Prólogo

As pessoas não podem ganhar nada sem sacrificar algo, você pode dar algo do mesmo valor para ganhar alguma coisa. Esse é o princípio da Troca Equivalente. Naquele tempo, acreditávamos ser essa a verdade do mundo. Contudo, o mundo não é perfeito, então não existe apenas uma lei que governa tudo que acontece nele. É o mesmo para a Troca Equivalente. Ainda assim, acredito que as pessoas não podem obter algo sem pagar um preço. A dor que sentimos foi com certeza preço suficiente a ser pago. E qualquer um que pague o preço conhecido como trabalho duro, certamente ganhará algo. A Troca Equivalente não é a lei que governa o mundo.


Os cabelos balançavam bruscamente, impedindo que pudesse ver alguma coisa em sua frente, não sabia há quanto tempo estava vagando por aquele deserto demoníaco, onde não se podia dormir sem o temor de ser soterrado pela areia que vinha com o vento forte.

Comida? Não, isso era algo que não sentia o gosto há muitos dias. Suas pernas se recusavam a continuar sob aquele caminho desconhecido, e sob seu peso, cederam.

Não se forçou a levantar, e continuou jogado na areia, apenas contemplando o céu azul, não havia resquício de nuvem alguma. Sabia perfeitamente o porquê de estar ali, voltara para seu mundo, ainda que muitas de suas memórias vagassem pelo esquecimento. Não se lembrava de muita coisa do que acontecera nos últimos anos, ainda assim, cada vez que se deparava com algo o qual fizera parte de seu passado, as imagens passavam por sua mente como se suas memórias sobre aquilo fossem recolocadas bruscamente em sua cabeça.

Travava uma batalha interna contra seus olhos, os quais teimavam em se fechar. Contudo não podia dormir, não antes de encontrar algum lugar seguro para ficar. Todavia seus esforços foram desnecessários, e seus olhos se cerraram, fazendo-o afastar-se de tudo o que acontecia a sua volta.

Não pode dizer quanto tempo permanecera desacordado, mas sabia que era muito, pois sentia seu corpo mais forte. Havia achado dois fatos curiosos, um era a falta do vento constante do deserto e o outro, a sensação de calmaria do lugar onde estava.

Finalmente abriu os olhos, permitindo-se ver o ambiente. Estranhamente, não se lembrava de ter adormecido ali. Aliás, não lembrava de ter estado em algum momento dentro de uma barraca. Ainda assim, podia sentir que o vento se chocava com o tecido tencionado que formava as paredes da barraca.

Ouviu passos, e em um segundo, juntou a palma das mãos à sua frente e tocou o chão com elas. Da Areia, surgiu uma lança, a qual rapidamente empunhou. Quando percebeu alguém se aproximando, apontou-a para a pessoa.

Ao contrário do que imaginou Edward, a pessoa não tentou desviar, apenas sorriu brandamente, tentando inspirar confiança. O homem que estava diante dele e aparentava ter uma idade considerável. A pele morena, castigada pelo sol sempre presente junto aos olhos vermelhos. Edward olhou fixamente para a desconhecida figura e sua mão afrouxou a lança, pois algumas imagens passaram por sua cabeça.

Centenas de pessoas com pele e olhos iguais àquele, vestidos com trapos no meio do nada. Um homem com as mesmas características com uma cicatriz na face tinha a mão em sua cabeça, aqueles olhos vermelhos, o miravam com um profundo ódio.

Caiu sobre suas pernas, seus olhos miravam o homem se aproximar, e num reflexo, quando o estranho tentou tocá-lo, Edward bateu com sua mão na do outro, como se o afastasse de si.

–Se você prefere ficar no chão, podemos conversar assim. O que faz aqui? -Ele não parecia se importar pelo que acabara de acontecer, sustentava uma voz bondosa e um sorriso brando. Edward não pronunciou palavra alguma, apenas continuou a olhar o homem. –Não vou lhe fazer nada, poderia tê-lo feito enquanto dormia. –Parecendo que alguma razão entrara na cabeça do garoto, ele respondeu.

–Eu...eu não sei –sua voz soou rouca, pela falta de uso desde que voltara ao seu mundo.

–Não quer comer? Parece que não come há dias. –dizendo isto, estendeu uma mão para o garoto, que a segurou e fez força para se levantar. Era verdade, Edward não comera nada há muito tempo e isto se refletia em sua face e corpo. Estava absurdamente magro, sua face encontrava-se pálida e ao redor de seus olhos se postavam bolsas enegrecidas. Estas características, juntamente às manchas marrons e negras e vermelhas espalhadas pelo seu corpo e face, pela imundice que fora submetido, davam-lhe uma aparência quase cadavérica.

–Quanto tempo demora até a próxima cidade? –estranhamente o homem riu, não um riso de deboche, mas o riso de alguém que ouvira algo engraçado.

–Vai demorar um pouco, mas mesmo tenho que passar por lá. Mais ou menos uns cinco dias. –aquelas palavras chegaram a Edward como um choque. Onde estaria ele que se encontrava tão isolado. Perguntava-se a todo instante. –Tome –Estendeu uma tigela de barro com algo meio líquido dentro. Edward creia ser comida, e a tratou como tal, colocando-a a na boca e engolindo. Após terminar, olhou o homem outra vez.

–Por qual motivo me trouxe para cá?

–Pelo motivo de não haver nenhum para deixá-lo. Mas... Quem é você?

–Ah, certo, Edward, Elric! Mas... Eu já vou indo… Não posso perder tempo. Para que lado fica a cidade?

–Se não quer esperar amanhecer... A cidade fica para o norte, e leve isso com você –o homem lhe deu duas bolsas feitas de pele –A escura, tem comida e a clara, água. Acho que isso basta para chegar à próxima cidade. Cuidado com as dunas e com o vento.

–Obrigado, quando nos virmos outra vez, retribuirei a ajuda!

–Edward sorriu como não fazia há muito tempo e saiu da barraca improvisada rumando para o norte.