"Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão." — Mateus 7:1-5
Era... Surreal.
Simplesmente não acreditava no que acontecia naquele quarto. A cena que se desenvolvia à minha frente parecia coisa da minha própria mente. Estariam minhas atuais inferências influenciando em minha sanidade?
Beijos sedentos e passionais, diferentes dos que eu já havia vivido. Olhares cúmplices, respirações sôfregas, mãos entrelaçadas. Mais um beijo, e uma mão que não deveria estar onde acabou indo parar. Risos.
Palavras de amor trocadas em um ambiente tão íntimo que me sentia uma invasora.
Não.
Eu era, de fato, uma invasora.
E, de maneira bastante pueril, sentia-me traída.
Bra e Pan trocavam carícias próprias de amantes em um santuário particular que eu conhecia tão bem quanto minha própria casa. O quarto de Pan, sempre tão receptivo a mim, naquele momento sussurrava que meu lugar era bem longe dali. No andar de baixo. Na Kame House. Em outro mundo, talvez.
Sentia-me traída porque eram minhas melhores amigas. Como não me disseram nada? Como puderam esconder algo tão importante de mim?
Sentia-me traída porque não fui capaz de separar o agora nítido amor romântico que se mostrava, tão puro, tão cúmplice e tão acolhedor, da relação fraternal que achava que dividíamos.
Carraspeando de maneira um tanto tímida, chamei sua atenção. As cabeças, antes unidas em um emaranhado de franjas pretas e azuis, separaram-se lentamente.
Assustadas, em seu rosto se lia o pânico de maneira muito clara.
Pensei em dizer a elas o quanto aquilo me incomodava. O quanto não ter feito parte desta decisão, o quanto elas esconderem este relacionamento de mim, suposta melhor amiga, fazia com que me sentisse deixada de lado. Como fazia com que me sentisse descartável, como fazia com que eu pensasse que a confiança que tinham em mim não passavam de palavras vazias...
Pensei em tantas coisas desnecessárias que senti vergonha de mim mesma. Sorrindo, entrei no quarto e fechei a porta.
— Eu amo vocês de qualquer jeito, suas tontas. Eu sempre vou estar aqui por vocês. Então, por favor, vocês poderiam parar com essas caras de choro? Desse jeito eu vou ficar ofendida!
Surpresa. Alívio. Cumplicidade.
Enquanto elas me abraçavam, agradecidas, eu fiz uma promessa...
Não importa o que aconteça, eu, Marron, sempre protegerei essas garotas. As amarei com tudo o que tenho, e farei o que posso para apoiá-las. Porque o mundo já vai julgá-las, dizer que o que sentem é errado e menosprezar o palpável carinho que sentem uma pela outra.
E, bem. Melhores amigas não deveriam fazer isso, certo?
