Nome do autor: Mayra Vieira Maia
Título: Mestre
Ship: Severus Snape e Lily Evans
Gênero: Drama, Angst.
Classificação: Livre.
Observação: Spoilers até DH.
O homem que não tem algo pelo qual aceitaria morrer não é digno de viver. (Martin Luther King)
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Lily.
Seu tesouro. Sua razão de querer ser alguém melhor, mesmo sabendo que não podia. Que não era capaz. Mas ela tinha esse poder. Ela conseguia fazê-lo sonhar, enxergar cores, sorrir e confiar. Ela o tornara incapaz de amar, incapaz de render-se aos desígnios dos deuses. Ela lhe roubara a alma e o controle sobre sua própria vontade. Ela lhe concedera um vislumbre do paraíso quando, na verdade, ele nunca tivera o direito de sequer espiá-lo.
Na verdade, Severus questionava-se se, em algum momento de sua vida, tivera a liberdade de ser apenas quem queria ser.
Quando não passava de um garotinho medroso, seus pais o controlavam com intimidação. Lily mudara isso. Ela, sem nem mesmo querer, roubara sua alma, sua vontade própria, o pouco receio que tinha de irritar os pais. Lily fora seu refúgio. Um refúgio puro e sagrado, que jamais o decepcionaria.
Oh, doce inocência.
Não havia dias de sol sem Lily. Não havia noites estreladas sem ela. Não havia cor e perfume. Não havia alegria, júbilo, liberdade.
Não havia dor.
Não havia decepção sem Lily. Não havia culpa. Não havia terror. Não havia ciúmes. Não havia raiva. Não havia desgosto. Não havia repúdio.
Lily controlava as batidas de seu coração. A quantidade de oxigênio que ingeria. As decisões que fazia. Não que ela o dissesse diretamente. Não. Ela era uma discípula de Dumbledore, afinal. E superara o mestre na mais tenra idade.
O Lorde das Trevas jamais percebera. Ou melhor, jamais dera a devida importância ao fato. É claro que ele percebera. Voldemort não era nenhum tolo. Apenas se acreditava acima de erros corriqueiros, como deixar um de seus mais poderosos servos continuar apaixonado por uma sangue-ruim. E matá-la nunca seria considerado um erro, mesmo quando ele pedira expressamente que ele a poupasse. Mas ele não o fizera, não é mesmo? Severus não deveria ter sido tão ingênuo.
Mas o que poderia dizer? Continuava a sê-lo. Não estava ali, diante do mesmo Lorde das Trevas que achava que o dominava, observando-o dar ordens à cobra que o seguia para matá-lo? Não fizera cada pequena peça do quebra-cabeças unir-se a favor dos desígnios de Dumbledore? O homem, mesmo depois de morto, ainda achava que podia jogar xadrez.
Só Severus parecia compreender a real razão pela qual vivera quarenta anos de sordidez e sofrimento para se deixar matar assim, tão humilhantemente. Apenas uma coisa era capaz de fazê-lo esquecer completamente de preservar a única coisa que lhe restava – a reputação. Uma pessoa.
Um mestre assim tão talentoso merecia uma última homenagem.
Avada Kedavra o atingiu no peito. Por ela. Pela dona de sua alma. Pela única luz que passara pelas frestas das cortinas que rodearam sua vida. Pelo cheiro de flores e orvalho que ele nunca mais sentira. Pelos olhos verdes que ele agora encarava no filho dela. O filho dela com outro homem.
Sim, houvera apenas um verdadeiro mestre em sua vida. Justamente aquela que nunca quisera sê-lo.
