NARUTO NÃO ME PERTENCE, NEM A HISTÓRIA! UM
Gaara No Sabaku. Poderoso, temido, bilionário e principal executivo de uma empresa de navios cargueiros de renome internacional, fundada por seu falecido avô, estava parado no meio da sala de visitas de sua casa, na ilha grega de Theopolis, com o olhar fixo nos rostos dos meninos gêmeos que o fitavam de volta na fotografia que segurava.
Os dois tinham cabelos ruivos, a pele cor de oliva e olhos verdes. E eram idênticos. A mãe estava ajoelhada ao lado deles. Os três vestiam roupas de aparência barata.
Gaara era alto, com os cabelos ruivos e feições que lembravam os guerreiros conquistadores de mais de dois mil anos esculpidas nos ossos de seu belo rosto, do mesmo modo que sua determinação estava gravada em sua psique. Ele continuou parado onde estava, na sala agora silenciosa, mas ainda ouvindo os ecos da acusação que a irmã acabara de fazer.
— Eles têm de ser seus filhos. — Ela acusara Kankuro, o irmão caçula de ambos. — Têm as feições de nossa família estampadas em seus rostos e você cursou a universidade em Manchester.
Gaara No, Gaara para a família, não precisou continuar olhando por muito tempo para a fotografia que Temari tirara com o telefone celular quando estava a caminho do aeroporto de Manchester, depois de visitar a família do marido, para confirmar o que ela dizia, ou para memorizar os rostos dos meninos. Eles já estavam gravados em sua memória para sempre.
— Não sei nada sobre eles — negou Kankuro quebrando o silêncio. — Não são meus Gaara, juro. Por favor, acredite em mim!
— É claro que são seus — Temari corrigiu o irmão. — Basta olhar para esses rostos. Kankuro está mentindo, Gaara. Essas crianças têm o nosso sangue.
Gaara olhou para os irmãos mais novos, que estavam prontos para começar uma briga, como sempre acontecia quando eram crianças. Eram apenas dois anos de diferença de idade eles, enquanto Gaara era cinco anos mais velho que Temari e sete anos mais velho do que Kankuro. E depois da morte do avô deles, como era o único membro adulto da família que restara na vida dos dois, assumira naturalmente a responsabilidade de agir como um pai. E isso com frequência significava apartar suas discussões.
Dessa vez, no entanto, seu papel não era apartar nada.
Gaara voltou a olhar para a fotografia e anunciou secamente.
— São de nosso sangue, sim, mas não foi Kankuro quem os fez. Ele está falando a verdade. As crianças não são seus filhos.
Temari o encarou.
— Como pode saber disso?
Gaara se virou para a janela e olhou para o horizonte, onde o céu se encontrava com o azul profundo do mar Egeu. Por fora aparentava estar calmo, mas por dentro sentia o coração bater furioso, enquanto imagens se formavam em sua cabeça, lembranças que ele achara que estariam enterradas para sempre.
— Sei disso porque essas crianças são minhas — respondeu Gaara, observando os olhos da irmã se arregalarem em choque diante da revelação.
Ela não era a única que estava chocada, reconheceu Gaara. Ele mesmo ficara abalado quando olhara para a foto e imediatamente reconhecera a jovem ajoelhada ao lado dos dois meninos que traziam no rosto as feições do pai... as feições dele. Estranhamente, a moça parecia mais jovem na foto do que na noite em que ele a conhecera, em uma boate em Manchester. O lugar era muito frequentado por jogadores de futebol e pela turma de mulheres que sempre andavam atrás deles. Gaara fora levado lá por um homem com quem pretendia fazer negócios e acabara sendo deixado sozinho depois que seu anfitrião arrumara uma garota e instara Gaara a fazer o mesmo.
Ele cerrou os lábios. Havia enterrado a lembrança daquela noite o mais fundo que podia em sua mente. Fora apenas um caso de uma única noite, com uma garota embriagada, vestida em roupas muito apertadas e reveladoras, que usava maquiagem demais e estava obviamente disposta a se divertir com ele. Era uma das caçadoras que procuravam abertamente conseguir favores dos jovens jogadores de futebol muito bem pagos que frequentavam o lugar. Mulheres gananciosas e amorais, cujo único desejo era encontrar um amante rico ou, ainda melhor, um marido rico. Haviam lhe dito que a boate era conhecida por atrair esse tipo de mulher.
E ele fizera sexo com a garota por raiva e ressentimento, contra ela, por provocá-lo; e contra o avô, por tentar controlar sua vida. O avô se recusava a permitir que ele tivesse voz na condução dos negócios, que, com sua determinação tacanha de não mudar com o passar do tempo, vinham sendo destruídos lentamente. E também contra seus pais: o pai por ter morrido, mesmo que já houvesse passado uma década, deixando-o sem apoio; e a mãe, que se casara com seu pai apenas por obrigação, enquanto continuava apaixonada por outro homem. Toda essa raiva havia brotado de dentro dele naquela noite e o resultado estava agora na foto que segurava.
Seus filhos.
Dele.
Um sentimento como nunca antes experimentara tomou conta de Gaara. Um sentimento que até aquele momento ele teria negado firmemente que algum dia se permitiria experimentar. Era um homem moderno, guiado pela lógica e não pela emoção... e certamente não pelo tipo de emoção que sentia naquele instante. Era uma emoção visceral, instintiva, nascida de uma herança cultural que dizia que os filhos de um homem, especialmente se forem do sexo masculino, devem viver sob o teto dele.
Aqueles meninos eram filhos dele. E o lugar deles era ali, com ele, e não na Inglaterra. Na ilha os meninos aprenderiam o que significava ser um Sabaku de Theopolis e cresceriam conhecendo seu legado, Ele poderia ser um pai presente e orientá-los como seu senso de responsabilidade exigia que fizesse. Quanto já poderiam ter sido prejudicados por terem sido criados até agora pela mulher que lhes deu à luz?
Ele os concebera sem saber, mas agora que sabia da existência dos filhos, nada o deteria até que os trouxesse para Theopolis, para o lugar a que pertenciam.
Hinata praguejou quando ouviu a campainha da porta e permaneceu onde estava, agachada, na esperança de que quem quer que fosse acabasse desistindo e indo embora, deixando-a em paz para continuar a limpar a casa. Mas a campainha voltou a tocar, dessa vez quase imperiosamente.
Ela praguejou baixinho novamente, levantou-se e saiu do banheiro que estava limpando, sentindo-se encalorada e suada e sem o menor humor para ser interrompida no momento em que aproveitara para fazer faxina na casa, enquanto os gêmeos estavam no colégio. Hinata afastou os fios negros e macios do rosto e caminhou até a frente da casa que dividia com as irmãs mais velhas e com os filhos. Então, abriu a porta.
— Escute, eu... — A frase ficou no ar. Hinata ficou completamente sem fala, em choque, ao ver o homem parado diante dela.
Choque, incredulidade, medo, raiva, pânico e um pontada aguda de mais alguma coisa que ela não reconheceu explodiram dentro dela como uma bomba e com uma intensidade tão poderosa que drenou toda a energia de seu corpo, deixando-a trêmula e fraca diante do assalto violento de tantas emoções.
É claro que ele estaria vestido de modo impecável, em um terno escuro, sobre uma camisa azul muito bem passada, enquanto ela usava jeans velhos e uma camisa larga. Não que sua aparência realmente importasse. Afinal, não tinha nenhum motivo para querer impressioná-lo... tinha? E com certeza não tinha motivo para querer que ele pensasse nela como uma mulher desejável. Hinata se esforçou para acalmar o estômago revolto, que ameaçava trair seu nervosismo. O rosto que assombrara seus sonhos, e logo depois seus pesadelos, não mudara nada... nem envelhecera. Se houve alguma mudança é que agora ele parecia ainda mais belo e viril do que ela lembrava, o olhar verde e sombrio que a hipnotizara no passado continuava tão atraente quanto antes.
A incredulidade que a deixara paralisada logo se transformou em um arrepio frio de medo e horror que percorreu seu corpo... e seu coração? Não! Qualquer efeito que Gaara No Sabaku já pudesse ter tido em seu coração era coisa do passado.
Mas não conseguiu evitar que a palavra traiçoeira escapasse de seus lábios cheios e naturalmente rosados.
— Você — ela falou, fazendo com que os olhos intensos e dourados de Gaara cintilassem em um misto de contentamento e arrogância. Eram olhos como os do rei das selvas... bastante adequados a um homem que na verdade era o soberano na ilha do Mediterrâneo em que morava.
Agindo por instinto, Hinata começou a fechar a porta, querendo deixar do lado de fora não apenas Gaara, mas também tudo o que ele representava. Mas ele foi mais rápido, segurou a porta e forçou-a a abri-la, obrigando Hinata a recuar para o hall de entrada, e então fechou a porta atrás de si, encerrando a ambos naquele espaço doméstico que cheirava a produtos de limpeza. Mas por mais forte que fosse o cheiro, ainda assim não era forte o bastante para protegê-la do perfume dele. Hinata sentiu um arrepio eriçar os cabelos de sua nuca e descer por sua espinha. Aquilo era ridículo. Gaara já não significava nada para ela, assim como ela não significara nada para ele naquela noite. Mas não devia pensar naquela noite. Ao invés disso, precisava se concentrar no presente, e não no que fora antes, e devia se lembrar da promessa que fizera aos gêmeos quando eles nasceram de que deixaria o passado para trás.
O que jamais esperara era que o passado pudesse vir atrás dela...
— O que, está fazendo aqui? — perguntou Hinata, determinada a assumir o controle da situação. — O que você quer?
A boca de Gaara era perfeita; o lábio superior bem desenhado em equilíbrio com a sensualidade do lábio inferior cheio, mas naquele momento não havia nada sensual no modo como ele apertava os lábios enquanto a encarava, e suas palavras foram tão frias quanto o ar no lado de fora do Manchester Hotel, onde ele a abandonara naquela manhã há tanto tempo.
— Acho que você sabe a resposta para essa pergunta — falou Gaara, o inglês tão fluente e sem sotaque quanto ela sé lembrava. — O que eu quero, o que vim procurar e o que pretendo ter são meus filhos.
— Seus filhos? — Hinata tinha um imenso orgulho dos filhos e era uma mãe superprotetora, por isso Gaara não poderia ter dito nada que provocasse raiva maior nela. A fúria coloriu a pele perfeita do rosto normalmente calmo de Hinata e seus olhos perolados ardiam com a violência de suas emoções.
Já havia se passado mais de seis anos desde que aquele homem a possuíra, a usara e a abandonara tão sem consideração como se ela fosse... nada. Como se fosse uma peça de roupa comprada em um impulso, que ele descartara ao raiar do dia ao ver que não valia nada. Oh, sim, Hinata sabia que a única culpada pelo que acontecera naquela noite fatídica era ela mesma. Fora ela quem primeiro flertara com ele, mesmo que o flerte tenha sido fruto da grande quantidade de álcool que já havia ingerido, e por mais que tentasse arrumar desculpas para o próprio comportamento, ainda se envergonhava muito dele. Mas não do que resultará daquela noite, não de seus filhos lindos, adoráveis e tão amados. Jamais se envergonharia deles, e desde o nascimento dos meninos Hinata se determinara a ser uma mãe da qual pudessem se orgulhar, uma mãe com quem se sentissem seguros. E por mais que se arrependesse da maneira como haviam sido concebidos, jamais desejara, por um minuto sequer, voltar no tempo e evitar sua concepção. Seus filhos eram sua vida. E eram dela.
— Meus filhos... — ela começou a dizer, mas Gaara logo a interrompeu.
— Meus filhos, você quer dizer, já que no meu país é o pai que tem o direito de reivindicar os filhos, e não a mãe.
— Meus filhos não são seus — mentiu Hinata com determinação.
— Mentirosa — acusou Gaara. Então, enfiou a mão no bolso, pegou uma fotografia e ergueu-a diante dela.
Hinata ficou muito pálida. A fotografia fora tirada no aeroporto de Manchester, quando haviam ido se despedir da irmã do meio de Hinata, que partira para a Itália, e a semelhança dos gêmeos com o homem que era pai deles estava cruel e inegavelmente revelada. Os dois meninos eram a imagem perfeita do pai, até mesmo no ar de arrogância involuntária que adotavam de vez em quando, como se bem no fundo, em algum lugar em seus genes, soubessem quem era o pai deles.
Gaara percebeu a cor fugir do rosto de Hinata e se permitiu um olhar triunfante. Éclaro que os meninos eram filhos dele. Soubera disso no instante em que vira a foto no telefone celular da irmã. A semelhança dos gêmeos com ele provocara um sobressalto de emoção que não se parecia com nada que Gaara já havia experimentado.
A agência de detetives que contratou não demorou muito para encontrar Hinata, embora Gaara tenha duvidado dos relatórios que recebeu, informando que ela era uma mãe devotada, que se dedicava a criar os filhos e que dificilmente desistiria deles de boa vontade. Mas Gaara já decidira que essa devoção de Hinata aos meninos seria o melhor instrumento que poderia usar para se assegurar de que ela desistisse deles para que ficassem com o pai.
— O lugar dos meus filhos é comigo, na ilha que é o lar deles e que terminará por ser a herança deles. Sob as leis gregas, eles pertencem a mim.
— Pertencem? Meus filhos são crianças, e não bens, e não há tribunal nesse país que vá permitir que você os tire de mim.
Hinata começou a entrar em pânico, mas estava determinada a não deixar que ele percebesse.
— Você acha mesmo? Você mora em uma casa que pertence à sua irmã e que está sob uma hipoteca com a qual ela não poderá arcar por muito tempo. Além disso, não tem renda própria, nem emprego. Não tem uma formação... nada! Já eu, por outro lado, posso garantir aos meus filhos tudo o que a mãe não pode: uma casa, uma boa educação e um futuro.
Embora ficasse abalada ao perceber como ele fizera bem seu dever de casa, investigando-a, Hinata continuava determinada a fincar pé e não permitir que Gaara a intimidasse.
— Talvez sim. Mas será que pode garantir a eles o amor e a certeza de que são queridos e desejados? É claro que não, porque você não os ama. E como poderia, não é? Você não os conhece.
Pronto, será que ele conseguiria achar resposta para isso? Mas mesmo satisfeita por ter conseguido desafiá-lo, Hinata se viu obrigada a ouvir seu coração lhe avisando que Gaara levantara uma questão que ela não poderia ignorar e que teria de encarar em algum momento. A honestidade a obrigava a admitir isso.
— Sei que um dia os meninos vão querer saber quem é o pai deles e vão querer conhecer a história de sua família — falou Hinata.
Foi difícil para ela admitir isso, assim como fora difícil responder às perguntas que os gêmeos já haviam feito. Hinata dissera a eles que tinham, sim, um pai, mas que ele morava em outro país. Aquelas palavras haviam feito com que recordasse o que estava negando aos filhos devido às circunstâncias em que eles haviam sido concebidos. No entanto, um dia, as perguntas seriam feitas por adolescentes muito mais curiosos e conscientes do que eram hoje, ainda meninos.
Hinata afastou o olhar de Gaara, tentando instintivamente esconder dele o que se passava em seu íntimo. A questão de como contar aos meninos como ela os concebera era um peso permanente em sua consciência e em seu coração. Até aquele momento eles apenas aceitavam que, como muitos outros colegas de escola, não tinham o pai morando com eles. Mas um dia iriam querer saber mais, e Hinata acalentara a esperança de que não precisaria lhes contar a verdade até que tivessem idade o bastante para aceitar o que aconteceu sem julgá-la. Agora, Gaara trouxera à tona toda a ansiedade que ela tentara colocar de lado. Mais do que qualquer coisa na vida, Hinata queria ser uma boa mãe, queria garantir aos seus meninos o presente de uma infância segura e cheia de amor, sem que precisassem se preocupar com as relações entre adultos. E era por isso que estava determinada a jamais começar um relacionamento com ninguém. Não queria um desfile de "tios" e "padrastos" na vida de seus filhos.
Mas agora Gaara, com suas exigências e perguntas, a forçava a pensar sobre o futuro e sobre a reação dos filhos diante da realidade de como foram concebidos. E sobre o fato de não terem um pai que os amasse.
Hinata sentiu a raiva e o medo crescerem dentro dela.
— Por que está fazendo isso? — perguntou. — Os meninos não significam nada para você. Eles têm cinco anos e você nem mesmo sabia da existência deles até agora.
— Isso é verdade. Mas quanto a eles não significarem nada para mim, você está errada. Os meninos têm o meu sangue, e apenas isso já significa que tenho a responsabilidade de assegurar que cresçam no seio da família deles.
Gaara não contaria a Hinata sobre aquela onda atávica de emoção que sentira no instante em que vira a fotografia dos gêmeos. Ele mesmo ainda não entendera o que acontecera. Sabia apenas que esses sentimentos o haviam levado até ali, e que o manteriam ali até que ela lhe entregasse seus filhos.
— Não deve estar sendo fácil para você criá-los, financeiramente falando.
Gaara estava lhe oferecendo simpatia? Hinata ficou imediatamente desconfiada e teve vontade de dizer a ele que o que não fora fácil para ela fora se descobrir grávida aos 17 anos, de um homem que dormira com ela e a abandonara sem dizer nada. Mas conseguiu resistir ao impulso.
Gaara gesticulou mostrando para a casa.
— Mesmo se sua irmã for capaz de honrar as prestações da hipoteca, você já pensou sobre o que aconteceria se suas irmãs quisessem se casar e mudar? Neste momento, você é financeiramente dependente da boa vontade delas. E como uma mãe cuidadosa, com certeza vai querer que seus filhos tenham a melhor educação possível e uma vida confortável. Posso lhes garantir ambas as coisas e também posso lhe dar dinheiro para que viva a sua própria vida. Não deve ser muito divertido para você ficar presa a duas crianças pequenas o tempo todo.
Estivera certa em ficar desconfiada, reconheceu Hinata, quando por fim assimilou o pleno significado da oferta de Gaara. Ele realmente esperava que ela lhe vendesse seus filhos? Será que não percebia o quanto essa oferta era obscena? Ou apenas não se importava com isso?
A determinação de Gaara fez com que Hinata fosse cautelosa em sua resposta, pois seus instintos a alertavam para ter muito cuidado com qualquer declaração inocente que viesse a fazer sobre as dificuldades financeiras por que vinham passando, para o caso de Gaara tentar usar essa informação contra ela mais tarde. Por isso, ao invés de reagir com a raiva que sentia, disse apenas:
— Os gêmeos têm apenas cinco anos. E agora que estão no colégio, planejo retomar meus estudos. Quanto ao resto, pode ter certeza de que os meninos garantem toda a diversão que quero ou preciso.
— Você vai me perdoar, mas devo dizer que é difícil de acreditar nisso, dadas as circunstâncias em que nos conhecemos — foi a resposta direta e cruel de Gaara.
—Aquilo aconteceu há seis anos, e em circunstâncias que... — Hinata se interrompeu. Por que deveria se explicar para aquele homem? As pessoas mais próximas dela, suas irmãs, sabiam e compreendiam o que a levara a agir da maneira imprudente que resultará na concepção dos gêmeos, e o amor e o apoio que sempre lhe deram não vacilara em momento algum. Não devia nada a Gaara, menos ainda a revelação de suas vulnerabilidades adolescentes. —Aquilo foi naquela época — ela se corrigiu, e acrescentou com a voz firme —, isso é agora.
O olhar malicioso com que Gaara reagiu ao que dissera fez Hinata ter vontade de protestar e dizer "Vocêestá errado. Não sou o que estápensando. Não estava sendo eu mesma naquela noite". Mas o bom-senso e o orgulho não deixaram que ela dissesse nada.
— Estou disposto a ser muito generoso financeiramente, como recompensa por você me entregar os gêmeos — continuou Gaara. — Muito generoso mesmo. Você ainda é jovem.
Na verdade, ele ficara surpreso ao descobrir que Hinata tinha apenas dezessete anos na noite em que ficaram juntos. Do jeito como estava vestida e maquiada naquele dia, ele presumira que fosse muito mais velha. Gaara franziu o cenho, lembrando a pontada de desprezo que sentira por si mesmo quando descobriu que levara uma moça tão jovem para a cama. Se soubesse a idade dela, ele teria... O quê? Teria feito um sermão e mandado Hinata para casa em um táxi? Se estivesse no controle de si mesmo naquela noite, não teria ido para a cama com ela de jeito nenhum, não importava a idade dela, mas a dura verdade era que ele não estava no controle de si mesmo: Estava dominado por uma raiva e uma frustração que nunca sentira antes ou depois daquela noite. E foram essas emoções amargas que o levaram a se comportar de um modo que, se fosse honesto consigo mesmo, ainda o faziam se sentir desgostoso.
E agora a evidência desse mau comportamento o confrontava na forma daqueles filhos. Gaara acreditava que tinha o dever de assegurar que as crianças não sofressem por causa do seu mau passo. Por isso estava ali.
E não sairia até que conseguisse o que pretendia.
E somente isso?
Hinata sacudiu a cabeça.
— Você quer dizer, comprar meus filhos?
Gaara percebeu a hostilidade na voz de Hinata e no calor de seu olhar.
— Porque é disso que você está falando — acusou-o Hinata, acrescentando com determinação. — E se eu tivesse alguma intenção de permitir que você fizesse parte da vida deles, o que acaba de dizer me faria mudar de ideia no mesmo instante. Não há nada que possa me oferecer que vá me convencer a arriscar o futuro emocional dos meus filhos permitindo que você tenha qualquer tipo de contato com eles.
As palavras dela tiveram mais efeito sobre ele do que Gaara gostaria de admitir. Era um homem orgulhoso e poderoso, acostumado a dominar, não apenas através da obediência, mas também do respeito e da admiração dos outros, e se sentiu atingido pela crítica dela. Não estava acostumado a recusas, menos ainda de uma mulher de quem ele se lembrava como uma moça vulgar. Gaara foi obrigado a reconhecer que precisaria mudar seu método de abordagem se quisesse alcançar seu objetivo.
Por isso, mudou imediatamente de tática e a desafiou.
— Pode não haver nada que eu possa oferecer a você, mas o quanto eu posso oferecer aos meus filhos? Você mencionou os sentimentos deles. Pergunto-me se já pensou sobre como vão se sentir quando crescerem e perceberem o que você lhes negou não permitindo que conhecessem o pai...
— Isso não é justo — Hinata objetou com raiva, percebendo que Gaara descobrira seu ponto mais vulnerável no que dizia respeito aos gêmeos.
— O que com certeza não é justo é você negar aos meus filhos a oportunidade de conhecerem o pai e a cultura que é deles por herança.
— Como seus bastardos? — A palavra era horrível e deixou um gosto amargo na boca de Hinata, mas precisava ser dita. — Forçados a ficar em segundo plano em relação a seus filhos legítimos e a sofrer com o ressentimento de sua esposa?
— Não tenho outros filhos, nem esposa alguma.
Por que o coração dela saltou no peito ao ouvir isso? Afinal, o que lhe importava se Gaara estava casado ou não?
— Estou lhe avisando, Hinata, que pretendo ter meus filhos comigo. A qualquer preço, não importa o que eu precise fazer.
Hinata sentiu a boca ficar seca. Era verdade que Gaara podia dar muito mais do que ela aos meninos, no sentido material, e Hinata também se viu forçada a concordar que era mesmo possível que, no futuro, os gêmeos a culpassem por não ter permitido que aproveitassem a prosperidade do pai e, mais importante, por não ter permitido que o conhecessem. Afinal, todos sabiam que meninos precisavam ter uma figura masculina forte como referência. Mas nunca pensara que essa figura seria o pai deles...
A verdade, na opinião de Hinata, era que as crianças de um modo geral eram mais felizes quando os pais tinham uma relação estável, ambos comprometidos com o bem-estar delas,
Uma mãe e um pai. Ela, mais do que a maioria das pessoas, conhecia os prejuízos aos quais um filho ficava exposto quando os pais não estavam presentes.
Hinata teve a consciência aguda de que a decisão que tomasse naquele momento afetaria seus filhos pelo resto da vida deles. Queria muito que as irmãs estivessem ali pura ajudá-la, mas não estavam. As duas tinham as próprias vidas para cuidar e, em última instância, os meninos eram responsabilidade dela, a felicidade deles estava nas mãos dela, Gaara dissera que estava determinado a ficar com os meninos. Ele era um homem bem-sucedido, poderoso, que não teria dificuldade alguma em persuadir os outros de que os filhos deveriam ficar com ele. Mas Hinata era a mãe deles. E não permitiria que Gaara os levasse para longe dela, tanto pelo bem deles quanto pelo dela. Gaara não os amava, apenas os queria.
Hinata duvidava de que ele fosse capaz de entender o que era o amor. Sim, ele os proveria bem materialmente, mas crianças precisavam de muito mais do que isso, e seus filhos precisavam dela. Fora ela quem os criara desde que nasceram e os meninos precisavam dela ainda mais do que ela precisava deles.
Portanto, se não podia evitar que Gaara reivindicasse os filhos, então devia aos meninos a certeza de que ele não a afastaria deles.
O coração de Hinata começou a bater muito rápido enquanto ela lutava contra a solução que sua mente lhe propunha. Mas agora que a ideia surgira, já não era possível ignorá-la. Gaara dissera que faria qualquer coisa para ter os filhos morando com ele. Pois bem, talvez ela devesse testar a firmeza dessa intenção, afinal, no que lhe dizia respeito, não havia sacrifício que não fizesse pelo bem deles. O desafio que pretendia fazer a Gaara era um enorme risco para si mesma, mas pelo bem dos meninos estava determinada a corrê-lo. Afinal, era um desafio que obviamente iria vencer, já que tinha certeza de que Gaara jamais aceitaria os termos com os quais o confrontaria. Hinata respirou fundo e falou:
— Você diz que o lugar dos meninos é com você, certo?
— É.
— Eles têm cinco anos e sou mãe deles. — Hinata fez uma pausa, torcendo para que sua voz não traísse o nervosismo que sentia. — Se realmente se importa com o bem-estar deles como diz, deve saber que são jovens demais para serem separados de mim.
Mesmo contra sua vontade, Gaara foi forçado a admitir que ela marcara um ponto.
— Você precisa estar muito seguro do motivo por que quer os gêmeos, Gaara. — Hinata continuou pressionando o mesmo ponto. — E também precisa ter certeza de que seu desejo de tê-los com você não é apenas o capricho de um homem rico. Porque a única maneira de me fazer permitir que os tenha é se eu estiver junto... Como mãe deles e como sua esposa.
Que tal uma GaaHina pra variar um pouquinho?
Adaptação da história "Estranho sedutor" de Penny Jordan,maravilhosa!
