Deku
Fazia um tempo que ele não falava comigo, não que isso fosse comum entre nós, mas dessa vez era diferente, ele estava distante, não somente de mim, mas de tudo. Novamente cogitei a possibilidade de perguntar o que estava acontecendo, quando ele entrou na sala, novamente atrasado, mas o medo não me permitiu.
Eu sempre penso demais, acho que essa é uma das minhas principais características. Já pensei em várias possibilidades para ele está assim, entre elas as que mais fazem sentido são: que ele poderia ter brigado com alguém, algo que ele vive fazendo, mas com alguém que importa para ele, podia ter levado um fora, acho difícil levando em consideração que ele não demonstrou interesse a ninguém na minha frente ou pode ser algo mais grave.
"Deku!" Grita o professor, me fazendo voltar a realidade. "Pare de ficar murmurando, está me atrapalhando!"
Fico envergonhado e peço desculpas, mas percebo que o Kacchan está imparcial em relação ao que aconteceu, normalmente ele sempre faria um comentário sarcástico. Mas, dessa vez, só o silêncio. Agora eu realmente tô preocupado.
Quando o sinal toca, encerrando a aulas e todos se levantam, em um claro sinal de ansiedade para sair daquele ambiente, também me levanto, menos Kacchan. Ele espera até todos sair da classe e depois de alguns minutos saí. Sei disso porque fiquei escondido no corredor esperando para ver o que ele ia fazer, hoje não foi diferente. Tudo me leva a concluir que ele está prolongando o máximo possível volta até sua casa, não sei o que ele quer evitar ou prolongar, mas hoje estou decidindo a seguir-lo, afinal ele mora no mesmo bairro que eu.
Será que estou ultrapassando os limites? É com esse pensamento que vou o seguindo furtivamente pelos corredores.
Kacchan
Não sei como lidar com isso, esse bastardo tá me seguindo, e não se dá nem o trabalho de ser discreto, é tão barulhento que até um surdo ouviria ele se aproximando. Me viro e o encaro.
"O que você quer!?" Falo gritando. Não quero lidar com ele agora
"Desculpa, eu só...tava...passando!" Ele diz, inutilmente tentando se explicar. Chega a ser fofo de tão patético.
Não quero lidar com ele agora.
"Okay". Falo e vejo a cara dele de bobo e me viro.
Apesar de o ter confrontado ele continua atrás de mim nos corredores daquela maldita escola. Me viro e ele não está mais lá. Não sei se fico aliviado ou sinto sua falta, merda de carência.
Quando chego na portaria do colégio não vejo nenhum aluno por perto, melhor. Até que começa a chover, no começo era uma chuva fraca e achei melhor esperar um pouco, mas ela só foi ficando cada vez mais forte, gosto da chuva, do sentimento que ela me trás, me sinto menor e os problemas parecem não importa tanto, mas agora estou odiando a idéia de andar nela. Espero mais um pouco mas a chuva não diminuiu e decido correr até a estação de trem que é a quatro quarteirões, me parece uma idéia estúpida, mas talvez queira sofre um pouco. Tomo impulso e começo a correr abraçando minha bolsa. A chuva está forte, sinto que meu uniforme está ficando a cada segundo mais molhado, quando apenas na metade do caminho para a estação e praticamente todo ensopado, eu tropeço em algo e caiu, com a minha bolsa parando alguns metros de mim. Aqui estou eu sentando na chuva, sem nenhuma vontade de levantar. Talvez eu queria me fazer sofrer, a chuva cai forte sobre mim, sinto os gotas d'água batendo pesadas sobre meu corpo. Então de repente tenho que me controlar para não começar a chorar. Merda, merda, mais que grande merda, eu me odeio, me dando conta de o quão patético sou. Não é hora de ter uma crise existencial, é hora de se levantar e seguir em frente, mas por que meus pés não se movem? Por que eu não consigo, que merda, merda, merda, merda, merda, merda.
"Kacchan, tudo bem? Tá machucado?" Escuto uma voz gentil me chamar, mas não respondo.
"Vamos, eu te acompanho até a estação. Peguei um guarda-chuva com a coordenação, tem espaço para nós dois". Ele me escuta soluçar. "Kacchan, está tudo bem?"
Eu sei que é ele, sei que se levantar a cabeça sou ver aqueles olhos verdes me olhando com compaixão, mas não posso olhar para ele, não posso deixar que me veja assim tão patético.
"Kacchan tá tudo bem". Ele diz com uma voz calma, tentando me reconfortar.
Então eu o olho, me mostrando por completo, deixando toda dor transparecer. E ele simplesmente sorri e eu o beijo. Ele não se afasta ou retribui, percebendo sua inércia, eu paro o beijo e o olho, ele parece surpreso, confesso que também estou.
Ele está estático, fico ansioso e me levanto rapidamente pegando minha bolsa e estou começando a andar para estação com a cabeça baixa, tentado entender o que aconteceu. Quando ele me alcança e coloca o guarda-chuva sobre mim, por algum motivo fico envergonhado, não consigo olhar para ele.
"Vamos para minha casa". Ele diz feliz se virando para mim.
"Como assim?". Pergunto envergonhado.
"Ah! Você sabe, minha casa é mais perto que a sua e você tá todo molhado..."
"Okay". Digo tentando entender o que estou sentindo.
Então finalmente tomo coragem olho para ele.
Ele dá o seu melhor sorriso para mim, eu não o mereço.
