Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn

Os passos eram apressados. As vestes arrastavam no chão, deslizando entre cinzas e pó, criando um rastro limpo em meio à destruição. Ao seu redor, ordens eram dadas aos gritos e o barulho de feitiços acertando paredes e bruxos era ensurdecedor, mas ele passava como uma sombra no meio de tudo: em silêncio, sem ser visto.

Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn

Ele o havia encontrado escondido no fundo da Sala Precisa, onde ficara perdido durante tantos anos. Fora tirado apenas uma vez e, antes de falecer, Dumbledore o havia escondido novamente no fundo da Sala, que hoje estava quase totalmente destruída. Quando soube do incêndio no local, ele agradeceu silenciosamente sua atitude, tomada logo após o falecimento do diretor: colocar o objeto sob sua guarda.

Após entrar em seus aposentos, Severo Snape murmurou o feitiço que revelaria o objeto e parou de frente a ele.

Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn

Ele levantou os olhos e leu a frase pela milionésima vez. "Não mostro o seu rosto, mas o desejo em seu coração". Talhada na madeira no topo do Espelho de Ojesed, a frase escrita ao contrário arrecadava poeira, assim como seus sonhos, seus desejos. Os olhos pretos de Severo Snape encararam seu reflexo no Espelho – cansado, abatido, derrotado.

Mas hoje, isso termina. Tudo termina.

Lentamente, Snape andou em direção ao espelho e seu reflexo começou a se dissolver. Um vislumbre de vermelho, um brilho verde e ela apareceu. E então nada mais existia: os sons da batalha sumiram, o ar, sufocante com as cinzas, se tornou puro. Só existia o cabelo ruivo, os olhos verdes e o sorriso dela.

Lílian.

Ela se aproximou e seu semblante radiante foi ficando triste, preocupado. Ela levou a mão pálida ao espelho e a repousou lá, como se pudesse tocá-lo, acalentá-lo. Por Merlin, como ele queria que isso fosse possível! Mesmo assim, Severo Snape levantou seu braço e tocou a mão de Lilían pelo espelho. Seus olhos verdes encontraram os negros de Severo e os seguraram em um olhar intenso. Seus lábios não se moviam, mas ele podia ouvir sua voz claramente. Uma memória. Um desejo.

Vai ficar tudo bem. Falta pouco agora. Vai ficar tudo bem.

Snape fechou os olhos e deixou o corpo se aproximar do Espelho, repousando a testa na superfície gélida do vidro. Lílian replicou o gesto. Se Snape estivesse com os olhos abertos, teria visto a mãe de Harry Potter levar sua mão até os cabelos pretos do professor, em uma tentativa frustrada de consolá-lo. Mas Snape estava concentrando seus esforços para não se deixar levar pelo desespero. Ele sabia o que estava próximo de acontecer e seu maior medo era falhar com Lílian mais uma vez.

- Perdoe-me -, Snape murmurou, e no silêncio do cômodo, sua voz grave pareceu ecoar. No silêncio, ele voltou a encarar os olhos verdes no espelho, que agora pareciam chorosos.

"O Espelho de Ojesed mostra-nos nada mais nem menos do que o desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações. Mas não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver."

Dumbledore estava certo. Não adiantaria se deixar perder em frente ao Espelho, pois ele não traria Lílian de volta. E sim, este era o desejo mais íntimo, mais desesperado de Severo Snape e hoje, mais do que nunca, ele era um homem em desespero.

Lentamente, Snape se afastou do Espelho, baixou os braços, mas seus olhos não deixaram os dela. E ela pareceu entender. Levou as mãos ao peito como quem se despede de um grande amor, estando implícita no gesto a consciência do que estava para acontecer e a angústia de não se poder fazer nada para ajudar.

Mesmo quando era viva, quando não era apenas uma lembrança, um desejo, Lílian não precisava falar para que Snape soubesse o que estava pensado. Mesmo sendo tão diferentes, os dois pareciam existir na mesma sintonia. Perdê-la foi a pior dor que Snape já sentira e o aperto em seu peito era agora um eco do luto que sofrera tantos anos atrás.

Mais dois passos para trás e Snape ficou sozinho no quarto novamente, seu reflexo turvo à frente e o peso do que estava por vir em seus ombros. Severo Snape se permitiu deixar a cabeça pender por alguns segundos antes de a Marca Negra arder em seu braço.

Do lado de fora, Hogwarts lutava com tudo que tinha para se manter de pé. Aliados e inimigos caiam por todos os lados em salas e corredores que deveriam ser voltados somente para o ensino de jovens bruxos e para o aprimoramento de professores. Hogwarts sangrava, morria, mas ainda lutava e era isso que Snape deveria parar de fazer. Finalmente, o momento de parar de lutar estava próximo, mas o que antes parecia tentador agora soava como uma traição. Mais uma traição a Lílian.

Tudo está em suas mãos agora, Potter. Não decepcione sua mãe -, Snape pensou enquanto o sangue esvaia de seu corpo, acompanhado de memórias que guardara com tanto cuidado. Pela última vez, instruiu seu aluno e confiou que, embora Potter fosse filho do orgulhoso Thiago, tinha o coração de Lílian. Ele entenderia o que fez. Ele tinha que entender.

- Você tem os olhos de sua mãe -, sussurrou o professor antes de ir de encontro à escuridão. E lá, um vislumbre de verde. Seu único amor, seu único desejo. Sempre.