CAPÍTULO 1: A CONVENÇÃO DOS BRUXOS
A casa ampla e silenciosa tinha as cortinas fechadas. Ele não gostava da sensação de estar sendo vigiado, portanto preferia que tudo ficasse fechado, mas sua mulher não gostava disso. Gostava de sentir o ar invadir sua casa e arejar os cômodos. Para que os dois pudessem conviver em paz, ele aceitou que as janelas ficassem abertas, desde que as cortinas ficassem corridas.
Ele estava sentado em sua poltrona preferida. Uma poltrona preta de couro, com algumas marcas de cigarro. A esposa já nem dizia mais nada. Era ele que pagava pela mobília mesmo. Tampouco ousava conversar com o marido naquele dia. Sabia que ele estava ansioso e preferia não se arriscar. Apenas o observava e olhava esporadicamente para o relógio.
Já passava das 20 horas, e ninguém havia voltado. Ele jogou a cabeça para trás, entediado, encostando-a no espaldar da poltrona. Seus cabelos caíam no rosto e ele soltava leves baforadas do charuto que fumava.
Finalmente um ruído o despertou de seus devaneios. O ruído que ele esperou o dia inteiro: aparatação. Ele se empertigou na poltrona, e apagou o charuto no cinzeiro ao lado. Ela também se assustou. Não conseguia se acostumar com aquele entra e sai repentino.
Um homem alto, de cabelos compridos, presos num rabo de cavalo, entrou pela sala. Usava um sobretudo e coturnos pretos. Caminhou até ele e ajoelhou-se em sua frente.
Aqui está, meu príncipe! – falou com a cabeça abaixada.
Demorou, Rhoads!
Desculpe, senhor, mas não foi nada fácil... – o homem falou, nervoso.
Se fosse fácil eu mesmo faria! – o homem disse, irritado.
Estendeu suas mãos meio trêmulas e pegou o grande livro das mãos do homem agachado em sua frente. Era realmente pesado. Colocou o objeto em seu colo e começou a folhear.
Magnífico... – murmurava. – Simplesmente incrível! – suas mãos brancas e trêmulas acariciavam cada página como se acariciasse uma seda finíssima. – Ah... Aqui está! – ele apontou para o alto de uma página e começou a lê-la, em silêncio.
Seu servo queria muito ver o que o mestre queria com aquele livro, mas não se atrevia a levantar o rosto. Principalmente quando ele se pronunciou.
Carmem! – gritou com sua voz rouca.
Uma senhora morena, meio gorda, com um avental amarrado na cintura apareceu pela porta da sala: - Sim senhor.
Traga minha poção, por favor! – falou sem tirar os olhos daquelas linhas preciosas.
A mulher teve um estremecimento antes de virar-se para providenciar a poção. O servo, ainda ajoelhado, abaixou mais a cabeça, evitando olhar o que se seguiria. Sua esposa abriu uma revista em frente ao rosto, para evitar a cena.
A empregada voltou com um prato. Dentro dele uma coisa amorfa e branca repousava, inerte. Carmem parou ao lado do patrão e estendeu o prato. Ele pegou "a coisa" sem ao menos olhá-la. Levou-a até boca, arrancou uma parte com os dentes e cuspiu novamente no prato, depois entornou na boca o que sobrou, bebendo o líquido que dela fluía, sem deixar sobrar uma gota. Era a poção.
Aaahhh! – suspirou. – Bem melhor! – estendeu a mão esquerda e deixou-a no ar por instantes. A tremedeira havia passado. – Agora já sei o que estava faltando para completar o meu destino. – ele despejou o recipiente da poção no prato. – Leve isso e vá chamar meu filho, por favor.
Do que é que o senhor vai precisar, meu senhor? Eu posso consegui-lo para o senhor? – o servo perguntou, solícito.
Você me ajudará com outras coisas, Rhoads. Mas esse ingrediente em especial... Esse vai ser um pouco mais complicado, mas muito mais interessante também. – ele sorriu, os olhos vidrados.
E o que seria, senhor?
Algo que a pequena Potter tem, Rhoads. Eu sabia que um dia o Potter me seria útil. Ele ou alguém da família dele, claro. – ele falou, soturno. – Ah! Aí está você. – ele sorriu para o filho, que acabara de entrar na sala, com cara de sono. – Vou precisar de sua ajuda, meu filho.
Para quê? – o rapaz perguntou, mal humorado.
Para pegar uma coisa, de uma jovem aluna de Hogwarts! – ele sorriu.
E por que eu? Mande esse aí! – ele apontou para o homem ajoelhado no chão.
Será mais fácil para você! – ele sentenciou. – Você não ousaria decepcionar seu pai, ousaria?
Claro que não. – ele falou, sem alternativa. – E o que é que eu preciso pegar.
A essência de Lily Potter. – ele sorriu. – Aquilo que ela tem de mais importante.
E como devo fazer isso?
Use a cabeça! Você é um rapaz inteligente! Aposto como terá uma boa idéia. Não poupe esforços. Faça o que for preciso!
Sim senhor. Acho que já tenho uma vaga idéia do que fazer. Vou começar agora mesmo!
E você, Rhoads! – ele se virou para o servo. – Já pode ir. – ele arrancou a página do livro e entregou-a ao servo. – Consiga esses outros ingredientes. Não será difícil. Os dementadores estarão a sua disposição para isso.
Sim senhor. Com licença. – o homem saiu da sala, de cabeça baixa. Os três moradores da casa e a empregada ouviram-no desaparatar do saguão da casa.
hr
Um mês e meio depois...
Duas semanas de férias. Era tudo que aquele grupo, e tantos outros alunos, teriam para aproveitar antes da volta as aulas, mas eles não tinham do que reclamar. Ao contrário da maioria dos jovens, aqueles gostavam do ambiente escolar, gostavam de estar com os amigos e até de estudar, um pouco. Mas eles ainda não tinham que pensar nesse assunto. No momento, tudo que James, Albus, Lily, Rose e Hugo pensavam era nas duas semanas que passariam num hotel de luxo em Miami Beach.
O grupo dividia o mesmo jipe que os levaria até o hotel. Seria uma convenção bruxa e eles estavam acompanhados dos pais, que dividiam um outro automóvel, logo à frente. Teddy Lupin os acompanhava, já que era adulto também e bem mais velho que os demais.
Albus e Hugo, que eram grandes amigos, travavam uma emocionante conversa sobre quadribol, James batia cabeça ouvindo sabe-se lá o que em seu MP3, Rose escrevia em seu diário e Lily lia o Profeta Diário.
Nossa! – ela exclamou, de repente.
Que foi? – Albus perguntou. Hugo e Rose se viraram para ela, James não percebeu, pois o som em seus fones estava muito alto.
O ministério tentou esconder o fato de que alguns trouxas podem ter sentido a presença de dementadores em Miami Beach!
O quê? – Rose fechou seu diário e perguntou. – Dementadores em Miami Beach? Não consigo imaginar um deles sobrevivendo num lugar tão quente, em pleno verão!
E desde quando você estende tanto de dementadores, Rose? – Hugo perguntou.
Eu li sobre eles, Hugo. Você vai aprender sobre eles esse ano, deveria estar mais bem informado! – respondeu indignada.
Para quê? Se eu ainda vou aprender sobre eles, por que vou perder meu tempo lendo antes? Perde toda a graça descobrir antes do resto da turma!
Albus riu da afirmação do primo. Lily voltou sua atenção ao jornal e Rose, balançado a cabeça indignada, abriu novamente o diário.
Que tanto você escreve aí, hein Rose? – Albus perguntou, curioso.
Só algumas experiências...
Experiências amorosas? – Hugo perguntou. Lily levantou ligeiramente os olhos. – Eu acho que a Rose está apaixonada, Albus. Passou o verão inteiro escrevendo!
É mesmo, Rose? E quem é o felizardo?
Não sejam bobos! – ela respondeu corada. – Não há ninguém!
Quando uma mulher escreve demais, pode ter certeza que é amor! – Hugo colocou as duas mãos sobre o coração e fez cara de apaixonado.
Conte quem é, Rose! – Albus pediu.
Não é ninguém! – ela respondeu, começando a ficar nervosa.
Deixem-na em paz! Se ela não quer dizer quem é, isso não é da conta de vocês!
Lily! – Rose exclamou, Lily arregalou os olhos.
Então tem mesmo alguém? – Hugo perguntou, encapetado.
Diga quem é! – Albus quase implorou.
Ai! – Rose guardou o diário na bolsa, muito nervosa e extremamente corada. – Olha o que você fez, Lily!
Desculpe! – a prima pediu, arrependida. – Parem com isso!
Nós vamos parar, não é Hugo?
Claro! Assim que descobrirmos quem é!
E aí, galerinha, beleza? - nenhum deles notou que o jipe havia parado.
Oi Teddy! – todos falaram, menos Rose, que estava atordoada, e James que não o viu chegar.
Teddy viu o rapaz alheio ao resto, arrancou um fone de seu ouvido e repetiu: - E aí, beleza?
James se assustou com a interrupção. Quando abriu os olhos parecia que estava até vesgo. Colocou o fone de volta no ouvido e ergueu o polegar para cumprimentá-lo.
Bom. Pelo menos ainda está vivo! – ele brincou. – Vamos descer, pessoal. Chegamos!
Ok. – responderam todos.
b Mental wounds still screaming /b
(Feridas mentais ainda gritando)
b Driving me insane /b
(Deixando-me louco)
b I'm going off the rails on a crazy train /b
(Estou saindo dos trilhos num trem maluco)
James cantou, sem dar atenção aos demais.
Que negócio é esse?! – Hugo perguntou assustado.
Ele conheceu um cara na Internet que mandou umas músicas para ele, aí viciou. – Albus explicou, olhando carrancudo para o irmão.
Somente a visão das grandes e luxuosas portas do hotel em que se hospedariam fez Hugo e Albus esquecerem o suposto pretendente de Rose. O grupo entrou no estabelecimento boquiaberto, olhando para todos os lados, admirando cada peça da decoração.
Caraca! – Rony exclamou. – Esse ano o Ministério caprichou mesmo, hein?
Finalmente! – Hermione afirmou. – A última reunião foi um fiasco, lembra-se Gina?
E como não? – ela concordou. – Até rato aparecia naquele lugar. Uma vergonha!
O grupo dirigiu-se até a porta do elevador e esperou alguns segundos, até que ele parasse no andar térreo. As portas se abriram e algumas garotas sorridentes, prontas para ir a praia, saíram de lá. Foi o suficiente para James dar sinal de vida, quase destroncando o pescoço para olhá-las. Rose olhou feio para ele, indignada, mas ele logo voltou sua atenção para o MP3 e esqueceu as moçoilas.
O elevador era bem maior do que eles esperavam. Todos couberam confortavelmente e ainda sobrava espaço para mais umas quatro pessoas, o que foi bom, pois, quando a porta ia se fechar, alguém a parou com a mão. Todos esperaram, curiosos, a entrada de quem quer que fosse. O clima ficou estranho quando a porta se abriu por inteiro e mostrou Draco, Pansy e Scórpio Malfoy parados do lado de fora.
Um silêncio aterrador se fez quando os olhares dos adultos se encontraram. Rose e Lily se entreolharam, e sorriram quando viram Scórpio, o que não passou despercebido por Albus, que cutucou o primo.
Vamos, pai? – Scórpio perguntou já entrando no elevador.
Draco não teve alternativa senão entrar. Meneou a cabeça discretamente para cumprimentá-los, enquanto Pansy entrou de nariz empinado sem olhar para ninguém. Harry ficou com mais raiva ainda. Draco pelo menos parecia tentar, mas ela? Harry nunca se esquecera que ela tentou entregá-lo para Voldemort no fim da guerra.
O elevador subiu os 30 andares lenta e silenciosamente. Nem as moscas, se houvesse alguma, ousariam fazer qualquer ruído. Eles mal acreditaram quando o elevador finalmente parou: estavam todos no mesmo andar. Dividiriam as duas suítes presidenciais na cobertura do hotel.
Os Malfoy foram os primeiros a descer, sem olhar para trás, a não ser Scórpio, que lançou um sorrisinho para as meninas. Hugo, dessa vez, quase xingou o garoto, mas Albus não permitiu. Rose e Lily foram as próximas a descer, sorrido discretamente.
Será que é ele? – Albus perguntou aos sussurros.
O Malfoy? – Hugo ficou com as orelhas vermelhas. – Não! Não pode ser!
Eu acho que pode, hein? Viu como ele sorriu para ela?
Temos que averiguar isso, Albus!
Pode contar comigo! – respondeu resoluto.
b There are no impossible dreams /b
(Não existem sonhos impossíveis)
b There are no invisible seams /b
(Não existem costuras invisíveis)
b Each night when the day is through, /b
(Toda noite quando o dia termina,)
b I don't ask much /b
(Eu não peço muito)
b I just want you /b
(Só quero você)
b I just want you /b
(Só quero você)
James sobressaltou a todos com o refrão da música. Albus e Hugo se perguntaram se ele havia notado o mesmo que eles, por isso a indireta. Lily e Rose apenas riram, e correram de mãos dadas para abrir a porta da suíte e pegar logo seu quarto.
Eles aproveitaram aquela primeira tarde para descansar da viagem. A cerimônia de abertura seria naquela noite, com um coquetel, mas nenhum dos jovens estava preocupado com isso. Teddy voltara de sua volta pelo bairro com um panfleto de um lual que aconteceria ao anoitecer, na praia. Era para o lual que eles se arrumavam, enquanto os adultos teriam que aturar o porre de um evento social.
E se ele for à abertura?
Só os adultos vão à abertura. Não se preocupe!
Duvido que o pai dele vá deixá-lo ir a um lual trouxa.
Não me parece que ele obedece ao pai.
Hum... Tomara que não!
Ouviu isso? – Albus sussurrou da porta.
Ouvi! – Hugo falou preocupado, espiando junto com o primo.
Crianças! – Gina chamou.
Crianças, mãe? – Lily reclamou, caminhando até a sala.
Pelo menos não foi em público! – Hugo brincou.
Ai, ai, ai! – Gina revirou os olhos. – Quando vocês tiverem filhos vão me entender!
O que vai acontecer só daqui a muuuitos anos, não é? – Rony apareceu para esclarecer tudo. – Nós estamos indo.
Nós também! – Rose falou. – Só falta o James.
Larga ele aí! – Albus sugeriu.
Albus! – Rose se indignou. – Não!
JAMES! – Albus gritou. – ANDA LOGO!
Comportem-se lá, hein? – Hermione aconselhou. – Beijos!
Tchau! – todos responderam.
Os adultos saíram depois de se despedir. James apareceu logo em seguida. Rose apagou todas as luzes e abriu a porta, ficando responsável pela chave.
Não acredito que você vai levar isso! – Lily falou ao irmão que já encaixava os fones no ouvido novamente.
Ele se limitou a balançar a cabeça e levantar o polegar.
Sem noção... – Albus falou e correu para chamar o elevador.
Não foi preciso caminhar muito para chegar até a praia. De longe já se podiam ver as tendas, as barracas com frutas e sucos e ouvir a música meio havaiana que tocava. A praia estava repleta de jovens com saída de praia e colares de flores, que todos ganhavam assim que pagavam a entrada. O ambiente era realmente agradável.
Lily e Rose procuravam ansiosamente por Scórpio, mas aquele realmente não se parecia com o tipo de ambiente que ele freqüentaria. Os meninos, por outro lado, James já desistindo do MP3, estavam mesmo encantados com a quantidade de garotas que havia por ali.
Tem mais mulher do que homem, cara! – Hugo festejou.
Não é possível que hoje nós não consigamos ficar com ninguém, Hugo! – Albus torceu.
À frente, um grupinho com quatro garotas, olhava para na direção deles e sorria. Hugo ajeitou a gola da camisa florida, Albus tentou abaixar o cabelo, e os dois estamparam seu melhor sorriso. Tomaram coragem e se aproximaram do grupo, mas notaram que elas não os estavam acompanhando com os olhos e sim fixando um outro ponto, muito próximo aos dois.
Intrigado, Hugo olhou para a direção em que elas olhavam. Com a cara amarrada cutucou Albus e mostrou o alvo da admiração das garotas. Alguns passos mais atrás, James havia arrancado a camisa e bagunçava os cabelos na parte de trás, sorrindo para as meninas. Mandou um beijo para elas, que riram mais alto ainda, e foi para a mesa de sucos, beber alguma coisa.
A gente não vai ter a menor chance com ele por perto... – Hugo reclamou, desanimado.
Ele sempre dá um jeito de chamar a atenção. Eu odeio quando ele faz isso! – Albus, emburrado, resolveu pegar um suco também. – Não entendo o que é que ele tem que chama tanta atenção das garotas.
Vai ver é porque ele joga quadribol! – Hugo explicou, seguindo o primo e escolhendo um sabor para ele também.
Dã! Elas são trouxas! E não estudam em Hogwarts! – Albus falou mal-humorado.
Ah é...
Oi!
Albus e Hugo viraram-se animados, mas deram de cara com as irmãs.
Nossa! – Lily se assustou.
Podiam disfarçar um pouco a decepção, não é? – Rose se ofendeu.
Desculpem... – responderam ao mesmo tempo.
Cadê o James? – Rose perguntou, servindo-se também.
Está por aí, sendo engolido por alguma garota! – Albus falou, inconformado.
Já? – Lily perguntou sorrindo. – Ele não perde tempo, hein?
Elas é que não perdem tempo! – Rose reclamou. – Não podem ver um cara bonito que já se jogam! Assim não dá!
Achei que você já tivesse um pretendente, Rose? – Hugo provocou.
Não começa, hein! – ela pediu.
Vamos circular, galera! Estamos de férias! – Lily aconselhou.
Juntos, e por conseqüência, se anulando, já que eram dois casais, eles circularam pela praia, admirando a paisagem e tentando, quem sabe, serem admirados também.
hr
Ai, que saco! – Rony resmungou, tentando afrouxar um pouco a gravata. – Preferia mil vezes estar no lual com os meninos. Essa roupa está me matando.
Pára de reclamar, Rony, ou a Mione vem te dar uma bronca logo, logo. – Harry falou, servindo-se de hidromel.
Cadê elas, aliás? – Rony espichou o pescoço e começou a procurar, Harry fez o mesmo.
Ali! – apontou. – Conversando com a Luna.
Lovegood? – Rony se espichou mais. – Não sabia que ela estaria aqui!
Mas está... – ele respondeu apenas, também desanimado.
E aí? – Teddy chegou e sentou-se ao lado deles, um copo de Firewhisky nas mãos.
Que cara! – Harry exclamou.
Isso aqui está um saco, padrinho! Bem que a vovó falou que era chato! – se recostou na cadeira. – E a comida, então? Só frutos do mar e frios! Eu queria carne!
Mal passada? – Rony brincou.
Teddy riu: - De preferência!
Anime-se! – Harry bateu nas costas dele. – Você é jovem, vá conversar com alguém.
É! – Rony se interessou. – Paquerar alguém!
Qual é, tio Rony! – ele se empertigou. – Nenhuma mulher me interessa, a não ser a Vic.
Ah meu Deus! – Rony se preocupou. – Tão novo, e já apaixonado!
Oh quem fala! – Harry brincou.
Cala a boca, Harry! – ele ficou com as orelhas vermelhas. Os outros dois riram.
Padrinho, já que eu não sou membro nem nada, será que pega mal se eu for andar por aí? Estava pensando em ir lá no lual.
Vai sim! Aproveite enquanto pode, Ted. Mais tarde passamos por lá também.
Legal. – ele sorriu. – Até! – e saiu, já arrancando a gravata.
hr
Isso aqui ta cheio de casais! – Hugo reclamou.
O que você esperava? – Lily perguntou. – Um lual, na praia, um monte de lugares escuros...
Lily! – Albus ralhou.
Ué! Estou mentindo, por acaso?
Vamos sentar por aqui mesmo. – Rose falou antes que os irmãos começassem a discutir.
Aqui não! – Albus exclamou.
Por que? – Hugo perguntou, confuso.
Não faço a menor questão de assistir ao espetáculo do meu irmão! – e apontou, carrancudo.
Encostado em uma pedra, escondido por uma sombra, James quase engolia uma garota, ou era engolido por ela, era difícil definir.
Nossa... – Rose ficou olhando, incrédula. – Será que eles esqueceram de respirar?
Quem precisa respirar quando está beijando? – Lily respondeu.
Como você sabe? – Albus perguntou, desconfiado.
Hum... Eu imagino! – ela desconversou. – Vamos sentar aqui mesmo, só que de costas para eles, pronto! – ela sentou-se e foi imitada por Hugo.
Albus se sentou depois de resmungar mais um pouco, mas Rose só acordou depois que Lily lhe deu um discreto puxão.
Ai, ai... – ela suspirou.
Você não vai dizer mesmo quem é? – Hugo perguntou.
Quem é o que?
O cara de quem você tanto escreve!
Ai! Já disse que não é ninguém!
Ela pensa que nos engana, Albus! – ele cutucou o primo, mas Albus não estava ouvindo a conversa deles. Mirava o mar, com cara feia. – Xiii. – Hugo fez baixinho.
Em silêncio, todos ficaram olhando o mar e divagando, cada um sobre aquilo que o incomodava no momento.
Olha quem está aqui! – alguém os sobressaltou.
James! – Rose se espantou ao vê-lo ali.
Meditando, galera?
Não é da sua conta! – Albus respondeu sem olhar para trás.
Eita! – ele exclamou. – Ta azedo hoje, hein? Ta bom de ser espremido! – os outros riram disfarçadamente. – Essa aqui é a Latifa, galera! – ele apontou para a jovem que o acompanhava. Só então Albus se virou, e ficou completamente sem graça por sua falta de educação.
Latifa tinha a pele negra e os olhos verdes, quase tão verdes quanto os de Albus. Era um pouco mais baixa que ele e tinha o corpo esbelto. - Muito prazer! – ela falou com um sotaque carregado e apertou a mão de cada um deles.
Esses são Rose, Hugo, Lily e Albus! – James explicou.
Vocês dois são irmãos, não é? – ela apontou de James para Albus.
Nós e a ruivinha! – James sorriu, carinhoso.
Ela nem tanto, mas vocês dois se parecem muito! – ela exclamou.
De que adianta? – Albus sussurrou.
Puxa! – Latifa exclamou. – Que pingente bonito! – e apontou para o colo de Lily, onde um belo pingente dourado, em forma de coração, descansava.
Bonito, não é? Ganhei do meu pai. É de família. – ela explicou.
É um camafeu, não é? Você pode por uma foto aí dentro, não pode?
Eu achei que fosse, mas nunca consegui abrir. – ela falou, forçando o pequeno coração a se abrir.
Hum... De onde você é? – Rose perguntou curiosa, tentando desviar o assunto da jóia. – Não é americana?
Oh, não! Eu vim da Angola. Meus pais e eu estamos passando as férias aqui!
Que legal! – ela exclamou. – Nós somos da Inglaterra, mas o James já deve ter te falado, não é?
Hum... – ela ficou envergonhada. – Na verdade não deu tempo...
Os outros riram, Rose ficou sem graça.
Esse lugar é muito bonito, não é? – Latifa desconversou. – Se eu pudesse ficaria aqui a noite toda, pena que está começando a esfriar... – ela olhou para o céu, averiguando se haveria chuva.
Esfriando? – Albus perguntou.
E parece que vai chover...
Agora que você falou... – Hugo também olhou para o céu. Não dava para enxergar as estrelas.
Isso está estranho... – Rose se levantou preocupada.
Estranho por que? – Lily se levantou também.
Está esfriando rápido demais! – Albus se levantou e Hugo o imitou.
Qual é, galera! – James riu do assombro deles. – É o aquecimento global! O clima ficou louco!
Cala a boca, James! – Albus falou, olhando ao redor. – Está escuro demais!
Essa não... – Lily lamentou.
Dementadores! – Rose falou. – Corram!
Todos correram, mas James e Latifa ficaram para trás.
Qual o problema? – ela perguntou.
Sei lá! – James falou sem entender.
Os outros quatro tentaram se afastar, mas tinham medo de correr demais e trombar com alguém, pois não conseguiam enxergar mais nada.
Como eles fizeram isso? – Latifa perguntou agarrada a mão de James. – Isso está muito estranho.
Albus? Lily? Cadê vocês? – James gritou.
Sai daí, James! – Lily respondeu. – São dementadores!
Mas... Não pode ser!
Fiquem todos juntos! – Albus gritou.
Cadê vocês? – Lily perguntou.
Lily?! Não consigo te ver! – Rose tentou.
Estão ouvindo isso? – Hugo perguntou.
Todos pararam em seus lugares e fizeram silêncio. Um ruído sinistro de sucção podia ser ouvido, embora eles não pudessem enxergar de onde vinha.
Aaaahhhh! – alguém gritou.
Lily? Rose? – Albus ficou desesperado.
Albus, socorro! – Lily gritou.
Aaahhhh! – mais um grito.
Pegou a Rose também! – Hugo exclamou.
James! – Rose gritou. – Faça alguma coisa! Socorro!
Eu? Por que eu?! – James ficou desesperado. Estava com os braços estendidos, sem enxergar nada. Sentia Latifa segurá-lo pelo ombro.
Você é o único que pode usar varinha, idiota! – Albus gritou impaciente.
Aaaahhhh! – Lily gritou.
Lily! – Rose falou com a voz abafada. – Cubra sua boca! Cubra a boca! Aahhh!
James! – Hugo gritou. - Pelo amor de Deus!
O que vocês querem que eu faça?! Eu não lembro como derrotá-los!
UM PATRONO! – Albus e Hugo gritaram.
Um o quê? – ele perguntou sem entender.
EXPECTO PATRONUM! REPITA ISSO!
O quê? Expetro patrono!
NÃO! EXPEC... Aahhh!
Expecto patronum! – ouviu-se ao longe.
Uma claridade imensa os surpreendeu e um lobo enorme veio em direção ao grupo. Teddy viu, desesperado, a boca do dementador a poucos centímetros da boca de Rose, então apontou seu patrono para ela primeiro. O dementador se afastou, derrotado. Depois apontou-o para Lily, que parecia inconsciente e prestes a levar o beijo. Os dementadores foram espantados e então o calor e a claridade voltaram aos poucos.
Rose? Rose? Você está bem? – Teddy correu até ela, que estava muito pálida. – Você está bem?
Es... Estou... – ela disse molemente. – Teddy?
Sou eu. Já está tudo bem! Estão todos bem? – gritou para os demais.
Latifa está desmaiada! - James gritou preocupado.
Lily está voltando a si! – Albus informou, segurando a irmã.
Hugo? – Teddy perguntou.
Eu to legal... – ele respondeu ofegante e se jogou aos pés da irmã. – Que foi aquilo?
James, seu idiota! – Albus gritou. – Nós podíamos ter morrido! Por que você não fez nada?
Eu... Eu não sei... – ele falou preocupado, tentando reanimar Latifa. – Eu não consegui me lembrar... Me deu um branco!
Você é um inútil mesmo! – ele gritou. – Só serve para se mostrar!
Albus, não! – Rose falou, um pouco melhor. – Não é fácil se lembrar de um feitiço como esse!
Não o defenda!
Vamos, galera! Já passou! – Teddy tentou. – Vamos voltar para o hotel. James, é melhor que ela fique desacordada. Temos que levá-la ao pessoal do ministério, para alterarem a memória dela. – Vem Rose. Consegue andar?
Consigo. – ela falou corada, segurando a mão dele.
Albus, a Lily está bem? – ele perguntou.
Parece que sim. Eu vou ajudá-la.
Meu colar! – ela falou, um pouco zonza.
Está aqui! – Rose falou. – Caiu quando o dementador te pegou.
Puxa, obrigada! – ela pegou o colar das mãos da prima. – Papai jamais me perdoaria se eu o perdesse.
Juntos, e muito assustados, o grupo voltou ao hotel. James carregou Latifa até lá, onde os funcionários do Ministério alteraram a memória dela. Toda comunidade bruxa ficou chocada. Ninguém entendeu o que os dementadores estavam fazendo na praia àquela hora.
Gina e Hermione quase tiveram um treco quando souberam que seus filhos haviam sido atacados, mas já estavam sendo acalmadas pelos maridos e pelos próprios atacados, que já haviam comido bons pedaços de chocolate. Harry era o mais intrigado de todos. Seus miolos começaram a trabalhar em busca de uma explicação quando viu que os filhos e os sobrinhos estavam bem.
Será que foi coincidência? – ele se perguntava.
No que você está pensando? – Rony se aproximou dele.
Os dementadores atacaram na praia. Por que não foram até o coquetel?
Por que a probabilidade de haver um bruxo capaz de conjurar um patrono seria muito maior! – Rony concluiu. – Sei o que está pensando, Harry, mas esqueça! Os seus filhos terem sido atacados foi apenas uma coincidência, tanto que os meus também foram. Você-Sabe-Quem e seus comensais já eram!
E mesmo assim você não consegue dizer o nome dele, não é? – ele perguntou irritado.
É mais forte que eu, cara! – ele se defendeu. – Relaxa! Foi coincidência. Os dementadores não obedecem ninguém. Vieram até aqui por causa da aglomeração.
É... Talvez você tenha razão. – ele continuava a raciocinar. – Espero que você tenha razão...
