Capítulo I

Leohnora SaintClair

O relógio tocou, parecia um som ao longe. O sol entrava palidamente pela janela, e Leohnora correu seus braços pela cabeceira até chegar ao objeto prateado que emitia o som estridente, desligando-o. Esticou os braços par fora dos lençóis, os cabelos acobreados e lisos surgiram logo em seguida emoldurando o rosto, os olhos castanhos claros amendoados, um nariz delicado e lábios voluptuosos. Esta era sua visão diante do espelho nos seus pouco mais de trinta anos. Jogou os lençóis para o lado e saiu definitivamente da cama. Vestia uma camisola verde que só vazia realçar-lhe os contornos mais sensuais a sua silhueta esguia.

Leoh caminhou até o toillet e sorriu ao ver sua imagem refletida no grande espelho. Seu sorriso era quase infantil, e dando um nó, prendeu os cabelos acima da nuca. Ligou a água e entrou no chuveiro. Ela tinha exatamente uma hora para se apresentar à diretora e tinha que admitir, nunca esteve tão nervosa em sua vida. Lembrava-se de quando entrou a primeira vez na escola, mas aquilo fazia uns vinte anos. Tanta coisa havia se passado desde então, parou de ensaboar o corpo e soltou um longo suspiro. Fora para o Ministério e trabalhara exaustivamente no departamento de aurores até Voldemort ser destruído, o que ocorrera a bem pouco tempo. Perdera um grande amigo e protetor, Albus Dumbledore, nas mãos do pior professor que tivera quando estudou lá. As imagens do homem envolto em preto voltou-lhe a cabeça como um raio, e a muito custo ela as afastou. Severus nunca fora somente um professor...

Ela saiu do banho, foi para o quarto e começou a se vestir. Leohnora ainda lembrava-se do dia em que o vira pela primeira vez, ele tinha sido recém contratado para ensinar poções e ela estava em seu sexto ano de escola. Nenhum dos alunos simpatizara com ele, mas não tinham outra saída se não aturá-lo. Leoh, depois de formada, chegou a ter algumas altercações com Dumbledore por Severus fazer parte da Ordem, e pela sua extrema confiança nele. Enquanto colocava as vestes azul celeste, continuou a pensar. Queria ter podido atuar mais ao lado da Ordem na época do confronto, mas o Ministério estava em polvorosa. Rufus Scrimgeour precisava dela lá e não abriu mão de que Leoh ficasse á frente do departamento naquela ocasião.

Colocou a capa preta por cima das vestes e saiu do quarto. Desceu as escadas que a conduziria ao primeiro andar da Mansão, rapidamente. Leohnora tinha perdido seus pais assim que Voldemort voltara havia quatro anos. Ela, mais do que ninguém, acreditou em Dumbledore quando esse afirmou que o bruxo retornara. Leoh era filha de dois bruxos de famílias, por assim dizer, tradicionais. Seus pais tinham pertencido á Sonserina e apesar disso ela havia sido mandada para a Corvinal. John e Louise SaintClair nunca partilharam dos ideais de Lord Voldemort, quando Leoh ingressou no Departamento de Aurores do Ministério deram todo o apoio dado à filha e receberam muitas críticas de outras famílias por isso. Os Malfoy, foram uns do que mais lamentaram tal posição dos SaintClair. Leohnora deveria se casar com Lucius e aquilo se tornou um empecilho, quase um abismo, entre as duas antigas famílias. Leoh por outro lado, havia gostado que isso acontecesse. Não suportava Malfoy e suas investidas cavalheirescas.

Leohnora de dirigiu até a lareira. A rede de Flu voltara a ser segura e era o meio mais rápido de chegar a Hogwarts. Acima da estrutura de pedra, localizada num dos salões da Mansão, estavam o brasão da família. Nas paredes que se estendiam a sua esquerda e a direita, podia se ver vários quadros de seus ancestrais que se moviam rapidamente. Ela olhou um em especial, o dos pais, que lhe acenaram sorridentes e disseram:

- Boa sorte, filha. – As voz es chegaram ao seu ouvido, calorosas. - Vai dar certo, você vai ver! Vai se sair muito bem!

Leoh sorriu em agradecimento e agarrou um punhado de pó cinza em um pequeno pote ao lado da lareira. Entrou na estrutura de perda e atirando o pó ao chão, falou sonoramente:

- Hogwarts.

Segundo depois estava de pé em frente a uma mesa de madeira repleta de objetos e pergaminhos. As paredes do aposento a sua volta eram cheias de quadros de bruxos que se mexiam a todo instante. Havia várias estantes repletas de livros, percebeu isso com uma certa felicidade. O escritório de Dumbledore continuava exatamente igual ao que ela se lembrava. Quantas vezes fora ali falar com o diretor? Ela não se recordava. Dumbledore era uma pessoa fantástica e de uma presença marcante. Ensinara muito do que ela sabia. Seus olhos marejaram e ela os secou rapidamente. A atmosfera exalava tranqüilidade e era confortavelmente quente.

Leoh andou pelo escritório e deteve-se em frente a um quadro em particular. Nele lia-se Albus Dumbledore, mas o bruxo aparentemente não estava lá. Ela sorriu e um movimento as suas costas a fez virar bruscamente. Diante de seus olhos estava uma bruxa de cabelos grisalhos presos num coque apertado, usava óculos com lentes quadradas, tinha um aspecto severo e trajava uma capa verde esmeralda. Ela se lembrava muito bem da professora de transfiguração, e que com a morte de Dumbledore virara a diretora de Hogwarts, Minerva McGonagall. A bruxa lhe sorriu bondosamente e a abraçou. Depois indicou-lhe uma poltrona em frente a mesa de madeira.

- Leohnora - disse isso sentando na cadeira de espaldar alto atrás da mesa - Fico feliz que tenha vindo. Desculpe-me a demora, Amos veio me chamar para resolver um pequeno problema no Salão Principal. Afinal, tudo tem que estar ponto para amanhã. - E espiando-a por cima do óculos, continuou: - Posso presumir, então, que aceitou o meu convite de lecionar aqui este ano? Dumbledore ficaria tão feliz.

Uma voz conhecida soou atrás da cabeça de Leohnora antes que ela pudesse responder á professora, e ambas viraram seus rostos para a parede aonde o retrato do diretor estava. Dumbledore as fitava sorrindo atrás de seus oclinhos meia-lua, com seus olhos muito azuis e a longa barba prateada. A sua voz calma preencheu o ambiente.

Minha querida criança. Há quanto tempo não a vejo. - Ele picou os olhos - Fico feliz, como Minerva muito corretamente afirmou, que tenha vindo trabalhar conosco. Eu teria feito a mesma escolha.

Leohnora fitou os dois indo de um para outro, tentando escolher exatamente as palavras que iria usar. Ela, então, sorriu e meneando a cabeça começou a falar.

- Professor Dumbledore, Minerva... Eu receio que deva lhes colocar a par de algumas coisas que irão envolver meu trabalho aqui em Hogwarts. – disse e esperou alguma reação dos bruxos, que se limitaram a estreitarem seus olhos sobre ela para prestar mais atenção em suas palavras. - Aceito lecionar aqui, porém preciso expor os meus reais motivos para isso. Acredito que ambos sabem que teremos o julgamento de um professor pertencente a essa escola daqui a seis meses. Não vou entrar no mérito do caso em si, já que isso deva ser de conhecimento de vocês, só que fui nomeada sua auror de defesa, e apesar de todos os feitos dele na batalha contra Voldemort... - a diretora estremeceu ao ouvir aquele nome, mas Leoh não deu importância e prosseguiu: - , que foram sem dúvida irrepreensíveis, eu ainda preciso encontrar uma maneira de provar sua inocência no assassinato do professor Dumbledore. - disse isso fitando o diretor na parede. - Caso contrário, ele será expulso de Hogwarts e não há nada que poderão fazer a esse respeito.

- Eu posso não morrer de amores por Snape, Leoh, mas acredito em sua inocência! - disse Minerva severamente e pondo de pé, caminhou até o quadro do diretor. - Não me importo que trabalhe aqui e desempenhe seu papel no Ministério. Acredito que com sua ajuda possamos livrar Severus dessa acusação medonha. Tenho certeza que estando aqui ao seu lado ficará mais fácil desempenhar seu papel, mas devo avisar que ele continua taciturno como sempre.

- Minerva - disse o diretor de seu quadro – Não tenho dúvidas de que a srta. SaintClair tenha como persuadi-lo a se abrir um pouco – Encarou a jovem com seu olhar bondoso. - Sempre foi boa em desempenhar seu trabalho. Você já localizou a professora Trelawney ?

- Ainda não. - Leoh deu um longo suspiro - Receio que ela seja a peça fundamental nesse caso, mas preciso conhecer quem estou defendendo, em todos os seus aspectos. Antes e depois de ser o que foi, e obviamente de matar o senhor, diretor.

- Leohnora, gostaria que não se referisse aquele episódio desta forma. Creio que já tivemos um longa conversa sobre isso e lhe contei que Severus obedeceu a uma ordem minha. Isto está claro para todos - seu tom agora era duro - Se eu pudesse ir depor, eu o faria. Não tolero injustiças, e confio que você será imparcial. Não deixe levar pelas aparências. Tenho que admitir, que Severus se tornou mais obtuso ainda. Cético, eu diria.

- Dumbledore tem razão. Ele está cada vez mais introspectivo. - disse uma Minerva aflita - Precisamos achar Sibylla, onde será que ela se meteu? - E virando-se para o retrato, continuou: - Como você pode confiar aquela desmiolada algo tão importante, Albus?

- Minha querida. - Ele a fitou com carinho fazendo-a corar - Achei que se deixasse aos seus cuidados, pudesse lhe acontecer algo. E eu jamais me perdoaria se isso acontecesse.

- Minerva, você concorda com os termos da minha vinda para cá? - Leohnora intercedeu na cena abruptamente. Tinha que ser prática. - Tenho que aprontar minhas coisas e deixar tudo em ordem no Mistério até amanhã de manhã.

- Claro, que sim. - Ela sorriu para a mulher a sua frente - Eu a espero aqui para o almoço, quando será apresentada á seus colegas. Creio que já deva conhecer a maioria deles. Ah... Devo adverti-lhe que o cargo de professor de Defesa Contra a Arte das Trevas é, bem... Amaldiçoado. Os professores que o ocupam não duram mais que um ano, de uma forma ou de outra. Mesmo assim aceita?

- Sim – respondeu dando-lhe seu sorriso infantil - Seis meses serão suficientes. - e dizendo isso foi em direção á lareira - Estarei aqui amanhã, professora, conforme o combinado. - Pegou um punhado do pó cinza, entrou na lareira e o atirou ao chão tal qual fizera anteriormente, dizendo: - Mansão SaintClair.

Assim que Leohnora saiu do escritório, Minerva se dirigiu até o quadro do diretor. Dumbledore sorriu-lhe, mas ela começou a falar-lhe sem prestar atenção ao seu sorriso.

- Albus Dumbledore - Ela o encarou acusadoramente - Você sabia que Leohnora era responsável pela defesa de Severus, não é? Por isso me deu a idéia de convida-la para ser professora.- Meneou a cabeça reprovadoramente - Não acredito que tenha feito isso! Os dois se odeiam, Albus. Você sabe que Leoh não ficou mais tempo na Ordem por não concordar com o que Severus fazia!

- Minie - disse o diretor carinhosamente. Usando de uma intimidade que normalmente não fazia. - Leoh não é mais uma criança, e ela não só sabe, como testemunhou o que Severus fez . Ela mais do que ninguém lutou ao lado dele, mesmo não gostando de ter que fazê-lo. Creio que não tenha motivos para desconfiar dele agora, não é?- E encarou-a mais uma vez - Além do mais sua função é coletar informações e ser imparcial.

- Como você acha que ela conseguirá arrancar alguma coisa dele? - rebateu a bruxa incrédula - Severus é uma ostra. Nem você conseguiu penetrar em suas memórias. Saber o que realmente o levou a ser um comensal.

- Minha querida professora - sorriu-lhe - Tenho que admitir que não possuo todos os atributos que Leohnora dispõe ao seu favor. Já pensou que o que pode fazê-lo falar seria uma dose de feminilidade?

- O que quer dizer com isso, Albus?

- Por Merlim, Minerva - disse irritado - Acaso não notou que Leoh é linda, inteligente, jovem e, devo ressaltar, muito atraente?

- V-você acha? – balbuciou a professora que estava vermelha como um pimentão - Não vejo como isso possa mexer com Severus. Acha-a mesmo tão magnífica, Albus?

- Ora, Minie. Já passamos da idade de arroubos amorosos - deu-lhe um sorriso terno - Porém acho que nosso amigo precisa deles.

- È uma pena que ele nunca tenha se apaixonado verdadeiramente, não é mesmo? – Ela encostou seu rosto ao do retrato, e disse-lhe bem baixinho – Sinto muito a sua falta.

Dumbledore reservou-se a sorrir sem jeito.