Capítulo O1

engolindo planetas.

O porta retrato passou rente a sua orelha, com as pessoas na fotografia protestando devido o tratamento violento e falta de respeito em relação à moldura. Se não fossem pelos seus reflexos adquiridos pelos anos como artilheiro, com certeza agora ele teria um enorme corte e um hematoma na testa para exibir. Um grito veio acompanhado de outro objeto inanimado vindo em sua direção porém dessa vez Caradoc Dearborn não tivera tanta sorte. O livro lhe acertara em cheio na testa; pela manhã estaria roxo, com certeza.

Não teve tempo nem de levar uma das mãos a testa e verificar se estava começando a inchar. Tivera que se abaixar novamente, pois dessa vez a mulher jogava em sua direção um pesado vaso chinês que fora presente de casamento de sua irmã; que agora não passava de milhares e milhares de pedaços de vidro espatifado e espalhado pelo chão.

- Seu desgraçado! - a voz feminina vociferou, jogando contra o homem uma vassoura, que teve o cabo quebrado ao se chocar com a parede atrás do mesmo, que por poucos segundos havia conseguido escapar, jogando-se no chão pela segunda vez em poucos segundos. - Insensível! - nisso o tom de voz ficou rouco e um soluço brotou do fundo da garganta da mulher. O braço erguido e que agora segurava um bastão de quadribol pareceu enfraquecer e aos poucos foi se abaixando.

Outro soluço brotou da morena e ela pareceu desinflar, a raiva deixando o seu corpo enquanto o mesmo amoleceu e foi deslizando pela coluna da parede até chegar ao chão. Ao ver que a mulher finalmente parecia ter perdido a ânsia de assassiná-lo, Caradoc soltou um longo e sofrido suspiro, saindo de seu esconderijo atrás do batente da porta do quarto e adentrando o aposento cautalosamente, como se estivesse pisando sobre milhares de granadas que iriam se ativar ao menor movimento brusco.

Gwenog continuou imóvel, recostada a parede repleta de porta retratos, soluçando enquanto abraçava o bastão contra o peito, ignorando a aproximção do marido que não sabia se ria da cena patética ou se consolava a mulher. O temperamento da jovem já não era estável na adolescência, agora então no oitavo mês da gestação os hormônios estavam à flor da pele; sabia que se risse, ela acabaria jogando a casa encima do mesmo. Melhor não arriscar.

Ainda a passos hesitantes aproximou-se mais dela, cautelosamente abaixando-se ao seu lado e carinhosamente passando um dos braços pelos ombros da jovem esposa, a puxando para sí. Gwenog nunca fora de demonstrar fraquezas muito menos chorar na frente de qualquer pessoa, porém recostou a testa no ombro largo e definido de Caradoc enquanto o pequeno corpo tremia com os soluços. Os longos e negros cabelos estavam em completo desalinho, caindo pelos ombros e alguns fios grudando nas bochechas levemente avermelhadas. Os grandes olhos castanhos cor de amêndoa estavam inchados e avermelhados perto da íris.

E essa foi a lição mais valiosa que Caradoc Dearborn aprendeu durante os poucos meses de casamento que se seguiram; que nunca, em hipótese alguma, deve-se dizer que uma mulher grávida está tão gorda que parece que engoliu um planeta. Principalmente se a mulher em questão for Gwenog Jones.