-Ora, vamos criança tola! Sabe que eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você! – Gandalf a puxava pela mão, irritado porque já estavam ambos atrasados. O velho mago a arrastava pelos corredores do palácio élfico.
Sua mão se apertava naquele braço pálido e fraco, contudo uma estranha força o fazia quase ceder diante dela.
Gandalf viu o conselho reunido e em poucos passos arrastava-se para o círculo em meio ao jardim.
-Mestre Elrond, perdoe-m o atraso. Inconveniências aconteceram – olhou para a garota envolta em uma capa cujo o rosto continuava escondido, assim como todo o corpo.
-Sente-se, Gandalf, para prosseguirmos.
O mago e sua convidada se acomodaram: o velho em sua cadeira ao lado de Frodo que, sem a menor discrição, lançava olhares curiosos para o estranho que ficara de pé, mexendo-se irrequieto.
Elrond começou seu discurso com sua voz profunda lançando a cada um dos presentes olhares pesados e cheios de alertas. Contudo quando Frodo ergueu-se e pôs o anel sobre uma elevação pedregosa que se formava no centro do circulo, acima dos murmúrios de medo dos elfos, anões e homens, houve algo mais. O estranho aproximou-se da jóia com passos suaves, como se flutuasse e tocou o anel. Logo todos levaram as mãos até suas armas e ele se viu na mira de várias criaturas.
-CHEGA! – Brandou Gandalf.
O estranho ainda assim não largou a peça e puxou seu capuz, revelando o rosto feminino e deformado. Não era feio, fora as escamas que cobriam em fileiras algumas linhas de sua bochecha e presas tão pontudas que poderiam furar carne facilmente saiam de um sorriso infantil. Seus olhos iam de púrpura até azul celeste. Duas orelhas pontudas estavam encolhidas junto a cabeça.
-Vamos destrui-lo? – disse com um sorriso tão doce...
Contudo quando sua aparência se revelou, as armas ficaram mais tencionadas. Faltava pouco para o primeiro machado, flecha ou espada cruzar seu coração.
-Basta disso, seus tolos! – Gandalf usou o cajado para abaixar as armas enquanto se postava entre a jovem e os homens.
-Gandalf, o que é isto? – Elrond se ergueu em um pulo.
-Han...Com licença, senhor, mas não é isto. É essa. – a garota espiou o senhor élfico por detrás de Gandalf enquanto falava, o que deu ao mago uma deixa para puxa-la pela orelha.
-Comporte-se! Sente-se no meu lugar e fique calada! – disse ela.
Amedrontada com a força que o velho emanava, a jovem assim o fez.
-Dei permissão para que trouxesse o Anel para minha casa, mas não para que trouxesse esse monstro! É alguma criação de Sauron? – com a menção do nome, os outros se encolheram, sentando-se novamente. Elrond ficara fora de si: mesmo sendo tão velho, nunca vira tal criatura em qualquer domínio. Enfrentar o desconhecido, por conta de acidentes passados, o deixara com uma pequena, mas poderosa, sombra no coração.
-Não, Mestre Elrond. E Frodo, não precisa se encolher. Ela não morde...Não você, pelo menos – a garota acenou para Frodo, mas seu sorriso cheio de fileiras de lâminas o fez estremecer – Essa criatura é mais antiga que Sauron. Mais antiga do que muitos aqui, quase tanto quanto eu e você. A conheci quando era jovem, e isso já representa um grande número de séculos na mão. Estava abandonada em uma caverna em Carn Dûm, em Forodwaitch.
-Isso não explica sua aparência.
-Ela é de uma raça rara, mestiça de duas outras tão impopulares quanto.
Nesse instante um grande pássaro azul pousou sob os pés de Gandalf. O olhar da jovem tornou-se atento, igual a de um gato prestes a pular sobre sua presa. Suas orelhas se mexiam em movimentos rápidos, enquanto o de seu corpo era lento, beirando ao ataque.
-Fique sentada, eu já disse! – e bateu com o cajado no chão, afugentando a ave.
Elrond massageou as temporas, exausto.
-Apenas a apresente para darmos continuidade a reunião.
-Ah, sim, claro. Drakezaelen Süfiares...
-Gandalf, acho que só estes dois bastam – disse ela, por fim, - São difíceis de se pronunciar na língua humana e a sua adaptação para a língua dos elfos, homens e anões ficou um pouco forçada.
-E o que você sugere? Vamos, fale! Será a última coisa que dirá hoje!
Drakezaelen matutou por um tempo.
-Sallen. Esse me basta – e com isso, sorriu, orgulhosa.
-Muito bem, dando continuidade...
-Não percebem como isso é uma dádiva? – disse um homem de aparecia grosseira quase que diante de Sallen. A menina o espiou com um certo ar desconfiado. O próprio ar começou a ficar pesado, deixando-a nervosa.
Ouviu mais vozes se erguerem até que o caos se reinstalou como antes, fazendo vários se confrontarem. Em silêncio, a garota rezou para que tudo acabasse rápido.
