N/A: 1-Essa fic é um presente para Srta. Abracadabra.

2- Essa fic é insana e contém cenas fortes. Se você procura algo fluffy e bonitinho, sugiro que mude de página.

3- Todos os títulos dos 'mini-capítulos' estão em latim e logo embaixo deles há a tradução. Vale lembrar que eu não sei latim e peguei todas as informações de um site, então me desculpem qualquer erro.

4- Que eu me lembre, é só.


A vero domino

A limine.

Você não sabe onde está.

Você não sabe, mas seja lá onde for esse lugar te desagrada, porque as paredes são brancas brancas brancas e você não gosta de branco. E no último lugar onde você estava, as paredes eram azuis azuis azuis e no lugar antes dele, eram cinzas cinzas cinzas. E quando aquelas pessoas vêm te visitar, aquelas pessoas que também se vestem de branco branco branco (quanto mal gosto o delas, será que elas não sabem que branco é uma cor feia?), você reclama. Mas então elas te dizem que todos os outros quartos são iguais e você não sabe o que são esses tais de quartos, mas você entende que nenhum lugar tem paredes cor de âmbar.

- mas âmbar não é cor –

- âmbar é uma pedra

Olhos de jóia.

(Desde o começo)


A radice.

Começa com um toque.

Você não lembra quando e nem por quê, mas você lembra que começou com um toque porque quando dorme, você ainda é capaz de senti-lo. Primeiro o toque, depois os sons e então os olhos.

Você sente raiva.

Você tenta se concentrar e tenta achar os detalhes, mas a única coisa que você lembra é de alguém. E você não tem certeza, mas você acha que odeia essa alguém, e se você fecha os olhos com muita força e faz bastante esforço você vê um vulto. E é o vulto, você não sabe explicar o porque mas você sabe que é, e o vulto te assusta e te dá ódio e te fascina, mas você não consegue dizer se é um monstro ou uma menina.

- o âmbar o âmbar o âmbar -

(Da raiz)


A latere.

Às vezes eles aparecem.

Eles vêm por várias formas. Você gosta mais deles do que dos vestidos de branco porque pelo menos eles são criativos e tem outras cores. E você os chama de eles de forma irônica, porque você sabe que no fundo eles são só um que quer te confundir e por isso se disfarça de vários.

- uma garota de cabelos compridos -

- um de negro -

- um sem olho -

- um com vidro na frente dos olhos -

uma de cabeça abaixada –

- um de dentes afiados -

E eles são bem diferentes, tão diferentes que você demora a decorar cada uma das aparências. Mas você logo percebe que esse um não é muito esperto, porque eles todos tem um traço em comum.

Eles têm água. Nos olhos.

Não em quantidades iguais, porque o um não é tão burro assim. No de negro acontece raramente e ele sempre cobre a face nessas horas, assim como o sem olho. Com o do vidro é ao contrário, sempre que acontece ele tira o vidro e enxuga os olhos, e você pensa que ele quer que você veja claramente. E a de cabeça abaixada nunca o encara diretamente e você fica triste e pensa que talvez ela não vá com a sua cara, porque não há nada nos seus olhos.

Hoje, eles vêm de novo. Dois deles, dois de um.

Nesse dia, é a menina de cabelos compridos e o sem olho. Eles são sempre os que ficam mais tempo e você os acha um pouco estranhos, porque as pontas de seus lábios estão sempre apontadas para cima. E aquilo parece exigir um esforço colossal e você pensa que talvez bocas não tenham sido feitas para se alargarem assim.

Você quer saber se eles vão voltar e eles dizem que sim, e o sem olho te pergunta se você precisa de alguma coisa. E então você sorri fraco e pede alguma coisa âmbar, e a garota dos cabelos compridos cai no choro e você se pergunta se ela não gosta dessa cor.

E então eles vão, e quando você está sozinho, você repuxa os cantos da boca pra cima e aperta os olhos e pensa no um e no brancoe no âmbar e no monstro. E então você repuxa os lábios com mais força e a água finalmente escorre e você fica feliz, porque isso te faz sentir parte de algo.

(Ao lado)


A novo.

Você não gosta de dormir. Você tenta se manter acordado e com os olhos abertos durante todo o escuro, mas todas as vezes você fracassa. Você sempre dorme e você odeia dormir, porque quando você dorme, você sonha.

E quando você sonha, você lembra.

Você não gosta de sonhar.

Quando você fecha os olhos naquele quarto de paredes não-âmbar, a menina e o monstro e o gosto de doce e os olhos de jóia e o sangue o sangue o sangue se misturam e então você lembra. Você lembra, você lembra com clareza do toque, do R, do O, do A, do D e da raiva. E dos arrepios, e do repuxar dos cantos da boca que nela parecia natural e ao mesmo tempo não era.

E você lembra. Do monstro, da menina e da maneira como ela era os dois. E você lembra. Do calor e dela não ser real, porque ela não devia ser real porque é assim que os sonhos são. E você lembra. Do golpe, da menina e do monstro e do âmbar sendo manchado de vermelho. E você lembra.

Você lembra que prefere esquecer.

E desses sonhos você acorda gritando.

(Novamente)


A priori.

De vez em quando, vem um homem de branco e fala com você. Ele fala devagar e alto e pausadamente e você entende um pouco. Ele faz algumas perguntas e fica tomando notas enquanto você responde. E você percebe que ele sempre traz uma porção de folhas de papel presas num conjunto que ele chama de livro. Você pergunta se é isso que significam os símbolos na capa (porque você não os reconhece, mas sabe que eles contém A e D) e ele diz que não e explica sobre os símbolos e sobre os conjuntos deles e sobre o que significam, e você não demora a esquecer, mas você lembra que os símbolos se chamam letras e que o conjunto de todos é chamado de alfabeto.

O seu alfabeto tem quatro letras.

R de raiva. E você tem raiva, você tem raiva do vulto e da menina-monstro e do toque e até do âmbar. Você os odeia, odeia a todos por te assombrarem quando o escuro surge. O escuro tem gosto de noite, mas o escuro não é noite porque noite tem estrelas e lua e brilho e onde está você nunca vê nada parecido. E o escuro vem e eles aparecem aparecem aparecem, e você tenta evitá-los, mas você é fraco e não consegue e por isso você sente raiva.

O de obsessão. Você é obcecado pelo âmbar, porque âmbar não existe e você não o vê em parte alguma mas em algum lugar você sabe que já o viu. E você o vê quando fecha os olhos e ele aparece junto com o resto. E ele aparece nos olhos da menina-monstro, ou do monstro-menina que você chama assim para se livrar da frustração de não saber seu nome verdadeiro. E você passa o tempo todo lembrando do âmbar e dos olhos olhos olhos, olhos dos quais você não sabe o nome. E você pensa que talvez o âmbar saiba e possa te contar e essa é a sua desculpa.

A de apego. Você jamais admitiria, mas a verdade é que quando você se segura bastante e não fecha os olhos, você sente a imagem do vulto ficando mais distorcida e os tons do âmbar se misturam. E você diz para si mesmo que é melhor assim e que aquilo só te perturba, mas então você fecha os olhos em seguida, porque você não quer esquecer.

D de dor. Porque essa é a única coisa que você realmente entende.

R, D, A, O. E quando o escuro cai e você tenta não dormir, você tenta formar conjuntos com as letras mas você nunca consegue, porque você tem medo do que eles podem significar.

(Da frente pra trás)


A quo.

No início, você tentava questioná-los sobre isso. E você perguntava ao um e os vestidos de branco e ao homem que escreve, mas as respostas deles nunca eram satisfatórias, porque elas sempre vinham acompanhadas de outras perguntas e você nunca gostou delas. Perguntas tolas, perguntas como Qual é a forma desse vulto e São sonhos ou pesadelos? E até hoje você se irrita pela estupidez deles, porque, como você poderia saber?

Você não poderia e você não pode. E após pensar muito no assunto, você decide que todos são uns idiotas e que para você não há sonhos ou pesadelos, para você há o âmbar e o vermelho e o vulto o vulto o vulto. E se fosse algo além disso, você poderia acordar e esquecer, poderia sim. Mas você não pode, não não não, porque se você esquecer, você nunca entenderá. E você quer (você precisa) entender, você precisa entender o por que do âmbar não ser pedra e não ser cor e não ser nada real.

Porque quando você fecha os olhos e tenta lembrar-esquecer, âmbar é o olhar da menina-monstro, do monstro-menina, e do âmbar não sai água. Do âmbar sai vermelho. E o vermelho mancha as suas mãos.

E você abre os olhos, e esse sonho-pesadelo nunca acaba.

(De onde)


A posteriori.

Você se levanta e olha para as paredes. Brancas brancas brancas. Você sente vontade de vomitar, o que não é nada de mais porque já faz algum tempo que você sente gosto de vômito. Na boca, nos lábios, na ponta da língua. Gosto de vômito, salgado e repugnante e esverdeado esverdeado esverdeado.

E você percebe que são aquelas cores, aquela falta que te deixa com vontade vomitar, mas você não sente como se tivesse forças para isso.

E você pensa no homem vestido de branco dizendo que os quartos são todos iguais e você acha que esses quartos são algo muito triste.

E você decide que eles não valem a pena. Nenhum deles tem paredes cor de âmbar, porque cor de âmbar não existe.

E você acha que não vale a pena existir também.

(De trás pra frente)


Ad finem.

Você aperta os olhos, aperta aperta aperta até o vermelho começar a escorrer. Você passa os dedos pelos pulsos, e então passa as unhas e os dentes os dentes os dentes. Tem vermelho nas pontas deles, nas suas unhas e nos pulsos, e vermelho caiu do âmbar e agora cai de você e você se sente bem.

(Até o fim)


Ad infinitum.

Você ainda é capaz de ouvir um pouco as batidas do um na porta, mas logo elas se afastam. Você olha para as paredes brancas brancas brancas do quarto e você fica feliz porque em breve não estará mais lá, porque você está indo para os pesadelos e para os sonhos e para o âmbar e para longe. E você sorri.

Você nunca mais vai acordar.

(Até o infinito)


N/A: FINALMENTE TERMINEI ISSO, CARALHO. Gente, puta merda, que dificuldade que foi pra isso sair. Mas, afinal, foi de coração. Espero que tu goste da fic, mesmo ela ficando tão bizarra como está. Você merece. Por ter me incentivado a ler DGM, por ter betado tudo que eu já te pedi, por ter me aturado tagarelando de One Piece, enfim, por tudo. Feliz aniversário, Morg (L).

(Os créditos para a idéia de cada letra do nome da Road significar alguma coisa vão para Anne, minha salvadora, que me ajudou com a fic e betou-a mesmo sem conhecer o fandom. A propósito, A vero domino significa Pelo verdadeiro dono e, no caso, foi uma referência à completa demência do Allen e como ele foi totalmente dominado pela Road. Enfim.)

(Acho que ficou claro para todos, mas só para avisar: Sim, o Allen está completamente louco por ter matado a Road. Porque na minha visão ele a mataria, com certeza, mas não acho que poderia viver com isso.)