lado e a fechou – Eu estou vindo do andar de cima e fechando as janelas. Não queremos que chova aqui dentro, não é mesmo?

Jeffrey riu divertido mais uma vez. Mesmo com a sua mente curiosa relutando, Jared se afastou da janela pra que o padre pudesse fechá-la, separando o jovem de todo aquele mundo que ele acabara de descobrir.

- Não é proibido que você ande pelos corredores à noite, mas tenha cuidado pra não se perder. Esse lugar é um labirinto pra alguém que tá chegando agora.

O padre recomendou e então seguiu até a escada, sendo acompanhado por Jared. Os dois pararam no degrau maior, que dava a opção de subir ou descer e Jared estava pensando se acompanhava o padre ou se subia de volta pro seu quarto antes que esquecesse o caminho.

- Sabe, o seu voto de silêncio ainda não começou. E sua mãe bem me disse que você costuma ser bem hiperativo. Se eu fosse você, falaria bastante, mesmo sozinho, enquanto você ainda pode. Você vai sentir falta.

Jared riu. Sua mãe tinha vindo com ele durante o começo da tarde pra deixar Jared no mosteiro e conversado com padre Jeffrey enquanto Jared falava no telefone com Chad do lado de fora, explicando pela milésima vez por que Chad não poderia ligar pra ele por um mês.

- Pode deixar, padre Jeffrey. – Jared disse, com um meio sorriso no rosto, antes de girar nos seus pés pra subir os degraus de volta pro quarto.

- Ok, filho. Não se esqueça do encontro geral amanhã de manhã. – Padre Jeffrey disse por fim enquanto fazia seu caminho escada abaixo, se referindo ao encontro onde eles dariam início ao voto de silêncio dos novatos.

- Não vou esquecer. – Jared se fez ouvir, muito mais pelo eco que correu escada abaixo do que pelo seu tom de voz.

E então ele subiu rapidamente as escadas, percorrendo o corredor agora mais escuro que antes em direção ao seu quarto como se a escuridão o estivesse perseguindo. Entrou no aposento e logo estava sentado no batente da janela, observando a noite cobrir as colinas e a lua surgir no céu negro sem estrelas. Alguns minutos depois, Jared estava observando a chuva cair na grama e balançar as árvores e ele quase pôde ouvir o som do frio adentrando o quarto. Ele tomou um banho quente e se enfiou debaixo das cobertas, cantando em voz baixa uma música que estava na sua cabeça, só pra que ele não pudesse esquecer o som da sua própria voz.

-J2-

O sol abriu caminho pelas colinas até a janela, lentamente, deixando que alguns raios iluminassem o quarto e tocassem o rosto de Jared. De forma que ele acordou antes mesmo que o despertador tocasse, uns dez minutos antes. Sentou na cama devagar, se lembrando de onde estava. A noite parecia ter durado uns dois minutos. Ele nem se lembrava de ter caído no sono. Mas estava disposto. E disposto levantou da cama, desligou o despertador, tomou um banho e se arrumou, saindo em direção ao salão principal, que ficava no primeiro andar – Sabia porque padre Jeffrey o havia mostrado quando passaram por lá enquanto se dirigiam ao quarto onde Jared ficaria.

Ele sentou numa das cadeiras enfileiradas no salão. Na terceira fila. Outras pessoas preenchiam as fileiras a cada minuto, a maioria padres e, mais atrás, alguns monges. Jared se virava pra trás com frequência e viu quando padre Jeffrey adentrou o lugar com um garoto atrás dele. Ele devia ter a idade de Jared, porem parecia todo encolhido no próprio corpo, evitando olhar para os lados, mas em um momento, ele olhou diretamente para Jared, desviando o olhar logo em seguida. Talvez fosse o seu colega de quarto de quem Jeffrey falara. O garoto e o padre sentaram logo na primeira fileira e então um padre mais ou menos da idade de Jeffrey começou a falar, dando boas vindas a quem tinha sido transferido e aos aspiradores a padre, desejando-os boa sorte. Depois de um discurso que parecia ter durado uma eternidade, o tal padre entregou o microfone a padre Jeffrey:

- O que nós precisamos, - ele começou - para sabermos o que queremos, para clarear nossos pensamentos e, acima de tudo, para escutar o chamado de Deus, é escutar, primeiramente, nossa própria alma. Por isso o silêncio é importante. Nos ajuda a pensar, não nos distrai, nos ajuda a conhecermos o que há nos lugares mais fundos da nossa alma...

O discurso sobre o voto de silêncio durou mais alguns minutos antes que houvesse uma oração coletiva e as pessoas começassem a deixar o salão. Ficaram somente Jared e o outro garoto, junto com padre Jeffrey. Ele fez uma espécie de oração e então ficaram em silêncio por um minuto.

Jeffrey olhou para os dois, que estavam morrendo de vontade de olhar um pro outro, mas talvez por vergonha – ou simplesmente por não poderem falar – não o fizeram

Jeffrey riu.

- Jared, esse é Jensen. Ele vem do Texas também, vocês provavelmente tem muita coisa em comum. É uma pena que vocês não vão poder se falar... Mas eu tenho certeza que vocês vão arranjar um jeito de se conhecerem melhor, certo?

Enfim Jared e Jensen se olharam e sorriram, acenando a cabeça em um cumprimento.

- Me acompanhem até a minha sala. Vocês vão receber uma lista de tarefas que vocês vão fazer aqui no monastério.

Então o padre começou a andar, sendo seguido pelos dois jovens em silêncio.

Ao que os três andavam pelos corredores, Jeffrey continuava falando:

- Tentem permanecer juntos, vocês dois. Por mais que não possam falar, é menos solitário quando ao menos a gente tem uma companhia, certo?

Eles chegaram na sala de Jeffrey. Ele pegou duas folhas e entregou uma pra cada. Eles analisaram rapidamente antes de voltar a olhar pro padre, que já voltava a falar:

- Lembrem-se: o maior intuito do silêncio é que vocês possam responder às suas próprias perguntas. Mas eu estarei aqui pro que precisarem. – Padre Jeffrey deu uma pausa, sorrindo - Vocês podem ir, agora.

Assim, Jared e Jensen seguiram até o quarto. Mesmo sendo sua única opção, o silêncio ainda era constrangedor.