Sumário: "Ela nunca pareceu bonita. Ela parecia uma... uma obra de arte. E obras de arte não eram feitas para serem bonitas, eram feitas para te fazerem sentir algo." Sobre os momentos em que Hermione Granger mudou a vida de Draco Malfoy.

Disclaimer: Harry Potter, livros e filmes, não me pertence.

Alerta: Pós-Hogwarts. Ignora o epílogo.

Sempre achei que havia um pouco de Marx em Granger, por toda a movimentação que ela causou sobre os elfos. Não haveria personagem melhor para sofrer as consequências desse pequeno Marx que um Malfoy, alguém que na saga original parece fazer as coisas mais por obrigação que por convicção. Então, me aproveitei da brecha.

Alerta2: Não acho que a transformação do Malfoy seria rápida. E considero necessário argumentar cada passo. Por isso, existem trechos longos que podem ser cansativos. Achei-os necessários.

Alerta3: Tem um amigo meu que sempre diz que a verdadeira política se faz em uma mesa de bar. Ele não vai ver isso, mas essa história é para ele, o meu padrinho de militância, o cara que me fez acreditar que um mundo melhor é possível e que eu posso me envolver na sua construção (e que me ensinou o conceito de tática-dois, que a Hermione usa ao longo da história).


Obra de Arte

por XLNozes

para Rafael


"Na arte só uma coisa importa: aquilo que não se pode explicar." - BRAQUE, Georges


As paredes do Ministério eram as mesmas de sempre, os degraus não haviam mudado. Os frisos, os rangidos. Seus sapatos italianos, pressionando a madeira, polida há muito tempo.

Foi em uma curva.

Era para ser uma curva qualquer. A quina de uma parede, no corredor de salas de reuniões.

Pegou-os a ambos desprevenidos.

Com pressa, olhando para os próprios sapatos, os reflexos de anos em batalha os havia salvado de uma colisão imediata. Horas depois, ele juraria que suas roupas haviam chegado a tocar-se na altura do peito. Juraria que havia apenas surpresa nos olhos assustados dela, que o haviam observado por um segundo antes de se virarem para a parede.

Os reflexos haviam feito ambos jogarem-se em direção contrária à da colisão, um pé atrás preparado para equilibrar o baque da força excessiva. Sapatos italianos bem feitos tinham essa habilidade de atrito seguro contra o solo, mantendo-o estável e pronto para recomeçar a caminhada apressada.

Os sapatos femininos não tinham esse poder. Ou talvez fosse o salto alto.

O relevante é que, após o susto, viu como a mão direita dela buscava apoio da mesma quina que havia causado o seu encontro, enquanto a esquerda contentava-se em lançar-se em direção ao ar. Seu tornozelo esquerdo havia escorregado e dobrado para um lado impulsionando seu corpo em direção ao chão e à parede oposta a que havia causado a confusão.

No segundo seguinte, a mão esquerda dela havia sido puxada e, ao invés de seguir a trajetória pré-determinada, ela vinha em direção a ele. Utilizou sua mão esquerda para estabilizá-la, segurando a lateral do corpo feminino, percebendo só então que ele mesmo a havia puxado.

Uma pausa seguiu-se, enquanto ambos certificavam-se de que não haveria nenhuma queda. O pescoço dela deu um solavanco para trás e Draco repetiu o movimento com mais força, lançando-se na direção oposta e soltando qualquer contato físico entre os dois.

Ela fitou-o aos olhos.

Olhos não eram como em histórias, eles não eram janelas para a alma. Olhando nos orbes castanhos dela, ele não conseguia respostas. Os lábios masculinos se partiram, pensando mais que dizendo qualquer coisa que pudesse justificar ou encobrir o fato de que ele a havia largado como se tivesse se queimado. Ou como se sentisse nojo.

As comissuras dos olhos dela se enrugaram e as laterais dos lábios subiram levemente, como se ela tentasse um sorriso.

"Obrigada", ela disse, sem hesitação, acenando com a cabeça. A voz de uma liderança do Mundo Mágico, a voz de alguém que mudaria paradigmas.

Ele engoliu e imitou o movimento.

Sem outras palavras, a figura feminina passou pelo seu lado, indo na direção de onde ele viera.

Draco olhou por sobre o ombro direito.

A sensação incômoda de não saber o que ela havia pensado sobre o afastamento brusco dele. Justificativa lugar-comum seria o conjunto de preceitos que haviam guiado suas ações durante adolescência. Ela não tinha parâmetros para pensar outra coisa. E Draco não tinha justificativa para o que havia feito. Talvez, realmente, algo do nojo que ele sentia simplesmente nunca havia sumido. Entretanto, mais perturbador era pensar que, apesar de concluir isso, ainda assim, ela o havia sorrido e agradecido.

A súbita lembrança de que estava atrasado fê-lo voltar ao caminho.

Depois de 10 anos de formados, aquela era a primeira vez que havia tido qualquer tipo de contato com Hermione Granger.


Nota da autora:

Considerando que tem outros 2 capítulos prontos, eu só preciso lembrar de postar.

See ya.