PROLOGO
Sesshoumaru Taisho deixou Paris duas semanas in
teiras antes do programado.
Não sabia o que o motivara. Fora uma decisão impul
siva, baseada mais na emoção do que no intelecto, e to
talmente incompatível com um homem apelidado de Gelo. Tampouco fora de seu feitio a única noite em que per
mitira ao instinto sobrepujar o bom senso.
A noite em que fizera Rin Ozawa sua.
O instinto de sobrevivência fazia-o negar o impacto daquela noite inesquecível, tentava impedi-lo de resgatar a lembrança. Sem sucesso. Nem toda a força de vontade do mundo podia mudar um fato.
Na noite anterior àquela viagem à Europa, aproximara-se de Rin. Tomara-a nos braços e levara-a para a cama. E então, após cinco longos anos de espera, fizera amor com ela.
Em seguida, partira.
Mas as lembranças daquele breve momento persis
tiam, perseguindo-o noite e dia. Qualquer coisa podia desencadeá-las. Um par de olhos negros em Roma. Ca
belos escuros acariciando ombros alvos em Madri. Uma gargalhada feminina no meio de uma reunião de negócios em Londres. Instantaneamente, voltava no tempo.
Via Rin de pé diante de sua lareira de granito, abrindo o vestido lentamente, despindo uma a uma as peças de cetim cor-de-rosa. À medida que caíam, mais e mais da mulher se revelava.
Ardente, ela foi derretendo sua guarda, levando a pri
mavera a um homem que passara toda uma existência em tenebroso inverno.
Ela se ajoelhara a seu lado, a luz do fogo banhando-lhe a pele lisa, refletindo-se na cabeleira negra. Nunca de
sejara tanto uma mulher, nem antes, nem depois. Mesmo assim, mostrara-se cauteloso. Ela continuara muito séria, meio hesitante talvez. Qual nada! Nunca conhecera nin
guém tão confiante e determinado quanto Rin. Mas na
quela noite...
Talvez as lembranças a perseguissem também, pois naquela noite ela se transformara de cigana selvagem numa criatura tímida, de incerteza quase virginal. E, no instante em que se uniram, ela o olhara maravilhada, como se acabasse de descobrir um segredo. Tal imagem consumia-lhe o coração e a alma, perseguindo-o por dois continentes e por meses a fio.
Fechando os olhos, finalmente dava-se conta do que o levara a deixar Paris. Estava na hora de voltar para casa.
Rin precisava dele.
