1º Capítulo Prólogo
Era uma noite escura no Japão, a montanha sussurrava calmamente em harmonia com as cachoeiras. O calor era quase que insuportável por causa do verão, mas isso não impedia o discípulo e filho adotivo do velho mestre Gouken de treinar suas habilidades. O mestre ensinava a arte marcial primordial chamada Ansatsuken, com claro, suas próprias modificações. O Ansatsuken era usado por guerreiros nos tempos antigos para matar os oponentes com golpes rápidos, com o uso da energia interna que todos os seres vivos possuem: o chi. Gouken, por outro lado, ensinava um Ansatsuken livre de chacina, usado apenas para batalhar, não para matar. O mestre se isolou em seu dojo na montanha por motivos desconhecidos, tendo apenas visitas regulares de seu velho amigo, Retsu, um monge do templo de budismo que localiza-se no pé da montanha, enquanto o dojo está no topo. Gouken, decide adotar, por motivos obscuros, um garoto de um orfanato japonês, um garoto de cabelos cor de acaju, com feições disciplinadas e aparentemente briguento com as outras crianças. Seu nome era Ryu, e é o mesmo garoto que está treinando no calor. A pobre cachoeira era cortada e re-cortada pelos punhos nus do garotinho de oito anos, a água parecia querer fugir da força dos golpes dele. Desde que foi adotado, Gouken ensinou á seu filho o caminho do Ansatsuken sem assassinatos e o caminho da disciplina do karatê shotokan. O treino seguia bem, mas Ryu logo cansou-se e decidiu voltar ao dojo, que ficava á meio quilômetro dali. Voltou correndo, pisando descalço na grama, a faixa branca que carregava amarrada em sua cabeça esvoaçava, o gi branco sem mangas soltando farrapos, a faixa branca amarrada na cintura com o nó quase soltando-se á força do vento. Em menos de quinze minutos, o garotinho avistou o velho dojo de seu mestre.
Talvez tenha sido um dojo majestoso um dia, mas agora estava praticamente acabado, as portas de correr estavam emperradas, a escada de madeira estava destruída, e o tatame do lado de dentro, soltando-se do chão, mas ninguém ligava, nem Gouken, nem Ryu, muito menos o velho Retsu. Ryu abriu a porta de correr sem usar muita força.
- Voltei, Mestre... - disse o garotinho, sua voz disciplinada e grave, apesar de ser apenas uma criança.
O dojo estava como sempre: sujo, empoeirado e precisando urgentemente de um novo tatame. Os lampiões lançavam uma luz aconchegante no local. O velho Mestre Gouken comia arroz em uma cuia usando hashis, os famosos "pauzinhos" de comer. Apesar da velhice, o Mestre não deixava a idade chegar, parecia o poder em pessoa. Era extremamente musculoso, os cabelos brancos juntavam-se á sua barba igualmente branca, caindo até as costas, sua voz era como o rujido de um trovão rasgando os céus, seus olhos eram castanhos e aparentavam ódio. Quem olhava, tremia de horror e medo. Apesar disto, o velho mestre era um senhor divertido, muitas vezes considerado um bobalhão, praticamente sendo ridicularizado nos dojos mundo á fora. Como sempre, estava com seu gi cinza escuro e seu colar de contas do tamanho de bolas de basquete em volta do pescoço musculoso.
- Ah! Ryu! Sirva-se, o jantar está pronto. - anunciou o velho rindo, mas acabou engasgando com o arroz.
Ryu sentou-se no tatame e pegou a segunda tigela de arroz e um par de hashis descartáveis e pôs-se a jantar. Este quase seria mais um dia normal de treinamento... Mais um jantar de arroz queimado feito pelo mestre... Quase.
Ryu, Gouken e toda a montanha dormia, tudo estava em harmonia, como sempre, mas algo estava errado. Algo que fez os animais correrem com medo, temendo por suas vidas. Algo que fez as plantas murcharem tal a magnitude da aura daquele homem que caminhava em linha reta, destruindo tudo que havia na sua frente. Quando pisava no solo, as folhas voavam fugindo do pé do assassino, os troncos quebravam-se apenas ao apontar seu dedo grosso e cheio de calos. O dono da morte passava pela montanha, levando sua aura mortífera em direção ao dojo. Ryu tinha pesadelos lá dentro, como se ele fosse um lobo faminto, que matava todos os monjes do templo ao pé da montanha, inclusive o velho Retsu. O terror do garoto foi enorme, que acordou suando frio e sentiu o corpo tremer. Olhou pela janela e viu então: movimentando-se pesadamente como um zumbi. Os cabelos ruivos penteados e amarrados de um jeito de estranho, o gi negro esvoaçando ao poder de sua aura púrpura, seus olhos vermelhos podiam fuzilá-lo com apenas um olhar torto, sua respiração exalava poder, medo, ódio e cheiro de sangue de mil pessoas mortas. O homem levantou a cabeça e olhou pela janela e sua voz, que parecia mais um grunhido, urrou.
- GOOOOOOOOOUKEN!
No quarto ao lado, o mestre abriu os olhos bem a tempo. Uma rajada de chi púrpura atravessou o quarto, destruindo metade do dojo. Ryu levantou-se e pulou pela janela antes que a parede caísse. Gouken também conseguira sair. Estava frente á frente com o demônio que respirava pesadamente. Ryu ficou paralisado de terror, não conseguia se mexer, nem ao menos gritar por ajuda.
- Então... Você veio. - disse o velho mestre, a fúria exalando por todos os seus poros. Ryu estremeceu novamente, mas o demônio pareceu não ligar: ele na verdade sorriu.
- Ainda está ressentido, irmão? - grunhiu ele. Ryu arregalou os olhos e sentiu um frio na barriga: um dos princípios de seu mentor e pai era a verdade em primeiro lugar. Ryu lembrou-se de algo que perguntara á ele há três anos: se ele tinha uma família. Gouken respondeu como sempre, gargalhando, e disse que toda a sua família estava morta, inclusive seu irmão mais novo. Voltando á realidade, o mestre bateu o pé direito no solo, que rachou. Ele estava em sua base de batalha.
- Isso responde minha pergunta. - respondeu á si mesmo o demônio. Uma aura azul começava a emanar do corpo do velho mestre, que fez Ryu sentir-se melhor. O chi do Mestre Gouken não era assassino, era reconfortante, parecia uma droga que você nunca cansa e nunca quer que passe o efeito. O irmão mais novo gargalhou.
- Eu o desafio meu irmão... Uma luta de vida ou morte, o quê me diz ein? Se eu vencer... Levo sua vida... - ele direcionou o olhar para Ryu. - ...e o garoto como meu pupilo.
Ryu se assustou ainda mais e desabou no chão.
- Nunca irei deixar meu filho tornar-se um assassino como você! - urrou o velho mestre. - Eu aceito seu desafio!
O irmão mais novo arreganhou os dentes podres e gargalhou. Ele bateu os pés no solo com força extrema, fazendo duas crateras abrirem: sua pose de batalha era semelhante á de seu irmão mais velho. Ambos começaram a emanar auras absurdas de energia, e crateras abriam á seus pés. Os dois pularam com os punhos erguidos.
- GOUKEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEN!
- !
Os golpes se chocaram, e um clarão cegou qualquer ser vivente em toda a montanha, até mesmo o templo, e o chão tremeu tanto que os carros da estrada próxima capotaram.
CAPÍTULO 1
DRAW
