Ela não entendia a confusão na qual seus sentimentos se encontravam. Estar na mira daquela flecha não deveria fazer seu batimento cardíaco dançar em um ritmo descompassado, ou melhor, deveria sim, mas não dessa maneira. Não por esse motivo. Ver aquele estranho em uma postura destemida e todo senhor de si, com os olhos focados nos seus, intensos, perigosos, decididos, hipnotizantes, dominadores, doces, estava lhe tirando os pensamentos coerentes e a capacidade de se defender. Defender-se do que afinal? Do perigo de ser o alvo daquela flecha mortal ou daquele olhar que parecia desvendar-lhe a alma, deixando-a completamente exposta perante aquele desconhecido? Era como se ele fosse realmente capaz de enxergá-la além das aparências e, mais do que isso, compreendê-la. Como seria possível? Não, deveria ser apenas sua mente imaginando coisas por conta da situação em que se encontrava. Era a única explicação, ainda que não a satisfizesse.
Mas seu olhar, mais eficiente e fatal do que qualquer tipo de ameaça, haviam-na desarmado. Homem algum jamais fora capaz de conseguir tal feito. Nunca fora subjugada dessa forma. E era assustador. E excitante. Uma combinação eletrizante e deliciosa. Completamente nova.
Morrer ou viver. Estava nas mãos daquele lindo e enigmático arqueiro e tudo o que conseguia pensar – e que não tinha lógica alguma - era render-se a ele e a sua vontade. Se mais alguém fosse capaz de lê-la naquele momento, a grande e temida Viúva Negra seria desacreditada perante seus inimigos e desrespeitada pelos que a admiravam. Patética. Era o mínimo que poderia pensar de si mesma no momento. Quem era aquele homem, afinal?
Então lentamente ele abaixa o arco, mas em nenhum momento quebra o contado visual. Ele havia feito uma escolha: deixá-la viver. Por quê? E agora ela tinha uma dívida com ele. E faria de tudo para pagá-la. E ante esse pensamento ela sorri. E é prontamente correspondida. Suas perguntas teriam, enfim, uma resposta.
