Título: The Same Old Mistakes

Autora: Samantha Tiger Blackthorn

Beta: Ifurita

Casal: Aoi x Uruha

Tema Musical: Same Mistake – James Blunt

Classificação: NC-17 - M - +18... Etc, etc... Para adultos!

Gênero: Slash, Romance, Drama, Angust, Lemon.

Resumo: Temos o livre arbítrio, não temos? Nem sempre. De vez em quando, se persistimos muitas vezes no mesmo erro, o destino nos prega peças e a vida nos dá uma nova chance para cometermos novos erros, mesmo que não peçamos por ela.

Avisos: Essa é uma estória Slash, contém LEMON, mostra o relacionamento e o sexo explícito entre dois homens,se não gosta não leia.

Disclaimer: Esses homens lindos e talentosos não me pertencem, o que é uma pena, apenas tomo a liberdade e o atrevimento de me divertir com eles.

Dedicatória: Para minha querida Amiga e Beta Lady Anúbis, um presente pelo seu aniversário, com todo meu amor. EU TE ADORO MINHA 'CABEÇA DURA' PREFERIDAAA! *grita* Foi escrita com carinho, e o meu único objetivo é agradar você. Espero que aprecie ao ler, tanto quanto adorei escrever.

FELIZ ANIVERSÁRIO! *atrasado*


The Same Old Mistakes

1ª Parte

Lentamente a consciência foi voltando à sua mente. Embora não conseguisse se mover ou abrir os olhos ou falar, ele podia ouvir os sons à sua volta e sentir o tato voltando à sua pele. Não se lembrava de nada, não sabia onde estava, nem com quem estava, nem seu próprio nome. Mas sentia um aperto leve em seu indicador esquerdo e sua mão direita levemente úmida, bem segura por outra mão, e o perfume suave e conhecido perto de si. Ouvia soluços baixinhos, como se alguém chorasse, palavras sussurradas que ainda não conseguia entender, um bipe regular soando ao seu lado. Tudo isso meio misturado em sua mente, como se ele estivesse ali, mas meio à parte do que acontecia, e então tudo foi sumindo.

"... Ainda estou imóvel, inerte, mas minha mente saiu daquele nevoeiro obscuro, está mais nítida agora. Não sei se dormi ou perdi os sentidos, nem por quanto tempo fiquei ausente. O silêncio agora só é cortado pelo som do bip regular ao meu lado. Ainda sinto a leve pressão em meu dedo indicador esquerdo, e a palma de minha mão direita pousada sobre outra, o contato de outra pele quente e macia sobre o dorso dela, algumas dores pelo corpo. Queria ver quem está aqui, perguntar o que está acontecendo, mas por mais que me esforce, meus olhos não se abrem, minha voz não sai, está presa em minha garganta. Posso sentir o toque em minha pele, e o perfume junto de mim, e ouvir e pensar, mas nada mais.

Ouço o som de uma porta se abrindo, passos leves chegando mais e mais perto, um aperto leve em minha mão direita por um breve momento e que logo depois ele a deixa, tirando parte da minha segurança. Mãos delicadas me tocam, virando a minha cabeça para o lado, tocando um ponto dolorido, dedos leves, algo úmido encostando ali, sinto o ardor no local, se espalhando e logo depois aliviando a dor. Sinto algo úmido e frio em meus lábios, atenuando a secura em minha boca, o toque macio e fresco em minha pele, no pescoço, peito, abdômen, nos braços e pernas, deixando uma sensação de bem estar em meu corpo. Logo um toque gelado em meu peito me faz arrepiar, os mesmos dedos leves em meu pulso esquerdo, tomando a pulsação para depois pousá-lo no lençol frio e se afastar.

Então me sinto sozinho. Só eu e o som do bip que não se cala. O cheiro característico de hospital ressuscitando a minha fobia infantil, aquela angústia de não ter ninguém comigo me perturbando. Um barulho na porta me alerta, um perfume conhecido chega até mim. O toque suave em minha mão direita, o pousar leve de lábios no dorso dela, me trazendo de novo a segurança, me acalmando. Sei quem está comigo e agora (já) não me sinto mais sozinho."

Sua última sensação foi aquela névoa estranha chegando, afastando os sons e sensações de si, o esquecimento o levando de novo, enquanto tudo sumia na névoa misteriosa.

oOo

- Eu não posso te forçar. A escolha é sua e somente sua Uruha! Eu lhe peço que aceite o que lhe ofereço, estou em suas mãos.

- Aoi, você não me entende, ou não quer entender? Não é questão de querer. Eu não tenho escolha. Já está decidido, minha resposta é não. – Mantinha-se de costas, o olhar perdido na rua lá embaixo, os punhos fechados nos bolsos da jaqueta e os dentes apertados.

- Mas por quê? Você não vê que isso só vai nos fazer sofrer? Sofrer muito mais do que se enfrentássemos o que sentimos.

- Você não tem noção do que é sofrer, não sabe o que está dizendo, e eu não quero isso Yuu! Por isso a resposta é não! Essa é a minha decisão, quer você queira, quer não! – Ouviu o palavrão e estrondo da porta batendo, a voz dele ainda ecoando no hall do elevador.

Sentia dor, angústia, mas não conseguia ceder. Continuava olhando pela janela, o movimento na avenida movimentada. As mãos tocaram o vidro, chegando ainda mais perto da janela fechada. Viu-o aparecer na escada da entrada do prédio, andando pelo calçamento até o portão do condomínio ao lado da guarita. Viu quando ele abriu o portão e parou, voltando seu olhar pra cima, como se pudesse vê-lo mesmo àquela distância...

E então um carro freou de repente, fazendo outro que vinha logo atrás desviar e derrapar batendo numa moto, desviando-a para a calçada e pegando o guitarrista em cheio, atirando-o contra a grade que cercava o condomínio, batendo todo o corpo e a cabeça no ferro e desmaiando em seguida. A máquina continuou o movimento, ainda veloz, tombando e arrastando o piloto no chão.

À medida que a cena se desenrolava Uruha foi se aproximando do vidro, as mãos e o rosto se colando à janela, vendo como se tudo se passasse em câmera lenta, o acidente acontecendo e atingindo o moreno na calçada, o corpo jogado contra a grade como se fosse um boneco e logo desmoronando no chão. Seus olhos se arregalaram até quase saltarem de seu rosto, seu coração quase parando, uma sensação gelada tomando todo seu corpo, as lágrimas escorrendo sem que notasse até que sua voz se projetou em um grito...

- YUUUUUUUUHHHHHHHH!

O som de sua própria voz gritando dentro de si o acordou assustado, debruçado sobre a cama do hospital, o rosto realmente molhado, ainda pousado sobre a mão do moreno. Seus olhos se abriram olhando a parede em branco e um verde clarinho, ouviu o som regular do bip, marcando os batimentos cardíacos, levantou a cabeça e olhou para ele deitado ali.

Já anoitecia. Apertou a mão dele na sua, a outra tocando o rosto inconsciente, passando leve nas mechas negras. Lembrava-se de tudo, achava que nunca mais ia se esquecer daquele momento horrível em que descera pelo elevador discando o celular e chamando uma ambulância, discando o número de Kai e contando do acidente, descendo as escadas correndo e passando pelo portão, chegando ao lado dele e se vendo impotente.

Nunca se esqueceria do resgate, os paramédicos colocando a coleira, o imobilizando na maca, a viagem até o hospital central, que era o mais próximo, dentro da ambulância, a sirene estridente tocando. Sua ansiedade no hospital só se acalmou um pouco com a chegada dos amigos, a presença segura de Kai, Reita e Ruki o confortaram.

Passaram uma hora na sala de espera enquanto Aoi era examinado, e quando o médico apareceu seus nervos estavam por um fio. Ele tinha sofrido uma concussão cerebral, a perda imediata da consciência no momento do trauma, mas geralmente era recuperável em vinte e quatro horas ou menos e sem seqüelas.

Disse que poderia haver certa perda de memória, que talvez não se recordasse do acidente, dos momentos ou fatos que o antecederam, nem de eventos imediatamente posteriores, mas que uma avaliação mais precisa só quando ele recobrasse a consciência. E agora estava ali com ele. Passaram-se apenas três horas, mas a sensação era que tinha se passado muito mais.

- Aoi... – Sussurrou ainda acariciando os cabelos negros. – Kami-sama... Como pode ter acontecido algo como isso... Ainda não consigo acreditar...

Entremeou os dedos leves aos cabelos negros, correndo por eles, tirando alguns fios de sobre o rosto. Suspirou, desalentado, ainda sentado ao lado da cama. Observava a respiração calma, compassada, olhava o monitor mostrando os batimentos cardíacos, marcados pelo bip suave.

- Estamos tão preocupados... O GazettE não seria o mesmo sem você... Nós todos precisamos de você, tá ouvindo...? 'Eu' preciso de você. – Levantou a mão dele, encostando-a ao seu rosto, beijando-a, murmurando com os lábios encostados nela. – Queria tanto que você abrisse os olhos... Queria vê-los de novo, vivos, sagazes, mesmo que brilhassem raivosos para mim...

Apoiou os cotovelos na beirada do colchão, a mão dele ainda na sua, encostando a bochecha molhada de lágrimas sobre ela, falando baixinho como se ele o estivesse ouvindo, os olhos fixos em seu rosto. O médico disse que era bom falar, que nunca se sabia se a pessoa ouvia ou não, mas que uma voz conhecida, de uma pessoa amiga podia incentivar o despertar do paciente.

- Yuu... Yuu volta pra mim... – Dizia baixinho, sem conseguir deter as lágrimas que escorriam sem parar. – Não me deixa... Abre os olhos, olha pra mim... – Estava distante, com todo seu ser concentrado no moreno, sem prestar nenhuma atenção ao que acontecia à sua volta. Não notou que alguém entrava e parava ao seu lado, até que falasse consigo.

"Senti uma sensação estranha, como se estivessem me puxando de um lugar distante e escuro para a luz, quente, a neblina gelada se dissipando com o calor que sentia em meu corpo, em minha pele. O primeiro som que ouço é o bipe, a intervalos regulares, cadenciados. Depois uma voz, uma voz conhecida... Uma palavra... 'Yuu'. A voz, doce e baixa é... É a voz dele. '...volta pra mim...' Quero abrir os olhos, sorrir para ele e dizer que estou bem... Estou me esforçando, mas não consigo mover nada, nem abrir os olhos, ou fazer qualquer som."

- Kou... Você está bem? – Reita tocou as costas do loiro, fazendo com que este levantasse a cabeça e voltasse o rosto para si, as faces molhadas pelas lágrimas.

- Estou bem Rei-chan... Só preocupado.

- Não devia estar aqui, não quer ir descansar um pouco? – Olhava o moreno deitado na cama, a tez pálida, imóvel. – Você ainda está em choque, deve ter sido horrível!

- Prefiro ficar aqui com ele. – Voltou o olhar de novo para Aoi. – E os outros?

- Estão aí fora, no corredor. Como você é o acompanhante, só deixam entrar um de cada vez. – Apertou o ombro do amigo. – Uru, é indiscutível o que ele sente por você, por que não dá uma chance? Eu sei que você o ama também...

- Eu não posso! Rei, você sabe que não dá... É... – Abaixou mais o tom de voz – É tão evidente assim...?

- Eu conheço você desde garoto, então pra mim é sim, muito evidente. Não que todas as outras pessoas notem, mas nós da banda, nós convivemos uns com os outros todos os dias... Só um cego não vê que o Yuu te ama e que você corresponde a esse sentimento...

"A voz abaixa até quase sumir e depois retorna várias vezes, até se tornar alta e clara. Posso ouvir perfeitamente a voz 'dele', baixa, suave, embargada... As palavras só precisam começar a fazer sentido em minha mente. E agora outra voz, outra pessoa fala: Reita. Ele fala baixo também... Sinto que não devia estar ouvindo essa conversa, é particular, mas não consigo me manifestar, demonstrar que estou consciente... Tento com todas as minhas forças mover os dedos, ou pelo menos pronunciar um nome, mas não posso. Concentro-me ao máximo, nos dedos da mão direita..."

- E por me conhecer há tanto tempo você devia se lembrar de tudo e saber por que isso não é possível.

- Eu me lembro de tudo, do por que desse seu comportamento, do por que do seu ceticismo, e que foi por causa daquele cara que você se tornou arredio e inconstante. Mas isso foi há muitos anos e ele era só um imbecil!

- Nunca mais quero ser tratado daquele jeito Akira. – Sua voz tremeu levemente com o nervoso.

- Você não pode estar querendo comparar aquele traste com o Aoi.

- É claro que não! – Sentiu-se indignado com o amigo, por ele pensar um absurdo desses. – Mas não quero passar por aquilo de novo, ou que Yuu me olhe daquele jeito um dia.

- Isso nunca iria acontecer Kou... – Falou baixinho. – O que ele sente é sincero e verdadeiro.

- Não, não vai acontecer... Por que eu não vou deixar. – Suspirou, cansado.

- Você sempre foi teimoso... – Apertou o ombro dele. – Vai querer passar a noite aqui, não vai?

- Eu 'vou' passar a noite aqui.

- Então vamos pra sua casa, você toma um banho, come alguma coisa e depois eu te trago de volta. – Argumentou. – O Kai e o Ruki fazem uma visita para ver como ele está e ficam aqui tomando conta dele. – Viu que ele estava indeciso e insistiu. – Vamos Kou-chan... Sabe que isso é preciso, eu vou com você.

"As mãos macias deixam a minha sobre o lençol frio, com um toque de leve dos lábios sobre ela. Ouço a porta se abrindo e mais vozes chegaram a mim. Vozes dos meus outros amigos. Reconheço as de Ruki e de Kai, preocupados. Rio em minha mente, tento pelo menos sorrir, mas meus lábios não me obedecem. O barulho de vozes foi cessando, a cadeira ao meu lado arrastou no chão, o som de outra se colocando perto chamou minha atenção.

São duas pessoas que conversam bem baixinho, é difícil discernir quem fala pela voz, mas o perfume mais próximo a mim denuncia a presença de Ruki, logo o outro deve ser Kai. Esse murmúrio de vozes conhecidas me acalma. Uma sonolência vai tomando o meu corpo e relaxo me deixando envolver. Apesar de cansado sinto-me bem, tenho amigos ao meu redor, então estou tranquilo."

oOo

Reita dirigia o carro de Ruki, levando Uruha para casa. O loiro ia sentado no banco ao seu lado, o olhar vago na janela, sem notar a paisagem urbana que passava diante de seus olhos. O baixista espichava o olhar de vez em quando para o loiro, notando a postura apática por todo caminho, mas que mudou drasticamente conforme foi chegando diante do condomínio, e ficou aflita ao passar ao lado do local onde o acidente tinha acontecido, as marcas dos pneus da moto na calçada. Desceu a rampa da garagem para o subsolo, estacionando o carro numa das vagas para visitante.

Desceram do carro, subiram pelo elevador e, ao entrar no apartamento, Reita viu o desespero passar pelo olhar de Uruha ao ver a janela, aquela que dava para frente do edifício, aquela que mostrara toda a tragédia. Colocou a mão no ombro do guitarrista, apoiando o amigo nesse momento de aflição, guiando-o para longe daquele cenário, o levando para o próprio quarto e o banheiro adjacente, deixando-o lá com a roupa e a toalha.

- Tome um banho Kou... Coloque essa roupa mais quente, o hospital é frio à noite. – Passou a mão pelo braço dele, apertando-o confortador diante do silêncio do loiro. – Enquanto isso eu vou providenciar alguma coisa pra você comer.

- Não tenho fome Aki-chan. – Respondeu, tirando a camiseta, completamente alheio ao fato de que se despia. – Quero voltar pra lá o quanto antes.

- Mas vai comer sim, se quiser voltar. – Reita insistiu firmemente, quase achando graça na cara de contrariedade, no enorme bico emburrado. – As enfermeiras não precisam deixar de atender os pacientes que realmente precisam da atenção delas para socorrer alguém desmaiando de fraqueza.

Uruha resmungou palavras ininteligíveis, abrindo o chuveiro e entrando sob ele, fechando a porta do box. Ensaboou-se rapidamente, a cabeça lá naquela cama de hospital, com Yuu inconsciente, sem que se pudesse saber de seu estado de saúde com exatidão. Não conseguia deixar de pensar que se talvez Aoi estivesse consigo, se estivessem juntos, não teria se envolvido naquele acidente. Fechou o chuveiro e se enxugou, colocando a roupa que Akira tinha deixado para ele.

Caminhou até a cozinha, onde Reita esperava por ele com duas caixinhas de yakisoba e duas latas de refrigerante. Não estava com vontade nenhuma de comer, só conseguia pensar em Aoi, mas o baixista tinha razão, precisava se alimentar, as enfermeiras não precisavam de mais um paciente e Aoi precisaria dele em breve. Pelo menos achava que sim. Então se sentou em frente ao amigo, puxou a sua refeição e começou a comer, silenciosamente. Sentia o olhar dele sobre si, preocupado consigo.

- Obrigado Aki... – Olhou para os olhos escuros, engolindo o bocado que tinha na boca. – Eu precisava disso, mesmo comendo sem fome e estando cansado, estou me sentindo melhor.

- Você sabe que pode contar comigo Kou-chan... – Sorriu para ele. – Mesmo sendo tão teimoso.

oOo

A porta do quarto se abriu, dois pares de olhos se voltaram para encontrar Reita e Uruha, de volta depois de duas horas. Pelo menos a expressão do guitarrista loiro estava um pouco mais calma. Ruki se levantou na mesma hora, abraçando o loiro, com carinho, que só tinha olhos para Aoi.

- Ele está bem, continua inconsciente. – Disse o vocalista, olhando para o amigo na cama.

- O médico veio aqui... – Kai continuou. – Falou que ele está respondendo bem ao tratamento e que acha que ele deve acordar logo... – Vai ficar tudo bem Uru...

O loiro se aproximou da cama, com o olhar pregado no rosto pálido do moreno. Sentou-se na cadeira logo ao lado da mesinha de cabeceira, onde Ruki estivera sentado. Foi com dificuldade que desviou os olhos do seu amor, voltando o olhar para os companheiros, vendo os três ali ao seu lado, sorrindo tristemente. Eles eram seus amigos.

- Estou tão preocupado... Desculpe, eu... – Uruha falava baixo e constrangido. – Não estou conseguindo pensar em mais nada...

- Nós compreendemos Kou, eu também estou. – Kai falou em nome de todos ali. – Todos nós estamos preocupados, com ele e com você também, inclusive o nosso empresário e o pessoal da produtora.

- Olha. Você não está sozinho... Você vai passar a noite aqui e nós também. Estamos todos juntos. – Ruki falou decidido. – Nós três já combinamos tudo, nem adianta ser contra. Você vai ficar aqui com ele, como acompanhante, mas nós vamos estar bem ali, na saleta de estar, neste mesmo andar.

- Isso mesmo Kou... Como eu disse pra você, pode contar comigo, conosco, para tudo. – O baixista reforçou as palavras do namorado. – Se você precisar descansar um pouco durante a noite, não hesite em falar. Aoi vai precisar de nós, principalmente de você.

- Vocês são fantásticos... – Tomou a mão direita dele nas suas, a mão esquerda por cima, acariciando a pele fria. – São amigos incríveis! Tenho muita sorte de tê-los comigo e tenho certeza de que Aoi pensa o mesmo que eu. – Baixou os olhos, sentindo-os ficarem cheios d'água.

"A voz... É a voz dele, me chamando para despertar. O toque quente e macio em minha mão é bom, muito bom... Ele está triste, preocupado, eu percebo pela voz, por quê? Eu não sei o que aconteceu, não me lembro, mas não quero que ele fique assim. Tenho que me concentrar... Nos meus dedos... Mexer os meus dedos... Só um pouco, um pouquinho... Dizer... Alguma coisa, eu... Preciso..."

- Agora chega de tanta falação, senão vou acabar fazendo uma cena ridícula aqui... – Virou o rosto, enxugando os olhos fechados, discretamente, com as costas da mão, a voz trêmula pelo esforço de tentar se controlar para não chorar. – Eu prometo que se eu precisar de qualquer coisa vou até lá e peço socorro...

- K... Kou... – Aoi arquejou com o enorme esforço que fez para falar, um pequeno sussurro, mal movendo os lábios, provocando uma comoção forte no loiro, que sem perceber arregalou os olhos, virando-se para fitar o rosto emoldurado pelos cabelos negros.

Uruha notou os sinais que mostravam que ele acordava, o estremecimento das pálpebras, o suspiro profundo, o movimento sutil da mão, mexendo minimamente os dedos, indicador e médio, da mão direita e começou a chorar chamando a atenção de todos para o que estava acontecendo.

- Aoi... Você está me ouvindo? – Apertou a mão dele entre as suas, seu frágil estado emocional se abalando novamente. – Se você me ouve, mexa os dedos... Mexa... De novo...

Ansiedade, preocupação e alívio se misturavam nas expressões dos quatro amigos, naqueles minutos intermináveis de espera, se aproximando mais da cama, aguardando enquanto aquela cena surreal se desenrolava.

"Eu ouvi o silêncio se estender por um momento interminável, e logo depois ser drasticamente interrompido pelos sons que estavam se tornando familiares para mim: o bip irritante, os passos leves das enfermeiras, as rodas do carrinho que passava no corredor... Mas nada era comparável àquela voz, à voz dele falando comigo, me pedindo por um sinal, um sinal que eu me esforçara tanto em dar e que agora lutava arduamente para repetir. Suspirei profundamente, me concentrando nos meus dedos apertados na mão quente dele, finalmente curvando os dedos na tentativa de segurar a mão por baixo da minha."

- Aaahhhhh... – Um gemido de alívio escapou dos lábios trêmulos do loiro que já não podia mais segurar a torrente de emoções e de lágrimas que corriam aos borbotões pela face. – Kami-Sama... Obrigado... Obrigado...

Sentiu que os amigos se aproximavam. A mão do líder em seu ombro, lhe dando o apoio tão necessitado, ouvindo um soluço abafado do outro lado da cama. Ruki se agarrava à camisa do baixista escondendo o rosto em seu peito e Reita o abraçou, estendendo a mão para apertar o interruptor que alertava as atendentes no centro de enfermagem do andar.

oOo

Uruha andava rapidamente pelos corredores do hospital, com Reita ao seu lado, a caminho do quarto onde estava Aoi. Olhava a todo instante no relógio, torcendo para chegar antes da visita do médico, que viria dar alta. Tinha ido até sua casa descansar na noite anterior, depois de muita insistência dos outros amigos.

- Calma Uruha, talvez ele nem tenha chegado ainda...

- Eu devia ter ficado aqui essa noite, Reita... Eu sei que tenho dificuldade de acordar no horário, então não devia ter ido dormir em casa, não devia ter deixado vocês me convencerem.

- Mas você precisava... – Reita retrucou irritado. – Já está aqui há três dias e três noites, dormindo naquela poltrona desconfortável! As poucas vezes que foi até em casa foi para tomar um banho, trocar de roupa e voltar correndo pra cá... Tem se alimentado mal, isso quando se alimenta... Ou pensa que nós não estamos notando...?

- Certo, certo, você tem razão... – Uruha revirou os olhos.

- Não pode continuar dessa forma. – Continuou sem parar o pequeno sermão, para irritação do loiro, que estava a ponto de pedir que o amigo se calasse. – E depois tem a cara de pau de negar o que sente... Acha mesmo que o Aoi não percebe...?

Uruha suspirou aliviado vendo-se diante da porta do quarto de Aoi, ouvindo a conversa animada no interior do quarto. Sorriu ao ouvir a risada bem humorada do moreno, sem perceber que estava com a expressão abobalhada de apaixonado na face. Girou a maçaneta, abrindo a porta e o encontrando rindo e fazendo pilhéria sobre o baixinho que estava vermelho como um tomate e Kai que gargalhava com a cena cômica.

- Bom dia! – Uruha cumprimentou sorrindo, seguido de Reita que foi saudado com um abraço de um vocalista emburrado.

- Bom dia Uru... – Respondeu Kai que enxugava as lágrimas dos cantos dos olhos, que já escorriam de tanto rir.

- Bom dia Kou... – Aoi respondeu suavemente ao ver o rosto descansado e sorridente do loiro. Preocupava-o ver o seu amor com olheiras enormes e saber que a culpa delas era sua... Não sua diretamente, mas por que o loiro não saíra de seu lado durante todos os dias que estivera ali no hospital.

Já sabia que sofrera um acidente diante do edifício do guitarrista mais novo e que este fora presenciado por ele, porém não se lembrava de nada. Sua cabeça nesse ponto era um vazio. Não se lembrava do atropelamento, nem do resgate e nem mesmo o que fora fazer lá na casa dele naquela manhã. Lembrava-se de toda sua vida, da sua carreira, do dia que conhecera Kouyou nos mínimos detalhes e de como e de quanto o ama. Mas daquelas últimas vinte e quatro horas não conseguia recordar nada. Tinha uma intuição de que não ia gostar se sua memória retornasse... Mesmo assim, não queria que ele se sacrificasse por si.

Doía acordar durante a noite e vê-lo todo torto naquela poltrona, vencido pelo cansaço. Não era fácil ficar dia e noite num hospital sendo o paciente, obrigado pela necessidade, como acompanhante então deveria ser horrível. Tinha verdadeiro trauma daquele cheiro de éter, álcool e desinfetante. Aquilo tudo embrulhava seu estômago, detestava hospitais! Mas o pior era o pavor que tinha de agulhas. Ficava pálido quando olhava para o seu braço esquerdo e via o soro espetado em seu braço, e quase a ponto de desmaiar cada vez que a enfermeira entrava com uma seringa. Seu alívio era que ela injetava os remédios pela entrada do soro, evitando assim novas picadas. Mal os dois amigos chegaram e o médico entrou, com a papeleta na mão.

- Bom dia, sou o doutor Mitsuo Tanaka, médico responsável pelo paciente.

Continua...


Bem, acho que demorei muito para postar essa fic aqui. Faz tres anos que a escrevi e só me dei conta agora que não tinha postado no ff ainda... rs. Mas agora estou remediando isso. Espero que apreciem a leitura desta historia, com tanto prazer quanto tive em escrevè-la. Boa leitura!

Samantha Tiger Blackthorn.