Autumn


"Nossa existência é transitória como as nuvens do outono".

Gautama Buda


Prólogo

Amaryllis sabia que, no instante em que entrasse naquela floresta, encontraria a morte eminente. A expectativa de que ia morrer dali a alguns minutos não trouxera medo – muito pelo contrario; Amy se encontrava num estranho estado de calma.

Lentamente, quase se ela perceber, a Pedra da Ressurreição escapou de sua mão. As imagens de seus pais, bem como Sirius e Remo, sumiram sem deixar rastros, mas, de alguma forma, seu interior permanecia aquecido como há alguns instantes.

Viu Yaxley e Dolohov caminhando apressadamente entre as árvores da Floresta Proibida. Então, seguramente escondida pela Capa da Invisibilidade, Amy os seguiu. Não muito depois, a jovem mulher se viu numa pequena clareira.

Era um lugar um tanto quanto sombrio, iluminado apenas pela luz de uma enorme fogueira. Um grupo de Comensais da Morte se encontrava quietos, quase imóveis. Amy viu Fenrir Greyback, com seus dentes pontudos à mostra, próximo a Lúcio Malfoy, que parecia miserável. Narcisa, tão parecida na expressão com seu marido, estava ao lado de Bellatrix, e esta tinha sua típica expressão louca e perdida.

Lord Voldemort encontrava-se no centro. Com as mãos juntas e a cabeça baixa, ele quase poderia estar rezando – não que Amy acreditasse nisso. Nagini a alguns metros de distancia, enrolada nas barras de uma jaula mágica, formando um halo assustador.

- Não o achamos, milorde – Amy ouviu Yaxley dizer tremulamente.

Na verdade, ele tremia como se fosse morrer a qualquer instante – o que certamente trazia ironia à Amy, que daqui a segundos, estaria tão morta quantos seus pais. Era a expectativa de vê-los que a movia? Por um minuto, enquanto Yaxley e Dolohov juntavam-se aos silenciosos Comensais, a menina refletiu.

Não era somente ver seus pais, Sirius e Remo novamente, ela decidiu. Também tinha a ver com salvar os que amava; e se para salvá-los ela tinha que morrer, como não poderia abraçar a Morte como uma velha amiga?

Isso exigia de Amaryllis uma coragem diferente.

Ela podia lutar com o que não gostava, e com certeza podia repelir o que a mataria. Mas quando a opção era morrer para salvar, como não fazer isso?

Se ela realmente amava sua família... Pensou em Luna, Neville, Hermione e todos os Weasley no Salão Principal. Pensou nos corpos de Remo e Tonks, encarando, sem mais ver realmente, o teto estrelado do Salão.

E, sem hesitação nenhuma, tirou a capa de cima de si, guardando-a seguramente no bolso das vestes. Sabia, assim como tinha consciência de que morreria, que não deveria lutar. Então, manteve a varinha de pena de fênix dentro do bolso, bem ao lado de um dobrado Mapa do Maroto.

- Eu pensei que ela viria – Tom Riddle finalmente levantou a cabeça. -, parece... Que me enganei.

- Não se enganou.

Amy não teve de forçar sua voz a sair clara e sem tremor. Estava tão em paz com o fato de que morreria que muitos poderiam questionar sua sanidade mental. Mas, por que temer? Temer a morte, quando muitos antes dela, já a tinham aceitado ou recebido?

Morrer, afinal, não era nenhum fato espantoso ou incomum. Pessoas morriam a toda hora. Amy não podia ser a única pessoa do mundo morrendo agora. Certamente uma velhinha se recostava em uma cadeira agora, morrendo calmamente; bem como um bebê não sobrevivia a um parto, ou um bêbado batia um carro.

Morrer era simples. E humanos morriam toda hora. Amy era somente a próxima.

Tom mantinha a cabeça levemente caída para a direita, como uma criança questionando o que aconteceria se continuasse. A clareira ainda silenciosa. Todos esperavam, tudo esperava.

Amaryllis viu Lord Voldemort levantar a varinha.

Ele mexeu a boca e recitou baixinho alguma coisa. Um jato de luz verde veio em sua direção e tudo se esvaiu.