Disclaimer: Naruto não me pertence.

Eu só queria deixar registrado meu 'amém Pandora Imperatrix' por colaborar no processo criativo dessa fanfic e por betar tudo bem feliz (ou não).

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Sumário: Essa é uma história sobre pássaros dentro de um clã com olhos que tudo viam e que, ainda assim, era feito de cegos.


Olhos Brancos

Era uma vez, num reino não tão distante assim, em que não havia monarquia, porém havia nobreza. Nesse "reino", de nome Konohagakure no Sato, havia uma grande família de nobres que viviam em um "castelo" — um complexo, para ser mais exata. Essa família era conhecida como Clã Hyuuga. Conta-se que eles eram um clã tão antigo quanto a própria existência dos shinobi, guardando com suas restritas leis o sangue puro do próprio Otsutsuki Hamura, irmão fraterno do Sábio dos Seis Caminhos, Otsutsuki Hagoromo, e filho de Otsutsuki Kaguya. Os olhos brancos, sem pupilas, a pele também branca e os cabelos lisos e castanhos eram os traços que os destacavam na multidão. Outro traço facilmente associado a eles era o orgulho, a elegância, o tradicionalismo e a riqueza. Se diziam o clã mais poderoso de Konoha, vivendo numa eterna rivalidade com o clã Uchiha, enquanto vagavam pelas ruas de cabeça erguida exibindo suas aparência e etiqueta impecáveis.

Se perguntassem ao líder da vila, o Hokage, de que modo ele poderia descrever os Hyuuga, ele provavelmente lhe diria que é um clã de ótimos guerreiros, diplomatas formidáveis, servos leais e que seguia uma organização interna única.

Único realmente é um adjetivo que se aplicaria aos Hyuuga.

Eles possuem olhos únicos.

Eles possuem um estilo de batalha único.

Eles possuem modos de fazer política únicos.

Eles possuem uma estrutura única.

Acontece que, entre paredes brancas, pisos e pilastras de escuras madeiras nobres, mobílias tradicionais e caras, vasos, esculturas e pratarias de luxo, viviam homens e mulheres segregados por um regime de castas. Selos marcados no centro da testa de homens e mulheres do clã determinavam o futuro de cada um deles. E é no seio dessa família que essa história começa.

A tragédia se inicia a partir do momento em que o líder Hyuuga anunciou a chegada de seu herdeiro e o irmão mais novo deste. No colo do líder, dois meninos gêmeos, saudáveis e robustos observavam através de sensíveis olhos alvos, pela primeira vez, o grupo de homens idosos que mais tarde os forçaria a quebrar seus laços como irmãos. Os anciãos.

O mais velho e herdeiro da liderança do clã, Hyuuga Hiashi, teve seu nascimento comemorado e foi exibido com orgulho pelo pai. O mais novo, no entanto, passou seus dois primeiros dias de vida sendo segurado pelas mãos trêmulas da mãe. Sendo banhado pelas lágrimas dela. Hyuuga Hizashi, não foi comemorado pelo simples fato de que, ao nascer poucos minutos depois, havia sido sentenciado a servir o irmão mais velho até a morte. Literalmente.

Hiashi e Hizashi eram gêmeos idênticos e até seus próprios pais os confundiam. A ama de leite foi a primeira a começar a diferenciá-los pelas vestes. Os tecidos mais finos eram sempre reservados para o herdeiro, enquanto ao mais novo cabiam as mesmas roupas tradicionais que o resto das crianças do clã. Era como aquele clichê de irmãos gêmeos em contos infantis: um crescia como príncipe e outro como plebeu, ambos tendo sido separados durante o nascimento. Só que nesse caso Hiashi e Hizashi nunca foram fisicamente afastados. Seu distanciamento era cultural, mental e emocional. Anos de tradição Hyuuga ditavam que o mais velho nascera para ser o líder, enquanto o mais novo nascera para servir ao líder.

No começo, por volta dos três primeiros anos, os gêmeos ainda buscavam brincar juntos, ainda riam juntos, ainda eram ninados pela mãe juntos. Mas no terceiro aniversário do herdeiro, como ditava a tradição, tudo começou a mudar drasticamente. Hiashi ganhou inúmeros presentes e foi banhado de atenção. Seu aniversário estava sendo festejado e como toda e qualquer criança comum, ele adorou toda a atenção e a liberdade para brincar com outras crianças. Puxava o irmão pela mão por todos os lados enquanto ria, até que seu pai os separou. Viu sua mãe pedir algo angustiada para o pai, pedindo que ele esperasse para fazer algo e não entendeu muito bem. Hiashi assistiu despreocupado o pai levar Hizashi para outro cômodo da casa. Não o viu pelo resto da noite. Nem nos dois dias seguintes. Anos depois, Hiashi não se lembraria muito dessa noite, apesar de seus pais o fazerem.

No seu aniversário de três anos, Hizashi percebeu que algumas pessoas lhe observavam com simpatia nos olhos, que sua mãe o vigiava como um falcão enquanto tremia levemente. Ele não ganhou presentes como o irmão, mas sabia que Hiashi ia brincar com consigo usando seus novos brinquedos de qualquer forma. Então não se importou. As pessoas pareciam se recusar a parabenizá-lo, mas como ele estava correndo brincando com as outras crianças, ele ignorou. Porém, foi quando seu pai o pegou no colo que ele percebeu que aquela sensação de que algo ruim ia acontecer piorou. Anos depois, Hizashi ainda iria se lembrar do olhar confuso do irmão, das lágrimas nos olhos da mãe pedindo para adiar o que seu pai desejava fazer, e do olhar baixo de todos os homens e mulheres do ramo secundário enquanto seu pai o afastava da festa. Ele se lembrava do pai trancar a porta, sentá-lo num futon e encostar a própria testa na sua enquanto algumas poucas lágrimas caiam.

Foi a primeira e última vez que viu aquele homem chorar.

Com os dedos grandes emaranhados no cabelo do filho, mantendo-o parado com testa contra testa longamente, o homem havia quebrado por um momento. Então, quando se afastara, acariciando a testa da criança, ele havia dito:

"— Quando percebemos que vocês eram gêmeos, sua mãe começou a rezar fervorosamente para que um de vocês morresse no útero ou no parto. Eu nunca entendi porque ela fazia isso quando se é uma benção receber gêmeos homens e saudáveis como herdeiros. Três anos depois... Acho que finalmente entendo o porquê. É mais fácil selar o filho do outro, do que amaldiçoar o próprio filho."

O homem havia secado suas lágrimas e endurecido novamente sua expressão ao voltar a falar "— Prometa-me, Hizashi, que você sempre irá cuidar de seu irmão, que sempre o protegerá e o auxiliará. Prometa-me que você se tornará uma extensão dele. Não só porque ele é o herdeiro do clã, mas também porque é o seu irmão". Ainda meio confuso, a criança prometera e ao fazê-lo, uma mão tocara sua testa. Infelizmente, dessa vez não havia nada delicado no toque. Só havia dor. Décadas depois, quando sua esposa conversava com ele sobre isso, Hizashi ainda se lembraria da fala do pai e principalmente, se lembraria do toque dele em sua testa. Havia sido a última vez que o homem tocara aquele lugar específico do filho.

Depois daquele momento, o Selo Amaldiçoado da Família Principal passou a ser utilizado como referencia para diferenciá-lo de seu irmão, e mais importante: passou a garantir seu futuro servindo o próprio irmão, o herdeiro da família principal quisesse ele ou não.

Daquele ponto em diante um abismo começara a ser formado entre os irmãos. Hiashi recebia treinamento especial do pai no qual aprendia diplomacia; técnicas secretas do clã reservadas à souke; política; e como administrar o clã. Hizashi, por sua vez, levava a mesma vida que todos os outros membros do clã que seguiam a carreira ninja. Ele treinava o estilo de luta de seu clã, fazia missões e servia na guerra para proteger os Hyuuga. Nada a mais, nada a menos. Cada dia a mais, o príncipe era preparado para reinar e o plebeu para servir. Cada dia a mais, Hiashi acreditava que era seu destino ser o líder do clã — não importava se seu irmão era tão forte quanto ele em uma batalha e por vezes o superava, afinal, sendo gêmeos, isso era de se esperar, ou era isso o que ele pensava — enquanto seu irmão era forçado à aceitar sua posição de submissão.

Hizashi não tinha amor por servir. Hizashi não acreditava na superioridade Hyuuga sobre os outros clãs, muito menos na superioridade da souke sobre a bunke, pois ele sempre fôra tão forte quanto o irmão. , Afinal, apesar de supostamente ser proibido, uma ou outra vez, Hiashi se enfurecera com o pai e com todas aquelas restrições do clã que prendiam todos seus membros em uma gaiola dourada e, no escuro da noite, acordara Hizashi e tentara ensiná-lo uma ou outro jutsu da souke. "Por que é para isso que os irmãos servem, não é Hizashi? E, aliás, como Otou-san acha que você vai me proteger, se você não sabe o máximo de jutsu possíveis? Nós dois sabemos que nossas lutas sempre empatam. Otouto nunca foi mais forte do que eu — e ele ria —, mas nunca foi mais fraco também. Acho que sermos gêmeos influencia. Então, não vejo problema algum. Em tempos de guerra, precisamos de toda a força possível" justificava o mais velho aos sussurros quando Hizashi hesitava.

Hizashi nunca acreditou também, nos sussurros pelas paredes brancas de sua casa, que diziam que seu pai não o amava, que sua mãe não o amava e que seu irmão não o amava. Ele sabia melhor! Ah, como ele sabia melhor! Sua mãe chorara seu parto porque o amava demais para desejar esse futuro de servidão para ele, certo? Seu pai chorara aquela vez antes de selá-lo porque também o amava demais para desejar tal futuro para ele, certo? E Hiashi... Hiashi sempre o amou de dentro de seu pequeno castelo forjado pela souke. Sem lágrimas e com poucos sorrisos,com certeza, mas estava ali. Estava ali quando Hiashi sussurrava que ambos eram igualmente fortes. Estava ali quando Hiashi franzia o rosto ao vê-lo se arrumar para lutar na guerra. Estava ali quando Hiashi respirava aliviado ao ver o irmão voltar vivo de mais uma batalha. Estava ali. Estava sempre ali, certo?

Certo?

Ele não tinha razões para dar ouvidos a alguns homens ressentidos por nascerem destinados a servir, perdendo a chance de fazer uso de seu total potencial. Eles foram destinados a isso, afinal. Não existe nenhum modo de mudar o futuro. Certo?

Continua


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Eu preciso parar de ter ideias pra fics e terminar as minhas outras, mas não consigo resistir.

Gostaram?