Eles haviam crescido juntos.
Ainda que não soubesse de seu segredo e que brigassem todos os dias, para o albino, ver a húngara lhe transmitia segurança. Invejava a disposição dela, mas ao mesmo tempo, era alguém com quem podia contar. E estava certo que passariam os próximos séculos juntos.
Até aquele fatídico dia.
Ver as curvas delicadas por baixo do tecido fino que ela usava o chocou. Não somente por seu sexo, como por tudo o que ele havia feito sem pensar.
Tocara seu corpo, contara suas inseguranças...
Tudo o que sua criação como cavaleiro jamais permitiria que fosse feito diante de uma mulher. Cortara as próprias roupas para cobri-la, desajeitadamente, à guisa de desculpas. Não queria admitir e, no entanto, sabia que era pouco para se redimir. Aquele último encontro também lhe servira para mostrar que não a via somente como uma presença incomoda.
A força dela fez crescer dentro de si uma admiração e respeito profundos, que somente rivais de longa data são capazes de sentir um pelo outro. Além de um sentimento mais profundo e íntimo, que fazia o germânico ajoelhar-se durante horas na capela para se confessar.
Os anos passaram e quando finalmente voltaram a se encontrar, foi no campo de batalha. Era mais um conflito armado, em que Prússia finalmente decidira que queria protegê-la.
Tentou se justificar dizendo que era porque ela era "somente uma mulher" e ele era, por sua vez, "perfeito" demais para perder. Só que ele não tinha força o suficiente para conseguir cumprir seu intento, ao contrário dela.
Havia sido uma manhã tumultuada. Hungria lutara nas linhas de frente, com a habilidade obtida em anos de guerra. Porém, ao final da tarde, estava cansada.
Sua mão parecia mais pesada. Não conseguia sequer visualizar o inimigo direito.
- Maldição... – Praguejou quando seus joelhos vergaram. Um jato de sangue escorreu.
Ela tinha fechado os olhos, mas estranhou a ausência de dor. Julgou ter sido eliminada quando ouviu um murmúrio sobre si.
- EU sabia que você... não conseguiria fazer nada... sem MIM...
Em cima de seu corpo, a vestimenta branca se transformava em um profundo carmim. A mesma cor do olhar rubi que a mirava.
Surpresa, olhou para seu antigo inimigo.
- Por...Por quê...?
- Tsc. – O germânico se levantou, usando a espada como apoio. – EU não podia ser sua espada, então... Agradeça-me por isso! Não é todo dia que você tem um escudo tão BOM.
Antes de ouvir a resposta, ele se afastou. Tão rápido quanto tinha aparecido.
Depois da saída do albino, as tropas chegaram e a situação se estabeleceu.
Porém, aquela noite, Hungria ainda pensava em suas palavras.
Prússia era orgulhoso demais para confessar a própria fraqueza e, no entanto, a protegera inesperadamente. E isso porque a garota sempre o considerara fraco e desajeitado demais para um soldado...
- Finalmente você aprendeu a ser um homem de verdade, Prússia...? – Um sorriso divertido passou por seus lábios, apesar de não ter deixado ninguém do seu batalhão ouvir sua confissão. – Mas, eu nunca disse que não gostava de você...
Os olhos esmeraldas se fecharam, murmurando aquele último segredo.
O único que Prússia desejava ouvir e que se perdera nas longas noites após as batalhas.
Observações: Fanfic dedicada à minha mana, Angel, por todo o apoio e inspiração para escrever sobre o casal. E claro, agradeço minha beta pela betagem e pelo incentivo.
