Harry não me pertence, é tudo da JK, só uso para me divertir. Atenção! Fanfic com temática slash (gay), não gosta, não leia.
Olá, pessoas!
Estou terminando Recomeços esse fim de semana, se Merlin quiser e meu tempo permitir. Essa é a nova fic dos meus meninos bonitos!
Boa leitura.
Se Draco Malfoy aprendeu alguma coisa na guerra, foi a observar a seu redor e a ler as pessoas. Seu falecido padrinho estaria orgulhoso dele, pensou, com uma mistura de carinho e raiva. Já o tinha perdoado pelas mentiras e jogos, já que isso tinha ajudado a derrubar Voldemort, mas achava que isso era porque ele estava morto. Se tivesse sobrevivido, Severus teria que lidar com seu ressentimento e suas malcriações por um bom tempo antes que o perdoasse. Isso é, se realmente o tivesse amado o suficiente para tentar a reconciliação, às vezes, ele duvidava disso. Quando soube o real papel que seu padrinho durante anos, logo depois da guerra, não perdia uma oportunidade de insultá-lo, mas foi Potter quem terminou com isso ao jogá-lo contra uma parede do Ministério antes de seu julgamento ao ouvi-lo chamar Severus de traidor. O moreno o segurou pelo colarinho e disse com uma grande dose de desprezo e amargura que foram as recordações de Severus que o fizeram ajudar a salvar sua "bunda branca" de ir parar em Azkaban. Claramente, o poder e o prestígio não deram algo de classe ao quatro olhos. Enquanto refletia sobre o assunto, não tirou os olhos do outro mago que estava no cemitério aquela noite, a ovelha negra da família ruiva, aquele que não era como os demais: Percy Weasley.
- Parece que não sou o único que vem visitar a noite, Severus. - Draco murmurou para o vento, sem tirar os olhos da figura triste.
Era um fato estranho. Já tinham se passado dois anos desde a batalha, o segundo aniversário da batalha tinha sido vinte dias atrás, claro que Draco nunca se deixaria ver nas ruas da Inglaterra nessas datas, menos ainda no cemitério onde estavam enterradas as vítimas da guerra, na qual ele atuou no lado perdedor. Para ele, estavam reservadas as sombras da noite, com os fantasmas tristes que habitavam cemitérios e o vento frio que tornava tudo ainda mais lúgubre. Mas, um Weasley não deveria precisar se esgueirar pelas sombras noturnas. Podia vir a luz do dia e honrar seus mortos, seu irmão, no caso. Draco sabia que era no túmulo de um dos gêmeos que o ruivo chorava com soluços mal contidos, ver alguém tão exposto fez com que Draco se sentisse um intruso. O loiro deu uma última olhada para a lápide do padrinho, onde repousavam os lírios que tinha comprado para ele, só porque sabia que Severus teria um ataque de nervos pelo sentimentalismo. Draco pensava que era bom provocá-lo mesmo depois de morto, deu um sorriso malicioso para a imagem mental da careta do padrinho e se despediu. Já tinha se afastado cinco passos para dar privacidade ao ruivo quando ouviu vozes alteradas. Por acaso tinham organizado uma festa no cemitério sem avisar ninguém?
- Vamos, George! Você está bêbado, deixe o Percy em paz! - O loiro reconheceu a voz do seu Weasley, não, disse a si mesmo, do Weasley do Potter, porque a primeira opção soava horrível.
- Ele não tem o direito de estar aqui, Fred está morto por culpa dele! Foi ele quem o matou! Me solte, Ronald!
Draco não precisava ser um gênio para saber que aquilo não ia terminar bem, seu instinto lhe dizia para sair rapidamente dali, mas se lembrou como Percy Weasley foi o único no Ministério, além de Potter, que o olhou como se fosse humano e não lixo, enquanto esteve preso lá antes de seu julgamento. Foi esse homem que o presenteou com livros e o deixou tomar banho, coisas mínimas, mas que impediram que enlouquecesse. Foi por isso, e não por algum impulso bondoso ou por se lembrar de como suspirou pelo ruivo naquelas celas que Draco girou sobre os calcanhares e foi até o homem mais velho. Revirou os olhos quando se deu conta de quão descuidado Percy era ao poder se aproximar totalmente antes que ele sequer o olhasse com aqueles orbes azuis enormes e inchados.
- Senhor Malfoy, mas o que...
- Sinto muito, mas temos que sair daqui. Seu irmão está vindo e não acho que esteja feliz com sua presença.
Percy seguiu o olhar de Draco e viu como George vinha até eles depois de jogar Ron no chão. Pela maneira que o gêmeo caminhava tropegamente, devia estar totalmente bêbado e trazia a varinha numa das mãos.
- Saia de perto dele, traidor! Você não merece chegar perto nem do túmulo dele! - George gritou, caminhando com dificuldade até eles.
- Vamos, te levo até sua casa, você não tem condições de aparatar sozinho. - Draco disse, e agarrou o braço do ruivo, desaparecendo-os para uma rua escura perto do Beco Diagonal.
O loiro ficou parado por alguns momentos. Percy o estava segurando pelos braços, claramente se apoiando para não cair.
- Sinto muito pelo local, mas não sei onde você mora. - Draco disse, olhando para a rua. Não gostaria de ser surpreendido pelo gêmeo Weasley restante bêbado e irritado. - Acho que deveria ir para casa e aumentar as proteções, só por precaução.
O loiro soube que o homem agarrado a ele não estava bem porque nem se soltou, nem se moveu por um longo minuto. Ficou ali, parado, com os olhos azuis brilhantes de lágrimas, e mesmo com a pouca luz no local, Draco podia ver que estava muito afetado pela cena no cemitério.
- Ele me odeia. - Disse finalmente, mas era como se refletisse para si mesmo. - Ia me atacar novamente, até colocou feitiços de monitoramento no túmulo de Fred. Não é justo, os deixei em paz quando foram todos ali, por que não deveria hoje?
- Escuta, Weas... Percy. Por que não vamos até a minha casa tomar alguma coisa? - Draco propôs. Aquele olha vazio era algo que conhecia bem, não era bom ficar sozinho naquele estado de ânimo.
- Eu não...
- Por favor, não foi um bom dia pra mim, nunca é quando vou ver meu padrinho. - Draco disse, mentindo sem um pingo de vergonha. Claro que tinha saudades e sentimentos desencontrados sobre Severus, mas nada parecido com o que via nas feições do ruivo. – Meus pais não estão, foram viajar por causa das datas comemorativas, ainda são perigosas pra gente.
Percy assentiu e Draco passou o braço por sua cintura, aparecendo diretamente em Malfoy Manor, mas não no salão, e sim nas cozinhas. Quase ninguém conhecia aquela parte da mansão, e isso incluía seus pais. Os elfos já não estavam trabalhando ali, mas ao sentir seu mestre chegar, Mink apareceu.
- O senhorito precisa de alguma coisa? - Ela perguntou com sua voz esganiçada. Mink era a elfina mais velha da casa, a que cozinhava e mandava em todos os outros. - O senhorito trouxe uma vista para as cozinhas. - Ela disse, escandalizada ao ver Percy ali, e já puxando as orelhas. - A senhora ficará muito brava.
- Por isso não vai dizer nada pra ela, é uma ordem. Vamos, é só um amigo. Só vou fazer uma chá. - Draco disse.
- Um amigo? - Ela perguntou, emocionada por ele, fazendo-o revirar os olhos. - O senhorito deixa a Mink fazer o chá?
- Não, vou fazer eu mesmo. Você vá dormir, é uma ordem. - Draco disse, com firmeza.
A elfina reclamou um pouco, mas desapareceu, fazendo-o sorrir. Como o bom anfitrião que era, indicou uma cadeira para Weasley, e depois que o ruivo se sentou, ainda em silêncio, se pôs a trabalhar no chá, colocando a chaleira no fogo que acendeu com um passe de varinha.
- Você sabe fazer chá? - Foi a primeira coisa que o ruivo disse, com uma voz sumida.
- Posso te fazer um banquete de dez pratos, se é o que te apetece no momento. - Draco disse, sorrindo. - Estudo gastronomia na França.
- Eu sei fazer macarrão. - Percy disse, com sarcasmo.
- Já é um bom começo. - Draco disse, pegando a mistura especial de sua mãe e preparando a infusão com calma, quando terminou, estendeu a xícara para Percy, colocando na frente do ruivo o açúcar e o limão.
- Obrigado. - Percy disse. - Por que me ajudou hoje?
- Por que você me ajudou no Ministério? - Draco devolveu a pergunta, se sentando. - Era um comensal e tinha perdido seu irmão na guerra.
- Mas aquilo não foi ajuda. - Percy disse, espantado. - Só levei uns livros... qualquer um faria o mesmo. Você era só um garoto assustado.
Draco sorriu.
- Te garanto que ninguém pensou em mim como um garoto assustado além de você e os meus pais. - Comentou.
O ruivo o olhou com atenção pela primeira vez na noite.
- Agora já está parecendo mais velho, está mais vistoso.
- Nada como ficar livre de acusações criminais e ir para a França para curar uns anos de merda. - Draco respondeu. - Ainda que, se está elogiando meu leve bronzeado, é porque estive na Itália trabalhando um mês em um restaurante ali. Tenho um amigo que me obrigou a ficar com ele na piscina cada minuto livre que tive, não que um aprendiz tenha muito tempo livre em qualquer restaurante do mundo.
Percy assentiu, mais por educação que por conhecimento.
- Os chefs são uns insensíveis sem coração, todos eles. - Draco continuou. - É um requisito.
- Então, você quer ser um cozinheiro. - O ruivo afirmou. Eleição interessante para o herdeiro Malfoy.
Draco soltou uma exclamação de horror e indignação, fazendo Percy sorrir.
- Cozinheiro, Weasley? Cozinheiro? Serei um grande chef, coisa muito diferente. - Draco esclareceu, para que não restasse dúvida. - Qualquer um pode cozinhar, mas o que vou fazer é mais que isso. Minhas criações farão que a parte mágica da Inglaterra volte a ter um restaurante digno de estrelas Circe, você vai ver.
Percy assentiu, confiando nele para fazer o que queria.
- Confio que fará muito bem, cozinhar e fazer poções são coisas muito parecidas. Soube que herdou os livros de seu padrinho, além dos talentos nesse campo.
Draco assentiu, rigidamente. Era verdade que tinha herdado tudo que foi de Severus, mas não tinha mexido em nada que estava em Spinner's End ou em seus quartos de Hogwarts, ainda intactos. Sabia que tinha que lidar com isso, tinha vários livros, diários e poções que eram um patrimônio intelectual impossível de avaliar em dinheiro, só que ainda não estava seguro que podia mexer nessas coisas sem atear fogo em parte do inventário ao ter alguma crise de raiva e ciúme. Era uma besteira, mas ele sentia que seu padrinho tinha escolhido Potter em vez dele, e pior, tinha morrido para ajudar o cara rachada, deixando-o para sempre.
- Não abri a casa ainda, mas herdei tudo, sim. - Disse.
- Os livros tem que ser cuidados, a casa tem feitiços, mas é trouxa. - Percy afirmou, com a mesma severidade que usava para patrulhar os corredores de Hogwarts. - Esses lugares tem todo tipo de infestação... por Merlin! Podem ter insetos comendo as receitas do maior pocionista do nosso país.
- Ouch! Você ainda pode dar sermões como McGonagall. - Draco provocou, mas com uma pontada de culpa. - Ela ensina isso a todos os prefeitos?
- Diretora McGonagall. - Percy corrigiu, ainda que com um pequeno sorriso malicioso. - E aprendi o tom pelo tempo que passei no gabinete dela.
- Perfeito Percy no gabinete de sua chefe de casa? Só para tomar um chá, com certeza. - Draco brincou, e teve vontade de se chutar quando o sorriso sumiu do rosto do outro.
- Não sou perfeito. - Percy afirmou, com voz apagada. - Minha família me odeia, não tenho emprego e matei meu irmão.
- A guerra o matou, o comensal o matou. - Draco conhecia a história.
- Se eu não o tivesse distraído...
Draco suspirou.
- Se eu não tivesse deixado os comensais entrarem na escola, talvez nada disso tivesse acontecido. Sou mais culpado que você.
Percy negou com a cabeça.
- Você não entende.
- Não, eu não. Nunca tive irmãos, só meus pais. - Draco disse. - Mas sei com é sentir culpa por algo que está fora do seu controle, é horrível. Você tem que superar ou isso te mata de dentro para fora.
- Acaba de falar como um velho me rogando uma praga. - Foi a resposta amarga do ruivo.
- Sou velho, as serpentes já nascemos assim. - Draco replicou, se inclinando para ficar mais perto de Percy. - Não somos como os leões, que são tão fofos e ternos por muito tempo.
- Eu não sou fofo ou terno! - O mais velho protestou, indignado.
- Sim, você é. - Draco provocou novamente. Gostava de vê-lo com as bochechas um pouco infladas, os lábios apertados de indignação... sim, definitivamente gostava de fazer Percy Weasley reagir a ele. Se era sincero consigo mesmo, tinha um fraco pelo ruivo há algum tempo. Seu pai teria um ataque... de riso. O velho adoraria que o Weasley desgarrado se tornasse seu genro, ia esfregar isso na cara de Arthur por anos. - Um terno leãozinho de coração nobre e olhos de menino.
- Você é muito atrevido, seus pais deveriam ter te dado umas palmadas para acabar com essa atitude. - Percy disse, brincando e tomando mais um gole de seu chá, incapaz de se irritar com as provocações amigáveis de seu anfitrião. Não era um idiota, sabia que estava fazendo tudo aquilo para animá-lo.
Draco riu.
- Isso é uma coisa que escuto há anos. - Respondeu, interessado em explorar mais sua atração pelo ruivo, mas não seria idiota de tentar alguma coisa numa noite como aquela. Seria de mau gosto e cruel, o homem claramente precisava se refazer da carga emocional pela qual passou.
- Você é um bom rapaz, obrigado por me fazer o chá. - Percy agradeceu, terminando sua bebida.
- Isso não me dizem quase nunca. - Draco completou, mordendo a língua para não dizer que ele gostava de bons rapazes com carinha inocente como Percy, não que ele era um.
O ruivo deixou a xícara na mesa e se levantou.
- Obrigado por cuidar de mim, sinto muito pelos problemas. - Disse, visivelmente envergonhado. - Normalmente não sou tão emocional, eu sinto muito.
Draco se levantou também e fez uma cara mal humorada.
- Não me agradeça por isso, Weasley. Eu te disse, você me ajudou antes e naquela época eu merece que cuspisse na minha cara. Não sei como é pra vocês, mas entre as serpentes, isso é importante. É como se você fosse parte do meu círculo, sempre cuidamos uns dos outros.
- Acho que já faz um tempo que não pertenço a lugar nenhum. - Percy refletiu, amargo.
- Besteira. - Draco disse, estendendo a mão. - Não é muito, na verdade, vou terminar manchando sua reputação se aceitar, mas... podemos ser amigos?
Percy apertou sua mão com um sorriso.
- Sim, Draco Malfoy, acho que podemos ser amigos.
- Que ruim para você, porque sempre exploro meus amigos. - O loiro disse, sorrindo. - O que acha de cuidar do inventário de Severus?
Percy revirou os olhos.
- Deixe de fazer piadas, já é muito tarde. Preciso ir.
Draco teve vontade de pedir que ele ficasse, sabia como eram horríveis noites cheias de culpa e tristeza, mas era algo necessário. Noites de luto fortaleciam uma pessoa.
- Te entendo, vem comigo, te mostro a lareira. - Disse.
Depois que o ruivo saiu, Draco foi dormir. Não podia acreditar no fim que sua noite tinha tido, havia saído para visitar o túmulo do padrinho e ganhou uma chance com Weasley. Talvez Severus fosse um velho sentimental e gostou dos malditos lírios, e por isso o estivesse ajudando do outro lado. Se era assim, estava feliz que finalmente tivessem feitos as pazes, ia até cuidar de sua herança... esperava que pudesse fazer coisas mais interessantes que Severus em Spinner's End, sedução no meio de livros poeirentos parecia muito interessante.
E foi isso, nos lemos por ai.
