CAPÍTULO 1: MUDANDO DE VIDA

Ele não conseguia enxergar um palmo a sua frente. Seus óculos foram jogados longe por causa do choque entre os dois feitiços. Ele estava com muito frio. Sentia seus membros doerem e uma ardência insuportável nas feridas abertas pelo seu corpo. Achava que não conseguiria resistir por muito tempo. Um clarão fez suas vistas arderem. Ele não enxergava com clareza os traços de quem se aproximava, mas não podia ser outra pessoa.

Levante-se Potter! Já vai desistir?! – o homem perguntou desafiador, mas suas condições não eram muito melhores que as de Harry.

Nunca, Voldemort! – com um esforço descomunal Harry levantou-se do chão e empunhou sua varinha. Ele teve que fazer certo esforço com os olhos para poder focalizar seu oponente.

Desista Potter! Você não pode me vencer! É inexperiente, fraco e indisciplinado! Se tivesse levado a sério as aulas que Severus te deu de oclumência talvez você ainda tivesse alguma chance!

Você está blefando, Voldemort! Meus golpes estão te atingindo! Sua situação não é muito melhor que a minha! – respondeu triunfante.

Você tem razão... – falou displicente. – Dumbledore te ensinou muito bem. Mas todo conhecimento do mundo não será suficiente para você me vencer! Você não destruiu a última horcruxe, Potter! Você não terá chance! Mesmo que inutilize o meu corpo eu voltarei! Sempre voltarei! Quantas vezes forem necessárias! A não ser que você destrua a horcruxe que resta.

Se eu não conseguir destruir você, Voldemort, vou morrer tentando! Não há mais volta! – falou perdendo a força nas pernas. Aquela conversa inútil o estava irritando. Ele levantou a varinha para tentar mais um golpe, mas foi jogado longe pelo contragolpe de Voldemort.

O homem se aproximou de Harry para apreciar o estrago que havia feito. Ele se agachou com certa dificuldade muito próximo do rosto do rapaz. Ele estava quase desfalecendo, mas Voldemort não desistia de torturá-lo: - Você precisa disto aqui, Potter! – ele levou sua mão magra e comprida até a gola de suas vestes. Com um gesto rápido arrancou o cordão de ouro que usava e estendeu-o muito próximo dos olhos de Harry, para que ele o enxergasse. O cordão segurava um pingente também de ouro em forma de pássaro, uma coruja muito pequena. No lugar dos olhos duas pedras negras muito brilhantes - É aqui que está guardado o último pedaço da minha alma, Potter! No colar que foi da minha mãezinha! Aquela traidora do sangue! Aquela que sujou o meu sangue com o sangue de um trouxa!

Harry sentiu seu coração acelerar. Voldemort estava mostrando-o o objeto que ele havia procurado por meses a fio. Agora ele estava ali, bem a sua frente, ao alcance da mão, ou da varinha. Harry sentou-se a fim de tomar posição.Voldemort não acreditava que ele pudesse conjurar qualquer feitiço, por isso não se deu ao trabalho de se afastar.

Não adianta, Potter! Você não tem mais forças para fazer feitiço nenhum... Você está quase morto e eu não estou disposto a abreviar o seu sofrimento. – ele começou a balançar o cordão em frente ao rosto de Harry rindo da situação do rapaz.

"Eu vou conseguir!" - Harry mentalizou. Fechou os olhos buscando se concentrar. Estava tão cansado, com sono. Fechar os olhos foi um alívio para seu corpo. Seus braços não agüentaram sustentá-lo por muito tempo. Relutante ele deitou-se novamente. Sentiu o movimento de Voldemort afastando-se dele. Podia ouvir sua risada triunfante. – Destructo máxima! – ele gritou de repente. Voldemort não teve tempo de desviar, e nem precisou. Harry não apontou o feitiço para ele, e sim para o cordão.

Protego! – Voldemort gritou em defesa entrando na frente do feitiço, mas foi inútil. O feitiço de Harry atravessou o corpo de Voldemort como se fosse fumaça e atingiu em cheio o amuleto. Uma nuvem de energia se formou a partir do objeto e se espalhou por um raio de 100m , destruindo tudo que estava em volta, tornando-se mais fraca conforme se afastava.

"Que lugar é esse?" - Harry abriu com dificuldade os olhos. Uma claridade intensa irritou suas pupilas. Aquilo já tinha acontecido outra vez, mas ele não havia conseguido forças para manter os olhos abertos. De repente ele sentiu um peso sobre seu corpo. Alguém o abraçava.

Oh, Harry! Que bom que você está bem! – uma garota falava alto em seu ouvido e insistia em apertá-lo muito forte.

Cuidado, Mione! Assim você quebra ele de vez! – Rony Weasley tornou-se misteriosamente visível de uma hora para outra, assim como Gina, sua irmã.

Harry! Que bom que você acordou! Estávamos tão preocupados! – Gina se aproximou timidamente da cama. Apenas segurou com carinho a mão de Harry. Não tinha a desenvoltura de Hermione para abraçá-lo daquele jeito. Harry a olhava desconfiado.

Como é que você está, cara?! Você nos deu um susto e tanto! – Rony se aproximou sorridente da cama enrolando nos braços uma capa muito esquisita.

O que vocês estão fazendo aqui?! – Harry perguntou confuso.

Meu pai recebeu uma carta avisando que você havia retomado a consciência. É claro que eles não nos deixaram vir, então nós pegamos sua capa emprestada para vir te visitar! – Rony falou um pouco encabulado por ter usado a capa do amigo sem sua permissão.

Seu pai?! – perguntou confuso. – Mas quem são vocês?! Quem diabos é o seu pai?! – começou a ficar irritado com aquela invasão em seu quarto, mesmo sem saber exatamente onde é que estava.

Harry! – Hermione se assustou. – Você não sabe quem somos nós?!

Harry? – ele se surpreendeu.

Xiiii! Ele ainda ta completamente grogue! – Rony exclamou preocupado.

Harry, somos nós: Gina, Hermione e Rony! – ela falou apontando de si para os outros dois. – Somos seus amigos! Você não se lembra mesmo?

Harry olhava para os amigos. Reconhecia aquelas faces, mas não sabia ao certo quem eram, muito menos o que estavam fazendo ali. Antes que pudesse responder à pergunta da ruiva, de quem ele se lembrava com mais clareza, a porta se abriu e uma voz estridente começou a gritar:

MAS O QUE É QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI?!!! – a sra. Weasley entrou de repente no quarto assustando os quatro que estavam lá dentro. – Harry, querido! Que bom que você se recuperou. – EU NÃO MANDEI VOCÊS FICAREM EM CASA?!!! – gritou novamente virando-se para os filhos e a amiga deles.

Mas o que é isso?! Vocês não deveriam estar aqui! – o sr. Weasley entrou logo em seguida. – Como você está Harry?

Arthur Weasley? – ele perguntou completamente confuso ao invés de responder a saudação do homem.

Ele se lembra do nosso pai, mas não se lembra de nós?! – Rony cochichou para Gina meio ofendido.

Posso saber como foi que vocês chegaram aqui?! Harry não pode receber tantas visitas assim! Nós não dissemos que mandaríamos notícias? – o homem brigou, mas muito mais calmo que a esposa.

Ah, pai! Até parece que nós íamos ficar em casa sentadinhos esperando vocês se lembrarem de nos avisarem de qualquer coisa! – Gina respondeu agressivamente.

Harry encarava todas aquelas pessoas. A visão do homem que havia entrado pareceu clarear suas idéias: - "Estes são os Weasley... Mas e essa outra garota? Não é ruiva, não deve fazer parte da família. Então quem é ela?"

O homem ia continuar a bronca, mas foi interrompido pela medi-bruxa que entrou sem aviso no quarto: - Mas que multidão é essa? – ela se assustou. – Sr. e Sra. Weasley! Eu não avisei que não seria bom para o Harry receber tantas visitas ao mesmo tempo? Ele ainda está muito debilitado.

Nos desculpe, doutora! Na verdade esses três vieram sem permissão! – falou olhando severa para os jovens. – Mas já estão de saída!

Ah, mãe! – Rony protestou.

Infelizmente todos vocês terão que sair! – a medi-bruxa interveio. – A hora de visita já acabou e eu preciso examinar o nosso paciente! - falou sorrindo simpática para Harry que ainda fazia cara de espanto.

Nós já vamos então! Harry, querido, se precisar de qualquer coisa mande nos avisarem. Eu volto mais tarde para passar a noite aqui! Vamos! Vamos, crianças! – ela chamou os filhos e Hermione.

Tchau, Harry! – os três responderam chateados.

Melhoras, Harry! Se precisar de qualquer coisa nos avise! – o sr. Weasley deixou o quarto, sorridente.

E agora nós! Como está se sentindo sr. Potter? – perguntou a medi-bruxa simpática.

Potter? – ele perguntou de volta.

Oh, não! Não me diga que você não se lembra quem é? – ela perguntou decepcionada. – Não se preocupe! Você está sob o efeito de poções muito fortes, por isso a falta de memória. Mas ela retornará em breve, fique tranqüilo. Vamos ver... – ela começou a andar pelo quarto em busca de algo. – Oh, não! Onde está o seu prontuário? Que cabeça! – bateu com a mão na própria testa. – Esqueci em algum lugar, mas onde? – ela sorriu para Harry. – Acho que você não é o único com problemas de memória sr. Potter! Eu já volto. – e saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

Que diabos está acontecendo aqui?! – ele exclamou sem entender nada. Sentou-se na cama e sentiu dores por todo corpo. – O que foi que aconteceu comigo? Onde é que eu estou, afinal?! – perguntou-se olhando em redor. – Parece um quarto de hospital. Mas o que é que eu estou fazendo num hospital? E por que estão me chamando de Harry? – Harry levantou-se da cama e resolveu explorar o lugar. Tirou a coberta de cima do corpo e colocou as pernas para fora da cama. - "Mas o que é isso? Por que minhas pernas estão tão diferentes?" - ele parou para observar as mãos também. – "Minhas mãos não são assim!" - pensou assustado. Olhou em volta de novo e percebeu que na verdade tudo estava esquisito. Ele não conseguia enxergar nada direito. – O que diabos está acontecendo aqui?! – exclamou sem paciência. Encostou os pés no chão e procurou ficar em pé. Teve que se apoiar na cama porque suas pernas estavam fracas. Ficou alguns segundos tentando se equilibrar e então deu alguns passos cautelosos. Seguiu para o banheiro, parou em frente ao espelho e se mirou com dificuldade. Esfregou os olhos para tentar ver melhor, mas não adiantou. Aproximou o rosto do espelho e se admirou. – Mas o que é isso?

Flashback

Destructo máxima!

Harry sentiu uma força descomunal invadir seu corpo pouco antes de proferir o feitiço. Em pouco tempo ele assistia Voldemort sendo destruído. Percebeu a onda de energia se aproximando, mas não tinha forças para levantar. Sentiu medo de acabar como seu inimigo. Era como se aquela energia estivesse pulverizando o corpo de Voldemort. A onda chegou até ele sem que pudesse fazer nada. Sua visão tornou-se nublada e de repente tudo em volta desapareceu. Não havia mais luz, som, ar, nada...

Protego!

Uma enorme onda de calor invadiu o corpo de Voldemort. O cordão começou a brilhar e a esquentar em sua mão. Ele não conseguia mais segurá-lo. Uma onda de energia o jogou longe. O pavor tomou conta de seu corpo quando ele sentiu uma dor lancinante assaltá-lo. Era como se tentassem arrancá-lo dele mesmo. Ele pôde ver seu oponente sendo jogado para trás também, mas o ângulo era estranho: estava enxergando tudo de cima. De repente uma força começou a puxá-lo para baixo novamente. Não havia como resistir, pois era muito forte.

Fim

Harry olhou novamente as próprias mãos, observou suas pernas por baixo do camisolão fino do hospital, apalpou o próprio rosto, o peito, a barriga. Aproximou-se do espelho novamente e forçou os olhos a fim de ter certeza do que estava vendo. Não havia dúvida: dois olhos verdes e brilhantes o fixavam do espelho.

Não é possível! – ele exclamou sem acreditar. – Este é o corpo do Potter! – ele se observou novamente. – Eu estou no corpo do Potter! Aquele feitiço nos fez trocar de corpos! – ele começou a rir freneticamente. – Eu não acredito! HAHAHAHAHAHA!!!! – ele ouviu um barulho na porta. A medi-bruxa estava voltando.

Harry? Onde você está?

Ele apareceu na porta do banheiro. Olhava sério para a mulher.

Oh! Você não deveria ter se levantado. Ainda não está bem o suficiente! – falou puxando-o delicadamente pelo braço e levando-o até a cama.

Eu estou me sentindo ótimo! A não ser pela minha visão, não estou enxergando direito. – reclamou.

Óbvio querido! Você está sem seus óculos! Eles se quebraram durante a batalha, mas os Weasley estão providenciando outro.

Os Weasley?! – perguntou curioso. - "É claro! Os Weasley são amigos do Potter!" Quando é que eu vou ter alta?! – perguntou impaciente com a pegação da mulher para examiná-lo.

Quem sabe hoje mesmo! Mas me diga, você já se lembrou de alguma coisa?

Ele resolveu descobrir o que realmente havia acontecido. – Você quer saber se eu me lembro quem sou eu?

Pode ser. Qualquer coisa seria bom! – respondeu esperançosa.

Eu me lembrei: Harry Potter. Esse é o meu nome, não é mesmo? – falou sondando a reação da mulher.

Ótimo! Mais alguma coisa?

Me lembro de uma grande explosão, depois ficou tudo escuro e eu acordei aqui, com aquela moça em cima de mim! – falou se lembrando irritado do susto que tomou com Hermione.

Oh, sim! Quanto a moça eu não posso dizer muito, pois não a conheço. Já a explosão, foi resultado da batalha contra Você- Sabe - Quem! – falou contentíssima. – Finalmente você o destruiu sr. Potter! Finalmente estamos livres daquele monstro!

Sei! – sorriu sarcástico.

Devo dizer que estou muito feliz por ter sido escolhida para cuidar de você... – falou com o peito inflado. – Estou honrada em recuperar a saúde do grande Harry Potter!

Voldemort fez uma careta de desgosto, pensou: - "Se eu estou no corpo do Potter, ele deve estar no meu corpo..." Doutora? – chamou educadamente. – O que aconteceu com o m... Com o corpo de Voldemort?

A mulher fez uma careta ao ouvir aquele nome. Voldemort sorriu intimamente: - Foi destruído! Os aurores que acharam você encontraram apenas restos carbonizados do corpo de Você-Sabe-Quem! Ninguém conseguiu explicar o que foi que houve! – ela falou espantada. – Só mesmo um bruxo muito poderoso para fazer aquilo com ele! Parabéns senhor Potter!

Obrigado... – respondeu pensativo.

Bom! Já acabei meu trabalho. Descanse. Mais tarde eu volto para ver se você já tem condições de receber alta. – e saiu satisfeita.

"Então o fedelho conseguiu destruir o meu corpo... Por conseqüência se destruiu também..." Quer dizer que eu estou livre de Harry Potter! Quer dizer... – falou olhando-se novamente. – Quase... "Aquele imprestável além de tudo é cego. E este corpo! Muito fraco, não consigo sentir a energia emanando dele como acontecia com o meu! Tenho que encontrar o Rabixo novamente! Preciso recuperar o meu corpo e trocar de novo, assim me livro de uma vez de Harry Potter! Não quero nenhum vestígio dele sobre a face da terra! Nenhum!" – sorriu satisfeito.