NOTAS INICIAIS
Hello, people!
Esta é uma Dramione, com capítulos relativamente curtos. Espero que curtam e deixem um review :)
Disclaimer: Os personagens e os lugares desta história pertencem à J.K. Rowling. Não é minha intenção auferir lucro com eles.
I- Homenum Revelio
Deixo esta carta endereçada à quem a encontrar. Para que possa entregar à ela, para que seja conhecida minha história, meu sacrifício, minha demência.
xx
Os tentáculos do monstro que me atormentava há meses prendiam a boca do meu estômago. E o calor incômodo em minhas orelhas, o formigamento em meu ventre, eram a prova cabal de minha loucura — com todas as implicações que este fato poderia trazer—.
A primeira vez que pus os olhos nela foi numa manhã tediosa. Quarta - feira, para ser mais exato.
Eu já a conhecia a tempo suficiente — por volta de quatro anos —. Tempo este que gastei olhando para ela como uma ameaça odiosa, ou ainda, um ser digno de repulsa.
Naquela quarta feira, tudo transcorria normalmente, exceto pelo fato de que era aula de feitiços, e o corpo dela parecia flutuar com o movimento leve da respiração tranquila, responsável pela fluidez da varinha no preparo do encantamento. Meus olhos pousaram nas mechas cor de chocolate, com mesclas de tons dourados. O movimento dos lábios ao proferir as palavras necessárias era quase impróprio, e a curva do pescoço desenhava um caminho sem volta. E eu, é claro, estava completamente perdido.
Naquele dia, Hermione Granger tomara para si minha atenção pela primeira vez. Como um tiro de canhão, dilacerou tudo o que havia dentro de mim, misturando ódio e atração numa mesma poça de sangue quente e borbulhante, causando-me nojo, medo e um ódio surdo, por não conseguir conter as reações do meu próprio corpo. Foi confuso, desajeitado e fora da ordem natural. Eu gostaria de me esconder e azara-la; amaldiçoa-la por fazer-me sentir uma vergonha inominável e, sobretudo, a culpa pungente invadindo minha alma.
Meu único pensamento na manhã preguiçosa, sob o olhar curioso do Prof. Flitwick, era o de que a mão pequena, que segurava a varinha com graça e habilidade, poderia estar acariciando meus cabelos.
Isso era deveras impróprio. Eu sabia.
xx
Dizem os mais sábios — e os metidos a sábios também costumam palpitar neste sentido — que com o passar dos anos as convicções caem por terra. As pessoas amadurecem e criam para si novas manias e, em certos casos, alguns trejeitos são adquiridos pela convivência com outras pessoas. Da convivência com ela, eu havia adquirido o dom de observa-la sem ser notado.
Ela era o significado da impropriedade, na medida em que representava o fruto mais proibido da árvore proibida. Como se houvesse um medidor que auferisse o grau de "proibitividade" da árvore dos frutos proibidos. Meu pai a classificaria como a fruta podre dentro da árvore sã, esta sendo representada pelos bruxos de sangue puro. E por muito tempo ela havia sido a sujeira da sola dos meus sapatos, a erva daninha que crescia no meu mundo perfeitamente arquitetado pelos nobres.
No entanto, naquela aula de feitiços, talvez pelo sombreado de seus cabelos desenhando o pergaminho, ou quem sabe o brilho dos cílios, evidenciado pela luz do sol, que entrava fraca pela janela, eu olhei-a, de fato. Encarei-a como a mulher que estava se tornando, e assumi o risco do precipício, mesmo sabendo que a queda seria mortal.
Não que ela possuísse beleza extraordinária, quiçá um porte digno. Hermione Granger não possuía quaisquer atributos que justificassem a atração que tomara conta de mim. Talvez as notas de caramelo e baunilha que emanavam da pele leitosa, ligeiramente bronzeada pelas férias passadas em algum país da América fossem a razão. Eram o verdadeiro convite a um mergulho insano e desarrazoado.
O tic - tac do relógio cuco em cima da mesa do professor, pronto para ser transformado em areia, de acordo com a atividade proposta no início da aula, indicava que o tempo estava passando, rápido demais. Logo eles estariam em locais diferentes, seria difícil encontrar um ângulo para observa-la sem se fazer notar. Precisava manter a postura de arqui-inimigo, atuação esta que talvez não se sustentasse, tendo em vista a confusão que me possuíra. Eu sabia que, enquanto proferisse palavras asquerosas em relação a ela, ou tentasse a todo custo prejudicar aqueles a quem ela amava, o meu corpo, em protesto violento, clamaria pelo contato perfumado e quente que deveria ser o corpo dela, e minhas mãos suariam, ávidas por poderem alisar as maçãs do rosto dela, lisas e aveludadas.
xx
Ouvi então a voz do Professor Flitwick, congratulando-a pelo sucesso com o feitiço. O relógio parara de fazer seu tic tac característico e se desfizera, dando lugar a uma areia fina e clara. Ela tinha que estragar minha observação? Nunca se cansava de me provocar, mesmo quando não sabia que estava agindo desta forma.
O professor deu a aula por encerrada e eu continuei me questionando acercado do atrevimento inconsciente da sabe - tudo infeliz. Tivera a audácia de realizar o feitiço e entregar o relatório primeiro do que eu, e ainda interrompera o único momento que eu poderia contempla-la furtivamente!
Idiota.
O ódio queimava em minhas veias, como sempre acontecia quando ela estava por perto, mas agora era um ódio de mim mesmo, por ser influenciado pela presença sútil e marcante de uma nascida trouxa. Uma nascida trouxa.
Quando o ultimo rastro de sua presença na sala se fora, eu pude concluir que ela era alguma espécie de desastre natural: Onde passava causava um estrago sem remédio. Aparentemente estava me deteriorando, e eu estava permitindo.
XX
Abri o livro de feitiços aleatoriamente, tentando não segui-la com o olhar. As palavras piscaram, como se fossem parte de uma mensagem dirigida especialmente para mim:
Homenum Revelio
"Encantamento que revela presenças humanas."
Com minha pena, aproveitando os últimos minutos que restavam e esquecendo o relatório da maldita aula, desenhei uma seta no trecho que acabara de ler.
Quarta – feira, aula de feitiços. Ela havia tornou-se visível para mim.
