Saint Seiya e seus respectivos personagens não me pertencem. Este é umfanwork sem fins lucrativos.
Fanfic baseada na História Lateral "O Grande Amor de Athena". Nesta fanfiction, estão encaixadas algumas falas da História Lateral oficial.
Feita como presente para Yuka, no Amigo Secreto 2007 do fórum Saint Seiya Dreams.
Não Que Seja Fácil Admitir
por Shion A.
- Não que seja fácil admitir, Ikki de Fênix, mas realmente não há muitas outras coisas que eu gostaria de estar fazendo além de estar aqui. - Shaka murmurou, pressionando a mão sobre um ferimento no rosto do cavaleiro que dormia.
- Incrível ver como você está acabado.
Shaka estava entre as cinco camas nas quais os cavaleiros de bronze repousavam, equilibrados numa fina linha entre a vida e a morte. Já fazia alguns dias que nenhum deles apresentava sinais de melhora.
- Nem mesmo você, que é tão diferente de todos os outros... Sabe, acho que te superestimei.
Retirou a mão do sangramento que estava ajudando a estancar e levantou-se, com normalidade. Sabia que Ikki ouvia-o.
- Cavaleiro de bronze.
Silencioso, apesar de estar trajando uma pesada armadura de ouro, desapareceu ao cruzar a porta. Tudo o que Ikki viu, através da vista debilitada, foi o dourado dos cabelos compridos se destacando no breu no quarto, balançando pelo movimento dos passos e se distanciando devagar.
Shaka realmente estivera ali. Pôde constatar isso naqueles breves segundos de consciência... Já que não demorou muito para uma forte tontura vir escurecer sua visão por completo, fazendo-o cair novamente no perigoso estado de sono profundo que se encontrava antes.
- "Cavaleiro de bronze."
-x-
- Tenha boa viagem, Deusa Athena. - Shaka fez uma discreta reverência, enquanto a moça atravessava sua casa.
- Obrigada, Shaka. Parto tranqüila pois sei que deixarei os cavaleiros de bronze e o Santuário em boas mãos.
- Faremos tudo o que for necessário para manter o Santuário em ordem, e tenho certeza que em breve lhe traremos boas notícias sobre seus cinco cavaleiros.
Saori sorriu, os traços de cansaço desaparecendo momentaneamente de seu rosto.
- Acredito muito que sim.
A jovem partia preocupada, no entanto – Com metade do coração atado à Grécia, mais precisamente à cama onde estava Seiya. Tinha muita esperança de que sobreviveriam, e por isso resolveu partir, e dar a prova de que acreditava neles. Shaka podia sentir tais receios, e portanto tratou de não prolongar a passagem de Saori por sua casa.
Tudo o que havia chegado aos seus ouvidos fora que a Deusa partia influenciada por uma conversa que teve com Mu de Áries. Achou a partida algo positivo – Ele, Shaka, também havia percebido a estranha inclinação da estrela Polaris e sabia que em breve passariam por mais turbulências. O Santuário era alvo óbvio, e Saori Kido estaria profundamente vulnerável, abalada por poder ver de tão de perto a convalescença de seus cinco mais próximos cavaleiros.
"E é muito provável que eles também sejam atacados" - Pensou. - "Se Athena presenciasse isso, por mais maturidade que tenha adquirido nos últimos tempos, perderia o equilíbrio. Precisamos ganhar tempo, até os garotos melhorarem. Não a acharão tão rápido no Japão..."
Caminhou lentamente para fora de Virgem, observando o clima seco e um pouco frio do Outono que havia acabado de chegar. O vento forte corria por entre os escombros do Santuário um tanto mais silencioso e vazio. Deu um longo e lento suspiro.
- Em breve... Muito em breve... Talvez em menos de uma semana.
Um cortante vento frio, parecido com uma frente polar, bagunçou seus cabelos.
-x-
Sua longa e silenciosa meditação sofreu uma brusca interferência, como se o cosmo que rodeasse o Santuário tivesse acabado de ser violado por uma energia hostil e gelada.
Os cosmos tão diferentes dos emitidos pelos Cavaleiros de Athena estavam se infiltrando pelo Santuário com alarmante velocidade. Shaka podia quase visualizar o caminho que faziam pelo sopé da montanha onde ficam as Doze Casas, farejando o caminho que os levaria aos cavaleiros de Bronze, ligados por fio de vida ao mundo dos vivos.
- Hm. Previsíveis. - Pensou, sem alterar um único músculo facial. - Querem primeiro acabar com os cinco garotos, para depois se arriscar tentando atacar os Cavaleiros de Ouro.
Esperou, seguindo os passos dos invasores através da meditação.
Dias antes.
- Porque não responde às minhas provocações, Ikki de Fênix? - Disse, com o leve escárnio habitual.
O corpo inerte de Ikki não movimentou um único músculo.
- Está se fingindo de morto, por medo de mim?
O único barulho que se ouvia, além da voz de Shaka, era o produzido pelas cinco máquinas de oxigênio que bombeavam ar para os pulmões dos cavaleiros de Bronze. Com a naturalidade e calma de um monge, Shaka apertou o tubo cuja a extremidade entrava na boca de Ikki, impedindo a passagem de ar.
- E agora?
Quase um minuto se passou. Foi difícil para Shaka admitir a si mesmo que seu coração falhou uma batida, ao ver que Ikki não reagia.
"Será que me enganei quanto à recuperação dele? Será que ele não está à frente dos outros, como achei que senti?!"
Com a mão subitamente trêmula pela possibilidade, fez menção de soltar o tubo, antes que fosse tarde demais. Porém seus dedos mal tinham terminado de afrouxar o plástico quando uma energia vital muito conhecida despertou de repente.
A sensação de se ver envolvido por aquele cosmo tão diferente do seu não foi nova. Se tinha um cosmo do qual jamais iria se esquecer e que conhecia melhor do que o de qualquer um, era com certeza o do cavaleiro de Fênix.
Shaka sorriu discretamente.
- Finalmente você voltou.
Soltou de vez o tubo e encerrou sua visita, enquanto o cosmo que flamejou brevemente voltava a repousar.
Ao lado de fora do quarto, olhou de soslaio para leito onde estava o cavaleiro mais velho dos cinco.
"Sei que poderei deixá-los em suas mãos, Ikki. Agora tenho certeza que não estará indefeso se for atacado..."
Presente, Ataque ao Santuário.
- Confiarei em você. - O cavaleiro de Virgem pensou, observando ainda pela meditação o avanço dos invasores. Algo em si animava-se com a possibilidade de testar a capacidade de recuperação da Ave Fênix à distância.
Conhecia-a bem, é verdade; Tinha testado de toda sua força e vitalidade na batalha das Doze Casas, onde também conheceu a derrota. Sorriu. Não era exatamente de felicidade, mas a lembrança lhe soava algo positiva. Jamais pensou sentir com tanta intensidade o cosmo de um homem em batalha, e jamais pensou que um dia seria de tal forma ultrajado pela ousadia e força grosseira de um cavaleiro de patamar inferior, que conseguiu elevar seu poder ao Sétimo Sentido por um breve segundo.
- E eu tirei Ikki de lá...
Lembrava-se ainda de como, sem pensar duas vezes, despiu-se de seu orgulho de Cavaleiro de Ouro e pediu auxílio à Mu. Entendia a surpresa do cavaleiro de Áries, afinal, nem si próprio esperava que um dia seria capaz de tal demonstração de consideração por alguém. Sim – Sempre fora bastante frio, e todos sempre esperaram de si tal comportamento.
Teve consciência, ao tocar o chão da casa de Virgem com aquele rapaz nos braços, de que algo havia mudado drasticamente em sua personalidade durante aquela última hora de sua vida. Não sabia dizer se era a vivacidade de Ikki, a forma como sua constelação e seu elemento, ambos os mais marcantes e intensos que já havia visto, moldavam-no como cavaleiro, sua impulsividade com um quê suicida ou sua determinação cega disposta a tudo; mas algo havia despertado em si uma fagulha de humanidade que há muito hibernava.
Disse a Ikki, naquela ocasião, que tinha uma dúvida no coração, e que ele havia disseminado aquela dúvida. Sim, se referia também à névoa que envolvia o Mestre do Santuário, Saga, na ocasião; Mas também poderia listar outras diversas dúvidas internas que haviam sido trazidas à tona com a tal batalha decisiva.
No hospital do Santuário, a batalha estava para começar. Viu com a clareza de alguém que observa uma paisagem um dos inimigos arrombar a porta do quarto com um chute.
- Vão morrer – Pensou de imediato, sereno. - Os cosmos de Seiya, Hyoga, Shiryu e Shun estão muito distantes de poderem despertar. - Se Ikki não fizer algo, morrerão os cinco. Mas acho que não preciso me preocupar...
Ao adentrarem grosseiramente o quarto, os cavaleiros de Hilda depararam-se com uma cama vazia. A voz de Ikki logo veio de algum lugar do quarto escuro.
- Não parece a vocês que para uma simples visita a uns enfermos foram bruscos demais derrubando a porta? Porque não bateram?
- Qu... Quem és tu?
- Hum, se mete no Santuário como se fosse um rato vulgar e ainda pergunta meu nome... Ora, não me faça rir.
Saiu da penumbra a figura de um rapaz jovem, bastante debilitado, o rosto coberto de sangue, nenhuma armadura. Mas seu cosmo violento deixava bem claro que não era uma pessoa comum, e lembrava que aqueles cinco rapazes não haviam atravessado as Doze Casas por sorte.
Logo Ikki e os invasores pularam pela ampla janela no quarto, destruindo o vidro, e iniciaram o confronto. Shaka podia sentir a energia vital do cavaleiro de Fênix sendo forçada à ação e dissipada mais do que o comum quando ele atacava.
- É, ele está fraco, mas vai conseguir. - Observava como quem observa crianças brincando - Mas... O que... O que é...?
Sentiu de repente, levando uma pontada pela surpresa, um cosmo muitas vezes mais poderoso do que o daqueles soldados medianos que Ikki combatia. Um cosmo que talvez se igualasse ao seu, de um cavaleiro de Alta Patente, ali, espreitando, esperando...
- Não pode ser...
Concentrou-se mais, e conseguiu ver, entre os arbustos, a sombra de um homem numa suntuosa armadura, sorrindo diante de seu inimigo que desperdiçava tempo e energia com presas menores. Soltou uma exclamação muda.
- Como pode? Contraele, nem os cinco juntos teriam alguma chance, nesse estado!
Alarmou-se como há muito não fazia, a meditação interrompendo-se. Pôs-se de pé.
- Ikki... - O rosto sempre impassível franziu-se de tensão – Não está sentindo...?!
-x-
- Shaka, aonde vai? - Aiolia questionou, vendo o vizinho passar por sua casa em passo rápido, quase marchante. Vê-lo fora da casa de Virgem era extremamente raro.
- Irão matá-los. Os cinco. - Respondeu, sem virar-se ou parar, quase como um robô.
- Matar? Do que está falando, Shaka?
- Os garotos. Irão matá-los. Há mais gente do que pensamos aqui, Aiolia. Gente que conseguiu ocultar o cosmo até mesmo de nós, Cavaleiros de Ouro.
- O quê?! Mas isso... Não pode ser! E-ei, Shaka, volte aqui!
- Depois.
-x-
-HOYOKU TENSHO