Just Hold Me
Capítulo 1
Disclaimer – Os personagens de InuYasha pertecem a Rumniko Takashi... Mas ainda posso brincar com eles, certo?
Fanfic – Naru L
Akai,
Não acho que isso será uma surpresa para você, afinal conversamos sobre o assunto várias vezes nos últimos dois meses. Sem nunca chegar a um acordo, é verdade, mas mesmo assim o assunto não é novidade.
Sei que provavelmente vai acabar me odiando por tomar a decisão sozinho e partir assim, sem me despedir, mas nós dois sabemos que tentar um acordo nesse assunto apenas acabaria em outra discussão... E apesar de gostar de como nossas discussões terminam não tenho tempo para a parte de gritos, coisas sendo quebradas e eventuais expulsões do quarto.
Você simplesmente não consegue entender que algumas coisas não podem ser resolvidas da sua maneira.
Nenhuma das suas opções é viável. Por isso você vai permanecer no Japão, terminando seus estudos e se dedicando ao seu trabalho enquanto eu resolvo esse pequeno problema de família.
Espero que, contrariando sua natureza orgulhosa e vingativa, quando voltarmos a nos encontrar possamos nos entender. Leve me conta que será apenas um ano, ainda somos jovens e teremos muito tempo para aproveitar juntos quando tudo estiver resolvido.
Guardarei a chave que você me deu, e quando voltar se a fechadura estiver trocada saberei que você continua a mesma pessoa cabeça dura de sempre, e que arrumou outro para me substituir. Porém, se a chave ainda for a mesma, entenderei que você me perdoou por esse pequeno deslize e que temos uma chance de recomeçar as coisas.
Não vou pedir que espere por mim, mas tenho esperança que assim o faça.
Qualquer que seja sua decisão, desejo que seja feliz.
oOoOoOo
Akai Haruka abaixou o papel em suas mãos lentamente, estreitando os profundos olhos verdes ainda embaçados pelo sono. Observou o quarto banhado pela luminosidade do meio dia e balançou a cabeça irritada antes de reler a carta em suas mãos.
"Não acho que isso será uma surpresa para você, afinal conversamos sobre o assunto várias vezes nos últimos dois meses"
'Conversamos sobre o assunto?' As mãos delicadas apertaram o papel com força, ignorando a forma como a folha se deformou.
"Sei que provavelmente vai acabar me odiando por tomar a decisão sozinho..."
'Perdoar por tomar a decisão sozinho?' Haruka levantou em um pulo, atirando as cobertas ao chão no processo. Abriu as portas do guarda roupa, procurando inutilmente pelas roupas masculinas. Amassou a folha antes de deixar-se cair de joelho, os olhos claros correndo pelas palavras em busca de explicação.
"E apesar de gostar de como nossas discussões terminam não tenho tempo para a parte de gritos, coisas sendo quebradas e eventuais expulsões do quarto."
- Gostar de como nossas discussões terminam? Maldito idiota presunçoso! – Fechou os olhos por alguns minutos, tentando controlar a raiva que sentia. Não conseguia acreditar que depois da noite anterior ele simplesmente resolvera arrumar as malas e partir... Sem nem ao menos se despedir!
"Nenhuma das suas opções é viável..."
Haruka girou os olhos, bufando. 'Nenhuma das minhas opções são viáveis?'
"... Contrariando sua natureza orgulhosa e vingativa"
'Natureza orgulhosa e vingativa?Vou lhe mostrar quem é orgulhosa e vingativa...'
Continuou lendo, os olhos se estreitando mais a cada palavra, o cenho franzindo a cada linha e o desejo de amassar a cabeça do maldito presunçoso aumentando a cada segundo.
"Leve me conta que será apenas um ano, ainda somos jovens e teremos muito tempo para aproveitar juntos quando tudo estiver resolvido...
Não vou pedir que espere por mim, mas tenho esperança que assim o faça."
Haruka ergueu-se lentamente, as mãos amassando a carta até transformar a folha de papel em uma bola compacta. Respirou fundo algumas vezes, tentando se controlar. Não sabia se sentia vontade de matá-lo por tomar uma decisão tão importante sozinho ou por apenas presumir que ela esperaria por sua volta por um ano.
Sentou na cama e atirou a pequena bola de papel na janela, praguejando quando a viu atingir o vidro e voltar rolando pelo chão na direção de seus pés. Deixou-se cair para trás no colchão e abraçou o travesseiro dele com força, sentindo os olhos arderem com as lágrimas.
- Não vou chorar. Não posso chorar por algo tão simples. – Virou-se de lado, encarando a parede enquanto respirava fundo, engolindo o desejo de chorar – Eu sempre soube que ia acabar um dia... – Fechou os olhos lentamente, murmurando – A primeira coisa que vou fazer amanhã é trocar a maldita fechadura!
oOoOoOoOoOoOo
Haruka passou o dia na cama, esforçando-se para não chorar por algo que considerava estúpido demais. Já tinha anoitecido quando ela finalmente conseguira levantar-se e caminhar até a cozinha em busca de algo para acalmar o estomago que dava voltas, reclamando pelo tempo que passara sem alimento.
Enquanto comia o sanduíche que se obrigara a fazer, sua mente trabalhava para encontrar algo que pudesse fazer para se sentir melhor.
Pegou e largou o telefone, por vezes sem conta, pensando em acordar algum chaveiro e obrigá-lo a trocar a fechadura da porta da frente. Precisava a qualquer custo de algum tipo de encerramento, coisa que seu adorável namorado não lhe dera a chance de fazer.
Passava da meia-noite quando atirou o telefone sem fio contra a parede, dizendo a si mesma que ter mais um gasto dificilmente a faria se sentir melhor... Isso e a perspectiva de ser xingada pelos chaveiros do bairro.
Jogou-se no sofá cansada demais para subir até o quarto. Puxou uma das almofadas, abraçando-a com força enquanto seus olhos passeavam pelos vários porta-retratos espalhados pela sala, demorando-se especialmente naquela meia dúzia de fotos pousadas na mesa de centro. A lembrança do dia que foram tiradas voltando a sua mente forte demais para que pudesse contê-las
Os cabelos negros da garota caiam livremente, movendo-se ao sabor da brisa suave daquela tarde de primavera. Ela sorria tola e inocentemente em sua direção, parecendo tão absurdamente confiante de que aquele momento nunca acabaria.
'Idiota.'
O rapaz a seu lado trazia a expressão impassível de sempre. Os olhos frios observavam a garota com se ela lhe pertencesse. O sorriso confiante curvava seus lábios sem chegar a atingir a expressão impassível de seu rosto ou a frieza de seu olhar. Tinha o controle de tudo e sabia disso.
'Maldito pretensioso!'
Em um gesto de desespero atirou a almofada contra os porta-retratos, observando-os caírem lentamente, o som do vidro quebrando ecoando em seus ouvidos. Sorriu tristemente, observando o vidro estilhaçado... Agora sim aquilo parecia com o estado em que se encontrava.
'Sem esperança... Sem futuro... Apenas... Uma vida de mentiras e...' Olhou para as outras fotos na estante onde o rapaz lhe sorria pretensioso. Os olhos carregados de orgulho.
- Eu não vou esperar por você! – Ela gritou e antes que percebesse tinha se aproximado da estante e atirava todos os porta-retratos ao chão. Podia sentir os olhos ardendo enquanto algumas lágrimas corriam por seu rosto enquanto repetia em um fio de voz.. – Isso é tudo que vai ter de mim... Isso é tudo que vai ter de mim...
oOoOoOoOoOoOo
oOoOoO Duas Semanas Depois OoOoOo
Jakotsu encostou-se no pequeno muro que separava a entrada das duas casas, os dedos batiam ritmadamente contra a superfície fria enquanto aguardava a porta ser aberta. Girou os olhos depois de alguns minutos e apertou a campainha novamente, dessa vez deixando o som irritante se prolongar por mais tempo.
Não conseguia entender o que estava acontecendo com a sempre responsável, e muitas vezes chata, Akai Haruka. Nos quatro anos que trabalhavam juntos ela nunca sequer se atrasara para o trabalho e agora desaparecia por duas semanas?
Só podia imaginar que algo muito grave tivesse acontecido. Talvez um furacão a tivesse apanhado desprevenida... Ou talvez ela estivesse machucada dentro de casa e não conseguisse se mover...
Jakotsu arregalou os olhos com o pensamento e começou a bater na porta com força, tentando obter alguma resposta da garota. Quando teve apenas o silencio como resposta outro pensamento cruzou sua mente... Talvez um serial killer a tivesse escolhido como próxima vitima... Deu um passo para trás e avançou contra a superfície de madeira, tentando derrubá-la. Quando sentiu a porta estremecer com o impacto parou, afastando-se da porta novamente... Não queria arrombar a casa apenas para encontrar o corpo esquartejado da amiga!
Se bem que não havia noticia de nenhum serial killer nos jornais nos últimos tempos...
Balançou a cabeça e preparou-se para avançar contra a porta novamente quando ouviu passos lentos e arrastados no interior da casa. Deu um passo para trás e esperou, os olhos procurando por algo com que pudesse se defender do possível serial killer que matara a garota e agora...
- O que diabo você...?
- Desculpe, senhora! – Jakotsu apressou-se a falar, observando a mulher que o encarava de maneira nada amigável – Eu estava procurando uma amiga, mas acho que me enganei e—
- Jakotsu, seu idiota! O que acha que está fazendo tentando derrubar minha casa?
- Akai-chan? – O rapaz piscou, aproximando-se mais para observar a garota com os cabelos desarrumados e olheiras profundas, enrolada em um robe que já vira dias melhores... Aquela monstruosidade não podia ser sua amiga...
- Pare com esse apelido estúpido!
- Você foi realmente pega por um furacão, Akai-chan? – Ele perguntou meio incrédulo, os olhos ainda fixos na figura a sua frente.
- Andou bebendo logo cedo?
- Já passa do meio dia...
- E isso é motivo para você beber? – Haruka girou os olhos, começando a fechar a porta – Que conversa é essa de furacão?
- Bem... Foi a melhor razão que encontrei para sua aparência...
- Ah, cala a boca. Homens são todos iguais! Só sabem se aproveitar da gente e depois... – A garota estreitou os olhos quando Jakotsu a impediu de fechar a porta – Quer fazer o favor de me deixar em paz?
- Não me diga que terminou o namoro com aquele cara? – O rapaz suspirou, girando os olhos impaciente – E isso lá é razão para faltar ao trabalho por tanto tempo?
- Quer me deixar em paz e... – Haruka parou de falar, arqueando uma sobrancelha – Você está usando batom?
- Acho que isso não faz parte do assunto. – Jakotsu empurrou aporta, pegando-a desprevenida, e entrou rapidamente. Sorriu, limpando a poeira imaginária do terno preto bem cortado – Quer dizer que aquele cara te abandonou e para se vingar você resolveu se transformar no monstro da Lagoa Negra e ir assombrá-lo?
- Você é tão delicado quanto uma manada de elefantes! – Haruka bufou, afastando-se da porta – Não me admira que ninguém queira se aproximar de você.
- Está sendo amarga e injusta, Akai-chan...
- Por todos os deuses, pára com esse apelido idiota ou vou arrancar sua cabeça!
- Desculpe, Akai... iiii – Jakotsu sorriu, enfatizando a ultima letra do nome da garota. – Não consigo esquecer da primeira vez que a vi...
- Jakotsu...
- No dia da entrevista... Vestindo vermelho dos pés a cabeça e...
- Vou parar de falar com você! - Haruka falou, recomeçando a andar, tentando manter o máximo de distancia entre os dois.
- Aquela larga mecha vermelha no seu cabelo. – Jakotsu terminou a frase e sorriu – Você nunca me disse a razão daquilo...
- Perdi uma aposta.
- Está admitindo? – Jakotsu olhou para a garota surpreso, apressando-se a segui-la – Você sempre diz que eu estava vendo o reflexo da luz.
- Você não vai se calar enquanto eu não admitir. Eu quero me livrar de você. O mais rápido possível!
- Você é tão má, Akai-chan. – Ele parou, o tom de voz mudando do brincalhão para o magoado. – Eu estava realmente preocupado por você não aparecer para trabalhar... Tirei a tarde folga... Vim até aqui... – Jakotsu baixou a cabeça quando a garota virou-se em sua direção – Até tentei arrombar a porta quando pensei que podia estar machucada e... Você diz que quer se livrar de mim? – Levantou os olhos negros, cheios de lágrimas – Seu único e mais confiável amigo?
- Jakotsu... – Haruka aproximou-se do rapaz – Você deve estar brincando se acha que vou cair nesse truque velho! – Agarrou a frente do paletó e o puxou para que seus olhos ficassem na mesma altura.
- Não pode me culpar por tentar... – Ele falou calmamente, segurando os pulsos da garota que parecia a ponto de rasgar o tecido de seu paletó. – Importa-se de me soltar agora?
- Homens são todos iguais! – Ela continuou, ignorando a pergunta e puxando o tecido com mais força – Nunca escutam! Só querem uma coisa!
- Posso lhe garantir que não quero essa tal coisa, então se não se importa... – Jakotsu falou, tentando fazê-la soltar seu paletó.
- Eu disse que abandonaria tudo, iria com ele para a droga da casa dos pais e o que foi que ele disse? – Haruka quase gritou, chacoalhando o rapaz que parara de falar e a encarava em silêncio – 'Nenhuma das suas opções é viável'!
- Akai...
- E ainda teve a cara de pau de achar que vou esperar por ele! – Haruka soltou o tecido repentinamente, escondendo o rosto nas mãos ao sentir as lágrimas que vinha contendo há dias deixarem seus olhos.
- Está tudo bem, Akai-chan. – Ele a abraçou, tentando ignorar a maneira como a garota escondeu o rosto em seu peito, arruinando o tecido fino da camisa de seda.
- Pare de me chamar assim, idiota.
- Nem a beira das lagrimas você controla sua língua não é mesmo? – Jakotsu sorriu, forçando-a a sentar-se no sofá.
- Sabe como odeio esse apelido...
- Claro, por que mais eu me incomodaria em usá-lo? – Sorriu, ajudando-a a deitar-se no sofá – Você não dormiu, não é mesmo?
- Claro que sim... Algumas horas... Alguns dias atrás... Acho... Tenho quase certeza que dormi...
- Então devo imaginar que essas olheiras são resultados de brigar com o tal cara que a abandonou?
- Não tive chance de acertá-lo, o cretino se despediu com uma carta!
- Agora entendo sua revolta. – Jakotsu sorriu, cobrindo-a – Ele devia ao menos ter lhe dado a chance de descontar sua revolta... – Ele sorriu antes de começar a levantar – Farei um pouco de chá para você antes de sair.
Haruka concordou com um aceno, fechando os olhos com um suspiro. Ouviu os passos se afastando, quando voltou a abri-los o rapaz estava sentado na beirada do sofá a seu lado, estendendo-lhe uma xícara com um pequeno sorriso.
- Vou deixá-la em sua caverna escura assim que—
- Jak-chan?
Jakotsu piscou com o apelido que ela nunca ouvira, sorrindo ao notar o cansaço no rosto dela. Passou a xícara para as mãos delicadas, observando tomar o liquido fumegante lentamente. Era tão raro vê-la com a guarda baixa, parecendo tão jovem e vulnerável.
- Fale, Akai-chan.
- Você é homem, certo?
- Sim... Ao menos foi o que o médico disse a minha mãe quando nasci.
- ... – Haruka tomou mais um pouco de chá, ignorando a brincadeira – Você... – Baixou a xícara, deixando os olhos pousarem sobre ela em seu colo – Você acha que ele vai voltar?
- Ele disse que voltaria?
- Sim...
- Então voltará. – Jakotsu pegou a xícara e colocou sobre a mesa de centro antes de ajudá-la a deitar-se novamente – Você mesma disse que ele sempre cumpre suas promessas, não disse?
- Sim. – Haruka sorriu, fechando os olhos – Preciso trocar a fechadura amanhã... – murmurou, a voz mole pelo sono.
- Por que?
- Porque ele vai voltar.
Jakotsu sorriu, observando-a adormecer profundamente.Ergueu-se lentamente, pegando a xícara no caminho. Que espécie de cara era aquele que deixava a garota com apenas uma carta, dizendo que voltaria? Devia ter prestado mais atenção no que Haruka dizia, mas o que fazer se sempre que saiam havia coisas mais interessantes a fazer?
Voltou para a sala algum tempo depois e lançou um ultimo olhar para a garota adormecida antes de vestir o paletó novamente. Franziu o cenho para a folha de papel amassada sobre a mesa. Aproximou-se rapidamente, lendo a pequena carta rapidamente com um franzir de olhos.
Pulou de susto quando a garota murmurou algo e virou-se para encontrá-la ainda adormecida. Afastou-se rapidamente, deixando a folha no mesmo lugar. Agora entendia o comentário dela sobre trocar a fechadura...
Suspirou, sentando-se na poltrona, a atenção ainda na garota. Talvez não fosse uma boa idéia deixá-la sozinha... Se naqueles poucos dias Haruka tinha conseguido se transformar naquela monstruosidade... Imagine o que poderia acontecer em mais tempo.
Girou os olhos, desapontado consigo mesmo por deixar-se envolver naquilo, mas simplesmente não podia deixá-la sozinha destruindo a casa por causa de um idiota qualquer que não sabia como tratar uma mulher. Levantou-se enquanto procurava pelo celular em um dos bolsos... Não podia deixá-la daquele modo. Por mais que ela dissesse que queria ficar sozinha e sem ninguém para provocá-la...
- Alô? Yura, você tem que me fazer um enorme favor! – Lançou um ultimo olhar para a garota adormecida e fechou a porta que separava a sala da cozinha – Sabe aquela pilha de papéis que está sobre a mesa de Akai-chan?... Não, ela não morreu sua idiota! – Suspirou, encostando-se a porta – Bem, pegue essa pilha e as pastas que deixei sobre minha mesa e mande um mensageiro entregar na residência dela... Pelos deuses, mulher! Não é da sua conta o que estou fazendo aqui, fofoqueira! Apenas faça o que falei.
Jakotsu desligou o aparelho e voltou a abrir a porta. Ocupá-la com trabalho seria a maneira ideal de fazê-la esquecer do cara da carta... Suspirou, a verdade é que provavelmente acabaria fazendo o trabalho dos dois... Bem, não podia culpá-la por tudo... Que falta de classe, o idiota nem se dera ao trabalho de assinar!
No dia seguinte podia lembrá-la de trocar a fechadura... Não podia permitir que ela voltasse a se envolver com o tal cara. Se ele a abandonara depois de dois anos de relacionamento não podia ser de muita confiança. Tinha que fazer com que Akai esquecesse o tal cara de uma vez por todas e o deixasse fora de sua vida... Literalmente.
Suspirou, observando a bagunça na qual a casa se encontrava. Roupas espalhadas, porta-retratos espalhados pelo chão, vidros estilhaçados e o telefone sem fio em pedaços em um dos cantos... Isso explicava a razão dela não atender ao telefone nos últimos dias... Teria que dar um jeito naquilo, realmente parecia que um furacão havia passado dentro do local...
Deu as costas a garota e discou o numero do próprio apartamento, esperando que a empregada atendesse. Era impossível trabalhar em uma bagunça daquelas e acordar com a casa em ordem faria com que Akai se sentisse bem melhor... A quem queria enganar? Só queria se livrar da bagunça.
oOoOoOoOoOoOo
Haruka abriu os olhos lentamente, observando o quarto confusa. Não se lembrava de ter voltado para o quarto, apenas de estar falando com Jakotsu quando... Apagou.
Pulou da cama, correndo para a porta ao ouvir o som de vozes discutindo vindo do corredor. Abriu a porta, sem pensar e parou quando uma mulher, que lhe parecia familiar, virou em sua direção, arregalando os olhos antes de se afastar correndo e gritando. Ela continuou parada, chocada demais com a reação da mulher e ainda confusa pelo sono não conseguiu ter uma reação.
- Akai, querida! – Jakotsu falou calmamente, e Haruka olhou em choque para a figura saindo do quarto de hospedes – Não acha que seria melhor vestir algo antes de andar pela casa?
- Ahn? – A garota piscou, baixando a cabeça para o próprio corpo – Eu não... Ah! – Ignorando o riso abafado do amigo, correu para dentro do quarto novamente, praguejando enquanto procurava pelo robe. – Saia! Saia! – Quase gritou ao ouvir a porta se abrir enquanto revirava o armário.
- Sinto muito decepcioná-la... – Ele continuou falando calmamente, enquanto a afastava do armário – Mas você não tem nada que possa me interessar. – Pegou uma camiseta e jogou na direção da garota que se enrolara no lençol e agora o encarava com raiva. – Nada pessoal... Tenho certeza que devem considerar você estonteante, mas...
- Cala a boca! – Haruka virou-se de costas e vestiu a camiseta rapidamente – Que idéia foi essa de tirar minha roupa?
- Você chama aquele trapo de roupa?
- Estou começando a duvidar de sua opção sexual!
- Como é? – Jakotsu piscou confuso.
- Aposto como só finge ser gay, se aproxima de garotas indefesas e quando obtém sua confiança—
- Garota indefesa? Você? – Ele perguntou rindo sem notar o rubor no rosto da garota se intensificar – Fala sério, Akai-chan! – Continuou rindo por alguns minutos, antes de dar as costas a garota irritada que parecia a ponto de estrangulá-lo. - Bem, - Ele começou, segurando o riso - A empregada já estava aqui e seu quarto parecia um campo de guerra... – Jakotsu arrumou as roupas que ela tinha revirado antes de sentar-se na cadeira ao lado da janela – Achei que seria um desperdício não pedir que ela lavasse todas as suas roupas.
- Não a que eu estava vestindo! – Haruka deu um passo na direção do rapaz e parou – Espera! Eu não tenho empregada.
- Eu sei que não...
- E você não deveria estar aqui!
- Você continua fria e ingrata. – O rapaz falou calmamente.
- E o que diabo estava fazendo no quarto de hospedes?
- Não acredito que você esqueceu!
- Ahn?
- Não lembra que assim que comprou essa casa me perguntou se eu não queria morar com você?
- Eu o que?
- Sim, para dividir as despesas, conversar até altas horas... Ensinar você a se maquiar direito... – Jakotsu sorriu inocente quando ela o fuzilou com o olhar – Mas aí! Você conheceu o cara bonitão e esqueceu da existência desse pobre mortal que só quer o seu bem.
- O que sua empregada está fazendo aqui?
- Estava, você assustou a coitadinha andando nua pela casa.
- Jakotsu...
- Pensei que agora que está sozinha não haveria mais motivos para que eu não me mudasse para cá... E como sua casa não se encontrava em condições de ser habitada por pessoas normais...
- Eu não quero companhia!
- Vamos, Akai-chan, não seja mesquinha! – Jakotsu levantou da cadeira e aproximou-se dela com um olhar perigoso que ela preferia não ver. Aqueles olhos negros adquiriam um brilho frio e a maneira como ele sorria era o bastante para fazê-la esquecer que o amigo era gay. - Ainda está pagando prestações, se dividir as despesas comigo não ficará sem dinheiro. – O rapaz sorriu quando ela deu um passo para trás e a abraçou antes que ela caísse ao tropeçar no lençol esquecido no chão. – Será bom ter alguém que não a deixe ficar sem comer, dormir ou trabalhar...
- Jakotsu...
- Prometo ficar a seu lado e impedi-la de se transformar no monstro da Lagoa Negra. – Jakotsu falou, o tom transmitindo o mesmo tom de joça habitual.
Haruka afastou-se rapidamente, lançando um olhar zangado em sua direção. Como ele ousava aproveitar-se de seu estado para enganá-la daquele modo? Por que ele tinha que fingir se importar... Fingir... Não ser o que era?
'Deve ser uma característica natural de todos os homens adultos...'
- Enganar. Confundir. Destruir.
- Está falando sozinha? – Jakotsu perguntou, fazendo a garota perceber que acabara deixando escapar seus últimos pensamentos.
- Pensando alto.
– Não vale a pena. – Jakotsu falou calmamente, depois de alguns minutos de silencio. Haruka fitou os olhos negros confusa e ele sorriu antes de continuar - Nenhum homem merece esse esforço...
- Idiota... – Ela murmurou, tentando ignorar o efeito das palavras dele - Quem disse que quero sua companhia irritante?
- Nem ao menos eu.
Haruka girou os olhos, deixando-se cair sentada na cama. O que estava acontecendo ali? Jakotsu era normalmente irritante, nunca perdia uma oportunidade de fazer uma piada sobre ela e...
- Então, o que me diz?
'Nunca me olha desse modo sério e preocupado.'
A garota levantou os olhos lentamente, observando o rosto sorridente a sua frente. Tinha algo de muito errado ali, Jakotsu não estava agindo de maneira normal. A sua maneira estranha, estava tentando ser gentil e consolá-la...
- Tenho certeza que se aproveitou de que eu estava dormindo e já trouxe todas as suas tralhas para cá... – Deu de ombros, ignorando o brilho satisfeito dos olhos negros – Até trouxe sua empregada para limpar... – Arregalou os olhos, pulando da cama – Ela jogou meu robe na maquina sem olhar os bolsos? – Parou a meio caminho da porta ao sentir a mão segurar seu braço, encarou-o com raiva – Me solta! Eu tinha algo—
- Acho que é isso que está procurando. – Jakotsu colocou uma folha de papel amassada nas mãos da garota antes de soltá-la. – Você deve mesmo trocar a fechadura da porta da frente... – Completou, saindo do quarto.
- Você... Você leu? – Haruka perguntou com voz tremula.
Jakotsu parou na porta e virou-se para a garota como mesmo sorriso calmo nos lábios. Ela piscou, confusa com a maneira estranha e silenciosa como ele a encarou antes de balançar a cabeça, uma expressão jocosa tomando conta das feições delicadas.
- Como eu disse antes, Akai-chan, nenhum homem vale o que está fazendo consigo mesma. – Ele deu de ombros, começando a fechar a porta. – E isso inclui minha maravilhosa, confiável e fiel pessoa.
Haruka encarou a porta sem saber o que pensar sobre aquelas palavras, sentiu as pernas fraquejarem e deixou-se escorregar para o chão. Quando a porta foi fechada ela percebeu algo, levantou a cabeça, encarando a superfície de madeira com raiva e gritou:
- Pare de usar esse maldito apelido! – Ela bufou quando o som da risada masculina ecoou no corredor, levantou de um pulo e correu aos tropeções até a porta, abrindo-a desajeitadamente. – Está esquecendo que tem que dormir, e eu posso matá-lo nesse período?
- E você se esquece que essa porta. – Jakotsu respondeu com um sorriso divertido – Tranca por dentro.
- Idiota! Idiota! Idiota! – Haruka falou entre dentes enquanto ele entrava no quarto ainda rindo.
- Boa noite para você também, Akai-chan. – Jakotsu falou com um sorriso, entrando no quarto com a voz da garota ainda ecoando palavrões no corredor. Suspirou assim que fechou a porta, encostando-se nela. – Isso se parece muito mais com você do que aquela versão patética que abriu a porta hoje à tarde.
O rapaz lançou um olhar cansado para as pastas espalhadas sobre a cama, tinha tanto serviço acumulado pela semana de ausência da garota no escritório... E como pensara a principio teria que terminá-las sozinho... Respirou fundo, afastando-se da porta, apenas olhar para aqueles documentos não iria fazê-los desaparecer.
- Talvez eu deva descontar isso do que pagarei das despesas... – Sorriu, ajeitando-se na cama e pegando a primeira pasta da pilha a seu lado – Aposto que quando Akai se sentir melhor não vai se importar de fazer essa caridade para—
A porta se abriu repentinamente e a figura da garota apareceu. Jakotsu sorriu inocente, empurrando uma das almofadas sobre as pastas para escondê-las do olhar feminino desconfiado.
- Posso ajudá-la em alguma coisa?
- Está falando sozinho ou escondeu seu namorado no armário?
- Estou pensando em voz alta. - Respondeu calmamente – Sempre me surpreendo como as pessoas não deixam de ser grosseiras mesmo quando estão em um processo de metamorfose...
- Esqueça essa idiotice de monstro da Lagoa Negra!
- Eu disse algo sobre monstro dessa vez?
- Estava pensando!
- Da próxima vez bata na porta... – Ele continuou calmamente, ignorando a resposta dela – Eu realmente poderia estar com alguém aqui.
-...
- Deseja alguma coisa?
- Estou com fome.
- Coma.
- É o que pretendo fazer! – Haruka quase gritou, chamando a atenção do rapaz – Eu só... Bem, pensei que talvez você estivesse com fome também...
- Eu já... – Ele parou de falar, observando a expressão da garota por alguns minutos. Suspirou ao perceber que ela queria companhia, mas nunca admitiria isso com todas as letras. Haruka parecia tão vulnerável... Ah, ele realmente odiava vê-la desse modo. – Eu... – Lançou outro olhar para as pastas e pulou da cama, deixando o que estivera lendo sobre o colchão – Acho que posso tomar um pouco de chá enquanto você come.
- Está ocupado? Não precisa—
- Tudo bem, Akai-chan. – Ele sorriu, empurrando-a para fora do quarto rapidamente – Depois, suspeito que se você descer sozinha vai assustar a empregada novamente...
- Ah, eu realmente odeio você! – Haruka cerrou os punhos, afastando-se pisando duro.
- Claro, claro... – O rapaz murmurou, seguindo-a escada abaixo. – Como pude esquecer de sua frase favorita... Akai-chan?
- Você não vai comer nada a não ser que me pague!
- Garota mesquinha...
N.A. - Não tenho explicação... Bloqueios me fazem começar coisas novas ( Terrível, eu sei T-T)
Obrigada as várias vítimas que aceitaram serem torturadas para lerem o rascunho desse fic e especialmente a Juliane.chan por revisar esse capítulo para mim.
Esse fic será um pouco diferente já que o casal principal começa se separando... Claro que isso é apenas para que eu possa me divertir com situações absurdas e... Bem, com o tempo vocês vão descobrir.:D
Espero que gostem e deixem sua opinião.
Beijos,
Naru
