N.A.: Saint Seiya não nos pertence, mas sim à Masami Kurumada e Toei. Mas se quiser pegar emprestado algum personagem original dessa fic, peça por favor.
Esse e o próximo capítulo foram escritos entre 1995 e 1997. Por favor, relevem a superficialidade dessa primeira parte. Estamos reescrevendo a narrativa, mas a história em si precisa ser mantida nestes e no próximo capítulo para dar andamento aos demais acontecimentos.
Esta História é escrita em conjunto pelas seguintes autoras: Ephemeron, Medéia, Najia, Sayuri, Shinzu e Chiara. Algumas vezes é betada por Dani Polaris - todas nós pertencemos ao grupo Pervas Clan.
Anjos milagrosos
Quando a infelicidade bateu à minha porta
E eu pude entrar
Não pude perceber que ela iria me dominar
Eu já não sonhava, eu não vivia para mim
Eu só sentia uma tristeza sem fim
Mas os anjos milagrosos vieram me salvar
E o presente que me deram foi a amizade sincera e eterna
Infeliz já não me sentia, ao meu lado havia minha amiga
Eu nem percebia que um grande sonho ia nascendo
Este sonho foi crescendo
Os anjos vieram correndo
E nos deram de presente novos amigos
Que tinham o mesmo sonho, tudo foi se encaixando
Eu nem imaginava que eram os anjos trabalhando
Todos juntos então
Os anjos deixaram nas nossas mãos
E fomos construindo, sempre olhando na mesma direção
Agora que este sonho é real
Agora que somos mais que amigos
Agora que tudo é alegria
Queremos que o mundo sorria
Agora que estamos sorrindo
Agora que tudo é lindo
Agora que a amizade é a nossa felicidade
Os anjos milagrosos voam sobre nós
Comemorando a nossa vitória
Eu tenho a impressão que eles não irão nos deixar
Que haverá mais presentes
Enquanto o sonho continuar
Eles estarão aqui para nos ajudar.
(Camila P. Custódio)
I - O DESTINO PREPARA COISAS...
"Foi logo após as batalhas galácticas. Os rapazes estavam muito cansados e precisavam de uns dias para descansar. Resolvi que o melhor a fazer seria dar uma folga. Enviei-os então para o Brasil, que com sua gente simpática e suas belas praias me pareceu perfeita para que renovassem um pouco o espírito.
Eu, Saori Kido, não me permiti partir com eles, pois havia muito a ser feito na Fundação Graad. Os rapazes chegaram em São Paulo à tarde e iriam passar a noite num hotel. No dia seguinte seguiriam para o litoral.
Quando desceram do avião, Seiya mal entrou na limosine e já foi pegando um pacote de bolachas pois estava faminto e só fazia reclamar da pequena quantidade de comida servida no avião. Estavam passando em frente ao Monumento às Bandeiras, quando ele começou a falar sem parar, sem importar-se com o fato de estar de boca cheia.
_ Mas afinal de contas… Será que vai demorar muito pra chegar no hotel?
_ Já estamos chegando Sr. Ogawara.
Respondeu o motorista sério, olhando Pégasus pelo retrovisor."
_ Quando os cavaleiros de bronze chegaram no hotel...
Alexandra, uma garota de longos cabelos castanhos e expressão irritada, segurava seu caderno com as duas mãos e acabara de interromper a narrativa, mediante a situação das suas amigas que rolavam de rir no chão do quarto.
_ Vocês nem estão ouvindo a história!
Bárbara, encostada na cama, chegava a chorar de tanto rir e Juliana abraçava os joelhos, na tentativa de escapar de um ursinho lançado por Alexandra. Estava já sem fôlego e era até difícil entender o que dizia.
_ Comendo bolacha!
_ Ai, Alê, desculpa! É que o Seiya de boca cheia não deu pra segurar!
Diz Bárbara tentando acalmar a amiga enquanto se esforçava para parar de rir.
_ De verdade, onde você tira imaginação pra inventar essa história de Cavaleiros do Zodíaco e deusa Athena, em pleno Japão? – continua Juliana.
De repente, as três são interrompidas pela porta que abrira bruscamente.
_ PODE COMEÇAR A ZONA, PORQUE A CELY CHEGOU!
Uma quarta garota abrira a porta bruscamente e, nesse momento, a cena chegava a ser engraçada. Juliana e Bárbara haviam se abraçado no chão e Alexandra segurava o caderno contra o peito com os olhos arregalados.
_ Nunca mais faça isso, sua louca!
_ A gente podia ter morrido do coração!
Diz Bárbara se levantando e ajudando Juliana a, também, se levanter enquanto Cely achava graça no susto das amigas.
_ Aposto que estavam aprontando!
As quatro eram grandes amigas e estudavam na mesma escola. Bárbara era a mais velha do grupo, com quatorze anos. Também a mais alta e brincalhona, de olhos cor de mel e cabelos avermelhados. É constantemente a chamada de loira, o que odeia e abomina e por esta razão está sempre sendo provocada.
Cely, com treze anos, disputa com Juliana o título de mais baixinha. Seu jeitinho meigo e seus os cabelos cacheados quase loiros, escondem seu gênio forte.
Juliana está com treze anos e é de longe a mais calada. Cabelos escuros, muito lisos e curtos, possui olhos de um castanho escuro profundo. Se veste ao estilo moleca skatista, com calças largas e blusinhas justas.
Alexandra também tem apenas treze anos, mas se veste e se comporta como se fosse a mais velha. Tem um ar misterioso e irritadiço. As roupas pretas e de couro destacam seu corpo esguio, usa diversas pulseiras e brincos, tem cabelos presos em um rabo de cavalo deixando apenas duas mechas soltas e possui os olhos amendoados e castanhos.
Alexandra chegou há pouco tempo e já conquistou a amizade das três, mas parece estar sempre a esconder alguma coisa que a entristece.
_ Agora vamos embora, que já estamos atrasadas.
_ Ainda são cinco e meia!
_ É, July, mas o ônibus vai passar logo!
_ Então chega de discutir e vamos de uma vez.
Fala Alexandra pegando sua bolsa. As garotas se dirigem até a porta e se despedem da mãe de Bárbara.
_ Tchau, dona Lívia!
_ Tchau, mãe!
_ Tomem cuidado, ouviram?
_ Ok, mãe...
_ Táta, táta... eu quéio um beijo!
Um lindo garotinho, que mal se equilibra nas pernas, vem correndo até Bárbara.
_ Fernando, deixe a ragazza ir!
Grita Seu Pablo de lá de dentro.
_ Tchau, Fê! – dizem as amigas da ruiva, já se aproximando da porta.
_ Bye, maninho! Quando eu chegar te conto como foi tá?
Um beijinho estalado e ela já correu para o elevador, onde estão as amigas.
_ Tomara que dêem ingresso na porta.
_ É, aí a gente pagava meia!
Conversavam Cely e Juliana enquanto caminhavam até o ponto de ônibus. O grupo partia para uma danceteria perto dali, chamado na época de Moinho Santo Antônio. Mesmo não tendo idade suficiente para a matinê, se dava um jeitinho com a maquiagem e a atitude certas.
Mas o ônibus não chegou logo, como previam. São Paulo era assim mesmo. O trânsito e a grande população sempre tornava tudo imprevisível. Estavam há mais de meia hora aguardando, quando a condução finalmente apareceu.
_ Até que enfim!
Resmunga Alexandra entregando o dinheiro ao cobrador, enquanto Cely corria empolgada para o fundo do ônibus, gritando:
_ Eu fico na janela!
_ Já vou avisando... - diz Bárbara se sentando - Se for o dia do "é proibido dizer não", eu volto pra casa!
O dia em que ela se refere era freqüente naquela danceteria. As garotas usavam uma fitinha no pulso e, ao garoto que pedi-la para si, tinham que entregá-la juntamente com um beijo na boca. Havia muita gente que gostava disto ou não que simplesmente não se importava. Mas não era o caso de Bárbara e Alexandra, que eram mais reservadas neste assunto.
_ Eu idem! Até porque só me aparece canhão e mala...
_ Há! Com essa cara feia, só deve aparecer canhão mesmo! E mala você mesma já é! - Cely a interrompe.
Alexandra cruza os braços, irritada, pensando em alguns palavrões no seu idioma natal. Cely e Juliana estão quase morrendo de rir, mas Bárbara tenta inverter a situação:
_ E você, Cely, cuidado pra não ser pisada! Baixinha assim, talvez o pessoal não te veja.
_ Ah, vai ô... vara de cutucar estrela!
_ Pintora de rodapé!
_ Dá pra parar as duas?!
Juliana grita e já se levanta, enquanto Cely e Bárbara mostram a língua uma para a outra.
_ Vamos, o próximo ponto é o nosso!
Alexandra puxa a cordinha para dar sinal de parada, pois Juliana se recusa a fazê-lo - ela não alcança! As garotas descem do ônibus e vão conversando animadamente pelo caminho.
Enquanto isto, em um hotel não muito longe... Tênis jogado aqui, toalha molhada ali, Shiryu colocando a terceira camisa, Shun acabando de vestir a calça e Hiyoga escovando os dentes ao lado da porta. De repente, Ikky abre a porta do banheiro, enrolado em uma toalha e uma fumaça branca de puro vapor toma conta de todo quarto.
_ Alguém viu a minha escova de dente? A azul-escuro?
Todos os outros olham na direção dele contendo o riso, enquanto percebem Hiyoga olhar vesgo para a escova azul escura que usava. No instante seguinte, Cisne correra para dentro do banheiro e estava a cuspir feito um louco na pia.
_ Ptchu! Ptchu!
_ Acho que acabou de achar sua escova, Ikky!
Shiryu tentou esconder o rosto com a revista para poder rir mais um pouco. Ikky arrancou a escova da mão de Hiyoga bruscamente, enquanto ele se afastava, ainda limpando a boca e fazendo careta.
_ É, achei... Mas essa vai pro lixo agora!
Shun fica sério de repente.
_ E como você vai escovar...?
_ Topo escovar até com o dedo, menos com uma escova babada. Ainda mais por quem!
Ikky entra novamente no banheiro, Shun volta a dar risada enquanto coloca o tênis, Shiryu continua a ler sua revista e Seiya vai encher o saco de Hiyoga.
_ Podia ter passado a noite sem essa!
_ Cala a boca.
_ Ei, que tal começarmos a usar nossos nomes falsos? É mais seguro e assim a gente se acostuma. Tô certo, Alexandre? – sugere Shiryu a Shun e aos demais.
_ Ok, Rafael.
_ Bruno, dá pra pegar uma revista pra você?
Continua Shiryu irritado, ao perceber Seiya espiando sua revista. Pégaso estava realmente impaciente começa a andar de um lado pro outro antes de bater na porta do banheiro:
_ Oh, Raoul, vai logo aí!
_ Num amola, pocotó alado!
Passados alguns instantes, Ikky finalmente libera o banheiro, saindo de lá vestido com uma calça jeans e uma camisa escura jogada sobre uma regata branca que ressaltava-lhe os olhos azuis.
_ Vambora, bando de maricas.
_ Você e o Seiya podiam ir e deixar a gente descansar em paz. – resmungou Hiyoga.
_ Esse fuso deixa a gente meio esquisito. – continua Shun.
_ E eu preciso atualizar minha leitura, antes de viajar amanhã.
Seiya e Ikky se entreolham inconformados, mas é o mais baixo deles que se manifesta.
_ Vocês não vão começar de novo com esta história de que não sabem dançar! Deixem de ser velhos e vamos logo!
_ Parece até que não gostam de mulher...
Resmunga Ikky ajeitando a gola da camisa e já se preparando para sair do hotel com ou sem os outros. Ele e Seiya não agüentavam ficar trancafiados no mesmo lugar por muito tempo. Se haviam ganhado aquela folga, era porque mereciam se divertir!
Quando os dois esquentadinhos já estavam de saída, os outros três acabam cedendo e seguindo a dupla, com receio de que fizessem alguma besteira ou brigassem feio no caminho. Alguém tinha que manter os dois longe de brigas e escândalos ou a senhorita Saori ficaria furiosa!
Acaso ou não, eles seguiram para a mesma danceteria que as outras quatro garotas: o tal do Moinho Santo Antônio. A danceteria estava muito cheia e enfrentaram uma fila enorme até conseguirem realmente entrar. Resmungos daqui e protestos dali, estavam tentando encontrar alguma mesa para ficar quando Seiya parece reconhecer alguém. Um rapaz com cabelos muitos longos e de um negro tão profundo que tinha um brilho azulado como o mar, acabara de passar por eles.
_ Eu conheço esse cara...
_ Aquele playboy que passou por aqui todo engomado? – ironiza Ikky.
_ Agora eu tô lembrando! É o tal do Sólon, que fica com gracinha pra cima da Saori-san!
Os amigos não perdem a chance de provocá-lo, pelo ciúme completamente estampado em sua frase.
_ Huum, Saori-san!
_ Ciúme da senhorita Kido... Sério?!
E enquanto riam, Seiya ultrapassa algumas pessoas, tentando alcançar Julian Sólon.
_ Julian!
Estava quase tocando seu ombro, mas parecia que não o escutava.
_ Sr. Sólon!
O rapaz continuava seu caminho, ignorando os chamados de Pégaso. Ele faz uma curva repentina, entrando em um local mais reservado e Seiya ainda insiste em gritar seu nome. Ele finalmente se vira na direção de seu seguidor.
_ Sei que não deve se lembrar da gente, mas a senhorita Saori...
_Quer parar de me causar problemas? – ele resmunga em voz baixa.
_ Mas...
_ Se eu quisesse ser reconhecido, não tinha atravessado o mar até o outro lado do planeta, para ter um único dia de paz!
Os outros quatro alcançam a dupla em tempo de ouvir a frase de Julian.
_ Estamos na mesma situação, peço desculpas pela irresponsabilidade do Pégaso. – interrompe Shiryu polidamente. - Como quer que o chamemos?
_ Kevin.
_ Rafael, Bruno, Daniel, Alexandre e Raoul.
Shiryu continua, apontando para si e os demais, revelando seus nomes provisórios. Depois de algumas explicações, o grupo parece se entender e seguem juntos para procurar por uma mesa.
O quarteto das contadoras de história havia acabado de chegar e o esperado - ou inesperado - tinha acontecido. Logo na entrada, havia um cartaz enorme de "É PROIBIDO DIZER NÃO". Alexandra e Bárbara já se preparavam para dar meia volta, quando foram impedidas pelas outras duas.
_ Ei, eu não esperei o ônibus por duas décadas para ir embora sem dançar!
_ Podem ir, não tô nem aí! Mas eu é que não entro!
_ Qual é Alexandra, vocês vão entrar!
_ É isso aí!
Esbravejam Cely e Juliana. Mas uma delas cometeu um erro de pronúncia, que foi o bastante para aumentar a discussão e enfurecer a morena.
_ Meu nome não é "Alechandra" é "Alecsandra"!
_ Acontece que nós estamos no Brasil, queridinha! E o "x" tem som de "ch"!
_ Eu não sou brasileira e você já devia saber que detesto que errem meu nome!
Bárbara tentava a todo custo apartar aquela briga, enquanto Juliana dava um passo para trás com medo, ainda, do que viu no olhar gélido de Alexandra. As duas finalmente cessam a discussão e a morena se vira para ir embora novamente.
_ Tinha que ser russa, pra ser tão antipática! Essa sua amiguinha é um porre, Bárbara! Será que dá pra dar um chá de camomila pra ela?
_ Gente, vamos parar com a briga e entrar logo! De repente ninguém pede pra ficar com vocês.
_ Mas se pedirem pra ficar comigo, eu estou com boqueira!
Bárbara enfim parece ceder. As outras duas dão risada, enquanto Alexandra continua a se afastar.
_ Pronto, então agora vai buscar aquela rabugenta!
A ruiva corre na direção da amiga, para tentar acalmá-la.
_ Ei, Alê! Volta aqui. Eu te deixo dar uns socos na cara de algum mané que te aborrecer.
Alexandra interrompe os passos e suspira, tentando conter a avalanche de sentimentos que a consumia por dentro e nada tinha a ver com as amigas.
_ Você sabe que eu soco mesmo.
_ É, eu sei. Vai ficar tudo bem, Alê. Seja o que for, vai passar.
A ruiva parecia ler-lhe os pensamentos e isto às vezes a incomodava. Engoliu em seco e tentou sorrir, aquele sorriso forçado e meio louco, somado a um olhar de quem estava pronta para trucidar o pescoço das outras duas meninas enquanto se dirigia para a entrada em silêncio.
Quando enfim estavam se divertindo, as músicas tocavam sem parar. Bárbara mudava completamente quando o assunto era dançar e entregava toda a sua alma naquilo que, para ela, era muito mais do que uma diversão. Até Alexandra pareceu melhorar as feições e descontrair-se um pouco mais.
_ E aí suas molengas, alguma coisa em vista?
Pergunta Cely entre uma pausa nas músicas, enquanto tomam um pouco de água e se recompõem. Ela estava sempre muito curiosa em relação ao assunto garotos.
As outras três fazem uma careta de quem não viu nada interessante.
_ É, a coisa tá feia hoje. Também não vi nada e olha que me esforcei!
_ Alê! Escuta só a música que tá tocando!
_ Vamos lá, Bárbara, essa dá pra dançar!
E enquanto as duas correm novamente para a pista, Cely e Juliana ficam a observá-las.
_ Elas até parecem irmãs.
E quando Cely se dá conta, Juliana já está correndo até elas enquanto falava:
_ E são, não são?
As quatro voltam a dançar, sem preocupações. Apenas entram no ritmo e até esquecem de todos os seus problemas de adolescente. E estão tão dentro da música, que nem reparam num grupo de garotos tentando atravessar aquela pista para seguir até as mesinhas.
_ Detesto lugares tão cheios de gente.
Diz Ikky, olhando o horizonte repleto de pessoas e pensando em como abrir caminho sem soltar um Ave Fênix ou derrubar os pobres coitados que nele esbarrassem. Ele era o primeiro da fila que foram obrigados a formar para conseguir se locomover, seguido por Seiya e...
_ Kevin!
_ Da próxima vez que for parar, avisa!
Shun e Hiyoga trombam com Julian, que havia parado repentinamente no meio do caminho. Mas ele não dá atenção aos demais e continua com o olhar perdido em algum ponto, o que chama a atenção dos outros dois para descobrir do que se tratava.
_ Aconteceu alguma coisa, Alê?
Bárbara pára de dançar, ao ver a amiga com um olhar estranho, perdido em uma direção pouco a frente delas. Juliana, desconfiada, acaba por olhar também.
_ Que foi?
Naquele momento, os seis olhares se cruzaram. Nenhum deles podia imaginar o que viria depois, mas estavam encantados uns pelos outros naquele instante fatídico. Era o famoso "flerte fatal" que lhes roubava o fôlego e a concentração. Poucos segundos que parecem durar uma eternidade. Alexandra, parece a mais confusa, como se os reconhecesse de seus próprios sonhos. Julian tenta dar um passo pra frente na direção das garotas, mas é impedido de continuar.
_ Por que vocês pararam? Vambora!
Seiya dá um empurrão em Shun e acarreta a ação seqüenciada. Os três acabam sendo levados dali e as garotas ficam ainda embasbacadas.
_ Quem eram aqueles gatos?
Pergunta Cely, interessada e sempre muito atenta.
_ Hã?
Bárbara tenta voltar a si, sem muito sucesso e Juliana passa as mãos no rosto, tentando checar se estava muito vermelha.
_ Eles se parecem tanto com...
Sussurrava Alexandra, ainda pensando no olhar que libertou seu coração.
Mas Cely já está tão empolgada com a idéia de ver as amigas simplesmente encantadas, que já começava a dar pulinhos de alegria e a planejar o que fariam a seguir.
_ Por que aquele garoto os empurrou? - Juliana se revolta. - Que vontade de...
_ ...te matar Bruno!
_ Se eu soubesse que estavam de olho em alguma garota, não tinha interrompido!
Julian o joga na direção da cadeira da mesa que encontraram e senta-se em seguida, contrariado. Era uma sensação estranha olhar para aquela linda garota e ter ficado tão em choque. Logo ele, que sempre sabia o que fazer, tinha ficado sem reação.
_ Se vocês gostaram tanto das meninas, podemos procurá-las.
Comenta Shiryu, vendo a expressão decepcionada dos três. Ikky e Seiya, respectivamente, com olhares maliciosos, comentam:
_ É, mas pra gente procurar...
_ Precisamos de uma descrição bem detalhada!
Os três ficam pensando por um momento, se entreolhando, sem saber se aquela seria uma boa ideia. Ikky e Seiya pareciam muito mais interessados em saber o quanto eram bonitas do que em realmente ajudá-los a chegar até elas. Enfim, Hiyoga suspir primeiro a falar.
_ Ruiva, bem alta, parecia ter olhos claros. Estava usando calça e jaqueta escura.
Shun é quem primeiro segue a deixa do amigo.
_ A outra garota tinha o cabelo bem curtinho e preto. Olhos escuros e era a mais baixa delas. Tava usando uma calça meio skatista.
Todos os demais ficam a encarar Julian, que ainda resiste em descrever a garota que lhe chamara a atenção. Mas enfim, também acaba cedendo.
_ Cabelos compridos e castanho-escuros, os olhos também castanhos. Tinha em torno de 1,65 e estava com uma calça de couro muito justa e blusinha curta. Jaqueta de couro preta também.
_ Até que pra quem nem queria vir, o Daniel e o Alexandre estão com olhos de águia! E pela descrição é melhor procurarmos rápido... Porque pela placa lá fora, o primeiro que chegar é quem ganha a garota!
Próximo a um balcão, as garotas conversavam sobre um plano extremamente parecido com o deles...
_ Podemos nos separar. Eu vou com a Alexandra e a Bárbara fica com você.
_ E que horas voltamos aqui?
_ Daqui há uma meia hora tá muito bom.
Alexandra responde um pouco desconfortável com o rumo das coisas. Estava ansiosa para revê-los, mas não sabia exatamente o que faria se fossem realmente quem pareciam ser.
_ Se nós acharmos eles...
Fala Bárbara à Juliana...
_ ... O que eu acho muito difícil...
Completa Alexandra, falando com Cely já no outro corredor.
_ ...Você fala!
As duas completam em uníssono, mesmo que já estivessem bem afastadas uma da outra.
_ Tá bom!
Resmungam Cely e Juliana, enquanto olhavam atentamente as mesas, procurando pelos garotos.
Shiryu foi o primeiro a ver duas delas, passando há poucos metros da mesa onde haviam se sentado.
_ Por acaso, aquelas duas são as garotas de quem falaram?
Todos olham na direção apontada e os três quase se levantam. Principalmente Hiyoga e Shun.
_ Exatamente!
_ E onde foi parar as outras amigas delas?
Pergunta Julian, apenas vendo Bárbara e Juliana passando pelo corredor e realmente interessado em encontrar Alexandra. Ikky se levanta.
_ Bruno, você vem comigo.
Seiya o segue com olhar confiante e sorridente.
_ Agora é só usar a lábia!
O grupo que permanece sentado a mesa cobre o rosto com as mãos, temendo pelo pior. Os dois rebeldes seguem atrás delas.
_ Ei! Psiu!
_ Psiu? Não é a toa que ele não pega ninguém... – sussura Ikky para si mesmo.
_ Liga pra eles não, Jú!
_ Ei! Vocês! A ruiva e a morena!
A dupla se coloca na frente das meninas, que são obrigadas a parar. Bárbara não está com um olhar muito agradável e Seiya solta a pérola:
_ Tem uns amigos nossos querendo conhecer vocês.
_ A gente já estava de saída!
_ Como assim, Bárbara? A gente ainda nem...
O olhar de Bárbara mataria Juliana se Ikky não tivesse interrompido.
_ Então esse é seu nome! O meu é Raoul.
_ Eu sou Bruno. E você é...?
_ Juliana.
_ Vamos até nossa mesa, a gente conversa um pouco e depois vocês vão embora, se quiserem.
As duas suspiram, sem ainda imaginar com quem encontrariam na mesa dos tais "amigos". Mas quiseram ser educadas, uma vez que eles não pareciam estar forçando a barra.
_ Ok...
_ Mas a gente tá com pressa pra encontrar umas amigas.
Eles se reaproximam e apresentam a todos da mesa, deixando a duplinha embasbacada e sem fôlego, por encontrar justamente os garotos a quem tinham paquerado minutos atrás. Encantadas com a estranha coincidência, distraem-se conversando com o grupo.
_ Então vocês moram aqui perto?
Shiryu questiona as garotas enquanto observa, juntamente com Ikky, Seiya dando um tchau para umas garotas da mesa vizinha.
_ Sim, aqui na Mooca. - responde Bárbara. - E vocês?
_ Estamos no Brasil de férias.
_ Na verdade, somos do Japão.
Hiyoga e Shun conversam com elas, hipnotizados.
_ Eu não quero parecer indelicado, mas não tinha mais duas meninas com vocês?
Interrompe Julian, querendo saber mesmo era da morena. Enquanto isso, Seiya já estava na mesa ao lado, entre as garotas que o haviam cumprimentado.
_ Ah, sim! A gente se desencontrou!
Falam juntas as duas, dando uma gostosa gargalhada por fim, como se soubessem em quem o rapaz realmente estava interessado.
_ A mais baixinha era a Celly e aquela de cabelo castanho era a Alexandra. - comenta Bárbara.
_ Falando do diabo, olha elas ali!
Juliana cutuca Bárbara e ambas avistam Alexandra e Cely passando. As duas se levantam imediatamente.
_ A gente já volta!
E enquanto elas se ausentam, Seiya retorna a mesa todo marcado de batom, mostrando um estranho cartão a Julian.
_ Valeu pelo cartão de crédito, elas caíram direitinho achando que eu era você!
Os garotos não sabem se riem ou se choram, vendo Julian derrubar Seiya da cadeira com um empurrão e tomar o cartão da mão dele.
Alexandra está aliviada por não ter encontrado os rapazes, mas Cely não é da mesma opinião. As duas amigas se aproximam delas, empolgadas.
_ Onde vocês estavam?
_ Nem te conto!
July se empolga com a novidade e Bárbara também fala:
_ Acabamos de encontrar os meninos e estamos conversando com eles há um tempão!
_ E perguntaram de vocês!
Os olhos de Alexandra brilham com a frase de Juliana.
_ Cely... - continua Bárbara - Tem um garoto que eu aposto que você vai gostar.
_ Vamos, eles estão nos esperando!
Elas seguem na direção indicada e começam a ser apresentadas aos demais, porém Alexandra é interrompida enaquanto estava para cumprimentar Seiya. Havia sido cutucada por alguém e se vira bruscamente.
_ Que é?!
_ Sua fitinha...
_ Ah. Toma e some daqui.
Ela desamarra a fita e entrega ao garoto, que está com dois amigos. O pessoal, na mesa, olha meio desconfiado para a cena.
_ Opa, peraí! Acho que você esqueceu do beijo.
Alexandra solta um riso cínico, deixando as garotas preocupadas.
_ Te manca.
Fez menção dar-lhe as costas, mas é interrompida pelo garoto.
_ Ei! Quem você pensa que é pra me esnobar assim, boneca?
Neste ponto Julian se aproxima para defendê-la, ficando entre Alexandra e o garoto, com seu olhar mais sério.
_ Não devem ter te ensinado sobre como tratar uma garota, de onde você veio.
_ As regras estão lá fora. Hoje é proibido dizer não e eu cheguei primeiro que você, playboyzinho!
_ Então acredito que também seja obrigado a aceitar se retirar, antes de causar mais confusão.
_ Olha aqui, seu...!
O outro rapaz que acompanhava o desconhecido cutuca o amigo, apontando para a direção dos cavaleiros de bronze que já estavam de pé e se aproximando da discussão com expressões sisudas. Percebendo que estavam em minoria, pensou bem e achou melhor deixar aquela passar.
_ Hm. Faça bom proveito então, se acha que vale o esforço.
Os três encrenqueiros viram as costas para ir embora e quando Julian se vira, não encontra a expressão agradecida que esperava da garota, que parecia muito furiosa.
_ Eu não pedi proteção de ninguém.
Alexandra se afasta, interrompendo o caminho do garoto que saía de perto deles.
Julian quase que vai atrás dela, mas Bárbara o interrompe, segurando-o pelo ombro.
_ Ela vai ficar bem.
Alexandra cutuca o garot tempo dele se virar, para que ela o puxasse pelo colarinho com um sorriso cínico e olhar louco.
_ Se arrependeu, boneca?
O sorriso bobo pelo ledo engano do garoto não dura muito tempo. Alexandra desfere um soco bem no meio do queixo do rapaz, que cai no chão e vira motivo de chacota dos próprios companheiros, por apanhar de uma garota. Ele ainda tentou se levantar, furioso, mas recebe um empurrão que o derruba no chão novamente e ela se inclina, apoiando o pé sobre o peito dele.
Como os garotos diriam: "o pau tava comendo"! Na mesa próxima, o pessoal já fazia caretas como se fossem eles que tivessem apanhado.
_ Você se acha muito espertinho, não? Forçando meninas bobinhas a olhar pra essa sua cara feia... Se mete comigo de novo ou tenta se aproveitar de uma menina comigo por perto e você nunca mais vai querer saber de garota nenhuma!
Antes de se afastar, Alexandra ainda desfere um forte chute nas partes baixas do garoto, que permanece rolando no chão com a dor. Ela ainda aponta para os outros dois que até então estavam rindo e, assustados, dão um passo involuntário pra trás e a piada perde a graça.
_ E isso serve pra vocês também, seus babacas.
Os garotos da mesa dela faziam as piores caras possíveis, chocados com a reação da garota.
_ Poxa ali dói pra caramba!
Fala Seiya com a mão no rosto, nem querendo olhar.
_ Essa menina não toma jeito... – resmunga Cely, com um meio sorriso.
_ Eu que não queria estar no lugar dele.
Alexandra retorna, sentando-se ao lado de Bárbara, que está contendo o riso ainda e Seiya,finalmente, tira a mão de seu rosto.
_ Tá mais calma agora, Alê? – ela toca o ombro da amiga.
_ Você disse que eu podia quebrar a cara de um mané.
Bárbara deixa escapar uma gargalhada.
_ Verdade.
A ruiva ainda completa entre risos e meneando a cabeça. Alexandra deixa escapar um sorriso, ainda com os braços cruzados diante do corpo e largada no encosto da cadeira.
_ Vocês são malucas? Ele podia... – interrompe Seiya.
_ Adoramos ser chamadas de loucas! – responde Bárbara.
_ Num mundo de normais que constroem bombas atômicas!
Completa a morena da dupla dinâmica, já com a expressão mais calma. Os garotos ficam a pensar naquela frase algum tempo e achando graça naquelas garotas imprevisíveis. Hiyoga, finalmente quebra o silêncio e pergunta:
_ Vocês são amigas há muito tempo?
_ Eu, a Jú e a Cely moramos juntas no mesmo prédio e somos amigas desde pequenas. - responde Bárbara.
_ Acho que a Jú não mudou muito desde aquela época!
Alexandra adorava encher a paciência de todo mundo! July dá um tapa no ombro dela, que deixa escapar o riso mais lindo que Julian já vira. Bárbara continua a conversa:
_ Agora eu e a Ale, não faz nem um ano que nos conhecemos.
_ Mas é como se a conhecesse desde sempre, nos damos muito bem.
_ Coisas do destino que nunca iremos entender! – terminam as duas ao mesmo tempo.
Shiryu e os demais sorriem. Estavam achando graça naquelas quatro garotas que mudavam tanto o jeito dele e de seus amigos e era interessante notar como as duas mais altas estavam sempre completando a frase uma da outra. Pareciam ter uma grande sintonia, mesmo tendo personalidades tão diferentes.
_ Vocês são cheias de ditados! – Ikky comenta.
_ São mesmo, às vezes isso até enche!
_ Fica quieta, Cely! Que você também fala! - implica Juliana.
_ Mas, voltando um pouco, estão gostando do Brasil? - continua Bárbara.
_ Muito!
Respondem todos ao mesmo tempo, ficando óbvio qual era o motivo desse "muito". Mas Shun deu um jeito de disfarçar.
_ É um país muito bonito.
_ Amanhã nós vamos ao litoral. - fala Shiryu.
_ Nos falaram que as praias do Brasil são muito lindas. - completa Hiyoga.
_ Mas o que vieram fazer nesse fim de mundo? - pergunta Cely.
_ Eu é que não ia ficar trancado num hotel até amanhã! – Ikky é quem responde.
_ Alexandra, desculpe se te ofendi agora pouco. – arrisca Julian, finalmente.
_ Eu tava precisando quebrar a cara de alguém e quase perdi a chance perfeita, mas tudo bem. Valeu a intenção de me salvar no seu cavalo branco.
Ela reponde com uma das sobrancelhas arqueadas e expressão cínica. Kevin olha fixamente para Alexandra. Tentava analisar o que se passava na cabeça dela, enquanto a garota tomava um gole do seu refrigerante e as amigas riam de seu jeito estúpido de ser. Hiyoga repara em algo que escapara da jaqueta dela e comenta:
_ Que lindo este rosário.
_ Não gosto muito, mas foi minha mãe que me deu. As pessoas me achariam um monstro se me livrasse dele, eu acho. – ela responde com uma careta.
_ Você disse que foi... sua mãe?
_ Alexandra Kamarov Suntak! Escuta essa música!
Bárbara já está de pé, convidando a amiga para dançar.
_ Vocês vêm com a gente?
Os rapazes se animam para dançar com as elas e também se levantam, mas Hiyoga fica ainda por um tempo meio catatônico...
_ Aquele rosário... O rosário de ametistas...
CONTINUA...
