Algumas pessoas têm sono pesado, não despertam nem mesmo com o coral de Hogwarts disposto todo à volta de sua cama, fazendo um desses ensaios para os quais costumam se encontrar duas vezes por semana. No entanto, outras pessoas, entre as quais se inclui nossa protagonista, ao menor ruído estranho já estão em pé, com a varinha em punho, de todo prontas para um sangrento duelo mágico com o invasor, ou de todo prontas para reprimir e talvez ameaçar verbalmente o invasor, no caso de se tratar de alguém intocável, composto exclusivamente de ectoplasma (e atrevimento, porque é preciso ter um bom bocado de atrevimento para se meter onde não é chamado).
Foi justamente o que se passou na madrugada do quarto domingo para quarta segunda-feira do mês de dezembro do ano de 1972, uma noite especialmente gelada, ainda que sem neve. Anexa ao quarto da professora de transfigurações, como parte de seus aposentos, havia uma saleta, e na saleta havia uma lareira. Era preciso passar por essa saleta para se ter acesso ao quarto. A porta que dava para os corredores do Castelo ficava na saleta. Como eu disse, era de madrugada, portanto, é claro, a bruxa dormia, ao menos até ouvir um tal ruído que a pôs em pé. A próxima ação foi pegar a varinha, depois os óculos, e ainda sem pô-los e com os pés descalços, ela, valendo-se de sua discrição felina, caminhou até a porta entreaberta.
Um fantasma, um elfo-doméstico ou até mesmo o próprio Pirraça, não a teriam surpreendido. Um aluno xereta a teria tirado do sério e qualquer tipo de larápio teria provocado sua mais profunda ira. No entanto, o que encontrou não era um fantasma, um elfo, Pirraça, um aluno ou um larápio e sim algo completamente inesperado que certamente a surpreendeu.
Lá estava ele, abaixando-se para depositar um presente sob a árvore de Natal: um senhor velhinho de barbas brancas como a neve, oclinhos na ponta do nariz, e, é claro, roupas e gorro vermelhos-sangue com detalhes muito felpudos. Quando ele a viu, parada na porta, suspirou fingindo frustração e disse:
- Oh, parece que alguém está fora da cama, apesar do adiantada das horas. Muito feio. Se não tivesse sido uma boa menina este ano, minha querida Minerva, eu a castigaria não lhe deixando presente nenhum.
Ela apenas sorriu, o assistindo voltar para a lareira.
- Feliz Natal. - ele disse, sorrindo e tomando nas mãos um bocado de pó de flu.
- Feliz Natal.
Quando ele já estava dentro da lareira, prestes a jogar o pó aos próprios pés, ela resolveu perguntar, antes que fosse sem tempo:
- Albus... o que diabos é isso que está vestindo?
- Pijamas. – então ele sumiu em labaredas verdes, indo parar em qualquer lugar que pudesse ser chamado de Pijamas.
Fim
