Prelúdio de dor

Uma vida em três atos

. Constatação.

Você olha a pele avermelhada das costas dela e suspira, fechando lentamente os olhos.

É obvio que não existe uma forma de tornar tudo menos doloroso – você não a quer e isso já é o suficiente pra ela.

Mas você tenta. E isso isto está acabando com você aos poucos.

Porque você não pode mais enganar ninguém – nem ela, nem você mesmo -: não é a pele dela que você pensa em tocar, não são cabelos negros que deslizam pelos seus dedos em seus sonhos.

Leah é tudo o que você pode ter, tudo o que está ao seu alcance.

E mesmo assim não é o bastante.

. Preocupação.

Está escuro agora. E, apesar de tudo, você agradece que ela esteja dormindo.

Não quer que ela escute seus pensamentos, não quer que ela sinta pena de você. Nem compaixão, nem nada.

Você não pode mentir para si mesmo ao ponto de dizer que a presença dela ainda é um sacrifício. Você está se sentindo bem por ter alguém ao seu lado nessa hora tão estranhamente dolorosa. Fato.

Mas não a quer por perto neste instante. Você não quer ser um fraco, não para Leah. Não quer que ela perceba o quanto você é capaz de se expor, e nem que a causa dessa aparente abertura é ela, afinal.

Você sabe que ela está perto. Demais. E isso te preocupa.

. Perdão.

Você não precisou dizer nada. Ela sentiu o mesmo que você, de uma perspectiva privilegiada. E isso foi o suficiente pra ela.

Mais uma vez.

A culpa não é sua, então não há porque pedir perdão.

Você sente muito por Leah, sente muito pelas coisas que aconteceram nos últimos dias, em tudo que ela abriu mão, nos sonhos que ela projetou. Sempre tendo você no plano de fundo.

Claro que agora você não pode fazer mais nada. E ela aceita. Não porque ela quer, mas porque é preciso.

Você gostaria de dizer que sente muito, mas não seria verdade e ela saberia. Você, afinal, conseguiu uma parte de Bella – a melhor, na sua opinião. E sua vida agora tem um motivo.

Você gostaria de dizer que não consegue deixar Renesmee, mas que ainda sonha em fugir por aí sem rumo. Com ela. Mas não seria verdade. E ela saberia.

A única coisa que você consegue fazer é tocar de leve em suas mãos e dizer que as coisas ainda têm uma solução.

Por mais improvável que isso pareça.

E você sabe que ela não acredita em uma única palavra.

Ato final

Ela sofre.

E a única coisa que você consegue pensar é que não há nada que você possa fazer.

Então, a vida continua.