EPITÁFIO
Em toda a minha vida, e olha que não é pouca coisa, jamais imaginei presenciar um momento de tamanha dor.
Enquanto estive do outro lado da rua, cercado pela população possuída, meus rapazes enfrentavam Lilith. Sim,meus. Aqueles garotos sempre foram o que de mais próximo de uma família eu tive.
Por trás do vidro da janela, fui espectador apenas. Nada pude fazer para impedir o pior. Um total e completo inútil.
As nuvens negras que cobriram a noite me causaram ondas de arrepios. E então, gritos. Gritos de pavor e dor e eu bem sabia de quem. Não pude fazer nada. Não fui capaz de mover uma palha. A voz de Sam clamava por socorro, implorava pelo irmão e, de repente, aquele brilho ofuscante a calou.
Silêncio. Meu coração silenciou também. Já não percebia as batidas aceleradas. Se a boca não estivesse fechada, seria provável que tivesse pulado pela goela.
Quando a nuvem de fumaça saiu pela ventilação da casa, toda aquela gente caiu por terra e foi aí que percebi que algo que não estava no programa daqueles malditos demônios havia acontecido. Tive um lampejo de esperança de que, de alguma forma, os garotos pudessem ter derrotado Lilith, libertando Dean do acordo.
Corri. Corri enlouquecidamente sem me preocupar com o que havia pela frente.
A porta trancada não me deteve e, certamente, algum osso saiu do lugar quando a atingi com o ombro porque a dor foi de lascar. Mas eu não estava preocupado com isso.
Dean estava nos braços do irmão.
Esperei por uma palavra ou gesto, mas nada.
Percebi a poça de sangue ao redor do corpo dilacerado daquele a quem amei como se fosse um filho. Quem ousaria me contrariar? Meu filho, sim. Eu o vi crescer, o vi assumir a família e guardar todas as lágrimas que teve vontade de chorar em nome da missão que recebera de John, ainda criança.
Minhas pernas já não me pertenciam.
Meus olhos se perderam nos olhos sem vida, inexpressivos de Dean e no pranto infantil de Sam.
Senti os joelhos dobrarem e me deixei cair sobre eles.
Há doze meses me preparava para enfrentar o que parecia inevitável, mas não queria acreditar que estava acontecendo. Ninguém está preparado para ver seus filhos morrerem. Ninguém...Eu quis morrer naquela hora.
Ficamos os três ali, devastados.
A simples idéia de que havíamos falhado miseravelmente em salvar Dean era inaceitável. Imaginá-lo, agora, no Inferno... Oh, Deus...
Sam ergueu a cabeça lentamente e voltou o rosto em minha direção. Seus olhos vermelhos, inchados, transpareciam toda a sua dor. Aquele olhar atravessou o meu coração como uma lança afiada.
Descobrimos, naquele dia, que nossa única certeza era de que perdêramos o que tínhamos de mais precioso. Perdi um filho corajoso, leal e obstinado que, mesmo não tendo o meu sangue, tinha o melhor de mim.
FIM
N/A: Não levem muito a sério. Foram 15 minutos de delírio e pimba! Saiu o texto.
