Et Coetera
As pessoas te achavam estranho.
Elas pareciam ficar silenciosas quando você passava. E então vinham os sussurros. Você nunca havia sido grosseiro com ninguém da classe, mas você nunca falava com ninguém e nunca sorria e isso bastava. Não que importasse. Para você, poucas coisas importavam.
Você era auto-suficiente. Você não precisava da companhia alheia, você preferia ficar consigo mesmo. Costurando. Treinando. Lembrando.
Os outros te achavam sozinho.
E você ia à escola e tirava notas excelentes e nunca puxava conversa com ninguém. E você passava o tempo todo calado. E eram você e as suas lembranças o tempo todo, as suas lembranças e a sua vontade de honrar uma raça morta.
Você nunca admitiria, mas eles tinham certa razão.
X
Você caminhava devagar.
Um passo depois do outro, com calma. Às vezes, você parava e ficava lendo um livro. Você ia devagar, e mesmo que as ruas estivessem cheias você só ouvia o som dos seus passos. Um depois do outro.
E as pessoas, claro.
Elas passavam o tempo todo por você, como se não existisse. E, para você, era o mesmo. Elas não existiam, mas você as sentia. As palavras, os passos, as vozes. Os risos. Às vezes, até algumas lágrimas.
(e você imaginava se eles seriam assim também)
Eles. Você andava e pensava neles e aí o seu ritmo já lento diminuía ainda mais. E você parava, ou quase parava, porque os seus pés ainda se arrastavam, mas você não tinha mais a sensação de se mover com eles. Porém, você logo descobria que estava enganado, quando você se encontrava de frente para a porta da sua casa. E você a abria.
(pensando naqueles de quimonos negros)
E você andava até o seu quarto e se jogava na cama e lia um livro. Você acendia um abajur e mais nenhuma luz, porque você não precisava. Não ali. E, às vezes, você se levantava e caminhava sem rumo pelo lugar pequeno, e você não encontrava nada.
(vazio vazio vazio)
Você nunca teve pressa para chegar a casa.
X
A sua rotina era bem simples.
Você ia à escola – por ir, simplesmente. Você lia alguns livros, os quais sempre demorava a terminar. Costurava, às vezes.
E então tirava o arco.
O arco.
X
A verdade é que você nunca parou de treinar, não é mesmo? Você queria se tornar mais forte, e mais, e mais, e mais. E você concentrava a reiatsu e localizava um hollow e pegava o arco.
E então, você matava.
Matava. Eles podiam fazer-se de santos tentando purificar criaturas como aquelas, mas você não. Você entendia melhor do que qualquer um deles, e seu mestre também. Aqueles tolos imprudentes. Insensatos. Fracos.
(assassinos)
Você os odiava.
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Eles. Eles. Você não tinha problemas em falar o que eles eram em voz alta, mas não gostava de pensar assim. Você não sabia como eles eram, mas você imaginava. Você pensava em como seriam, e a imagem nunca vinha. Somente um quimono negro e uma espada.
(e o sangue o sangue o sangue nas mãos)
Para você, eles não tinham rostos.
("Mestre, como é um shinigami?")
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Você estudava muito.
Não tanto assim, pois você era inteligente. Mas o fato é que você se empenhava demais em coisas que não lhe interessavam. Que nunca interessariam. E você estudava e estudava e estudava, e quando a lista das notas vinha você se sentia recompensado.
("Parabéns, Ishida-kun. Você tirou a melhor nota de novo.")
Você era um excelente aluno. O seu nome estava sempre em primeiro, e disso você gostava. E você permitia que um raro sorriso passasse pelo seu rosto ao verificar seu nome no topo da lista, antes de voltar para casa.
(aquela casa onde só havia restos)
A verdade é que você sempre foi o último.
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Ir à escola, voltar para casa. Estudar estudar. Ler, costurar. Treinar treinar treinar. Concentrar a reiatsu e achar os hollows.
("Eles usam quimonos pretos, Uryuu.")
Matar. E quando matava você segurava a sua arma com mais força, muita força, tanta força que doía. E você sentia uma vontade de chorar.
("Quimonos pretos e batizam as espadas.")
O seu arco não tinha nome.
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Você estava caminhando quando percebeu.
A energia. A reiatsu. Era isso.
E então, os de negro tinham uma única face, um único rosto.
Kurosaki Ichigo.
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Ele pensou que você era louco.
Você o odiava com todas as suas forças. Porque ele usava um quimono negro e uma espada com nome. E achava que o certo era purificar aqueles monstros – e matar quem discordasse, não se esqueça disso.
O louco era ele.
Todos eles.
Ele pensou que você estava querendo morrer.
(aqueles hollows que você trouxera e ele queria salvar porque é isso que eles sempre querem)
(salvem os monstros e matem os quincys)
Ele pensou que você estava querendo morrer, mas o que você queria era matá-lo.
Matá-lo, superá-lo. Destruí-lo de alguma forma. Não por vingança, mas para se sentir melhor. E se isso implicasse em destruir todos aqueles hollows, para você estava tudo bem. Se Kurosaki Ichigo era tolo a ponto de perder, era problema dele. Aquele não era o seu caso.
Você, morto?
(o último quincy)
(o único que restou)
Você jamais achou que tinha esse direito.
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Você pensou que lutava por ele.
("Muitas pessoas morreram.")
Você nunca pensou no que ele te disse.
("O que devemos pensar... é em como evitar que algo assim se repita.")
("Vamos unir forças, idiota!")
Aquele louco tinha razão.
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Aquele louco. Kurosaki Ichigo. Um shinigami, sem dúvidas. Quimono preto e uma espada com nome, mas as mãos dele estavam limpas.
Você o salvou.
Você nunca se arrependeu.
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Naquela vez, você não almoçou sozinho.
Nem nunca mais.
Kurosaki Ichigo tinha hábitos estranhos. Ele andava com pessoas estranhas também. Kuchiki Rukia, Inoue Orihime, Yasutora Sado (Chad). E você achou ainda mais estranho quando passou a se incluir entre eles quando pensava, e a se lembrar deles quando chegava a casa, e então quando treinava você não apertava o arco com tanta força e não doía mais.
Você passou a caminhar rápido quando ia para a escola.
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N/A: FELIZ ANIVERSÁRIO, ISHIDA! MUITOS ANOS DE VIDA! VOCÊ TEM UM ARCO, VOCÊ É FODA, VOCÊ COSTURA, AS TUAS ROUPAS SÃO AS MAIS STYLES, VOCÊ É MEU PERSONAGEM FAVORITO E EU PAGO O MAIOR PAU PRA TI! AEEE!
...Enfim. Não é como se eu ficasse muito feliz com aniversários de gente que não existe, sério mesmo. /esconde balões e bolo/ É só que... AH, ME DEIXEM, TÁ? EU SOU ETE MESMO, E DAÍ? /morre/ Mas... É o Ishida, cara! O Ishida é o melhor de Bleach, fato (L). De qualquer modo, até que gostei. Espero as reviews!
(Et Coetera é uma expressão em latim que significa E o restante. É o que nós abreviamos para etc.)
