Capítulo 1 - O que você quer fazer antes de morrer?



Guerra.

Guerra?

O que essa palavra significa para você?

Para alguns indica a possibilidade de vingança, para outros é uma chance de ser banhado em glória. Os mais sensatos lhes dirão que só leva à dor, à morte e à miséria.

A grande verdade é que a guerra trás, junto com todos os sentimentos ditos, grandes mudanças.

(...)



Nossa história começa em um belo dia de verão com o canto das cigarras. Uma mulher gorda estava parada em frente ao quarto trezentos e dois do Hospital St. Mungus.

- Gina! Oh, Gina, que belo dia está hoje!

A Sra Weasley, que agora havia entrado no quarto apertado e de cores pálidas, dirigiu-se até a cama onde estava uma garota de cabelos ruivos, a envolvendo em um abraço apertado.

- Olá mãe. – Gina disse depois que conseguiu se desvencilhar.

-Como você está se sentindo? – perguntou enquanto examinava a filha com os lábios comprimidos.

-Bem...

-Sabe, querida, seus irmãos, Harry e Hermione queriam muito ter vindo, mas andam terrivelmente ocupados. Fred está cuidando da loja que...

Qualquer observador atento poderia ter notado que Gina, apesar de estar olhando para sua mãe e continuar sorrindo, já não estava mais ouvindo o que era dito. Porém, as mães sempre têm tantas preocupações que não são muito boas em pequenos detalhes. Assim, a Sra. Weasley continuou falando, deixando que Gina se perdesse em seus próprios pensamentos.

Logo depois do final da guerra no mundo bruxo ela havia sido internada. Já fazia longos nove anos.

As explicações de sua mãe não a interessavam com razão, pois boa parte delas era invenção e Gina desconfiava disso. Seus irmãos, Harry e Hermione foram, depois dos primeiros anos, diminuindo o número de visitas. Apenas o seu pai e a sua mãe continuavam vindo com a mesma freqüência.

Mesmo estando separada do fervor da vida real, ela sabia que lá fora a vida continuava e que apenas os seus dias eram parados, preenchidos pela mesmice. Por isso, Gina não culpava ninguém.

Do lado de fora de sua janela o sol brilhava forte, iluminando as copas das árvores, e apenas três nuvens flutuavam manchando o azul do céu. Nesses dias, onde basta olhar para cima para se perder na imensidão, ela não conseguia evitar a sua mente de imaginar o que encontraria quando chegasse lá. Pensava em diversas coisas, mas hoje, especialmente, se perguntava qual seria o cheiro do paraíso. Ela desejava que tivesse cheiro de algodão-doce. Todavia, cheiro de chiclete de tuti-fruti não seria nada mal também.

- Oh, veja como o tempo passa! – A sra Weasley exclamou despertando Gina de seu sonho acordado. – Querida, vou buscar o seu almoço e depois já vou. Hermione está grávida e passando uns dias na Toca, você deve imaginar a confusão.

- Mãe, mãe! – Gina reclamou impedindo que a senhora saísse – Eu consigo pegar o meu almoço!

- Está bem, querida. – A sra Weasley deu um beijo molhado na bochecha da garota. – Amanhã eu venho novamente com o seu pai.

-Tchau mãe. – Gina disse docemente, a abraçando.

- Oh, já ia me esquecendo! – A Sra Weasley entregou um exemplar do profeta diário que foi recebido ansiosamente pela ruiva. – Nos vemos amanha, querida!

Agora, novamente Virgínia estava sozinha em seu quarto. Esse era um dos momentos que mais lhe agradavam no dia, sair para pegar o seu almoço e ler o profeta diário. Eram umas das poucas coisas que a livravam do torpor que a rotina de um hospital trás. Vocês que já foram internados devem entender porque esse pequeno passeio e também esse jornal, que a liga ao mundo fora do hospital, são recebidos com tanta alegria.

Ela sempre descia até o restaurante, esperava sua bandeja enquanto folheava o jornal e depois subia com a comida para terminar de ler em seu quarto. No entanto, Gina hoje seria privada de seus pequenos prazeres, mas não fiquem tristes por ela. Esse pequeno desagrado é necessário para que a nossa palpitante história comece.

Já estava com a bandeja na mão, em um dos corredores do hospital, quando uma figura alta foi ao seu encontro com toda força levando tudo ao chão.

- Meu almoço! – Gina gritou olhando tristemente para o chão. – Não acredito, não vou poder ler o jornal, está todo sujo!

Ao perceber que não receberia ajuda Gina virou-se para pelo menos saber quem lhe causava tamanho infortúnio. Foi aí que viu um homem loiro caminhando a passos largos, exalando arrogância, e logo lembrou, apesar de não o ver a muitos anos, quem era.

- Malfoy?

Mas o rapaz não ouviu, ou pelo menos não ligou e desapareceu no corredor.

Uma enfermeira veio ver o que era o barulho e ajudou Gina a limpar a bagunça.

-Ah, ele está sempre causando problemas e é muito mal educado. É melhor você não ligar.

-É, eu sei. –Gina falou lembrando dos tempos de Hogwarts e pela cara assustada da enfermeira resolveu completar. – Eu estudava com ele, Draco Malfoy.

Mais tarde, quando Gina resolveu descer novamente para pegar seu almoço viu no jardim Draco Malfoy. Ele estava parado elegantemente em baixo de uma árvore, um cigarro aceso na mão, olhando para o céu. Seus olhos, mais cinzas do que nunca, com a luz do sol pareciam ligeiramente vazios.

Vocês devem querer saber porque ele está no hospital, mas Gina não está nem um pouco interessada nesse garoto mal educado. Por isso, ela subiu novamente para o seu quarto e aproveitou confortavelmente sua comida. Depois começou a ler um de seus livros trouxas favoritos, Orgulho e Preconceito.

Já deviam ser cinco horas da tarde quando Gina acordou com um barulho de vozes no corredor. Ela provavelmente acabou dormindo enquanto lia.

Saiu procurando pelas vozes que pareciam perturbadas. Vinham de um quarto onde Gina entrou furtivamente. Havia três pessoas, dois velhinhos e Draco Malfoy que estava deitado na cama fumando.

- Apague isso, garoto idiota! É um Hospital! – Um velhinho em meio a acessos de tosse abanava o ar enquanto o outro abria a janela.

- Você vai morrer de câncer e ainda vai nos levar junto! Esse negócio trouxa asqueroso... – O senhor da janela gritava enquanto tentava desemperrá-la.

Gina deixou um sorriso maroto passar por seu rosto quando uma idéia genial lhe veio à cabeça.

Pegou sua varinha.

- Accio cigarros.

O cigarro na boca de Malfoy e o maço em cima da mesa vieram voando para a sua mão. Com uma cara de espanto, Malfoy se levantou saindo do quarto a tempo de ver Gina no corredor lhe fazendo uma careta.

Draco voltou para o seu quarto e se jogou na cama. Sabia quem era a garota ruiva.

- Weasley! Continua irritante como nunca. – Ele disse enquanto levava suas mãos às têmporas.

-Tch. – O velho que tossia virou-se zangado para Malfoy. – Mais respeito garoto idiota, ela já está aqui nesse hospital há mais tempo que todos nós.

Draco resolveu ir atrás de Gina, ou melhor, de seu maço.

A encontrou sentada na varanda do último andar com os cabelos ao vento e um cigarro apagado entre os lábios. Ela havia crescido. Definitivamente havia.

- O que você está fazendo, Weasley? – Draco perguntou sentando-se ao seu lado.

- Me ensina a tragar? - Nove anos de tédio em um hospital mudam uma pessoa.

Acho que Draco nunca esperaria ouvir isso dela, mas logo se recompôs.

- Não com o meu maço. – Ele tomou rapidamente o cigarro e o maço dela, que bufou inconformada.

Gina observou enquanto ele colocava o mesmo cigarro que ela tinha nos lábios na boca, acendia com um isqueiro e tragava. Com ele parecia algo muito elegante. Esse já não era aquele garotinho magricela da época de Hogwarts, era um homem. Havia alguma coisa em seus olhos cinzas que tinha mudado também, estavam mais profundos.

- Não sabia que você gostava desse negócio de trouxas.

Ele apenas deu de ombros em resposta.

- Por que você quer? – Draco perguntou depois de se satisfazer com a nicotina. – Se você usar isso vai ter câncer. Uma doença dos trouxas que deixa seu pulmão preto. É horrível. Te asseguro.

- Então por que você usa? Aliás, você não está internado também?

- Acaba com o tédio.

- Como?

- Quando eu trago sinto prazer. Quando não, sinto falta. A impaciência acaba com o tédio.

- Você ficou mais bizarro com o tempo. – Gina disse apesar de ter uma voz em seu inconsciente que o entendesse. Era algo que gritava por qualquer coisa que destruísse sua vida pacata.

-Eu sei. – Draco falou sorrindo com os olhos, terrivelmente claros, fixos nos dela.

Gina sentiu o coração bater mais rápido e alcançou a caixa de cigarros, colocando um em sua boca.

- Vamos ver se você tem razão. Não vou estar perdendo nada mesmo, que diferença vai fazer se os meus pulmões ficarem pretos?

- Como assim?

- Depois da guerra eu fui internada, já estou nesse hospital há nove anos. Destructivivos.

- O que é isso? - Ele perguntou com a sobrancelha franzida.

Gina tentava ascender o isqueiro, mas não entendia como aquela geringonça trouxa funcionava.

- Por que não sai fogo!?

- Me dá aqui. – Draco disse pegando habilmente o isqueiro e oferecendo gina fogo.

- Uma poção, mas ninguém sabe direito. Quem fez morreu durante a guerra e o St Mungus não consegue encontrar um antídoto. Por isso, eu vou morrer daqui a alguns meses.

Malfoy deixou o isqueiro cair antes que ela pudesse ascender o cigarro. Alguma coisa na expressão tranqüila e delicada dela o assustava, mas também o fascinava

- Ah, desculpa. Minha culpa. – Draco disse enquanto apanhava o isqueiro, mas resolveu guardar ele no bolso. – Eu tenho uma idéia melhor para passar o tempo.

Com um meio sorriso ele levantou, fez um movimento complicado com a varinha e conjurou um firewhiskey.

- Eu pensei que feitiços de conjurar fossem proibidos.

- Vou te apresentar ao que eu chamo de diversão, Weasley. – Ele disse estendendo uma mão para ruiva enquanto segurava a garrafa e sorria. Maleficamente sedutor.

Aquela havia sido a primeira vez que Gina tinha falado em voz alta que iria morrer. Por algum motivo ela sentia que ele precisava saber. Os olhos chocolate dela estavam sendo tragados pelos cinzas dele.

- Então, está dentro? Ou, está com medo?

Ela sorriu e agarrou a mão dele.

- De um Malfoy? Já vi coisas piores.

Ele saiu da varanda e indicou com a cabeça para que ela o seguisse.

- Para onde estamos indo? – Gina perguntou depois de terem descido vários lances de escada.

- Jardim.

- Eles ficam trancados, ninguém entra lá depois das sete horas. As enfermeiras colocam vários feitiços. Levaria mais de um dia para você retirar todos.

Ele não respondeu e continuaram a descer até o térreo. Entraram na ponta dos pés na cozinha indo até a parede mais distante, parando em frente a uma antiga e pequena porta de madeira. Gina, durante o caminho, ia sussurrando ligeiramente alterada.

- Isso é ridículo. É óbvio que a saída da cozinha também vai estar trancada, quem seria idiota o suficiente de colocar vários feitiços de proteção na porta principal, mas deixar.... – A frase não foi concluída, pois Darco abriu a porta com um pequeno rangido e a encarava com as sobrancelhas erguidas de modo divertido.

Ele fez sinal para que ela passasse primeiro, o que ela fez a muito contragosto.

Sentaram em baixo de uma grande árvore e beberam vários copos em silêncio.

Fazia tempo que Gina não sentia o gosto amargo e a queimação do firewhiskey. A sensação que vinha depois de cada copo era exatamente o que vinha procurando.

Já era noite e estavam no final da segunda garrafa quando Draco quebrou o silêncio.

- Não tem nada que você queira fazer antes de morrer? – Ele perguntou enquanto olhava para o seu copo.

Gina não respondeu e Malfoy agora olhava fixamente para ela com o meio sorriso mais sexy de todo o mundo. Seu coração bateu mais rápido ao reparar o que ele estava sugerindo.

- Não! – Ela disse balançando a cabeça para tentar afastar seus pensamentos. – Você não mudou nada! Que pergunta!

Draco sorriu.

- Idiota! É claro que eu não ia querer fazer nada assim com você. – Ele disse passando as mãos pelos cabelos loiros. - Eu só estava pensando se você não tem algum último desejo. Geralmente todo mundo tem alguma coisa que quer fazer antes de morrer.

- Tem uma coisa...

-O que?

-Eu não vou contar para você! – Ela disse frisando a última palavra. – Eu não estou bêbada o suficiente.

- Ainda. - Ele respondeu galantemente enchendo o copo dela.

- Você promete não rir? – Gina disse depois de virar o conteúdo todo de uma vez.

Draco concordou com a cabeça e ela chegou mais perto dele sussurrando em seu ouvido:

- Antes de morrer eu quero encontrar um amor verdadeiro.

Malfoy ficou vermelho e mordia os lábios. Não era difícil notar que ele estava dando o melhor de si para não rir.

Gina olhou irritada.

-Ótimo, pode rir, eu não ligo.

Draco foi em frente e caiu na gargalhada.

- Você já tem mais de vinte anos! Já era para você saber a diferença da vida real para as novelas.

- Mas eu passei os últimos nove anos presa nesse hospital!

Malfoy parou repentinamente de rir e se aproximou de Gina perigosamente.

- Se você quiser – Ele disse com um meio sorriso estampado em seus lábios. – Eu posso realizar o seu desejo.

Gina sabia que era um desejo bobo, mas foi a primeira coisa que veio na sua cabeça.

Draco fechou seus olhos e continuou se aproximando. Por meio segundo Gina ficou inebriada por sua colônia e não conseguiu se mover, talvez, também, por causa da embriaguez.

Mas antes de seus lábios se encontrarem ela conseguiu recuperar a razão e o empurrou para longe.

-Eu disse verdadeiro! Ver-da-dei-ro! Que parte você não entendeu? – Ela disse se levantando.

Draco havia batido contra o tronco da árvore com um pequeno barulho de dor e agora massageava a sua cabeça.

- Era só uma piada! Por Merlin, é óbvio que eu nunca ia fazer nada com uma Weasley! – Ele disse quase cuspindo a última palavra. – Você não tem senso de humor?

- Sua fuinha, você tem que parar com essas piadas pervertidas! – Ela disse voltando a se sentar. - Você não cresce?

- Fuinha? – Draco repetiu mais para ele mesmo.

Os dois voltaram a beber em silêncio, agora à luz do luar.

- Cheio de estrelas. – Draco foi quem quebrou novamente o silêncio. - O paraíso deve ser cheio de estrelas.

- Como o céu?

-Isso! – Ele disse depois de beber mais um gole. - Perto o suficiente para iluminarem, mas longe o suficiente para que ninguém possa alcançá-las.

Pois qualquer bruxo sabe o perigo de segurar uma estrela, mas isso é uma outra história.

- Deve ser bonito. – Gina disse olhando para o céu escuro e sem estrelas.

Draco concordou com a cabeça. –É como o teto do salão principal.

- Hogwarts...- Gina falou enquanto examinava seu copo. -Eu não lembro mais do teto do salão principal.

- Verdade?

- Uhum. – Ela disse tomando um gole. - Acho que eu vou ter que esperar até morrer para saber como é. Eu não terminei o último ano, estudei aqui no hospital com um professor particular. Sinto falta de Hogwarts.

- Está decidido. – Draco disse se levantando de repente. - Vamos!

- Vamos? – Gina disse olhando confusa, ainda sentada. – Onde?

- Para Hogwarts! – Ele disse, estendendo a mão para ajudá-la a levantar, com um sorriso que derreteria qualquer garota.

-Eu ... – O coração dela começou a bater mais rápido como se estivesse funcionando pela primeira vez. – Eu não posso.

- Por que? – Ele disse ascendendo um cigarro.

- Eu não posso sair do hospital. – Apesar de suas palavras cada centímetro do corpo dela implorava e gritava para que ela fosse. – Meus pais iam ficar loucos, eu estou doente!

- Você pode estar para morrer... – Ele disse entre uma tragada. – Mas ainda não está morta. Você já passou nove anos aqui, não é?

Ela encarava os olhos maliciosamente brilhantes de Draco como que procurando por um sinal. Seja o que for ela encontrou e a partir daqui a nossa história começa.

-Vamos! – Gina disse pegando a mão de Draco.

Os dois foram até o armário onde se guardavam as vassouras, pegaram duas firecomets, o mais novo lançamento da época, e levantaram vôo no céu escuro.

- Eu adoro isso! – Gina disse com os cabelos ao vento. – Eu não acredito que já fazem nove anos! Isso é incrível!

- A diversão ainda nem começou.

-Sério?

- Pode acreditar.

O tempo que os dois teriam juntos seria curto, mas seria também inesquecível.

Okey, Malfoy! – Gina disse aumentando a velocidade. - Para Hogwarts!

Naquele momento os dois não tinham medo de nada.

- Se você conseguir me acompanhar! – Draco disse passando na frente de Gina.

Eles desapareceram no céu sem estrelas, indo em direção a Hogwarts para uma última visita.


Reviews!!! Por favorzinho! Escritores são muito carentes e precisam delas!