"Gender - O sexo biológica de um indivíduo (geralmente do sexo masculino ou do sexo feminino e, por vezes, hermafroditas).
Swap - Uma troca de duas coisas comparáveis.
Genderswap é, portanto, uma gíria dos fandoms para o ato de mudar o sexo biológico de um personagem de ficção e/ou identidade de gênero da sua forma canon. No caso, o que é feminino se torna masculino e o que é masculino se torna feminino."
Seguindo os ensinamentos da Miller: a vida é muito curta para ficar segurando fanfic, cá estou eu novamente.
Eu sei que não terminei minhas fanfics (especialmente LION) e que estou devendo capítulos. Mas essa é uma ideia que eu tenho há muito tempo e queria muito compartilhar ela com vocês. Logo eu entrarei em férias e poderei me dedicar mais às minhas fanfics.
Eu sempre amei genderswap, principalmente da Marauder's Era. Eu sempre penso em fem!Remus, fem!Sirius e fem!James (quem me segue nas redes sociais sabe muito bem disso). Porém, eu trouxe algo diferente de tudo que eu já vi, que é apenas male!Lily.
Apenas Lily Evans teve o seu sexo trocado, como Liam Evans - James e o resto dos marotos continuam sendo garotos.
Essa é uma fanfic Jily, com eventuais (talvez mais do que o indicado) cenas Emmeline x Lily/Liam.
Milhões de obrigadas às meninas que me apoiam sempre. Especialmente a Miller que me incentivou a postar a fanfic na louca, por betar para mim e me ajudar na sinopse. Você é foda
Meu twitter é ahlupin, beijos no toba.
GENDERSWAP
por ahlupin
Capítulo I
— Lily, se você fosse um garoto, como você seria?
Tirei os olhos das minhas anotações para encarar Marlene que estava na cama ao lado.
— Por que você está perguntando isso? — Questionei, interessada, guardando o pergaminho que estava revisando.
— Estou lendo. — Marlene levantou um livro que ela segurava, com uma capa vermelha e detalhes em dourado. — Um bruxo tentou mudar de gênero permanentemente. Não deu muito certo, mas as experiências são interessantes.
Marlene adorava esse tipo de leitura, passo a passo de como feitiços eram criados e biografias de famosos bruxos. Desde que ela tinha despertado interesse nessas coisas, chegava toda semana com um livro novo da biblioteca.
— Parece legal. Eu não consigo me imaginar como homem. — Fiz uma careta ao tentar encaixar o meu rosto afeminado em um corpo masculino musculoso.
— Acho que gosto tanto de homem, que se eu fosse um, seria gay.
Eu ri alto. Ela me acompanhou na risada e ficamos um tempo jogadas, sem compromisso, apenas rindo do absurdo.
Porém nos calamos quando a porta foi aberta de supetão. Emmeline Vance entrou pelo quarto, com uma cara que não era das melhores. Quero dizer, sua expressão não era boa, mas seu rosto continuava lindo e maquiado. Emmeline era uma das garotas mais bonitas de Hogwarts, com o corpo de modelo e cabelos loiros brilhantes, que dançavam em suas costas à medida que ela andava pelo quarto e sentava em sua cama, ao lado da minha.
— Emme, o que aconteceu? — Perguntei, virando-me para ela. Marlene pareceu igualmente preocupada, pois pulou para a minha cama para ficar mais próxima dela.
Emmeline olhou para cima e fungou, como se estivesse tentando segurar o choro. Contudo, seu esforço foi inútil, pois logo as lágrimas dançavam em seus olhos e deslizavam por sua bochecha, enquanto ela continuava calada.
Aquele era o pior tipo de choro.
Ela tentou limpar o borrado do rímel com as pontas dos dedos, mas logo estava sujo de novo. Marlene e eu sentamos ao lado de Emme, eu a abracei pelo ombro e Marle pegou em sua mão. Ela tentava não chorar, mas os soluços escapavam da sua boca.
— Edgar terminou comigo. — Emmeline disse enfim, com uma voz estranha por causa do choro. A cada palavra, ela parecia dar um suspiro triste. — E eu nem posso dizer que terminamos, porque ele disse que a gente nãoestava namorando.
Marlene olhou para mim com uma expressão que dizia que ela já estava cansada do sofrimento de Emme por causa de garotos, devolvi um olhar que esperava dizer para ela ficar quieta e consolar nossa amiga.
— Ele dizia que gostava muito de mim, que eu era muito linda, mas que não quer um relacionamento sério. — Acariciei a cabeça dela e logo Emmeline estava deitando no meu colo, fungando. — Sinto como se tivesse sido usada e depois jogado fora. Por que eles sempre fazem isso, Lily? Por que os garotos sempre são insensíveis assim?
O histórico amoroso de Emmeline era longo e muito ruim. Emme se encantava facilmente com palavras e promessas e os caras se aproveitam da ingenuidade dela para entrar por baixo da sua saia, que possuía uma fama de não ser um feito muito difícil de conseguir. O que eu poderia dizer para Emme? Que ela parasse de ser fácil e começasse a se valorizar? Desconfiar de todos que aparecessem do nada com intenções suspeitas?
Já havíamos tentado de tudo, mas ela continuava se iludindo com caras que não eram bons para ela. Ela não ouvia nossos avisos. Marlene já tinha se irritado tantas vezes. Sempre começava assim, com suspiros e "ele é diferente", e acabava naquela mesma cama, chorando por um coração partido. Um cenário tão comum que o discurso já estava na ponta da língua.
— Homens são idiotas, Emme, eles não merecem sua atenção. Edgar Bones é um idiota por não querer namorar você. Você é linda, forte, inteligente, só um retardado não gostaria de ficar com uma pessoa maravilhosa.
— Existem muitos retardados no mundo. — Ela murmurou.
— Pense pelo lado positivo, agora você não precisa ficar se esfregando no pinto pequeno dele para gozar. E é isso mesmo que nós iremos espalhar para o resto da escola amanhã. — Marlene disse enquanto acariciava a sua mão. Emme soltou um gemido, o que eu imaginei que deveria ser uma risada na sua voz embargada.
No fim da noite, nós comemos sapos de chocolate — no caso eu e Marlene comemos por Emmeline, pois ela não gostava de doces e é por isso que é magra e esbelta daquela forma — e xingamos todos os homens do universo: Bones, Black, Diggle, Fenwick, Snape, Dearborn, Prewett, Mulciber, Nott.
Potter.
Emme ficou mais feliz e acabou concordando que ninguém merecia suas lágrimas.
Marlene havia se retirado para a sua cama, pois estava tarde. E eu estava indo fazer o mesmo caminho quando Emme me segurou.
— Fica comigo até eu dormir? — Ela perguntou, com os olhos ainda envoltos pelo borrão preto da maquiagem.
Concordei com a cabeça. As camas do dormitório não eram grandes, mas coubemos, abraçadas. Fiquei com ela até perceber que ela dormia profundamente. Ainda após chorar, continuava deslumbrante. Parecia uma boneca, apenas algumas sardas discretas que se espalhavam por seu nariz a faziam parecer real.
Não entendia porque os garotos não valorizavam Emmeline. Ela poderia parecer um pouco superficial, mas tinha um coração imenso. Havíamos nos dado bem desde o primeiro dia de aula do primeiro ano. Ela me acolhera tão fácil, enquanto enrolava o braço no meu e dizia que eu era sua melhor amiga. Emme não se importava se eu era nascida-trouxa, ela iria até o outro lado do mundo por mim, eu sabia daquilo. Ela nunca havia gostado do Sev, mas o suportava por ser minha amiga. Problemas com o sexo masculino não se comparavam a nossa amizade.
Levantei da sua cama com cuidado para não a acordar. Sorri quando ela apenas se mexeu e continuou dormindo. Eu queria ter o poder de afastar todos os garotos que não eram bons para ela, apenas para nunca mais vê-la chorar dessa forma.
Dei a volta no quarto e fui em direção do banheiro.
Quando eu olhei para o espelho em cima da pia, uma garota ruiva e sardenta me encarou de volta. Eu não era uma Emmeline da beleza, mas era razoável. Meus cabelos vermelhos estavam um pouco ressecados nas pontas, implorando por um corte. Meus olhos eram grandes e verdes, meus lábios finos e meu nariz comprido, um pouco arrebitado na ponta. Eu provavelmente era um sete. Talvez um pouco mais se eu usasse rímel e batom.
Após eu sair do banheiro, um livro, apoiado entre o criado mudo que separava a minha cama e a de Marlene, chamou a minha atenção. Coloquei o meu pijama e deslizei para debaixo das minhas cobertas. Minha varinha ficava embaixo do travesseiro. Peguei o livro pesado de Marlene e comecei a folhear. Nunca havia o visto na biblioteca, mas era definitivamente interessante.
Um bruxo que não se sentia à vontade no corpo de homem queria mudar o gênero. Eu já havia visto cirurgias de transgêneros nas revistas do mundo trouxa, mas o mundo mágico sempre pareceu tão atrasado que eu nunca havia visto algo parecido. Não achava que eles aceitassem tão bem a homossexualidade por ali.
Continuei lendo, passando o dedo pelas páginas enfeitadas.
Era um encantamento novo, mas o escritor não conseguiu efetivá-lo da maneira esperada. Eu conseguia ler "Genderswap" na maioria das páginas.
Acabei ficando sonolenta enquanto lia, não sabia bem em que página havia parado, mas acabei dormindo com o livro aberto sobre o meu colo. Eu tentei me forçar a abrir os olhos para me deixar em uma posição mais confortável, mas minhas pálpebras pesavam.
A última coisa que senti antes de cair em um sono profundo, foi um formigamento gostoso entrar pelas minhas mãos. Como se tivesse magia agindo pela minha pele e se espalhando para todos meus outros membros, contudo não me incomodei com aquilo. Ah, se eu soubesse o quanto iria me arrepender.
Eu não abri os olhos de imediato, mas sabia que estava acordando. Algumas formas dançavam na escuridão, como se fossem pontos brilhantes me avisando que estava entrando claridade no quarto.
Eu odiava quando Mary acordava mais cedo e abria as cortinas.
Soltei um gemido estranho e coloquei meu braço sobre o rosto. Meu membro estava pesado demais, fazendo com que eu me assustasse um pouco. Tirei o braço e abri os olhos, vendo o topo da cama. Meu corpo inteiro estava esquisito. Cocei o meu queixo, ficando ainda mais confusa quando vi que meus dedos pareciam mais grossos e não tinha as minhas unhas compridas pintadas de verde. Não me lembrava de ter tirado o esmalte, nem de ter cortado as unhas.
Alguém precisava tirar a minha cutícula com urgência.
Olhei para o lado, para ver que horas eram, quando prendi a respiração. Definitivamente James Potter não dormia no quarto feminino da Grifinória.
Será que Marlene o havia deixado entrar? Eu nem sabia que eles estavam juntos. Mas garotos nem ao menos podiam subir as escadas do nosso quarto, existia um feitiço que os impedia de fazê-lo. Aparentemente, nada impedia o Potter de ser impertinente.
Ergui meu tronco e sentei na cama, arregalando os olhos ao perceber que aquele não era o meu dormitório. Levantei, um pouco zonza, vendo a bagunça que estava. Cobertores amontoados, sacos de embalagens por todo lugar, um cheio ruim vindo de todas as direções, mistura de perfume masculino com chulé e mais algum odor azedo. Roupas, comida estragada e ração para cachorro se espalhavam no chão. As paredes eram cobertas por posters, de um lado havia mulheres seminuas em motos, do outro havia símbolos de times de quadribol, e um calendário enorme enfeitava a outra parede.
Fiz uma careta quando vi que aquele era o dormitório masculino da Grifinória.
O que diabos eu estava fazendo ali? Será que haviam me drogado e me carregaram? Era algum tipo de brincadeira de mau gosto? Eu não estava achando nenhuma graça.
Apoiei o braço na lateral da cama, que segurava as cortinas em volta. Eu via tudo mais de cima, mas não estava usando nenhum salto para ficar tão alta. Ou apenas o quarto masculino tinha a cabeceira mais baixa. Estava tonta e um pouco cansada, como se tivesse passado a noite em claro. Era aquele livro que eu fiquei lendo...
Foi quando vi uma coisa diferente. Era um braço, meu braço que estava ali, mas ao mesmo tempo não era meu. Toquei nele. Era meu, eu sentia, mas não parecia com o meu braço fino e com sardas no antebraço.
Então eu olhei para o meu próprio corpo.
Também não era o mesmo pijama com o qual eu tinha dormido na noite anterior e tinham duas coisas muito importantes faltando no meu peito: os meus seios.
Apalpei por cima da camisa, sem sentir a minha cintura ou meu quadril. Na verdade, tinha algo muito suspeito entre as minhas pernas, algo pesado e... firme. Estranho, estranho demais.
Aquilo não poderia estar acontecendo. Só poderia ser uma brincadeira.
Corri para uma porta que deveria ser o banheiro, afinal o dormitório era o espelho do meu.
Eu entrei e fechei a porta atrás de mim. A pia era desorganizada, o banheiro inteiro necessitava de uma faxina. Foi quando levantei o queixo e vi o meu rosto no espelho.
Não era o meu rosto. Era de outra pessoa. Toquei nas minhas bochechas, sentindo tudo. Era eu, mas ao mesmo tempo não era.
Tinha o mesmo lábio fino, o nariz era igual, assim como os olhos verdes assustados. Mas não eram as minhas bochechas e meu queixo fino, era algo másculo, quadrado. Apertei meu nariz e minhas orelhas. Onde estava o meu cabelo longo? Eu via apenas um tufo ruivo em cima da minha cabeça, como uma franja mal cortada. Era ridículo.
— Por Morgana, o que está acontec- — Parei de falar quando ouvi a minha voz. Não era uma voz fina, e sim grossa e rouca. Arregalei os olhos. Levei a mão até o pescoço e senti uma bola na garganta.
Eu estava no corpo de um homem. Eu era um homem!
Os instantes que demoraram para eu absorver tudo isso foi o tempo que gastei gritando. Ou o grito grave que aquele corpo masculino deu. Eu escutei algumas batidas na porta, depois ela foi aberta revelando a cara de um Remus Lupin sonolento.
— Ei, cara, você está bem? — Ele perguntou depois de coçar os olhos.
Eu estava perplexa demais para respondê-lo. Só me movi após escutar uma voz resmungando mais atrás.
— Desceu a sua menstruação, Liam?
Risadas cortaram o ar, até mesmo Remus que parecia preocupado deu um sorriso. Mas eu não ri, oh não. Como eles poderiam rir naquela situação?!
Puxei ele para dentro do banheiro. Remus era legal, Remus era compreensivo.
— Remus, olha para mim! O que vocês fizeram comigo?! — Disse, ainda com aquela voz estranha. Apontei para o meu próprio corpo, ou aquele corpo ao qual minha mente estava presa.
— Estou olhando. — Ele me olhou de cima a baixo. — O que está de errado? Você engordou? Cortou o cabelo?
— Remus... — Gemi frustrada. Por que ele ainda estava brincando com isso? — Eu quero voltar ao normal. Não achei graça. Foi o Potter, né? Por que vocês fizeram isso? Me faz voltar ao normal que eu não deixo vocês de detenção pelo resto do mês!
Remus ficou surpreso e levantou as mãos na defensiva.
— Ei, calma aí, monitor.
— Monitora. — Corrigi, cruzando os braços.
Ele me olhou como se eu tivesse com uma abóbora na cabeça dançando até o chão. Céus, como Remus poderia ser tão tapado?
Fui até a porta, sentindo algo estranho grudado no meu pé. Remus me observava divertido quando eu olhei para a camisinha que tinha se colado ao meu pé — ou o pé deste corpo. Pelo menos não estava usada, mas era igualmente nojento. Tirei o preservativo com raiva.
Sai do banheiro marchando e fiquei na frente de onde James e Sirius pareciam se espreguiçar. Sirius parou de bocejar para me olhar com um sorriso maroto. Eu precisava admitir que ele era bonito mesmo com o rosto todo amassado.
— Que foi, flor? Acordou de mau humor?
— Não tem graça. Reverte isso, Black. — O som da minha voz me deu calafrios. Que péssimo dia para estar viva.
— Do que você está falando? Não vem me culpar por algo que eu fiz no seu sonho.
— Acho que a princesa menstruou mesmo. — James falou, dando uma piscada cúmplice com Sirius. — Não precisava ficar assim, Liam, isso acontece com todas as mocinhas na sua idade.
— Que falta de respeito, Potter! Pare de me chamar de Liam!
Eu estava me sentindo mal por eles estarem brincando comigo, eu certamente estava com vontade de chorar, mas meu corpo não obedeceu.
— Vamos chamar você do que, ruivo?
Pressionei os lábios um contra o outro. Estavam zombando de mim. Se um dia eu havia sentido alguma simpatia por eles, tudo naquele momento se apagou. Senti meu rosto ficar vermelho. Se eles não estavam com vontade de me explicar, eu iria atrás de alguém que fizesse as coisas certas.
Ignorei todos eles, inclusive Peter Pettigrew que ainda estava dormindo e fui para a saída.
— Vai de pijama, ruivo?
— Isso não é da sua conta. — Respondi antes de abrir a porta e sair.
Desci as escadas, tropeçando ao perceber que as minhas pernas eram maiores e mais longas. Eu estava meio desajeitada quando passei pelas poucas pessoas no Salão Comunal. Meus pés estavam descalços, mas nada se comparava ao incomodo de ter uma coisa entre as pernas. Era um adicional que eu poderia viver sem.
O Salão Principal não estava aberto, mas eu vi a professora McGonagall andando na direção da entrada, com a cabeça levantada e seu andar confiante.
— Professora, professora McGonagall! — Chamei, ela se virou para mim e olhou surpresa. Finalmente alguém que havia notado algo de errado com o fato de eu ser um garoto.
— Onde estão suas vestes, Sr. Evans?
— O quê? Professora, você não está vendo o que me transformaram?
— Não entendo, Sr. Evans, mas um monitor não deveria sair por aí nas mesmas roupas em que passou a noite. O seu uniforme, Sr.?
Meu queixo caiu.
— Não! Quero dizer, professora, eu preciso voltar ao normal! Eu acordei essa manhã no quarto dos garotos, com o corpo de homem. Não sei como faço para volta...
— Sr., vou pedir para que o converse com esses assuntos com seu pai. Talvez algum professor do sexo masculino possa te aconselhar sobre as mudanças no seu corpo.
Balancei a cabeça. Ela não estava entendendo.
— Senhora, eu...
— Está muito pálido. Pode faltas as aulas da manhã até se sentir melhor. Seria bom o senhor procurar pela Ala Hospitalar.
Então ela deu um sorriso, como uma mãe severa. Despediu-se e voltou para o seu caminho, deixando-me ali, perplexa.
Por que continuava me chamando de senhor? Era a professora McGonagall, ela nunca entraria em uma brincadeira dos garotos, principalmente para me assustar.
Decidi que precisava voltar para o meu dormitório. Talvez minhas amigas pudessem me ajudar. Aquele livro de Marlene... talvez tivesse sido ele o culpado daquilo. Eu poderia ter ativado o encantamento, mas era estranho pois nunca ninguém havia conseguido fazer uma coisa daquelas.
As informações giravam na minha cabeça quando eu passei pelo quadro da Mulher Gorda e fui para o meu quarto. Quando eu estava subindo as escadas, porém, elas mudaram a plataforma e me fizeram deslizar até o chão.
Pisquei várias vezes. Isso nunca havia acontecido antes. Algumas pessoas olharam e isso fez o rubor atingir as minhas bochechas.
Quem se aproximou para me ajudar, porém, foi Marlene.
— Marle, graças a Merlim. Você precisa me ajudar. — Aceitei a mão dela. Ela teve um pouco de dificuldade para me levantar, como se eu fosse muito pesado. Impulsionei meu corpo até ficar de pé.
— Estava tentando ver a Emme, não é, safado. — Ela piscou um olho. — Não se preocupa, ela já desce. Não precisa chorar de saudades.
— Não, Marlene, você não entendeu. — Peguei o braço dela. — Onde que está o livro que você estava lendo ontem? Eu preciso dele para reverter isso!
Marlene pareceu irritada e tirou o braço dos meus dedos.
— Eu não sei do que você está falando. Eu não li livro nenhum ontem, eu odeio ler.
O quê? Não, ela não odiava ler. Desde que eu a havia feito entrar na biblioteca no segundo ano, ela amava leitura. Estava tudo errado, tudo confuso. Por que ela não queria me ajudar? Eu era a sua melhor amiga.
Porém, algo pesou no meu pescoço. Quando olhei para o lado, Emmeline estava me encarando com seus olhos oceânicos. Ela sorria feliz, como se não fosse estranho o fato de eu ser um homem.
— Bom dia, amor. — Emme disse, abraçando-me.
— Bom dia, Emme. — Respondi, com aquela voz profunda e rouca. — Em, você pode me explicar o quê— Então senti algo contra a minha boca. Demorou alguns instantes para eu perceber que era Emmeline, beijando-me.
Beijando! Emmeline Vance estava com a boca colada na minha.
Eu não consegui. Era informação demais, era demais. Empurrei ela, surpreso com tudo, sem ter direito noção da minha força. Emme me olhou magoada.
— Por que você fez isso? — Perguntei, levando a mãos aos meus lábios. Eu nunca superaria aquele momento onde eu havia beijado minha melhor amiga na boca.
— É errado beijar meu namorado? — Ela falou, colocando as mãos na cintura e jogando para o lado seus cabelos cheirosos.
Ok. Eles estavam loucos, todos eles. Eu não era um garoto. Eu era Lily Evans, uma menina de 16 anos que, por acaso, era uma bruxa e estudava em um colégio onde magia era ensinada. Eu poderia ser louca, ruiva, nerd, problemática, mas "homem" e "namorado de Emmeline" não estavam no meu currículo de adjetivos.
Precisava sair. Talvez tudo isso fosse um sonho ruim onde eu acordaria a qualquer momento. Eu só precisava cair na real.
Já que eu não poderia subir para o meu real quarto, eu fui para o dormitório o qual eu tinha acordado. Os garotos estavam colocando o uniforme, mas eu não dei atenção a nenhum deles. Fui para a cama (haviam cinco delas, estranho, pois só eram quatro garotos na Grifinória no sexto ano) de antes e me afundei no travesseiro. Não percebi quão cansada estava até sentir todos meus membros pesarem.
É tudo um sonho ruim, Lily, você logo irá acordar no seu corpo, com seus peitos e seus cabelos longos. Quando você acordar, irá hidratar e cortar o cabelo, assim como irá se amar. Você é uma garota linda, forte, inteligente... é só acordar desse pesadelo.
Quando acordei, adivinhem? Não mudou absolutamente nada. Quer dizer, mudou sim: eu continuava sendo um homem.
Não tinha mais ninguém no quarto, mas continuava aquela bagunça por todo lugar.
Estava na hora de resolver aquela situação. Mas antes daquilo, eu senti a minha bexiga apertar.
Eu precisava ir no banheiro.
Eu não sabia exatamente como iria fazer isso com aquele corpo, mas minha barriga doía, como se eu tivesse tomado álcool no dia anterior. Estava tão confusa com tudo que não dei atenção àquele fato.
Fui para o banheiro e não fiquei surpresa ao ver a tampa levantada. Era um quarto masculino, afinal. Tinha um mictório também, mas ele não estava com uma cara muito boa.
Certo, Lily, você consegue fazer isso.
Abaixei a calça do pijama que usava até os tornozelos, levando junto com ela a minha cueca. Minha cueca. Tãoestranho. Olhei para baixo e vi.
Era feio, esquisito e nojento. Parecia... muitas coisas absurdas. Como os meninos conseguiam pegar numa coisa daquelas?
Levantei um pouco a minha camiseta. Ao invés do meu quadril e das minhas estrias, estava um abdome relativamente definido. Não era nada surpreendente, mas não era feio, considerando que eu sempre fui meio magra e acumulava gordura no quadril e seios, não na barriga.
Um caminho de pelos ruivos desciam do meu umbigo até... aquele negócio feio. Contudo, não podia mais ficar analisando, eu precisava urinar.
Como os homens faziam aquilo? Eu só tinha uma irmã mais velha, meu pai sempre fora reservado por ser o único homem da casa.
Então eu peguei. Era a primeira vez que eu pegava em um pênis na minha vida. Era... estranho. Quando eu estava dando uns amassos com Benjy no começo do ano, eu rocei nele, por cima da calça. Mas aquilo era uma experiência totalmente diferente.
Tudo se tornou ainda mais nojento depois que eu finalmente descobri o que eu precisava fazer para urinar. E eu percebi algo que nunca havia pensado na vida: era difícil mirar dentro da privada. No meio do ato, ele ficou descontrolado e molhou tudo o que não era para molhar. Da próxima vez eu não iria inventar moda e ficaria sentada.
Depois de um tempo, ele começou a ficar um pouco simpático. Ao menos eu me senti aliviada. Coloquei a calça de volta. Não sabia se estaria preparada para fazer aquilo novamente. Limpei toda a sujeira que fiz, e quando fui lavar a mão, o espelho refletiu o meu rosto masculino. Pela barba de Merlim.
Tinha cinco escovas de dente dentro do armário do banheiro. Alguns
desodorantes, poções para cabelo e perfumes, todos masculinos. Tinha uma caixa de preservativos, com vários tamanhos.
Lavei o rosto e repeti algumas frases olhando para o reflexo. A mesma voz grave falava.
— É só um sonho, você não é um garoto.
Mas o meu reflexo no espelho dizia o contrário.
Enfim tive tempo o suficiente para analisar as coisas. Eu estava mesmo no corpo de um adolescente de 16 anos. Era um garoto apresentável, ruivo e com uma voz bem profunda.
Eu já não acreditava que haviam sido os garotos que fizeram aquilo: fora aquele livro que eu havia lido na madrugada anterior, só poderia ser. E eu tinha que encontrar uma forma de desfazer o feitiço.
Queria voltar a ser garota.
A cama a qual eu acordara era bem parecida com a minha cama no dormitório feminino, personalizado com alguns dos meus atores favoritos e citações que eu gostava. Coloquei o braço embaixo do travesseiro e, de lá, tirei a minha varinha. Ao menos a minha varinha estava ali.
Embaixo tinha uma bolsa, com as L. Evans na alça. Pertencia a mim, Lily.
Abri a bolsa e notei a minha organização. Parecia ser tudo meu, mas eram roupas diferentes. Todas eram masculinas, camisas xadrez e cuecas ao invés das minhas calcinhas e sutiãs. Como se tudo ao meu redor girasse em torno do fato de eu ser mesmo um garoto.
Uma caixa me chamou atenção. Era a minha caixa da lembrança, fechada com um feitiço.
— Abro o fecho, eu não pereço. — Falei, mexendo a varinha. Logo a caixa se abriu e revelou tudo o que eu costumava guardar como recordações de todos aqueles anos.
Um relógio que eu sabia que pertencia ao meu avô ocupava o lugar que deveria estar o colar que minha avó me presenteou. Uma gravata no lugar de brincos. Cartas que estavam todas endereçadas a "Liam Evans". Mas o que me chamou mais atenção foram as fotos.
Existiam algumas delas, trouxas ou as que se moviam. A primeira era exatamente igual uma foto que eu tinha guardado, antes de eu entrar em Hogwarts. Era um garotinho ruivo e Severus Snape no parquinho que ficava perto de casa e, ao fundo, estava Petúnia com uma expressão desconfiada. Na minha foto original, o garotinho ruivo era substituído por mim, usando vestido florido e cabelo acaju.
Continuei vendo as fotos. Em várias delas o garotinho ruivo estava junto com James, Sirius, Remus e Peter quando eram mais novos. Mas eles foram crescendo e as fotos foram mudando. O garoto sendo abraçado por James, que estavam cobertos de bolo em um aniversário. O garoto ao lado do professor Slughorn. Com os meus pais, sorrindo em Nova York, a mesma viagem que eu havia feito alguns anos atrás. O garoto foi crescendo, até se tornar um adolescente carismático. Todo mundo nas fotos parecia adorar a presença dele.
A última foto parecia mais recente, ele estava abraçado a Emmeline Vance, com as mãos na cintura dela e dando—lhe um beijo na bochecha. Ela sorria, apaixonada.
Era como assistir a mim mesma, uma vida inteira, mas na versão masculina. Como se todo aquele tempo eu fosse um garoto, que sempre teve algo entre as pernas e cativava as pessoas. Não apenas aquilo, mas também eramelhor amigo dos outros meninos da Grifinória e, como se não bastasse, ainda namorava Emmeline.
Era o corpo de Liam Evans, como se Lily nunca tivesse existido. Como se eu não existisse. Ou melhor, eu fosse Liam Evans.
Eu estava com vontade de vomitar.
Eu não podia ficar o dia inteiro no quarto. Enfim eu sabia porque todo mundo imaginava que eu era Liam Evans e precisava por fim naquilo para voltar a ser Lily.
Eu, ou melhor, Liam, deixava o uniforme em frente a cama. Então eu o vesti, sem querer olhar muito tempo para aquele corpo. Coloquei a blusa social, os sapatos e passei a mão no cabelo para deixá-lo apresentável. Era quase horário do almoço, por isso várias pessoas estavam passando pelos corredores até o Salão Principal.
Alguns alunos me cumprimentaram — cumprimentaram Liam — no caminho e eu tentei ser educada e não ignorar todos eles. Nenhum achou estranho o fato de eu ser um garoto. Era normal para eles.
Quando eu cheguei na biblioteca, foi em tempo recorde, pois minhas novas — e temporárias — pernas eram longas e davam passos muito mais largos. Eu fui diretamente para onde Madame Pince organizava alguns livros.
— Madame Pince.
— Senhor Evans.
As pessoas continuavam a me chamar de senhor. Queria corrigi-las e dizer que era uma mulher, uma senhorita. Mas eu tinha certeza que não iria combinar com a minha voz grave.
— Madame, eu preciso de um livro. É urgente. Ele tem a capa vermelha, título em dourado. Escrito por Hollen Hodwart.
Ela me analisou, logo um pergaminho apareceu na sua frente. Ela pegou a pena flutuante e escreveu "Hollen Hodwart". Mas diferente do que eu esperava, não apareceu nada no resto do pergaminho. Comecei a suar frio.
— Não temos este livro aqui na biblioteca de Hogwarts, desculpe.
— Como não? Precisa ter, tem algum erro aí. — Madame Pince pareceu ofendida. Por que mulheres agiam como se a gente estivesse atacando-as?
Pelos cabelos sedosos de Morgana, eu já estava começando a me colocar como homem.
— Se não tem nos arquivos, não tem em nenhum lugar das nossas prateleiras. Tenha uma boa tarde, senhor Evans.
Eu saí da biblioteca, frustrada e aflita. Se não era um livro que Marlene tinha pego na biblioteca, onde ela o havia arrumado?
Não poderia ficar assim para sempre. Era ridículo. Sempre gostei de ser uma garota. Eu nem ao menos pedi por aquilo. Nem consegui completar meus pensamentos, pois logo um garoto estava andando em minha direção. E não era qualquer garoto, mas um com cabelo bagunçado, óculos torto, sorriso malicioso e o uniforme todo amarrotado. Meu primeiro reflexo foi fazer careta e fingir que não era uma dessas garotas que suspira por ele, apenas por James Potter ser muito... charmoso.
— Liam, meu homem.
Ele colocou o braço em volta dos meus ombros, deixando-nos incrivelmente próximos. O mais próximo que um dia eu já havia estado do Potter... Ou não. Mas aquele incidente do mês passado não significou nada. Não é como se eu ficasse remoendo o acontecimento desde então, é claro que não. Pela barba de Merlin, era apenas o Potter.
— Você não precisa explicar a sua crise essa manhã, nem o fato inédito de você ter matado aula. Mas, definitivamente, eu não deixarei você sair por aí com esse cabelo.
Ele começou a bagunçar a minha cabeça, quase escalando em cima de mim enquanto esfregava a mão no meu cabelo. Eu tinha o penteado todo para o lado e não sabia qual era o problema com isso.
— Não fique muito próximo, Potter. — Resmunguei e tentei me afastar. Mas ele continuava me abraçando como se fossemos íntimos.
Ele riu, achando muita graça na minha fala.
— Certo. Eu estou resolvendo as coisas para a nossa reunião social. Peter está responsável pela comida, Sirius com as bebidas, Remus irá ficar com a música, e você com os convites. — Ele começou a falar enquanto estava me guiando para o Salão Principal. — Pode contar com a ajuda da Emme. Mas não convide os chatos. Não os quero.
Entramos no salão e sentamos na mesa da Grifinória. Quando tentei me encaixar no banco acabei por bater a perna na mesa. Não era um corpo com o qual eu estivesse acostumada.
Não percebi o quanto estava com fome até ver aquela comida. Minha barriga roncou e eu me vi devorando um prato atrás do outro. James continuava a conversar comigo, e eu soltava alguns grunhidos em confirmação para fingir que estava prestando atenção. Depois ele parou e começou a comer também.
Era difícil fazer duas coisas ao mesmo tempo preso no corpo de um homem. Agora eu entendia aquilo.
Emmeline estava me lançando olhares o almoço inteiro. Ela mal tocava em sua comida e eu já estava em meu terceiro prato. Fiquei surpresa por estar com tanta fome e por comer tanto. Eu nunca aguentava muita comida e já me sentia estufada. Mas agora, parecia haver um buraco no meu estômago me incentivando a comer cada vez mais.
Quando o garoto que estava ao meu lado saiu da mesa, Emmeline tomou o seu lugar.
— Liam, precisamos conversar. — Engoli o que estava na minha boca e tomei um pouco de suco de abóbora para ajudar a descer.
Eu meio que já imaginava o que ela queria conversar. Não sei se estava prepara para ter uma discussão de relacionamento com a minha melhor amiga. Principalmente após ela ter me beijado.
— O que foi?
— Eu estou preocupada. Hoje de manhã você me empurrou, saiu correndo como se eu estivesse com uma doença. Você não foi às aulas. O que aconteceu com você?
Que resposta eu daria a ela? "Ah, sei lá, Em, ontem eu tinha um par de peitos e uma vagina, agora eu sou um garoto com pênis. E todo mundo me trata como se eu sempre tivesse um garoto, mas não é assim como eu me sinto".
— Passei meio mal. — Eu já era quase um homem completo, com pacote de mentiras e enrolação. Senti que devia satisfação a Emme. Ela não era apenas a minha melhor amiga, mas também namorada do Liam. — Desculpa por hoje de manhã.
Ela sorriu, carinhosa, como se compreendesse todos os meus problemas do mundo.
— Tudo bem. Espero que melhore, amor. — Ela foi tentar me beijar de novo, mas eu virei a cara e ofereci minha bochecha.
Ela saiu e quando me voltei a mesa, James estava me olhando com um olhar de deboche.
— Espero que melhore, coleira. — Ele fez uma má imitação da voz da Emme e fez alguns gestos como se tivesse uma coleira o prendendo.
Eu senti vontade de mandar ele para aquele lugar, mas também senti vontade de rir. Não apenas dele, mas de toda situação. Era tudo muito ridículo.
Fui para as aulas, tinha Runas Antigas e Herbologia aquela tarde. Mesmo sendo um homem, precisava estudar. Parecia que nada havia mudado, até meu horário continuava o mesmo. O professor retomou o assunto da última aula e continuou falando sobre a matéria.
Aparentemente, era normal eu sentar com James. Ficamos juntos todas as aulas. Não era a minha preferência, mas eu não podia simplesmente dispensá-lo. Ele parecia familiar comigo, fazia comentários impertinentes e voltava a desenhar no pergaminho coisas relacionadas a quadribol.
Durante a aula de Runas Antigas, porém, eu senti um algo queimando nas minhas costas. Virei-me e vi que Severus Snape tinha desviado o olhar. Desde que nós havíamos brigado, no fim do quinto ano, ele fazia aquilo com frequência. Pelo o que parecia, Liam também fora amigo de Sev e teve uma decepção.
Eu acabei derrubando o tinteiro no meio da aula, porque meus braços longos não haviam se acostumado com o espaço. Na verdade, eu não havia me acostumado com nada. Queria cruzar as pernas, mas quando eu fazia, apertava aquilo que eu tinha na virilha. Também era difícil de não ocupar todo espaço da cadeira com minhas pernas enormes.
Mas a minha maior tristeza do dia foi quando fui arrumar meu cabelo, e não havia nenhum cabelo para arrumar.
Eu não via a hora de todo esse pesadelo acabar. Eu queria que o dia terminasse logo.
No intervalo, antes do jantar ser servido, eu estava em uma das saídas para os terrenos de Hogwarts, apoiado na pilastra e sentindo o vento bater contra meu rosto.
Um grupo de garotas do terceiro ano se aglomeravam mais na frente. Uma delas me fitou por um longo período. Olhei para ela de volta, inconsciente, como se meu corpo estivesse acostumado a isso, e soltei um sorriso.
A garota ficou vermelha e abaixou a cabeça de volta a conversar com suas amigas. Ninguém nunca ficou vermelho por causa do meu sorriso. Mas eu gostei da sensação de causar aquele tipo de reação nas pessoas.
Queria pular do jantar, para não precisar interagir com os garotos ou encontrar Emmeline. Acabei por ir à biblioteca. Fiquei tentando procurar o livro que transformou meu dia em um caos, mas não encontrei nada parecido. Então, fiquei passando os olhos pelos títulos, a procura de alguma coisa que fale sobre encantamento e mudança de gênero. Novamente, nada.
Fiquei por horas nas prateleiras da biblioteca, não notei o tempo passar tão rápido. Voltei para o dormitório e deitei na cama. Estava tão exausto, cansado mentalmente por estar no corpo que não me pertencia. Pensei muito. Lá no fundo, eu tinha esperanças de que tudo voltaria a ser como era antes quando eu acordasse no próximo dia. Mas outra parte de mim ficava pensando que eu teria que viver o resto da minha vida como Liam Evans.
Peguei novamente minha mala e cacei pelas cartas. A maioria delas eram das férias passadas.
"Querido Liam,
Como está sendo suas férias? As minhas estão boas e ruins.
Boas, pois a viagem à Itália está sendo demais. Eu estou me divertindo muito, principalmente quando começo a andar no centro trouxa. Existem tantas igrejas! Estava tentando procurar uma daquelas cabines que a gente pode falar com outra pessoa que está distante apenas pela magia da voz, mas quase não sobra tempo (tanto que estou escrevendo essa carta enquanto estou sentada em um banco e meus pais estão pagando para um artista de rua fazer uma caricatura deles). Estou comendo tanta massa que chegarei rolando na estação de trem. Nós fomos àquela torre torta, foi demais! Eles acreditam que a Torre de Pisa é inclinada por causa do peso, mal sabem que a torre foi atingida por um feitiço na Guerra Civil Bruxa!
Ruins pois estou morrendo de saudades. É muito injusto eu precisar viajar justamente quando conseguimos nos resolver. Estou sentindo falta de conversar sobre o futuro, ouvir você explicando História da Magia, beijar as sardas que você tem no ombro — eu sei que quando ler isso, você irá ficar vermelho, tenho saudades de fazer você corar também. Quero voltar para o Reino Unido e voar até a sua janela para abraçá-lo.
Não vejo a hora de nos encontrarmos!
Ti amo, il mio Romeo.
Da sua Julieta,
Emmeline."
Senti minhas bochechas ficarem um pouco vermelhas. Eu não iria me acostumar com aquelas declarações de amor da minha melhor amiga. Sentia como se estivesse violando a privacidade dela e de Liam.
Eu não era Liam, não sentia como se fosse. Eu era Lily Evans, apenas Lily.
Fiquei ali deitada, sentindo meu coração bater rápido contra meu peito. Eu estava ansiosa demais. Era muita coisa para absorver em apenas um dia.
Ouvi os garotos entrando no dormitório. Eles conversavam alto, balbuciando comentários impertinentes. Eu não estava afim de lidar com eles, na verdade. Eu não queria ficar perto de nenhum deles, eu queria minhas amigas. Eu queria que Marlene me abraçasse enquanto Emmeline segurava minha mão, elas diriam que era tudo ficaria bem.
Escondi-me embaixo do cobertor, desligando-me da conversa deles a respeito de alguma coisa que iria acontecer na próxima semana. Eu não precisava saber, em pouco tempo eu já voltaria a ser uma garota.
Virei o corpo e acabei batendo a cabeça na parte de madeira da cama. Fiz careta de dor e acabei olhando para cima para ver o estrago. Surpreendi-me, porém, ao ver a cabeceira. Na lateral dela estava escrito com algum tipo de lâmina.
"Zingibear - The Marauders".
Reconheci aquele nome, mas não me recordava de onde.
A minha cama afundou quando senti alguém sentando nela. Estava pronta para expulsar o peso quando vi que era James, e ele estava sério demais.
— Ei, ruivo. — Resmunguei alguma coisa de volta, não querendo bater papo com ele. — Você pode estar doente ou estranho. Mas, qualquer coisa, você sabe que pode contar com a gente. — Ele deu um sorriso afetuoso. — Não quero te ver mal, cara. Melhoras.
James bagunçou meu cabelo e saiu para se juntar ao resto dos meninos, deixando-me atônita. Eu não estava esperando por aquilo, por aquela genuína preocupação. Era claro que Potter não se importava comigo, mas se importava com o suposto melhor amigo Liam. Ele realmente achava que éramos parceiros.
Meu rosto ficou mais corado do que quando pensei na carta de Emmeline.
Fechei os olhos, sabendo que não seria fácil dormir, principalmente com o ronco de Sirius Black.
E ai? Gostaram? Não se esqueçam de comentar e me falar o que vocês acharam da fanfic. Capítulos serão sempre longos assim, já que eu não quero me demorar muito.
Lily aka Liam terá que viver muitas aventuras entre os marotos e com Emmeline. Estou muito ansiosa para continuar escrevendo essa fanfic.
Obrigada novamente a Miller, que betou para mim.
