I am Sherlocked

a Sherlock [BBC Series] fanfiction

[Sinopse] Apenas a dedução não é o suficiente para Sherlock Holmes solucionar o mistério de Irene Adler.

[Disclaimer] Sherlock Holmes, seus personagens e aventuras, pertencem ao autor sir Arthur Conan Doyle, e a adaptação em série, à BBC, Hartswood Films, e outras empresas e autores associados. A imagem de capa foi retirada do fansite Sherlock Brasil e também não me pertence.

Este é apenas um texto de fãs para fãs, sem fins lucrativos.

[Notas iniciais] Palavras, expressões ou frases em itálico são retiradas da série, nem sempre necessariamente dos episódios em que Irene aparece. Em vez de colocar notas explicando de onde elas vem, vou te convidar a quebrar a cabeça tentando relembrá-las... ou assistir (ou quem sabe reprisar) a série, sentir o gostinho e matar a saudade.

Vou te enviar um pequeno presente.

Estas foram as graciosas palavras de Moriarty para mim.

O senso comum adora dizer que uma imagem vale mais que mil palavras.

O consultor criminal não poderia me dar um presente melhor que você. E aquelas fotos eram o melhor embrulho do mundo para o joguinho com o qual nós dois acabamos de ser presenteados.

Um humilde súdito britânico, se fosse convocado ao Palácio de Buckingham, subiria às nuvens com a surpresa e expectativa de uma possível entrevista com a rainha. Prepararia seus melhores argumentos, usaria suas melhores roupas.

Você não é nada humilde, apenas argumentou silenciosamente com sua linda carinha felina de deboche, e foi visitar a residência mais restrita do país, vestindo nada mais que um lençol. Sua postura sossegada era tão elegante quanto um típico cavalheiro britânico, a situação era tão estranha quanto o seu nome e o resultado era tão erótico quanto só você consegue ser. Não poderia ter escolhido um traje melhor.

Tive o prazer de te conhecer, face a face, poucas horas depois, quando você veio me fazer uma gentil visita. Parecia estar se divertindo tanto, ao pensar que podia me enganar com o seu simpático e fajuto disfarce de vigário assaltado. Logo expliquei que um bom disfarce é apenas um bom autorretrato.

E você me mostrou seu verdadeiro autorretrato em apenas 2 segundos. Um único instante fugaz, em que o seu olhar perdido e fascinado quase lembrava um santo ingênuo em apuros diante de uma mulher nua.

Claro que você está acostumado à nudez. Seu amigo tem essa cara de cãozinho pedindo piedade ao dono, mas é um ex-soldado, o treino militar certamente deve te-lo deixado com um corpo muito bonito. E do jeito que você é louco por enigmas sangrentos, claramente não se importa com o horror das vítimas trucidadas nas cenas de crimes, ou nas mesas frias e assépticas do necrotério.

Mas você não é ingênuo, nem santo. É um orgulhoso delirante, que acredita na própria inteligência como o poder superior do mundo. Está entediado além do inimaginável, viciado em adrenalina e enigmas, a ponto de viver constantemente apostando sua vida neles. E além de entediado, inteligente, perigoso e arrogante, você é insaciável. Não te basta ser um viciado, tudo em você é um convite ao vício.

Seu corpo alto, mas moldado ao tipo mignon, tão esguio e apetitoso. Seu rosto, uma combinação estranha, que não seria atraente em nenhum outro homem, com esse cabelo desgrenhado que estranhamente se junta em cachos fofos, o nariz aristocrático de tão arrebitado, os olhos claros, calmos e atentos como os de um gato. Essas bochechas de ossos salientes, eu poderia me cortar só de tentar bater nelas. Sabe-se lá como formam suas malditas covinhas, tão lindas, quando você sorri, com essa boquinha pequena e convidativa.

O que será que existe, por trás desta face, capaz de despertar o amor e lealdade inabalável do seu amigo soldado? Você o irritou como um idiota que atiça um leão faminto, e mesmo inconscientemente, ele evitou estragar seu lindo rosto. A simples ideia da sua face com uma expressão de prazer sensual já basta para me matar de curiosidade. E como ela fica atraente, com toda sua atenção voltada, vidrada, quase obcecada, em mim!

Apenas maquiagem, creme, perfume e grampos de cabelo. Preciso de muito pouco para montar meu melhor disfarce. Ausência absoluta de disfarce. Meu autorretrato mais fiel. E você tenta desesperadamente decifrá-lo, tão perplexo como se estivesse diante da própria Esfinge. Não há nada, nenhum indício, nenhuma pista, por onde você possa começar suas deduções.

E nós simplesmente começamos a perder a paciência. Eu tento desviar de assunto, você me cobre dos olhos arregalados do seu parceiro. Se te digo obscenidades, você blefa. Se tento te irritar, você, com um blefe duplo, devolve minha própria ironia.

"Pare de me entediar e pense. É o novo sexy."

Ah, a sua voz. É um desperdício que você só a use para expor deduções, ou trocar farpas, insultos e ironias com as pessoas que te cercam. Você não faz ideia do quanto ela é adorável. Tão profunda e clara, quase hipnótica de tão deliciosa.

"Estamos sozinhos aqui, e você não vai me dizer onde guarda as fotos. Então vamos conversar um pouco e deixar o tempo passar..."

Nunca pensou em usá-la para propósitos mais doces, ou talvez mais picantes? Você não imagina nem a mínima fração do quanto sua voz é erótica.

Mas já que este é o seu objetivo, sim, vamos matar um pouquinho de tempo, como duas feras à espera do momento dourado do sabor da presa. Tenho alguns dos detalhes dos seus últimos casos, dados por meus informantes. Sua voz, uma combinação tão estranha quanto você, ao mesmo tempo arrogante e envolvente, me insulta, me convida, Pare de me entediar e pense.

Em pouco tempo, brincamos à vontade com a suposta cena do crime, que se abre para nós como um cenário de videogame. Controlamos o fluxo do tempo, os movimentos dos personagens e dos objetos, e tudo se faz tão claro.

É este o seu palácio mental, onde você se isola e brinca de quebra-cabeças, dias e noites a fio?

O único defeito deste lugar tão interessante e convidativo é o excesso de armadilhas, e o pior, nem todas colocadas por você. Visitas desagradáveis nos interrompem, e o que parece um imprevisto fatal é a oportunidade perfeita para você perceber exatamente onde as fotos estão guardadas. No único e verdadeiro lugar seguro da minha casa londrina. No meu coração.

No celular que me serve como passe-livre para fora da prisão; como um salvo-conduto entre os vivos.

A ideia de salvar a vida do seu único e melhor amigo, de devolver ao menos um pouco da proteção com que ele te cobre constantemente, por um motivo inexplicável, dá um sabor especial ao brinquedo dedutivo que você tanto ama. Não posso te encarar porque você está de costas para mim, mas sei que não é o perigo que te desagrada - é o seu vício afinal - mas a falta de oportunidade para se exibir.

Mas não se preocupe. Além de servir para deixar os invasores fora de combate, o cofre contém uma armadilha até que bastante engenhosa. Por favor, afaste-se - digamos que o revólver machuca muito - e mais tarde aproveite para se gabar à vontade da sua, ou melhor, nossa habilidade, em desfazer esta pequena escaramuça.

Como o bom felino que você é, percorre a casa toda com o olhar atento e desconfiado, à procura de possíveis reforços trazidos pelos visitantes. Como a boa predadora que sou, te sigo de muito perto, praticamente aos seus calcanhares. Não posso te deixar fugir com a minha verdadeira caixa-forte.

"Você está tão calma... Sua armadilha acabou de matar um homem."

Quem diria! O prodigioso, sábio e cínico Sherlock Holmes aprendeu grandes princípios morais com seu leal amigo, o veterano de guerra desastrado, porém com um nobre coração e nervos de aço? Que gracinha. Esta é a face escondida sob a sua máscara. A falha na sua armadura, a vulnerabilidade na fortaleza do seu palácio mental.

Como você pode ser tão manipulador e tão inocente ao mesmo tempo?! Saia da sua concha de marfim, aproveite o passeio pelo mundo real, e descubra que não adianta que seu coração seja de pedra, você ainda tem um e não sabe como usá-lo.

Parece que o efeito da adrenalina, sua droga favorita, começa a se desvanecer. Até a sua voz está diferente. Seria maravilhoso se nós pudéssemos simplesmente ir embora desse cenário maluco de filme de suspense, e ter uma conversa normal. Poderíamos nos misturar aos turistas num lugar qualquer da cidade, sentar num banco do metrô, à mesa de um restaurante caro, ao balcão de um pub simples, até mesmo à frente de um prato de fish and chips. Eu poderia apreciar a sua voz cada vez mais profunda, molinha de cansaço. A sua teimosia infinita, infalível em te manter acordado, seus olhos felinos lúcidos e acesos, como se você fosse capaz de concentrar toda a atenção do mundo apenas para mim. Nós riríamos a noite inteira, do absurdo da situação em que nos conhecemos.

Você sorriria para mim, não com a quintessência de um cavalheiro, a expressão de ator primoroso que você finge tão bem, mas com as suas covinhas fofas e juvenis, com o seu sorriso doce e verdadeiro, a expressão de criança travessa com que você brindou seu bom amigo, enquanto jogava um cinzeiro de cristal do Palácio de Buckingham, como se fosse uma lata de sardinhas achada no lixo.

Lamento que sua visita seja uma ordem do Governo Britânico, e a minha presença uma encomenda do seu fã número um. Lamento que não podemos aproveitar o tempo que nos resta para passear e nos conhecermos com a atenção que a oportunidade merece. Paciência... Não somos do tipo que se entretém com romances, quanto menos os açucarados.

E não acabei de dizer que você é um convite ao vício?

Esta não é a sua droga favorita, é apenas uma combinação tranquilizante que vai te colocar para dormir por poucas horas. Você está tão exausto. Seu corpo implora por descanso, e também por drogas, pelo que indica a rapidez do efeito do composto químico. É triste e surpreendente que você seja mais viciado que parece.

E mais desobediente e teimoso que uma praga perseguidora. Por mais adorável e divertido que me pareça usar apetrechos BDSM para brincar com você, sua obsessão infernal te impede de ver que não quero te ferir. Não sem o seu consentimento. Solte, ao menos por um minuto, o controle do seu corpo da sua mente teimosa e maníaca. Ela não percebeu que já peguei meu tesouro protetor de volta. Não percebeu que, ao meu olhar, o seu palácio mental é um esconderijo inútil para as emoções que você se orgulha tão calmamente de sufocar.

Desfrutar da sua expressão de gato manhoso ao fazer carinho no seu ombro é um ótimo bônus. Obrigada por facilitar o caminho da droga rumo ao seu cérebro hiperativo. Te ver cair com o efeito, uma cena exatamente igual a todos os que tiveram o (des)gosto de tomá-la, não é novidade para mim. E, infelizmente, a sua expressão também não é.

Você soltou todos os controles, exatamente como eu te ordenei com chicotadas. Se abandonou à inconsciência. Estamos no seu palácio mental, na sala que você abriu à minha visita e decorou com a cena do caso do andarilho, que começamos a discutir. Você não consegue falar, não consegue pensar. Simplesmente me observa com uma expressão doce, vulnerável, e verdadeira nos seus olhos nublados.

A expressão de uma criança perdida, um olhar exatamente igual ao que acreditei jamais mostrar outra vez, enquanto vivesse.

Acomode-se no banco do motorista, enquanto narro o desfecho do suposto crime. Por favor, não tente falar, não faça nenhum movimento brusco, não se levante, não se esforce. Por mais que você seja resistente, ainda não consegue.

Trate de ficar bem quietinho e me deixar ajeitar esses cobertores para você. Não adianta sentir minha presença e tentar ficar alerta quando você mal aguenta abrir os olhos. Largue as investigações e aprecie o conforto morno da sua cama. Relaxe e durma sossegado. Pelo menos esta noite. Só passei para devolver o seu casaco.