-

-

"A última página de um livro não contém a última frase de uma história".

************

Essas eram as palavras da Lily de dezessete anos.

É claro, Sirius rira da primeira vez que roubara sua preciosa história, ainda nos jardins de Hogwarts, e falara que aquilo era uma bobagem. Uma jogada de alguma entidade trouxa – nas palavras dele, óbvio – para fazer com que as pessoas pensassem. Afinal, era óbvio que a história sempre continuava, mas encontrava um fim mais cedo ou mais tarde. Sempre fora assim, sempre seria, e nenhuma última-frase-de-efeito de um livro iria mudar tudo isso.

Ele simplesmente não entendia como uma pessoa como Lily, tão inteligente e esperta, conseguia se tornar uma pessoa nem um pouco racional e chorar ao ler essas palavrinhas sem significado algum.

E não entendeu por mais de três anos.

Era uma noite de ano novo quando o fez. Parecia apenas mais uma, quase como todas as outras que vivera e se lembrava – ele mesmo estava em uma janela, apontando para as meninas da Ordem a sua estrela; Peter comia um daqueles doces trouxas deliciosos que Lily sempre trazia, e Remus estava meio abatido pela proximidade da lua cheia. Emmeline ria e tocava um piano sob o olhar de Gideon; Fabian colocava uma taça de vinho e Marlene revirava os olhos e tentava fazer tudo sair à perfeição mas, estranhamente, faltava uma Lily ali para ajudá-la.

Ele pensou. Claro que pensou. E se forçou a brincar de adivinha para saber onde estava Lily.

Primeiro, ao perceber que seu querido amigo James não estava em lugar nenhum, Sirius soltou um sorriso malicioso e somou dois com dois. Mas, depois, pensou um pouquinho na personalidade de Lily: ela, definitivamente, não era o tipo de garota que fazia dessas coisas no andar de cima de uma casa lotada.

Não, não era esse.

Será que eles estavam na cozinha?

Pé ante pé, foi até lá, preparando na cabeça o susto que ia dar. Já até pegava a varinha para transfigurar alguma coisa em um rato – Lily morria de medo – e já preparava seu grito de "Peguei vocês" quando viu que Marlene era a única ali.

"James? Lily?"

Mas ela só negou e o dispensou com a mão.

Continuou a busca, agora mais cauteloso. Abria as portas devagar, e as que estavam trancadas ele tentava um Alohomora não verbal. Mexia-se com exímio, os anos de treinamento como auror nunca sendo tão bem utilizados, mas os dois não estavam em lugar nenhum.

Suspirou, e dessa vez alto. Estava até pronto para desistir quando uma lâmpada se acendeu em sua linda cabecinha morena e ele pensou "Cara, ainda tem o quarto dos brinquedos".

Mais uma vez pé ante pé, ele subiu o último lance de escadas. Essa porta, diferente das outras, estava entreaberta, e ele conseguia ver uma luz saindo dali. O sorriso já se espalhava por seu rosto e a mão já preparava a varinha quando, ao entreabrir um pouco mais a porta, percebeu que Lily estava à beira de lágrimas.

E James sorria, bobo, com a mão em sua barriga.

Sirius, achando que não deveria ficar mais, saiu, tão devagar quanto entrou, quando o amigo se abaixou e levantou a blusa da esposa para beijar a pele perto de seu umbigo. Não podia ter certeza, claro, mas essa veio quando James falou, em um sussurro meio alto – como se soubesse que ele estava ali – que os dois iriam terminar essa guerra para que o bebê pudesse viver em paz.

Em paz.

Ele lutaria também, decidiu naquela hora. Lutaria pelos dois – eles mereciam, mais do que ninguém, ser felizes – e por aquela criança. E, quando chegasse a hora – ele ainda não sabia que chegaria da forma mais dolorosa possível – ele olharia nos olhos da criança e perceberia que ali estava o futuro dos seus melhores amigos.

A história dos dois nunca acabaria.

*****************


Feliz ano novo para todos vocês!