A pequena Narcissa acordou com a luz vinda da janela que brincava em seus olhos. Rolou pela cama e deixou-se envolver pelos lençóis negros que balançavam ao vento. Como ela adorava domingos! Nos domingos, ninguém a acordava cedo, nenhuma de suas irmãs a chamava pra brincar. Ela tinha um tempo pra si no começo da manhã e sempre vira a importância disso, mesmo tendo apenas nove anos.
Levantou-se, e correu diretamente para o grande espelho acima da penteadeira, e encarou seu reflexo. Os cabelos loiros, agora bagunçados, caíam em cascata pelos ombros, combinando com a pele alva e os olhos azuis. Mas nada lhe chamava mais atenção do que seus lábios finos e pouco rosados. Não que fossem especiais ou extremamente belos, mas pelo o que eles produziam quando se separavam e curvavam-se, quando deixavam os dentes à mostra. Sabia que, de tudo o que lhe pertencia, o seu sorriso era a única coisa que não deixaria que tirassem dela. Sabia que a felicidade dependia de si mesma e que tudo estava contido em um sorriso.
Assim, a menina passava horas em frente ao espelho, sonhando com o dia em que algum outro ser humano tivesse aquele mesmo sorriso. Ao fechar os olhos, era capaz de ver o pequeno e suas bochechas rosadas iluminadas por seu riso quase sem dentes. O fruto de um amor que ainda estava por vir, mas que viria. Perdida no turbilhão de verdades que lhe diziam todos os dias, Narcissa sabia que só havia uma em que podia confiar: a certeza de que daria todo o seu amor e dedicaria sua vida para que nunca faltasse um sorriso nos lábios de quem amava.
Anos mais tarde, ao nascer do sol de um domingo, a agora Sra. Malfoy viu o ser que sempre fora a razão de seus sonhos pela primeira vez. Ao segurar o bebê recém-chegado em seus braços, a mulher fez com que o choro do pequeno cessasse. Passou horas olhando profundamente nos miúdos olhos azuis e lembrou-se da promessa que fizera há muito tempo, em muitas manhãs como aquela. Naquele momento, Narcissa Malfoy percebeu que mostrava no rosto o maior sorriso de sua vida.
